Sair do hospital não foi muito difícil, o difícil mesmo foi a minha mãe convencer me a ficar em casa para descansar. Aparentemente não tinha nada quebrado, mas o meu corpo estava agindo como se eu tivesse competido numa maratona pelo país. Doía-me tanto as pernas e o tronco. E a minha cabeça parecia uma bomba a maior parte do tempo, mas eu queria sair de casa. Tinha passado o fim de semana em casa e naquela segunda feira eu queria voltar às rotinas, porém não podia. Mas eu estava bem, estava vivo.
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-...Você fica adorável de mais quando come, nem parece você. - Namjoon comentou fazendo com que eu parasse de mastigar a cereja que tinha na boca.
-O que isso é suposto dizer? Eu sou adorável.
Vi ele rir e abanar a cabeça sem estar convencido.
-Se eu não sou adorável então que tipo de charme é que atraiu você?
-Você pareceu muito ousado quando nos conhecemos. - Admitiu - Muito confiante, eu gostei disso. Porém, eu não sabia o quão tímido e introvertido você conseguia ser.
-Você está romantizando os problemas de novo, eu não sou assim. Apenas era infeliz e reprimia os meus sentimentos. Mas era uma escolha. - Tirei outra cereja da pequena taça que tínhamos em cima da cama.
-...De qualquer forma, você é muito diferente do que parecia.
-Então você está desapontado? - Sorri triste para a taça.
-Nem um pouco, apenas foi um choque inicial. - Justificou se para depois me encarar - Mas também não é assim tão diferente. Quando estamos assim, juntos, eu consigo que a sua confiança sobressaía. - Olhou para mim com uma expressão superior.
-É, ás vezes. Não há muito que eu possa fazer, você deixa me à vontade. Só me pergunto se faço o mesmo com você.
-É... claro...!
-Não minta, Namjoon. - Observei-o divertido - Fico com pena quando deixo você constrangido.
-Você nunca me deixa constrangido.
-Eu sei que deixo. - Tentei não insistir demasiado.
-Não.
-Então... Se eu do nada fosse para cima de você não ia ser nem um pouco constrangedor?
-Nem um pouco. - Repetiu.
Revirei os olhos encarando a janela do quarto que mostrava o céu escuro daquela noite. Namjoon tirou a taça de cima da cama de casal e colocou-a no chão para se poder inclinar pousando o queixo no meu ombro:
-Ficou com medo?
-Não me faça rir.
-Ah, onde está a confiança? - Perguntou e tirou o rosto de cima de mim ao ver o meu olhar sobre ele.
Hesitei talvez durante um segundo, antes de lançar o corpo ao seu abraçando o seu pescoço num beijo sufocante.
-...Constragido? - Perguntei sem afastar muito o rosto do seu.
Namjoon agarrou nas minhas coxas puxando o meu corpo para se enquadrar melhor no seu quadril e depois de morder o meu lábio inferior olhou-me arrogante:
-Tente de novo, bebé.
Ele sabia que aquilo me irritava profundamente mas insistia em me chamar assim.
-Você é um idiota. - Ele fez me deitar na cama antes de subir em cima mim para me beijar o pescoço.
-Sim? Me conte mais, Seokjin. - Roçou o nariz dele no meu.
-Otário. - Deixei a minha perna ser puxada por ele - No entanto... Um docinho. - Fiz ele olhar para mim com uma expressão séria.
-Seokjin... - Chamou baixo perto do meu rosto.
-Mmh?
Ele inclinou-se sobre mim e mordeu o meu pescoço lentamente deixando aquela zona molhada com saliva e eu respirei fundo.
-Ainda sou eu o idiota? - Passou a mão pelos meus cabelos.
-Ficou amuado com isso? - Sorri falso.
-Sim, porque você é que é o idiota.
-Porquê?
-Você faz me querer você demasiado e depois me empurra e me insulta.
-Ssh... - Empurrei ele para trás com força fazendo com que ele se deitasse para eu me sentar em cima dele - É tudo um jogo entre nós e porra, eu quero ganhar.
-Como tenciona fazê-lo? Quebrando me psicologicamente... pedaço a pedaço... É assim, Seokjin? - Teve o seu rosto acariciado pelos meus dedos.
-Ah porque eu seria cruel assim? Eu gosto demasiado de você para tentar algo desse género. Você é um garoto tão querido. Mas é um idiota. E eu amo brincar com você. Não finja que também não gosta.
-Eu gosto, mas eu preciso de saber... - Agarrou as minhas pernas para subir o tronco e encostar a boca ao meu ouvido - Quando o jogo acaba? Quando é que eu ganho ou quando é que eu perco?
-Vê? Está sendo idiota outra vez. - Agarrei em seus cabelos despenteando-os - Você ganha quando eu ganho. - Encostei as nossas testas - Acho que sabe quando o jogo acaba... - Observei os seus lábios semi abertos e prontos para ser beijados por mim de novo.
-Eu sei? - Deixou que eu tirasse o seu casaco e o jogasse no chão.
-Acho que sabe muito bem, Namjoon. - Segurei o seu rosto ao selar as nossas bocas para um beijo dinâmico.
Era diferente de todos os nossos outros beijos. Havia um certo fogo dentro de mim que me fazia agir como se não fosse eu, ali, sentando em cima dele. Aquele garoto deixava me fora de mim.
Ouvi a voz dele chamar pelo meu nome numa das curtas pausas dos nossos beijos. «Seokjin». Era estranhamente agradável ouvir ele me chamar pelo meu nome e não apenas «Jin». Era especial, na verdade. Parecia que já ninguém me chamava pelo meu nome porém ele chamava por mim com naturalidade.
-Namjoon-ah... - Quebrei um beijo e ele ficou confuso e quieto observando me com as mãos à volta da minha cintura.
Namjoon passou a língua pelo lábio superior e eu senti me perdido nos seus olhos.
-Vamos terminar com isso de uma vez por todas?
Namjoon juntou os nossos lábios e deitou o meu corpo na cama de novo, dessa vez para eu permanecer assim. Sim, eu permaneceria deitado e deixaria Namjoon ganhar o jogo.
O barulho irritante do meu celular deixou me confuso enquanto Namjoon me beijava o pescoço provocando gemidos baixos ao pressionar o seu corpo no meu debaixo dos lençóis. O som acabou por me fazer abrir os olhos sem consciência que estava acordando.
-Kim Seokjin...? - Murmurei para mim mesmo - O que está acontecendo com você? - Sussurrei ao agarrar no celular que ainda estava tocando e encarei a tela.
'Namjoon'.
-E se não é o homem dos meus sonhos? - Falei antes de atender - Bom dia? - Suspirei nervoso.
-...Dormiu bem? - A voz de Namjoon pareceu distraída. Devia estar com sono.
«Dormiu bem?» Porque ele perguntaria isso? Era como se ele soubesse... Não.
-Sim. - Encarei o teto do meu quarto receoso - Onde você está?
-A caminho da faculdade. - Suspirou - Como você se sente hoje?
-Estou ótimo, Namjoon, não se preocupe. - Pedi cansado daquelas perguntas constantes.
-É impossível. - Ele disse sarcástico - Você não tem noção.
-Oh eu tenho. Simplesmente estou cansado da situação. - Virei o corpo - A minha mãe está sendo exagerada com os cuidados.
-Exagerada porquê?
-Eu poderia ir às aulas perfeitamente hoje. Ela não me deixa sair de casa.
-Ir ás aulas?! Sair de casa?! Se eu estivesse consigo nem deixava você sair da cama!
-Então como eu iria ao banheiro?
-... - Ele tossiu - Eu não deixava você sair do quarto. - Corrigiu e eu ri - É sério.
-Como eu comeria?
-Eu levava a comida para você. Você tem de ficar na cama, quieto, de preferência dormindo. Sossegado. Como um recém nascido.
-E eu pensava que ela exagerava, você é algo extraordinário, Kim Namjoon. - Murmurei não acreditando nas palavras dele - Você não entende o que é estar aqui fechado. Sem nada para fazer. Sozinho! É uma tortura.
-Bem... Eu também não deixaria você sozinho.
-Você não é minha mãe, mas poderia vir cá... - Tentei não soar demasiado necessitado.
-Eu posso ir quando acabar as aulas de manhã. Só trabalho no turno da tarde.
-Então vem almoçar cá a casa.
Ouvi ele respirar fundo e concordar.
-Oi? Se isso for por responsabilidade não venha. Não quero ser um peso.
-...Não é isso, idiota. Se estar consigo fosse por responsabilidade, eu seria muito responsável.
Não pude não sorrir. Aquele garoto tinha sempre o que responder?!
-Sim? Eu pensava que você fosse responsável.
-Hum... Eu tenho os meus momentos. - Confessou.
-Que momentos?
-Você sabe... Eu posso parecer um garoto exemplar com bons resultados académicos; trabalhador; Mas depois há aqueles momentos em que levo garotos bonitos para lugares escondidos para os pegar.
É claro. Aqueles momentos memoráveis. Épicos de verdade. Tão épicos que me faziam sonhar com... Nada. Com nada.
-Eu acho você um garoto exemplar.
-Sim? - O seu tom alterou.
-Sim. - Engoli a saliva que tinha na boca.
Quando Namjoon veio para minha casa não tinha aquele tom provocador. Deu-me um selinho antes de tirar os sapatos e devo acrescentar que logo ai fez-me sorrir para o resto do dia. Depois de almoçarmos o Namjoon pegou-me ao colo e levou-me para o meu quarto contra a minha vontade.
-Namjoon, sério! - Sorri para ele quando ele me deitou na minha cama.
-Sssh. Eu estou aqui então você não vai sair da cama. - Cobriu-me com o lençol.
-Namjoon, sério, isso não é...
-Não está confortável? - Olhou para mim com um sorriso que me fez ficar quieto.
-...Deite-se comigo. - Olhei para ele, sinceramente bastante inseguro - Por favor.
-Aish, mimado. - Sorriu embora eu achasse que ele não queria mostrar aquele sorriso deitando-se ao meu lado colocando o braço à minha volta.
-Assim eu não me importo de não ter de sair daqui. - Segurei a mão dele e Namjoon decidiu que era uma boa altura para me dar selinhos.
Aquilo era tão estranho e tão bom ao mesmo tempo. Uma pessoa solitária como eu precisava exatamente daquilo, por isso eu estava no paraíso, mas como uma pessoa anti-amor estava me contrariando.
-Como é suposto eu não ser mimado se você faz esses negócios comigo? - Torci o nariz.
-Você merece. - Apertou o meu rosto sem força.
-Sabe... a minha mãe me contou que você negou ser meu namorado. - Observei a sua expressão mudar para algo pensativa.
-Ela também me contou que você também negou namorarmos. Algum problema? - Acariciou o meu rosto com o indicador.
-Nenhum, eu acho isso bom. - Respondi aliviado.
-Exato... Nós não podemos pensar em nós mesmos como um casal. - Declarou - Quando você namorava, nós tínhamos aquela barreira. Não tínhamos liberdade por isso não passávamos os limites. - Continuou e eu olhei para ele com menos atenção - Temos de criar os nossos próprios limites, para não sermos como aqueles casais ridículos.
Porém havia um limite que eu queria passar.
-...Talvez criar mais regras, eu acho que...
Namjoon continuou a mexer a boca mas eu não ouvi. «Seokjin, nem pense nisso.»
-...Pare de ser assim.
-...«Assim»?
-Assim, me fazendo querer beijar você todo o momento.
-Você é igual. - Confessou e depois perdeu o sorriso ao ser beijado por mim - Não aja assim, eu tenho de ir trabalhar e se você me trata assim eu não vou embora.
-...Não vá... - Rocei o meu nariz no seu antes de ser beijado por ele.
Deixei a boca semi aberta de propósito fazendo com que Namjoon não resistisse à tentação de colocar a sua língua na minha.
-...Seokjin... - Chamou tendo o seu pescoço beijado por mim - Eu juro que não me controlo...
Eu descolei os meus lábios do pescoço dele lentamente e olhei para ele:
-Desculpe. Eu sei que não posso ser uma distração para você. Eu apenas não resisto a esses momentos. - Admiti com a cabeça pousada no seu ombro.
-Eu sei. É uma das coisas que gosto em você.
-Ser um egoísta por atenção?
-Ser impulsivo. Eu gosto disso. Mas agora tenho de ir. - Segurou o meu rosto.
Ele despediu-se e deixou-me entregue a mim mesmo e aos meus pensamentos. Devo dizer que eram pensamentos confusos.
Eu permanecia deitado na cama, sossegado tal como Namjoon tinha pedido que eu ficasse. Não parava de pensar nele e isso fazia eu me sentir instável. Como se tudo à minha volta não tivesse um grande valor se ele não estivesse por perto. Tinha saudades dele. Mesmo que ele me mandasse mensagens eu sentia que não era suficiente. Ele podia me dar atenção mas não era disso que eu tinha saudade. Era algo mais pessoal, mais íntimo e talvez até um pouco romântico.
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