História My salty passion - O amor tem gosto de bacon (Gijinka) - Salvando sua pele

_Baconzitos_

Seria mais um dia comum em que eu iria para a escola decidido e com a cabeça erguida e voltaria cabisbaixo e triste. Seria? Não, não podia ser, eu tinha prometido a mim mesmo que hoje faria amizades, e daí que eu houvesse prometido já tantos outros dias? Eu começaria hoje, ou não me chamo Baconzitos.

Se bem que um outro nome não seria má ideia...

Cheguei na escola, estava tudo normal como sempre e enquanto eu ia para minha sala eu tentei sorrir um pouco para algumas pessoas mais “normais” do colégio, quando passava por elas sozinhas ou em um grupo não muito grande, e percebi que pelo menos assim elas sorriam de volta. O mais engraçado foi que, quando entrei na sala, o trio que sempre senta junto estava olhando pra mim e cochichando, foi quando o Fofura se levantou e veio até mim.

- Opa, tá de bom humor hoje, né, Baconzitos?

- Opa – resolvi imitá-lo e fingir que estou acostumado com isso – estou sim e você?

- Ah, cara, eu estou sempre de bom humor, nunca me viu não? – ele riu – tá vendo aqueles dois ali sentados? Eu sou a alegria e a alma daqueles dois chatos.

- Aham... – balancei a cabeça, sem saber o que dizer. O Fofura era um garoto alegre, seu cabelo estava sempre mudando para combinar com os penteados do seu jogador de futebol preferido, ele era magro, mas parecia atlético, tinha a sobrancelhas grossas e um sorriso gigante. Lays, o mais alto deles, era mais que branco, era outro nível de tão pálido, acho que não gostava de tomar sol, usava um óculos, o cabelo arrumadinho e um relógio dourado que parecia ser muito caro. Mikão, era um meio termo dos dois, parecia um pouco com Fofura no tamanho e na cor da pele, os olhos também era arredondados como o do amigo, mas o cabelo era grande, batendo nos ombros e castanho-claro, sua sobrancelha era mais fina e sua expressão tranquila.

- Então – Fofura continou – eu estava pensando se talvez hoje você não quisesse jogar futebol com a gente depois da aula? Aproveitar a animação e tal!

- Ah... Eu não trouxe nenhuma roupa.

- Vai assim mesmo!

- Tudo bem, onde é?

- É naquele campo aberto que fica há umas duas quadras da escola, eu pego ônibus lá pra voltar pra casa, sabe qual é?

- Acho que sei sim.

- Então, a gente almoça e vai pra lá, beleza?

Fofura sorriu e foi arrodeando as cadeiras para sentar perto dos amigos. Ele, assim como eu, também era bolsista, mas acho que ser amigo do Lays, que mesmo sendo meio nerd, tinha uma família influente, o livrou de algumas coisas que eu, chegando sozinho na escola, não me livrei. Mas talvez agora eu pudesse fazer parte do grupo deles? Não sei se sou muito bom em futebol, mas acho que dá pra não passar vergonha.

Na hora do intervalo, o Fofura me chamou para sentar junto com os outros, eu nem estava acreditando que eu poderia ter sido amigo deles há mais tempo se tivesse apenas dado um sorriso antes.

- Então é verdade que você vai jogar futebol com eles mais tarde? – Lays perguntou – por favor, faça isso sempre.

- O Lays não gosta de jogar futebol – O Mikão explicou – mas o Fofura sempre o encontra na hora da saída e o arrasta pro campo.

- É que sem ele o time não ficava completo, mas se você for agora eu posso livrar ele dessa – Fofura olhou pra cima pensativo – se bem que, Lays, você pode ficar de reserva!

- Não, nunca teve reserva e não é agora que eu me livrei disso que vai ter.

- Ah, mas aí nosso trio vai estar incompleto, nada contra você, viu, Baconzitos?

- Tranquilo...

- Além disso, a gente sempre faz um lanche coletivo depois do jogo – Mikão disse – ah, Baconzitos, é verdade que sua mãe vende salgadinho?

- Como você sabe disso?

- Então é verdade! As pessoas sempre comentam tudo aqui nessa escola, e também, as...

Neste momento, o sinal tocou.

- Eu tenho que ir beber água antes da aula, vamos antes que o professor feche a porta! – Fofura interrompeu o Mikão e saiu correndo pro bebedouro, acho que ele gostava mesmo de correr por qualquer motivo.

Fomos conversando para a sala de aula, e voltei para o meu lugar quase no fundo da sala, um pouco isolado. Talvez com o tempo eu possa chegar mais cedo e pegar outra cadeira pra mim, será que alguém iria se importar?

No final da manhã, eu estava com fome e me perguntando se eu iria passar mal se fosse jogar futebol antes de almoçar. Os outros ainda foram comer em algum lugar, mas eu estava sem dinheiro e não daria tempo de voltar pra casa, então fui na frente caminhando até o campo, contando mentalmente se os trocados que eu tinha daria para comprar um biscoito, não tinha andando nem cinco minutos, quando alguém chamou por mim.

Era um rapaz alto, com o cabelo laranja e preto arrepiado, usava uma corrente de prata no pescoço e no pulso, e também tinha vários piercings no rosto e na orelha. Uma mistura de rebelde bonito e descolado, de longe seus olhos pareciam ser laranjas. Ele chegou bem perto de mim, muito perto. Eram realmente laranjas. Eu acho que lembro de tê-lo visto na escola.

- Oi, Baconito.

- É Baconzitos.

- Tanto faz, você me fez andar cinco minutos.

Eu quis dizer que era bom se exercitar de vez em quando, mas pelo corpo dele, eu acho que ele sempre se exercitava. Devo ter demorado olhando para ele, pois não tive tempo de responder nada antes dele dizer:

- Então, não gaste mais meu tempo e só me ouça.

Ele se inclinou bem perto do meu rosto. Eu fiquei vermelho pela aproximação repentina e tentei ir um pouco para trás.

- Não venha amanhã para a escola. Só vou avisar esta vez.

- A-amanhã?

- Sim... – ele me olhava de cima para baixo – eu tenho planos, e eles incluem você não estar na escola amanhã – ele passou a mão no meu rosto e segurou meu queixo – seja um bom menino e faça o que eu mando, ok?

Eu estava imóvel. O rapaz se afastou e voltou a andar por onde veio, mas ainda se virou ligeiramente e disse:

- Te vejo depois de amanhã, ok?

Eu sacudi a cabeça, sem saber o que dizer.