História Nada Fácil - Tomarry - O resquício de uma alma

" O destino me deu mais uma chance de viver. De repente, chorei "

- Sra. Martins

    A vida havia se tornado algo difícil de se suportar, como se virasse mais um peso em minhas costas com a intenção de fazer-me cair. Porém, acredito que a vida tenha mais o que fazer além de perturbar um simples corpo andante faltoso de sentimentos. Então é isso que eu sou, afinal? Apenas mais uma pessoa depreciativa consigo mesma, incapaz de continuar vivendo? Alguém que já desistiu de respirar? Que tipo de herói EU S-O-U ?

    Cadê O grande Harry Potter? O salvador? Onde me perdi?

Sem aguentar segurar minhas lágrimas, deixei-me encharcar num pranto que parece sem fim e tornei alvo fácil para a solidão, vazio e tristeza.

Matar (os) quem mais amava não estilhaçou apenas almas de inocentes, mas a minha também. Este fardo que anda comigo, lado a lado, a anos me torna o verdadeiro vilão de minha história. Se eu tivesse sido menos prepotente, menos ignorante quanto a verdade, se eu tivesse ouvido menos Dumbledore…

               Eu mesmo me cegava e mudava, Dumbledore apenas induzia a isso. Todavia, não seria idiota o suficiente para dizer que ele não tinha culpa de nada,  pois foi ele que começou tudo isso...

   _ Senhor Potter - chamou o elfo doméstico que, sinceramente, não perdi tempo para decorar seu nome. É assim ultimamente, não crio mais laços afetivos, se eu abro espaço para alguém entrar também significa abrir espaço para alguém ir - a senhora Potter lhe chama - diz enquanto tremia, coisa comum visto que Gina não poupa sua fúria com os elfos.

...Não adianta mais apontar o dedo ou arranjar um culpado, já aconteceu.

    Só de pensar que poderia ter feito tudo diferente, me destrói mais um pouco. Gina não seria assim, tão amarga com tudo e todos,até porque foi a minha falta de amor relacionado à ela que a tornou maléfica.  

Me levanto da cama tão bagunçada quanto o quarto destroçado. Deixei que o elfo nos aparatasse até a dita ruiva.

    _ Pensei que iriam demorar mais, não que faça diferença sua presença - Gina disparou para o elfo, o olhando de braços cruzados.

     Sortudo, não terá de ouvi-la reclamar.

Olho em volta a procura das crianças que nem faziam questão de olhar  na face de seu pai. 

    _ ‘’querido’’, quando é que Dumbledore virá nos visitar ? Necessito falar com ele sobre os Malfoy. Ele não pode deixar sonserinos a solta assim - Gina continuou a dizer enquanto se sentava a mesa do lado de Lílian - se um de vocês se tornarem sonserinos, não me importarei de deserdar vocês. Sonserinos são sujos e bruxos malignos - dizia cortando com força o pedaço de carne em seu prato.

    _ Mas mamãe… - começou a dizer Lílian. Todos na casa sabiam que a pequena Líli era a mais provável de cair na sonserina, temíamos a hora em que ela completar 11 anos, pois Gina não brinca e não mede esforços em questão a suas promessas. 

O motivo de toda essa raiva direcionada a casa das cobras; não eram os comensais em si ( o que também não fazeria sentido, já que nem todos eles eram sonserinos) e muito menos eles serem ‘’venenosos’’ ou qualquer outro xingamento usado para ofender a casa tão normal quanto qualquer outra; Mas sim o fato de me arrepender muito mais por todos esses anos de preconceito não só com a sonserina,mas com a corvinal e lufa- lufa ( que a Weasley desconsiderou ofender) do que esses anos de desamor à ela.

    _ Coma! Vocês também Sirius e Severo! Imagina só o que dizeriam sobre vocês se aparecerem magricelas em hogwarts, achariam que estão passando fome - desdenhava dos próprios filhos sem um pingo de amor na fala.

    Lílian e Severo me olhavam com esperança de defendê-los, na esperança de eu fazer algo por eles, ao menos uma vez em suas vidas.

    Deveria dizer algo, você também tem voz!

    Eles não merecem serem menosprezados assim, ainda mais pela própria mãe! Mas eu… sou fraco… eles não merecem ter um pai assim.

    É por isso que não se pode ser neutro em algo, você só ajuda quem ganha…

Me levanto da cadeira em direção a porta, olho para trás para ter certeza se era isso mesmo que iria fazer. Encontro um pouco de minha dor nos olhos deles, sei que os seus gritos a noite não são por causa de pesadelos. Sei que suas marcas não são porque ‘’caíram’’ da bicicleta. Então porque não faço nada ? Por que tenho que ser assim?

    _ É verdade o que o Wild disse? Que vocês andam fugindo para a casa de Hermione? - disse olhando nos olhos deles ao mesmo tempo em que comia. Não conseguia evitar de lembrar de meus tios, eles me batiam sem motivos e me faziam de empregado. Não podia sair, nem comer direito. Duda via tudo isso, ele até era um bom amigo, me dava as sobras de comida, roupas velhas dele, até tinha dado um presente de natal que não gostava; mas ficava quieto quando seu pai me espancava, fingia não escutar quando sua mãe gritava me obrigando a escovar o chão - Pelo silêncio… COMO VOCÊS OUSAM ME DESOBEDECER? EU JÁ DISSE QUE NÃO É PARA IR NA CASA DOS GRANGER! ESPER- não aguento mais isso!

    _ GINA! - grito o nome dela com a pouca força restante em meu corpo - Pare de fazer isso com eles! São apenas crianças, ou não se lembra de quando fugia para hogsmeade? 

    _ Como você ousa? Depois de anos quer dar de bom pai? - ela se levantou e veio em minha direção furiosa. Segurei seus braços com força.

Não posso deixar eles sofrerem a mesma coisa que eu, merecem uma infância saudável.

    De soslaio, pude ver as crianças correndo para seus quartos.

    _ ESTOU CANSADO, GINA! Sabemos o quanto nosso casamento se encontra desgastado, porém não é motivo para descontar nas crianças! - digo e ela se pôs numa posição frágil, chorando em minha frente. A verdade, é que estou nesta posição junto a ela.

    _ C-como assim? Eu te amo, Harry! Deveria ser o suficiente… - a ruiva tossia em meio às palavras.

    _ Mas eu não te amo e você sabe disso! Eu matei quem mais amava, me arrependo todos os dias. Me desculpe…

    _ É só isso que sabes falar, ‘’desculpa’’, sempre desculpas. Por que não me deixou morrer? Naquele dia da câmara.. - soluçava alto, e se debatia em mim.

Mesmo com seus socos, a abracei. Ela sabia o que significava, era o meu adeus.

    _ Harry, por favor, não! Eu não sei… o que iremos fazer sem você? - Gina dizia de maneira desconsolada. Era verdade que Gina não era uma boa mãe ( e eu um péssimo pai), porém realmente não fazeria diferença eu continuar aqui ou não.

    Pego minha varinha da lateral de minha calça.

    _ Sou fraco, não aguento continuar desse jeito. Você tem tempo, Gina - digo  em meio às lágrimas - tem ainda uma chance de ser uma mãe e pessoa melhor - levanto a varinha até minha cabeça.

    E, como a muito tempo, pude desfrutar de um sentimento que não fosse relacionado ao vazio. Uma felicidade preencheu meu corpo da mesma maneira que me preencheu quando eu vi, pela primeira vez, um jogo de quadribol. Ou de quando fiz amizade com Hermione. Sorri tão grande que não poderia caber em meu rosto, todos esses anos vivendo, abalado pela dor, deveria ter feito antes!

    Com a força da adrenalina, não esperei nem mais um segundo. Falei, quase sangrando do prazer, permiti-me gritar com todas minhas forças, juntando o prazer ao ódio.

    _ AVADA KEDAVRA ! - Se explodiu a alegria, de maneira parecida com uma bomba trouxa. Sem conseguir pensar mais nada, um relâmpago esverdeado me atingiu, trazendo uma camada de verde fantasma ao cômodo.

    Fechei os olhos com o impacto, mesmo que fosse indolor.

    Ironicamente, o momento mais feliz de toda minha vida seria minha morte. 

Se eu morresse assim...