História My Stupid Boss - Mal-estar

Jungkook

Os dias ficavam cada vez mais frios. Era a primeira segunda-feira de novembro e eu já me sentia sufocado com a agenda na parede da minha sala, cheia de reuniões, projetos, prazos, com uma janela perdida aqui ou ali.

Tornou-se impossível conseguir qualquer contato com Jimin na empresa já que toda vez que íamos tentar escapar, mais trabalho surgia. Mas, bem, aquela não era nossa prioridade, era?

Caralho, o que aconteceu comigo? Colocando o trabalho antes do sexo... Alguém me interna, por favor.

Agora, em compensação, o Park já tinha até mesmo uma gaveta para suas roupas e uma escova de dente em meu apartamento, indo lá dia sim, dia não. Eu já estava mais acostumado com tudo isso; por mais que ainda tentasse, eu não conseguia negar o quanto eu achava seu corpo perfeito. Mesmo assim, algo parecia esquisito. Eu não entendia o que estava acontecendo. Era... desconfortável. Eu me sentia nervoso perto dele. Por mais que agisse normal e tomasse seu corpo como se tivesse sido feito para isso, por dentro tinha algo me sufocando.

Parecia um mal-estar.

As mãos suando, o estômago revirando... Foi só olhar para a mesa de Jimin através da porta aberta da minha sala, vendo o ruivo ainda com as bochechas e a ponta do nariz vermelhos por causa do frio lá fora e um sorrisinho satisfeito; tudo aquilo aconteceu de uma vez só no meu corpo.

Apesar do sentimento desconfortável, meu rosto me traía quando os cantos dos meus lábios se erguiam em um maldito sorriso. Por que raios eu estava sorrindo?

Bem nesse momento, Jimin se levantou carregando uma pilha de papéis e os trouxe até mim. Eu ainda o encarava com aquele sorriso.

– O que foi? – apenas toquei meu nariz com a ponta do indicador, dando uma explicação muda para o porquê de eu o encarar tanto. – Aish, não tenho culpa se está frio. – deu de ombros, sem parecer abalado, mas foi só largar os papéis em minha mesa que levou uma de suas mãos para cobrir seu nariz.

Jurei ter visto suas orelhas se avermelharem levemente também.

Aquele “fofo” que passou por minha cabeça logo foi chutado para o canto mais escondido dos meus pensamentos, junto com a vontade de levantar e tirar aquela mão gordinha da frente de seu rosto para lhe selar os lábios. Nem mesmo seu comentário a seguir pareceu ser suficiente para tirar meu sorriso do rosto:

– Não sei como você consegue reparar no nariz dos outros com um desse tamanho na sua cara.

– Ugh, que baixaria. – falei entrando na brincadeira ao invés de me ofender, claramente me referindo à sua altura.

Ele apenas riu resmungando um “idiota” antes de voltar ao seu lugar. Isso ficava cada vez mais comum, esse jeito dele me xingar quando eu o deixava sem graça por alguma razão – coisa que eu, particularmente, achava engraçado.

Passamos a manhã sem muitos imprevistos, apenas nos preparando para a reunião que teríamos depois do horário de almoço.  

Quando a tarde chegou, um pouco antes de chegar a hora de nosso compromisso, Jimin veio até minha sala e começou a falar sem parar dos assuntos que seriam tratados, do que deveríamos falar e apresentar... Fiquei parado olhando para seus lábios tagarelas, sem realmente gravar nada das palavras que saíam deles, apenas umedecendo os meus próprios da forma mais provocante que consegui.

Até que ele parou de falar e suspirou ao finalmente parar de ignorar meus olhares.

– Temos uma reunião daqui dez minutos, sabia? – perguntou o óbvio, apenas para lembrar que não poderíamos fazer muita coisa naquele momento.

– Sabia. – falei segurando sua mão e o puxando para meu colo. Ele revirou os olhos e se sentou em minhas coxas, mantendo uma perna de cada lado do meu corpo.

– Seja breve. – sorri satisfeito com a sua resposta, já direcionando meus lábios para seu pescoço.

Deixei vários beijos molhados pela pele branca, sem deixar marcas, apenas sentindo seu gostinho de baunilha. Ele havia trocado de perfume, justificando que o seu anterior havia acabado e sua mãe lhe enviara este novo de aniversário.

Essas pequenas e grandes mudanças em Jimin me deixavam louco. Seus cabelos de cor forte quase não saíam de meus dedos, minha língua sentia necessidade de provar o novo gosto de sua pele até que eu o decorasse e o repentino vício dele por balas de morango teve meu total apoio. Talvez eu até mesmo tivesse algumas em meu criado-mudo para que ele não abandonasse esse doce que deixava sua boca mais rosada e nossos beijos ainda mais viciantes, exatamente como aquele que finalmente comecei estava.

Vício.

Era uma palavra que definia toda a situação.

Quanto mais eu provava de Jimin, mais eu o desejava, mais eu parecia me tornar dependente dele. Eu não conseguia parar. Esfregava minha língua na sua cheio de fome, todo toque em sua pele parecia insuficiente e foi tão frustrante quando senti suas mãos se espalmando no meu peito para me empurrar e cessar o beijo...

– Kook-ah, só mais cinco minutos até a reunião. Acho melhor pararmos aqui antes que fiquemos com uma dura evidência do que fizemos. – alertou com um sorriso de lado.

Assenti, mas não deixei que ele saísse de meu colo. Ele me encarou confuso, tentando entender o que eu faria.

E eu faria algo que recentemente descobri deixá-lo muito sem graça: ficar apenas olhando para seu rosto, sem fazer mais nada. Era extremamente adorável a forma que tentava sustentar meu olhar por vários segundos, até que seus orbes se mexessem nervosos e se fixassem em algum ponto no chão, as bochechas ficavam rubras e seu lábio inferior era preso por entre seus dentes.

– Pare, Kook! – ele mandou, fazendo um bico irritado e se livrando das minhas mãos em seus quadris para se levantar. – Vamos logo ou vamos nos atrasar e eu já disse que Park Jimin não se atrasa.

Levantei e fui atrás dele, puxando-o pela cintura e deixando apenas um selar em sua nuca antes de soltá-lo e assumir minha postura de cara sério pronto para uma reunião, agindo como se o que eu fiz nem tivesse arrancado um arfar tentador do ruivinho.

***

Logo depois do que foi a terceira reunião do mês, novamente referente aos lançamentos, figures, revistas e mais tudo quanto é coisa especial de Natal que você possa imaginar, eu voltei para minha sala junto ao Park para já ajustarmos a agenda com as novas informações. Novembro e dezembro eram sempre os meses mais cheios do ano.

Enquanto me sentei em minha mesa para conferir todos os projetos e organizá-los por data de lançamento, busquei Jimin com o olhar para lhe perguntar algo, mas aquela cena que eu tanto amava do seu corpo pequeno se esticando todo na ponta dos pés para arrumar algo no topo do quadro me silenciou. Aquela sua bunda ficava toda arrebitava para mim naquela pose, apenas para que eu fosse até lá e...

Um pigarro interrompeu meus pensamentos impuros.

– Talvez eu devesse voltar depois? – era Hoseok me flagrando com o inferior fortemente preso em meus dentes. Endireitei-me na cadeira tão rápido que as rodinhas se arrastaram um pouco para o lado, negando com a cabeça. – Sr. Park, poderia nos dar licença por alguns minutos? Tenho algo de extrema importância para contar ao meu digníssimo amigo. – pediu com um ar de seriedade falso.

– Claro, Sr. Kim-Min. – Jimin passou por ele com um sorrisinho cúmplice, deixando-me com o cenho franzido pela forma que chamou o castanho.

Assisti os dois rindo um para o outro de forma irritante antes de Hoseok jogar uma folha em minha frente.

– Bom, já que eu tenho que fingir que estou aqui a trabalho, assina esse papel aqui que na verdade minha secretária poderia ter trazido, enfim, tenho uma coisa pra te contar. – ele falou de forma ansiosa. – Desde semana passada.

– O quê? – perguntei desinteressado, quem sabe irritado por ele ter interrompido a linda visão que eu estava tendo.

Com a melhor cara de tédio possível, peguei o maldito papel e dei uma breve lida para assiná-lo, ouvindo de forma meio distante a porta se fechando e logo em seguida a confissão do Jung:

– Eu transei com Taehyung e Yoongi. Os dois. Ao mesmo tempo.

Eu parei por alguns instantes, tentando entender se tinha escutado certo ou não, por fim me rendendo e pedindo para que repetisse.

– Você o que com quem? – perguntei em um tom baixo.

– Transei com Taehyung e Yoongi. – repetiu Hoseok, com um enorme sorriso no rosto.

– Eles não são...

– Sim, amigos do Jimin.

Minha mente vagou em uma quase imagem dos três em um momento bastante desagradável para mim, fazendo com que eu soltasse uma exclamação de nojo. Fazer sexo com Jimin era uma coisa, imaginar três homens – e eu conhecer todos eles – fazendo sexo já era completamente diferente.

– Que cara é essa? Nem parece que está todo apaixonado pelo homem que acabou de sair dessa sala. – seu sorriso se tornou sugestivo.

– Hoseok, eu já disse que não tem nada a ver. – quando falei isso, notei algo estranho na minha voz. Eu só espero que ele também não tenha notado.

– Para de ser teimoso! O que tem de mais em se apaixonar? – questionou colocando as mãos na cintura, aparentemente muito indignado com o fato de que eu não era igual ele cheio de amor para dar para o mundo.

– Não estou apaixonado. – falei rápido.

– E essa cara de assustado aí? Você tá mais branco que o Yoongi!

– Eu não estou assustado.

– Ah, por favor, Jungkook! Você não para de sorrir um segundo sequer, fica olhando pra ele o tempo todo, só fala dele, o que significa claramente que você só pensa nele!

– Isso não significa nada. – cruzei os braços e fechei a cara.

– Você mudou mais nesses últimos meses com Jimin do que nos anos todos de amizade que temos! Até parece gente agora!

– Hoseok, sai logo dessa sala ou para de falar asneira!

– Tá bom, fica aí sozinho com a sua teimosia! – ele ergueu as mãos como se estivesse se rendendo e já indo em direção à porta. – Pelo menos assim você vai ficar numa boa quando Jimin se cansar de você e procurar outra pessoa, exatamente como as oito secretárias anteriores, lembra?

– Eu realmente não ligo. Vai logo trabalhar e para de insistir nisso!

Ele saiu rindo sozinho de algo e deixou a porta aberta, atraindo minha atenção para aquele ponto laranja concentrado no que fazia. Talvez me envolver com ele foi uma péssima ideia.

Lembrei de repente do aviso do meu pai.  Tratar Jimin mal na verdade custava meu emprego. E se eu fizesse alguma merda? Eu não pensava muito nisso, eu não me importava muito com isso, pra ser sincero. Mas de repente essa ideia de que ele poderia se cansar de mim e procurar outro alguém me desesperou, mesmo que eu não entendesse bem o porquê disso parecer não ter nada a ver com meu cargo.

Mas, bem, não é como se isso fosse acontecer, né?

Aquilo não era possível.

Não que eu me importasse com quem Jimin fica ou deixa de ficar.

Certo?