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História Na sua pele - bughead - 04


Escrita por: Pretty_Poisons

Notas do Autor


Espero que gostem. ❤️

Capítulo 4 - 04


BETTY


CONTEI A PILHA DE DINHEIRO que estava na minha frente pela quinta vez. Não conseguia me concentrar por vários motivos: primeiro, porque o bar ficou cheio, e eu trabalhei duas horas a mais, então estava me arrastando; segundo, porque tinha mais dez meninas tentando fechar as contas e tagarelando, mais parecendo um enxame de abelhas, zumbindo sem parar sobre carinhas e bolsas; terceiro, porque a Verônica não tirava os olhos de cima de mim, procurando alguma coisa que eu não sabia o que era. Por último, porque a Cherly Blossom, a versão pós-colégio da Amy Rogers, não parava de encher meu ouvido por causa do Jughead.

A Cherly era uma página de revista em carne e osso. E também o que acontece quando meninas malvadas saem do colégio e entram no mundo real. É insossa, chata e ganha mais dinheiro do que todas nós juntas porque fica só se atirando e fazendo cara de fácil (coisas que, pra ela, não exigem esforço). Por algum motivo, tava morrendo de vontade de saber toda e qualquer informação que eu tivesse sobre o Jughead. Como é que eu o conhecia, como ele nunca tinha aparecido no bar antes, quantos anos tem, o que faz, se a gente tava saindo, se tem namorada, se gosta de ruiva, e por aí vai. Aquilo era interminável, cansativo, e acho que fiquei incomodada de ver que outra periguete estava se atirando em cima dele. 

Sei muito bem que meus sentimentos pelo Jughead são uma cruz que tenho que carregar sozinha, mas também não vou entregar uma piranha pra ele numa bandeja de prata. Fiquei só resmungando umas respostas e evitando todas as perguntas pessoais. Mas isso, infelizmente, não a impediu de ficar falando como ele é bonito.

– Tipo, normalmente não curto caras com tanta tatuagem e um montede piercings, mas, meu Deus, que olhos! Você já viu coisa parecida? Parece aquela pasta de dente transparente. Lindos! E aquele corpo, aposto que ele malha. Tipo, eu curto uns caras de barriga tanquinho, mas aquele porte alto e magro tem tudo a ver com ele. Que tipo de menina ele costuma pegar? Tem certeza de que não tem namorada? Sério, Betty, tô louca pra lamber aquela argola que ele tem no canto da boca, tipo, muito louca. Não acredito que você tem um amigo gostoso desses e eu ainda não peguei. É tipo contra as leis da natureza.

Eu nunca transei com ninguém. Nunca, nunquinha. Não que isso seja da conta da Cherly. Uns caras já tentaram, e até já me senti tentada, mas toda vez que cheguei perto de ir até o fim, meu cérebro entrou em curto e me lembrou de que nenhum deles era quem eu realmente queria. E então simplesmente perdi a vontade. Olhei pra Cherly, apertei os olhos e tentei dar um chega pra lá nela:

– Cher, tô tentando fazer as contas. Você pode esperar um pouquinho?

– Então me dá o telefone dele.

Eu estava quase perdendo a paciência e fazendo a menina engolir uma pilha de notas de um dólar. A Verônica deve ter pressentido que uma tempestade estava se aproximando, porque sentou do meu lado e olhou feio para a ruiva. Minha colega de apê tem alguma coisa que obriga as pessoas a prestar atenção nela. Seja lá o que for, adoro isso.

– Cher, dá um tempo. Eles não são tipo melhores amigos. Se queria o telefone do cara, devia ter pedido pra ele enquanto estava aqui.

A Cherly fez uma cara que, provavelmente, deve arrancar muita coisa dos homens, mas eu só revirei os olhos.

– Eu ia pedir, mas ele não parava de olhar pra bunda da Betty. Por isso perguntei se rolava alguma coisa. Assim, o cara nem te deu um abraço nem nada quando foi embora, mas vocês dois se olhavam como se fossem se pegar a qualquer momento.

Virei pra Verônica, chocada. Desde quando o Jughead, que normalmente me ignorava ou fingia que eu não existia, olhava pra alguma coisa minha? Ela fez uma cara irritada e disse:

– Se a Betty encontrar o Jughead num futuro próximo, tenho certeza de que vai dizer que você quer o telefone dele. Ou então passar o seu, se ele quiser. Agora vamos falar de uma coisa realmente importante. O que você quer fazer no seu aniversário, Betty? Só faltam duas semanas.

Resmunguei e desisti de contar o dinheiro direito. Passei as notas pra Verônica e comecei a separar e grampear os comprovantes de cartão de crédito, uma tarefa que exigia muito menos atenção. 

Odeio fazer  aniversário. Normalmente, era uma briga pra saber com quem eu ia ter um jantar desagradável: com meu pai e a mulher dele ou com minha mãe e o marido dela. Isso quando eles se davam ao trabalho de lembrar. Ano passado meu pai me mandou um cartão com um cheque de mil dólares, e minha mãe me ligou e prometeu que a gente ia fazer alguma coisa quando tivesse tempo (o que ela nunca tem). A Verônica acabou me levando pra comer sushi e ver uma comédia romântica idiota, e o dia passou semgrandes emoções. Nem a família Jones dava muita bola pro meu aniversário. Acho que a data fazia com que eles se lembrassem que mais um ano tinha passado desde que o Dylan se foi. O Cole sempre me mandava alguma coisa, não importava em que parte do mundo estivesse. Foi dele que ganhei meus presentes preferidos. Acho que, já que este ano faço vinte, devia tentar fazer uma coisa especial. Mas não estou nem um pouco a fim.

– Por que a gente não sai pra dançar? – sugeriu a Cherly.

Olhei pra ela com cara de quem tinha visto um fantasma. Não sou muito de socializar com as meninas do trabalho, não por que não goste delas. Algumas até são bem legais, e a maioria é como eu e a Verônica: se vira pra pagar as contas e tenta dar conta da faculdade. Mas elas curtem beber, balada, ficar com mil caras, sair e fazer coisas que não têm nada a ver comigo. É bem verdade que o dinheiro faz muito menos falta pra mim do que pra elas. Mas o que ganho me deixa mais tranquila de dizer não pros meus pais quando tentam me obrigar a fazer alguma coisa usando o argumento de que pagam minhas contas. Não preciso de mais ninguém na minha vida achando que tenho algum defeito de fabricação. E é por isso que simplesmente evito esse tipo de convívio.

– Eu não gosto de dançar.

A Verônica fez uma careta pra ruiva e disse:

– Quem foi que convidou você, hein?

A Cherly bateu aqueles cílios postiços e franziu o nariz.

– Achei que o Moreno Alto e Tatuado podia aparecer, já que é seu aniversário. Vou dizer uma coisas, senhoras, estou no estágio quatro do tesão e só o Jughead pode me curar.

A Verônica só me olhou, e continuei grampeando meus papeizinhos.

– Não, meu aniversário não é nada de mais. O Jughead não vai aparecer.Gosto de ficar na minha.

– Que chata!

Não sou amiga da Cherly. Pra falar a verdade, nem gosto muito dela. Estava prestes a mandar aquela menina ir tomar naquele lugar – o que é uma coisa que eu nunca faço –, mas a Verônica continuou conversando comigo como se a mala nem estivesse lá.

– Ah, anda, Betty. Vamos fazer alguma coisa divertida. Você sabe que seus pais só vão te estressar, e a gente só faz vinte anos uma vez na vida. Precisa ser divertido e emocionante.

Aqueles olhos cor de whisky brilhavam, e eu sabia que minha amiga estava inventando alguma coisa para a qual ia ser quase impossível de dizer “não”. 

Enfiei as pilhas de papel num daqueles envelopes do caixa, peguei o dinheiro que a Verônica me entregou e terminei minhas contas. A gente sempre ganhava umas gorjetas boas. Mas, por algum motivo, tinha sido um dia especialmente lucrativo. Soltei o cabelo e cocei a cabeça.

– Depois a gente conversa, tá? Quero só encontrar o Lou e pedir pra ele acompanhar a gente até o carro, caso o Gabe tenha resolvido voltar. Quero ir pra casa.

Ela pendurou o braço no meu, e a gente foi conversando até a entrada do bar.

– Você acha que ele ia ter coragem de fazer isso? Quer dizer, o Jughead e os amigos dele pareciam bem determinados a fazer o cara entender que precisa cair fora. E o Lou mandou ele se mandar, se não estivesse a fim de morrer.

– Sei lá, Vee. Ele tá meio louco. Nunca pensei que ia aparecer aqui,ficar todo pegajoso e pôr o dedo na minha cara. Não sei mais o que tá acontecendo. Sério, a gente não teve nenhum grande romance, e não parti o coração dele nem nada. Nosso namoro era, no máximo, morno. O Jughead acha que ele tá puto porque dei o fora nele. Simples assim.

– Ele deve ter razão.

Fiz uma careta, e o Lou levou a gente até o carro. A gente se despediu e foi pra casa. Eu estava me esforçando para tomar a melhor decisão para todo mundo: queria que o Jughead recebesse amor e apoio da família dele, queria que a Gladys se tratasse e parasse de menosprezar o filho, queria que o Gabe se tocasse e fosse cuidar da vida dele. Mas o que eu mais queria era parar de me sentir responsável por isso tudo.

                                    ****


A SEMANA SEGUINTE passou voando. Fiz duas provas, trabalhei um dia a mais e joguei uma partida complicada de “Evitar o Ex”. O Gabe também estuda na UD ( Universidade de Denver ) e, apesar de cursar Direito e ter todas as aulas do outro lado do campus, aparecia do nada em qualquer lugar e me ligava pelo menos duas vezes por dia. Até pensei em trocar de número, mas ia dar um trabalhão. Então deixava as ligações dele caírem na caixa postal e fiquei mestre em fingir que não o via.

O Cole ligou e disse que a Gladys não tinha melhorado nem um pouco. Ela estava se recusando terminantemente a ver um psicólogo especializado em luto e agora culpava o Jughead por eu não querer mais ir pra Brookside no fim de semana. Pelo que ele contou, a mãe insistia em dizer que o Jughead tinha feito lavagem cerebral em mim e me posto contra ela. 

O Cole ainda não se sentia à vontade de deixar ela sozinha, apesar de o Jughead estar enchendo pra ele vir para Denver. Dava pra ver que o Cole estava com aquela sensação que conheço tão bem, de ficar no meio do cabo de guerra entre os dois. Fiquei chateada por ele não vir para meu aniversário, mas as coisas não estavam nada fáceis para o Cole, então nem falei nada.

Quando chegou o fim de semana, fiquei tentada a pedir pra alguém ir no domingo trabalhar no meu lugar, só pra evitar mais um fim de semana de dramalhão. Mas o bar estava lotado. Nem vi se o Jughead apareceu com os amigos dele. Ainda era estranho não precisar arrastar o cara para o brunch da família todo domingo. Mas, quando terminei meu turno sem dores de cabeça, acusações ou mágoas, dei meu primeiro suspiro de alívio em anos. Estava tão calma que deixei a Verônica me convencer a faltar num grupo de estudos para ir a um restaurante mexicano. Era a primeira vez, desde que o mundo é o mundo, que sentia ser eu mesma e quase não sabia o que fazer com meu tempo.

O semestre estava começando, e eu me afogava nos trabalhos da faculdade. Então avisei que não ia trabalhar nem na sexta nem no domingo. E, já que sábado era meu aniversário, não me puseram na escala. Todo mundo no bar sabe que o Lou me adora e é capaz de matar quem me fizer trabalhar no dia que faço vinte anos.

Quando chegou sexta-feira à tarde, meus pais ainda não tinham aparecido, e pensei que tinha me livrado de mais um momento família forçado. Recebi uma mensagem da Gladys pedindo para eu reconsiderar ir lá no domingo, pro meu aniversário. Respondi que adoraria ir, desde que o Jughead também fosse convidado, e ela não respondeu. A Verônica estava toda cheia de segredos sobre os planos dela, e isso me deixava tensa. Pra mim já estava bom demais comer sushi e ir ao cinema de novo, mas ela continuava insistindo que a gente tinha que se soltar, viver uma aventura e fazer alguma coisa diferente. Essas palavras e aquele comportamento “se joga” dela tinham tudo para acabar em desastre, mas eu estava tentando  manter o pensamento positivo, porque a Vee só estava tentando ser legal.

Eu estava saindo da aula de anatomia, e mandando um torpedo para lembrar uma colega de que ela ia trabalhar no meu lugar, quando esbarrei em alguém e, imediatamente, me encolhi de medo e irritação. 

O Gabe estava bem na minha frente, bem-arrumado e engomadinho como sempre. De tão certinho, parecia que ele tinha ficado passando as mãos naquele cabelo preto sem parar, e, quando estendeu o braço para eu não cair, fui para trás tão rápido que quase caí de fato.

– O que você tá fazendo? – perguntei.

Eu queria parecer o mais indignada e hostil possível, mas minha voz falhou, e tive que limpar a garganta pra manter a compostura. Aqueles olhos azuis dele ficaram procurando os meus, e eu não conseguia parar de me perguntar como é que pude achar esse cara atraente um dia. Agora, ele só me dava arrepios.

– Hã… Você não retorna minhas ligações, e está meio difícil te achar ultimamente.

– É por que não quero te ver nem falar com você. Saia da minha frente.

– Betty, espera.

Ele levantou a mão, tirou uma coisa do bolso e me entregou.

– Sei que amanhã é seu aniversário e só queria te dar uma coisa pra pedir desculpas pela maneira como tenho me comportado. Fiquei louco só de pensar que poderia estar com aquele maluco, mas sua mãe explicou que não existe nada entre vocês. Tá aqui, pega.

O cara empurrou uma caixa forrada de veludo na minha direção, e fui andando pra trás como se ele estivesse segurando uma cobra venenosa.

– Não vou pegar isso, não. Não vou pegar nada que venha de você.Me deixe em paz, Gabe. Estou falando sério.

– Olha, Betty. Você não pode pensar que algum dia vai ter alguma coisa com aquele cara. Sua mãe me contou que você gosta dele há anos, mas que o cara nem te olha. Você não faz o tipo dele, só isso. É boa demais pra esse tal de Jughead, e ele sabe disso. Me dá outra chance, faz muito mais sentido a gente ficar juntos.

Queria dar um soco nele, mas deixei a frieza que corria pelas minhas veias ao ouvir aquelas palavras encobrir a raiva que estava começando a sentir.

– Não.

Não disse mais nada, só “não”, porque não precisava me explicar. Não precisava explicar meus sentimentos, nem que tudo o que ele disse sobre o Jughead era verdade. Eu não era boa demais pra ele. Era EU demais pra ele me ver de qualquer outro jeito que não fosse o de sempre, e tinha aceitado isso há muito anos. 

Dei mais uns passos trôpegos pra trás, virei e saí correndo como uma maratonista. Acho que o Gabe me chamou, mas não liguei. Só dei no pé. Ele estava começando a me assustar de verdade, e o fato de que minha mãe estava dividindo minha intimidade com ele me dava vontade de vomitar. Não conseguia acreditar que aquela mulher, que nem se deu ao trabalho de notar quando saí da casa dela pra ir estudar, tinha percebido o que eu sentia pelo Jughead. Se o Gabe não parasse com isso,eu não apenas ia ter que trocar o número do telefone – ia ter que arranjar uma ordem de restrição contra ele.

Quando cheguei em casa, o apartamento estava vazio. Que nem uma idiota, verifiquei se todas as portas estavam trancadas. Me escondi no quarto e fiquei fazendo trabalhos da faculdade, chafurdando naquela pena de mim mesma que estava ameaçando me afogar. Não me considero uma pessoa excessivamente extrovertida nem otimista. Isso era resultado de anos e anos de não ser amada em casa e ter poucos amigos no colégio. 

Por um tempo, o Dylan conseguiu puxar minha cabeça para fora daquela concha privilegiada onde costumava me esconder. Eu achava que, quando saísse de Brookside e fosse pra faculdade, poderia ser eu mesma. Mas, infelizmente, o Dylan morreu, e continuo me matando para ser tudo o que pessoas que não valorizam meu esforço querem que eu seja.

Me visto bem e me comporto direitinho para meus pais não esquecerem completamente que eu existo. Bancava a babá do Jughead e aguentava o comportamento horrível dele porque queria que a Gladys e o FP lembrassem que ele precisa e merece ser amado pelos pais, igualzinho ao Dylan. Uso um uniforme ridículo para trabalhar e aguento aquelas meninas bestas e aqueles clientes bêbados porque a Verônica merece dividir o apartamento com alguém ponta firme, com quem possa contar.

E, principalmente, finjo que interagir com o Jughead e ver o cara pegar a maior parte da população feminina de Denver não é nada, que não me faz morrer por dentro. E continuar aguentando tudo isso dia após dia estava começando fazer o pouco que ainda resta de mim mesma virar fumaça. Sei que topei sair com o Gabe porque ele me faz lembrar do Jughead, ainda que vagamente. Ele tem cabelo preto e olhos claros, e, apesar de ser playboy e todo bom-moço, tinha um tantinho de safadeza que conseguiu desarmar minha cautela de sempre. Depois de alguns encontros, percebi que não rolava. Nunca rolou. Eu estava sempre atrás de alguma coisa, de alguém que, na verdade, não estava lá. O Gabe era educado e conveniente até se dar conta de que eu não queria transar com ele. Também sei que seis meses é muito tempo para deixar alguém na seca, mas isso não justifica o comportamento obsessivo bizarro dos últimos tempos, e essa era mais uma cruz que eu tinha que carregar.

Queria tanto deixar tudo isso pra trás… Pus uma calça de moletom e me enrolei na cama pra ver algo no Netflix. A Verônica só ia chegar lá pelas duas da manhã e pude ficar à vontade pra me lamentar sozinha. Eu devia estar toda animada, ter um monte de contatos no meu celular pra ligar e convidar pra sair numa das minhas raras sextas-feiras de folga, mas não tenho. E isso é muito triste. Eu só precisava de uma porção de gatos e um pote de sorvete para completar o quadro patético.

 Em algum momento, depois da segunda comédia romântica e da comida chinesa, prometi que no dia seguinte ia me jogar de cabeça no que a Verônica tinha preparado pro meu aniversário, independentemente do que fosse, porque o que estava fazendo era deprimente. Minha colega de apê tinha razão: eu precisava me divertir, me animar, e estava disposta a fazer o que ela achar melhor para conseguir isso. Peguei no sono assistindo a mais uma garota imbecil passar por uma transformação fantástica porque, por algum motivo, o cara de quem gosta não consegue enxergar a beleza por trás dos óculos e do cabelo bagunçado.


Acordei na manhã seguinte com os torpedos de feliz aniversário do Cole e do meu pai. Como sempre, não tinha nenhum da minha mãe, e odeio admitir que fiquei triste porque a Gladys também não mandou nada. 

Resolvi tomar café da manhã e fui pra cozinha. Fui surpreendida por um lindo buquê de flores que estava na mesa e me encolhi toda quando li o cartão e descobri quem tinha mandado. Sério, tenho que fazer alguma coisa a respeito dessa situação com o Gabe.

A Verônica sempre acorda cedo e corre todas as manhãs, por mais tarde que volte do trabalho na noite anterior. Ela chegou perto das flores com a caneca na mão, fez uma careta e disse:

– Estavam no portão quando voltei da minha corrida.

– Acho que vou ter que pedir uma ordem de restrição contra ele.

– Mas o pai do cara não é tipo juiz?

Soltei um suspiro e respondi:

– É. Me livrar do Gabe vai ser mais difícil do que eu pensava. Quer que eu faça o café?

Ela sacudiu os cabelos pretos e seus olhos brilharam de animação.

– Não. Planejei o melhor aniversário de todos os tempos. Pra começar, a gente vai tomar café no Lucile’s.

Amo o Lucile’s. É um restaurante famoso de comida cajun, típica do sul dos Estados Unidos, na região do parque Washington. Deve ser o único lugar fora de Nova Orleans que você consegue comer um bom beignet, um docinho frito que parece um sonho.

– Êêêêêê. Parece bom. O que mais você tem na manga pra hoje?

– Vamos fazer compras.

Fiz cara feia, porque odeio fazer compras. Uso um uniforme ridículo para trabalhar e roupas caras de grife porque meus pais insistem: eles dizem que devo me vestir de acordo com o emprego que quero ter, não com o que tenho agora. Pelo jeito, nenhum médico anda de calça jeans e camiseta quando não está trabalhando.

Quando a Verônica viu minha cara, deu um sorrisinho maligno.

– Não, senhora. A gente não vai fazer compras de menina rica. Vai fazer compras normais, que universitárias normais fazem todos os dias. Vamos ao shopping, ao meu bazar preferido e àquele brechó legal da Rua Pearl. E você, minha amiga, está proibida de gastar mais de cinquenta dólares numa peça só. Nada de sapatos de duzentos dólares nem de twinsets de cashmere de quinhentos. Nada de calças de alfaiataria de corte perfeito costuradas à mão por monges cegos dos Andes ou sei lá o quê. Vamos passar o dia como duas amigas normais, que torram suas gorjetas em um monte de porcaria inútil.

Parecia divertido, e era uma coisa que eu nunca tinha feito.

– E depois – continuou ela, com aqueles olhos cor de conhaque arregalados de um jeito dramático – a gente vai pro salão arrumar o cabelo, fazer o pé e a mão. Uma colega da minha aula de química inorgânica tem um cabelo maravilhoso e jura de pé junto que esse lugar é legal. Depois a gente vai se arrumar, colocar nossas roupas novas de garota normal e jantar naquele restaurante brasileiro que a gente tava morrendo de vontade de experimentar.

Tudo isso parecia incrível. Eu já ia me jogar em cima dela para dar um abraço enorme de agradecimento, mas a Verônica levantou a mão e disse:

– Ainda não terminei.

Aí foi até o quarto dela e voltou com um envelope cor-de-rosa com um cartão.

– Depois, você vai usar esse presente muito legal, muito indispensável, que comprei pra você sair comigo. Não pra ir num restaurante com bar tipo o Dave and Buster’s ou no Old Chicago. Quero dizer sair sair. Vou te enfiar diversão goela abaixo nem que eu tenha que morrer.

Abri o cartão com as mãos levemente trêmulas. Não sabia o que ela queria dizer com sair sair. Dentro do envelope tinha algo que parecia um cartão de crédito, embrulhado em papel brilhante. Depois de ler os desejos ternos de feliz aniversário que minha amiga escreveu, abri o pacote com cuidado e fiquei sem ar quando vi o que tinha dentro.

– Vee, não posso usar isso.

Era um documento, com a minha foto e a data de nascimento com um ano a mais, para poder beber, igualzinho a uma carteira de motorista do estado do Colorado. Pra falar a verdade, comparada com minha carteira verdadeira, quase não tinha diferença.

– Ah, pode sim. A senhorita passou vinte anos sendo a menina perfeita, e eu tô de saco cheio de ver você se matar por causa disso. A maioria das garotas da nossa idade sai na balada, entra com identidade falsa nos lugares, beija uns gatinhos, transa sem compromisso, tem brigas ridículas e dramáticas com as amigas… E você, Betty, não faz nada disso. Hoje à noite vai levar esse documento falso, sair comigo e agir como qualquer menina idiota de vinte anos que conheço. A gente vai beber além da conta, fazer besteira e se divertir: você merece. Sua alma tá murchando de tanto que você tenta ser alguém que não é, e não posso mais ficar parada olhando isso acontecer.

– Mas faço 21 no ano que vem…

Não sei por que pensei que esse era um bom argumento contra os motivos muito pertinentes que minha amiga me apresentou, mas foi isso que saiu da minha boca.

Ela sacudiu a cabeça e falou:

– E daí? Você tem vinte anos hoje e vive como se tivesse cinquenta.

Essa doeu, porque, da última vez que a gente foi para Brookside, o Jughead disse mais ou menos a mesma coisa. Lembrei com um suspiro da promessa que fiz na noite anterior, de aceitar todos os planos da Verônica, pra esquecer tudo pelo menos por um dia. Pus o cabelo atrás das orelhas, endireitei os ombros e respondi:

– OK.

A Verônica me olhou com cara de espanto.

– OK?

– É. Vamos fazer isso. Que a farra do aniversário comece!

Ela deu um gritinho alto que doeu nos meus ouvidos e correu pra me dar um abraço tão apertado que quase me matou.

– Pode acreditar, Betty. Você nunca vai esquecer o dia de hoje.

E ela tinha razão, porque, lá pelo fim da noite, esse aniversário ia mudar minha vida.

                                  ****


O CAFÉ DA MANHÃ FOI INCRÍVEL. A gente se empanturrou de frituras gostosas e, quando cheguei ao shopping, precisei dar uma corrida só pra me aguentar em pé. Experimentei um milhão de calças jeans e acabei comprando várias. Levei um par de All Star que sempre quis, mas nunca tive coragem de comprar porque seria imediatamente classificado como inapropriado. Fiz um estoque de camisetas e regatas básicas. No bazar, garimpei uma jaqueta de couro bem rock ‘n’ roll incrível e duas camisas estilo country com botões de pressão perolados. Sei que vão ficar sensacionais com meu jeans skinny novo. Dei uma pirada no brechó, porque simplesmente me apaixonei por todos os vestidos estilo anos cinquenta e sessenta. Com alguns, fiquei parecendo um personagem do seriado Mad Men. Com outros, a cara da Bettie Page, a mais famosa de todas as pin-ups (só a cara, porque sou muito mais baixinha do que ela).

Comprei um par de sapatos de salto azul-pavão que tinha lantejoulas e penas dos lados e um casquete fofo que provavelmente nunca vou usar, mas adorei. O mais importante foi que dei risada com a Verônica por horas e horas, enquanto a gente experimentava roupas e mais roupas. Parecia que um peso enorme tinha saído do meu peito. Foi divertido, simples e normal, e era triste eu ter esquecido que isso era possível.

Pintei as unhas de pink e, só por diversão, pedi para pôr umas estrelinhas pretas. Ficou descolado e bem diferente das cores clarinhas e peroladas que costumo passar. A manicure tinha uns dreads verdes e uma tatuagem na testa. Fiquei toda feliz quando ela me deu um sorriso e disse que tinha achado legal. Todo mundo que trabalha no salão era descolado, meio roqueiro. Normalmente, me sentiria deslocada e ficaria tímida, mas o pessoal era tão legal e simpático que eu só podia relaxar e me divertir.

O cara que fez meu cabelo era bem alto, com uma enorme tatuagem de um olho na careca brilhante. Estava vestido de oncinha da cabeça aos pés, com uns sapatos que com certeza eram mais caros do que os meus. Ele era um fofo, disse que meu cabelo era maravilhoso e sugeriu cortar em camadas para dar mais volume e vida. Topei na hora e até perguntei se ele podia fazer alguma coisa diferente com a cor. Meu cabelo é tão claro que evito tingir, porque ficaria muito radical. Os olhos pretos dele brilharam de animação quando pedi que fizesse algo inusitado, mas respeitável.

Ele deixou meu louro normal com um toque castanho por baixo. Ficou incrível e bem diferente, mas discreto o suficiente pra não ser espalhafatoso. O que mais gostei foi que dividiu minha franja reta em duas e passou o tom mais escuro de um lado. Ficou moderno, descolado e tão inusitado que dei um abraço forte nele de tanta alegria. Ele também me deu um abração, provavelmente porque deixei uma gorjeta que daria pra fazer uma viagem de fim de semana, mas e daí? Estava sensacional.

A gente foi correndo para casa se arrumar para o jantar. Coloquei uma roupa nova: uma saia reta superjusta com uma camisa azul transparente e uma regatinha preta por baixo. Fiz cachos no cabelo, pus mais maquiagem do que de costume e resolvi, só porque me deu vontade, pôr aqueles meus coturnos pretos incríveis que parecem algo que uma modelo da Harley Davidson usaria. Eles davam um toque alternativo no meu visual e combinavam com meu estado de espiríto depois de um dia inteiro deixando a verdadeira Betty sair da sua jaula perpétua.

No restaurante, o tubinho vermelho da Verônica, que fazia as pernas compridas dela parecerem intermináveis, fazia o garçom praticamente babar na nossa água toda vez que vinha encher nossos copos. Ela me fez testar meu documento novo pedindo um drinque, e funcionou bem.

Quando vi, a gente estava bem soltinha e se divertindo pra caramba. Depois, a gente foi de clube em clube no Ba-Tro e entrou em todos os bares descolados de Capitol Hill. Fiquei surpresa porque nem precisei mostrar a carteira falsa pra entrar na maioria deles: basta usar uma saia justa e um bom decote.

Morri de rir da Verônica imitando o jeito esquisito de um cara dançar. A gente chamou bastante atenção por onde passou, e muitos dos nossos drinques saíram de graça. Um menino que estuda na Universidade do Colorado em Boulder começou a me contar todos os detalhes da sua incrível carreira no futebol americano. Quer dizer, começou a contar pros meus peitos, porque acho que não tirou os olhos deles nem por um segundo. A Verônica estava revirando os olhos e tentando fugir de um cara com terno de bancário que estava se oferecendo para fazer o imposto de renda dela de graça se desse o número do telefone para ele. Era tudo muito bobo e divertido, e não precisei me esforçar pra paquerar ou parecer atraente. Já estava bêbada e não tinha mais condição de conversar. Só precisava sorrir e sentar fazendo charme na banqueta do bar.

Aparentemente, já estava ficando craque nessas duas coisas. Apareceu outro cosmopolitan na minha frente – que eu deveria ter dispensado –, e o Jogador de Futebol Americano estava chegando cada vez mais perto quando algum sexto sentido – ou, quem sabe, meu instinto de sobrevivência – começou a gritar.

Levantei a cabeça e me virei na banqueta, quase dando uma joelhada nele. Olhei em volta, espichando o pescoço pra tentar entender por que meu corpo estava tão tenso, mas só vi frequentadores típicos daquele bar socializando. O Jogador de Futebol Americano estava tentando chamar minha atenção de novo, passando o dedo no meu braço. Acho que era pra ser sensual, mas eu estava bêbada, tinha alguma coisa me perturbando, e queria que ele desse o fora. De repente, me deu vontade de ir embora e fiquei procurando a Verônica, pra gente arrumar um táxi e sair dali. 

Antes que eu a encontrasse, senti uma mão quente passando por baixo do meu cabelo e parando na minha nuca. Uma voz profunda rosnou no meu ouvido:

– Caralho, como é que você conseguiu entrar aqui, Gasparzinho? E oque fez no cabelo?

O Jogador de Futebol Americano arregalou os olhos, porque, bom, o Jughead é o Jughead. O cabelo roxo e espetado tinha desaparecido. Ele tinha raspado dos lados e descolorido o que sobrou, deixando um moicano de vários centímetros de altura, absurdamente branco. Estava com uma camiseta preta justa, com o desenho de uma caveira com capacete de viking em chamas, jeans pretos rasgados no joelho e aqueles coturnos pretos de motoqueiro. Era para o cara parecer relaxado e mal vestido perto do Jogador de Futebol Americano, que usava um suéter decote V, mas não ficou. Ele estava um gato, superdescolado, com cara de barra pesada. O outro cara saiu correndo do balcão e desapareceu no meio das outras pessoas.

 Eu estava bem bêbada. Admito que não devia ser o melhor estado para começar uma discussão com o Jughead, mas gostei do meu cabelo e não ia deixar ele estragar os bons fluidos do meu aniversário. Principalmente porque era óbvio que ele não fazia ideia de que era meu aniversário. Me soltei dele e tomei aquele drinque azedo de um gole só.

– O que você tá fazendo aqui? – perguntei.

Ele levantou a sobrancelha e sentou no lugar do outro cara, olhando pra baixo, na altura do meu decote.

– O estúdio é aqui na esquina. Eu e o Archie sempre damos uma passada aqui depois do trampo. Acabei de terminar uma tattoo. Como é que você conseguiu entrar? Eles pedem pra ver o documento na porta.

Tentei fazer charme dando aquela jogada no cabelo que já vi um milhão de meninas irritantes fazerem. Só que praticamente caí do banquinho, porque aquele último drinque tinha resolvido me avisar que mandar ele pra dentro de um gole só tinha sido uma péssima ideia. Me segurei no balcão, e o Jughead estendeu a mão pra eu não cair. Meu antebraço ardeu com o toque. Eu deveria ter ouvido meu instinto. Pus a mão na testa, que estava quente, e comecei a me sentir meio grudenta.

– Preciso ir embora – falei.

O lugar estava muito quente e barulhento. Se eu não saísse para tomar um ar, ia vomitar por todo lado, com certeza.

Tentei ficar de pé, mas o bar começou a girar loucamente, e tive que segurar no bíceps do Jughead para me endireitar. Que bom que tinha resolvido usar os coturnos em vez de salto. Senão, teria caído de cara no chão.

– Quem veio dirigindo?

Ouvi a voz do Jughead vindo de muito longe, e senti um cheiro muito bom. Dei um suspiro e me encostei no cara, enterrando meu nariz no pescoço dele. Tive que me apoiar em seus braços para alcançar o pescoço, de tão alto que ele era.

– Sério, Betty, como você chegou aqui?

– Vim com a Verônica de táxi.

– Cadê ela?

– Por aí, com um bancário. Preciso ir pra casa.

Minhas pernas bêbadas começaram a cambalear, e o Jughead segurou na minha cintura com força pra me manter segura no peito dele. Aquilo era bom. Nem pensei, fui colocando os dois braços em volta do pescoço do cara. Era gostoso, como sempre tinha imaginado.

– A menina que mora com ela tá por aí em algum lugar. Vê se consegue dar um jeito de achá-la. Vou andando com a Betty até o nosso apê.

Não entendi direito com quem o Jughead estava falando, mas ouvi uma voz conhecida resmungar que sim. Depois me lembro de ser meio empurrada, meio carregada pra fora do bar. O vento frio de janeiro me fez jogar a cabeça pra trás, e o Jughead me segurou do lado dele, colocando o braço em volta dos meus ombros. Passei o braço em volta daquela cintura e me encolhi. Eu sabia que estava agindo que nem uma louca por causa da vodca, mas não conseguia parar.

– Minha casa fica a três quadras daqui. Vou fazer você tomar um litro de café, comer umas batatinhas e te pôr dentro dum táxi. Você tá ainda mais pálida do que o normal e, se tentar entrar num carro agora, vai vomitar. Por que tá tão bêbada e vestida assim, toda sexy, hein?

O vento passou entre minhas pernas, me fazendo tremer. Encostei meu nariz gelado nas costelas do Jughead e respirei fundo. O cara tinha cheiro de antisséptico, por causa do estúdio; de cigarro, por causa do Archie; de produto de cabelo, por causa do moicano. E, por baixo disso tudo, tinha um cheiro quente e terroso que era só dele. Nos seis anos que o conheço, nunca fiquei tão perto do Jughead, nem por tanto tempo. Foi o que bastou para meu instinto sexual encharcado de álcool começar a funcionar a mil por hora.

– Você acha que eu tô sexy?

Para mim, essa era a parte mais importante da conversa. A gente parou num sinal e o Jughead baixou aqueles olhos claros, com uma expressão de irritação.

– Betty, todos os caras naquele bar tavam ao redor de você, como peixe em volta da isca. Você sabe que é bonita, o que não vem ao caso. O que importa é por que começou, de uma hora pra outra, a se vestir, se arrumar e se comportar como outra pessoa. O que tá acontecendo?

Eu queria fazer uma careta, mas estava muito difícil. Principalmente quando a camiseta dele subiu na parte de trás, e meu braço tocou aquela pele quente e deliciosa. Desci da calçada para atravessar a rua, meio tropeçando, e a gente foi andando mais uma quadra. Já dava para ver o Victorian, o prédio onde o Jughead mora. Ele me puxou mais pra perto, e nem tentei disfarçar o suspiro que soltei sem querer.

– Todo mundo acha que tenho que me comportar de um jeito: você,meus pais, seus pais, as meninas lá do trabalho, o Gabe. Todo mundo quer que eu seja isso, faça aquilo, obedeça tais e tais regras. Tô cheia disso. Acho que, só uma vezinha na vida, estou a fim de fazer o que der na minha cabeça sem ninguém me julgar ou esperar alguma coisa em troca.

O Jughead ficou quieto, e a gente foi subindo as escadas. Vai ver, estava tentando traduzir minhas palavras – coisa que nem eu consegui fazer direito, porque minha voz estava pastosa por causa da bebida, e meus dentes batiam de frio. Ele abriu a porta do apartamento. Estava quente lá dentro, então tirei o casaco e passei as mãos trêmulas no cabelo. Eu estava vendo tudo meio embaçado e quase engoli minha própria língua quando olhei para ele. O cara estava encostado de costas na porta, me observando com aqueles olhos marcantes. Nada de alfinetadas sarcásticas nem de me ignorar, ele só ficou me olhando. Bufei e senti gosto de suco de cranberry.

Dei uns passos meio desequilibrados na direção do Jughead. O cara é tão alto que tive que ficar bem na ponta dos pés para alcançar a orelha dele.Apoiei uma mão no ombro dele e outra na porta, atrás da cabeça, e sussurrei:

– Hoje é meu aniversário, Jughead.

Achei que o cara fosse se afastar, me empurrar para o lado sutilmente, mas ele descruzou os braços e me abraçou pela cintura. Aqueles olhos claros brilharam por um segundo e sua boca virou para baixo, fazendo a argola no lábio apontar pra mim.

– Desculpa, Betty. Eu não sabia.

Encolhi os ombros e dei um passo pra frente.

– Tudo bem, nem minha própria família lembrou.

Encostei no cara com tanta vontade que meu peito virou uma tábua contra o dele. Dava pra sentir que aquela proximidade toda estava surtindo certo efeito. Se eu não tivesse que me concentrar para não cair, poderia ter dado um sorriso. Tudo o que sempre quis na vida foi surtir efeito sobre o Jughead, fazer ele sentir algo por mim. Qualquer coisa, menos a tolerância de sempre.

– Eu sei o que você pode fazer pra este ser o melhor aniversário de todos os tempos – falei.

Queria transmitir segurança, que ele me achasse sexy e sedutora, mas tenho certeza de que só pareci uma bêbada tarada. Mas nem liguei. A verdadeira Betty, aquela que sempre foi desesperada por ele, tinha se soltado. E não ia voltar para a jaula de jeito nenhum.

Não pensei nem por um segundo, só o usei de apoio pra subir um pouco mais e tocar os lábios dele com os meus. Senti um choque quando encostei no piercing gelado. Mas o resto era inegavelmente quente e gostoso. Tudo o que eu sempre quis. O Jughead não me beijou, mas, mesmo assim, aquele ainda era o melhor presente de aniversário. 

Quando tentei me apoiar de novo nos meus próprios pés, alguma coisa aconteceu, alguma coisa mudou, e o Jughead deixou de ser um destinatário passivo para virar outra coisa, completamente diferente.


Notas Finais


Comentem e apertem o coraçãozinho. ❤️


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