História My love, my mistake - Esperança

Era um domingo frio e estarrecedor. As nuvens estavam terríveis, cinzentas e baixas, chovendo águas nervosas. Neste intempérie dia, Temer sentava numa confortável poltrona. Mas do que adiantava a maciez de seu assento se seu coração doía? Seus eleitores o repudiavam por ter tomado o lugar de Dilma.

Não fizera por mal. Jamais fizera nada por mal. Gostava muito de Dilminha, como costumava chama-la, mas as circunstâncias o trouxeram até aquele momento fulminante em que ele assumiria a presidência. Desde então, milhares de pessoas, em faculdades, festas, restaurantes – enfim, em todo lugar – gritavam ferozes “Fora Temer” em ódio a sua pessoa. O que essas pessoas pensavam que ele era? Um ser frio, cruel, desprovido de qualquer emoção?

Portanto, Michel se sentia vazio, sem razões para viver. Visitara milhares de psiquiatras, terapeutas e igrejas, mas nada preenchia aquele vácuo que sentia em sua alma. Havia chegado no seu limite. Pensamentos suicidas constantemente o rondavam e o torturavam.

Em um certo momento, ligou a televisão, tentando se distrair desses pensamentos impetuosos. Enquanto passava os canais, entre Gugus e Faustões, ele sentia que cada vez mais sua mente se afundava num abismo. Um abismo que conforme ia caindo, seu mundo se tornava cada vez mais cinzento, mais morto.

Os dedos calejados de Temer apertavam os botões do controle remoto. Chegou em um canal que ele conhecia há muitos anos de sua existência. SBT. Um dos canais mais famosos do Brasil. Nesse canal, a diversão era sempre garantida, ora com seus programas que divertiam toda a família brasileira, ora com suas inúmeras reprises de Chaves – igualmente divertidas.

Porém, o que passava na tv naquele momento não era algo que ele conhecia. O trabalho de Temer o impedia que ele pudesse gastar seu tempo com outras coisas. Algo chamou sua atenção naquele programa.

Talvez fosse o sorriso estampado na face de cada pessoa no auditório; talvez fosse a angelical - porém firme - voz masculina que ele ouvia ao fundo.

Não sabia o que era, mas com certeza algo fazia-o fitar atenciosamente para a tela. E, assim como a Lua cheia reflete sobre as cristalinas águas suaves de um lago, os olhos do presidente brilharam ao ver aquela face. Um homem de queixo forte, pele suave, cabelos pretos, alegria no olhar, e um sorriso… um sorriso tão lindo. Nem a junção de todas as coisas belas do mundo resultaria em algo tão perfeito.

Seu nome era poético como a mais bela junção de versos de Pablo Neruda: Celso Portiolli.

O então presidente sentiu sua face esquentar, seu coração batendo mais rápido e – pasmem – um sorriso aos poucos se construindo em seu rosto. Tão frágil, tão novo nesse tipo de assunto… o que ele sentia? Era amor?

Aquele anjo que vira na tv coloriu o seu mundo novamente. Embora o tempo estivesse chuvoso e o céu repleto de nuvens negras, Temer agora podia ver o azul das gotas que caíam, o verde da grama molhada, e o vermelho daquela paixão intensa que aos poucos penetrava o seu ser.

Uma atitude era necessária para que ele pudesse se encontrar com seu novo amor.

Levantou-se, correndo diretamente para o telefone. Ligaria para sua secretária e exigiu que marcasse presença no próximo Domingo Legal. Não bastava ver Celso, queria senti-lo, cheira-lo, toca-lo.

O telefone tocou do outro lado do Palácio. Quando uma suave voz feminina disse “Alô”, Michel sabia que a partir daquele ponto todos seus sonhos se realizariam, e ele, finalmente, descobriria o amor verdadeiro.