POV Narrador
Duas semanas se passaram, e America melhorava a cada dia, fora transferida para um quarto, ainda precisava de aparelhos para respirar, e, infelizmente ainda continuava em coma.
Todos os dias, Maxon visitava a amada no mesmo horário, e com a mesma esperança de encontrá-la acordada. Desde o "acidente" ocorrido com a jovem, o rapaz nunca mais foi o mesmo, seu humor era praticamente nulo, raramente comia, e só saía de casa para trabalhar e visitá-la no hospital.
- Enquanto você não acordar, eu estarei aqui, todos os dias. - sobressaltou. - E até depois que despertar. - riu, sozinho, encarando seu rosto abatido. - Você não se livrará de mim tão fácil assim, minha querida. - sussurrou seu 'amado' apelido em seu ouvido, como se pudesse ouvir o que estava lhe dizendo, e realmente, podia.
Eu não sou sua querida! - America gritava, entre risos, em sua mente.
Tudo o que a ruiva mais queria era poder acordar, levantar e sair correndo para os braços de Maxon.
Mas não podia. Simplesmente não conseguia.
[...]
Horas depois, alucinações fervilhavam em seus pensamentos. O que estava a deixando em um estado de loucura. Pareciam sonhos, só que diversas vezes mais reais.
- America! - um grito capaz de ensurdecer invadiu os ouvidos da jovem, que se curvou, assustada. - Acorde, America! - ordena a voz, que logo reconheceu ser de Maxon.
- Maxon! - chamou pelo amado, sem receber resposta.
- Você precisa acordar, Ames. - a voz serena de May pairou, fazendo os olhos da jovem se encherem de lágrimas.
- Eu não consigo. - lamentou, chorando. - Eu não consigo.
No mundo real, as coisas estavam piorando. Os batimentos cardíacos de America diminuíam a cada segundo, bruscamente. O quarto onde ela descansava se encheu de enfermeiros e médicos, todos tentando salvar a vida da jovem.
- Agora é com você, querida. - uma enfermeira sussurrou. - Lute pela sua sobrevivência. - acariciou algumas mechas de seus cabelos ruivos, e por fim, disse. - Tente, com todas as suas forças, e se não conseguir, pode ir em paz, todos nós saberemos o quanto você se empenhou.
Os clínicos faziam o impossível para salvar America. Ela definitivamente não merecia morrer, é tão jovem, sagaz, bonita; tem uma carreira de sucesso e todos a amam.
Ela merecia uma vida pela frente; merecia casar, ter filhos, e vê-los crescerem.
Mas naquele momento, tudo parecia ir a água abaixo.
- Ela não está correspondendo a medicação. - um dos médicos proferiu.
- Sim, é perceptível. - outro falou, irritado por não conseguirem progresso.
Enquanto isso, America lutava contra seus pensamentos, com o pouco de consciência que lhe restava.
Agora é com você, querida. Lute pela sua sobrevivência. Tente, com todas as suas forças, e se não conseguir, pode ir em paz, todos nós saberemos o quanto você se empenhou.
Cada palavra dita pela enfermeira era digerida diversas vezes por America.
Como ela iria tentar sobreviver se não sabia o motivo disso?
Como iria lutar pela sua vida se não sabia como iria fazer tal proeza?
- Eu desisto! - berrou para si mesma, em plenos pulmões, se dando por vencida.
America chorava como um bebê, seu peito queimava, doía.
Foi então que mais um som estrondoso invadiu os ouvidos da jovem. E espelhos surgiram ao seu redor, espelhos; em todos os lugares, como se estivesse em uma caixa espelhada, e neles refletiam a imagem de America, no dia em que foi atropelada. Suas roupas estavam rasgadas, assim como sua pele, em certas partes. Haviam cortes em diversos lugares de seu corpo.
No mesmo instante, America tapou a boca com as mãos, perplexa. Por Deus! O que havia acontecido?
- Gosta do que vê? - a imagem refletida lhe perguntou. Que tipo de alucinação era aquela? - Me responda! - ordenou.
- Isso é uma alienação. - balbuciou, encarando seu reflexo.
- Pode até ser. - considerou. - Mas isso lhe mostra o quão fraca você é! - cuspiu as palavras, abalando a 'verdadeira' America. - Vai desistir tão fácil assim? - questionou seu revérbero. - Como você é ridícula, America! - protestou. - Vai mesmo deixar todos que te amam? Que fariam de tudo só para te ver viva?
- Eu não estou morta! - bradou, furiosa.
- Ainda. - completou. - Mas está prestes a "ir à óbito". - debochou, raivosa. - Quanta estupidez! - exclamou. - Tente, America! Tente!
- Eu não sei! - berrou. - Quantas vezes será necessário dizer isso até que entenda? Eu não sei, muito menos consigo fazer isso!
- Você é tão fraca. - expressou, com nojo em sua voz. - Como acha que o grande amor da sua vida viverá sem você? - referiu-se a Maxon, zombando-o. - Ele mal vive com você quase morta, imagine quando estiver morta por completo! - gargalhou.
- Cale essa boca! - exigiu. - Eu não vou morrer.
- Sim, você vai. - pronunciou-se, dizendo a mais pura verdade. - Descobrirá sozinha o que tem de fazer. - orientou. - E caso não descubra, saiba que May não te contará mais nenhum segredo, não comemorará mais nenhum aniversário de Gerad, nem mesmo irá ver sua família reunida. É uma pena, não? - ludibriou, e não recebeu resposta nenhuma. - Quer que eu continue? - questionou, e recebeu apenas silêncio em retorno. - Você não verá os filhos de Marlee e Celeste nascerem, muito menos verá os seus. E sabe o que acontecerá com Maxon? Ele simplesmente não conseguirá lidar com sua morte e se jogará nos braços da primeira que aparecer em sua frente, e creio que você compreenda muito bem quem ela seja. Ou vou precisar dizer o nome dela?
- Não ouse... - ameaçou.
- Ele ficará com Kriss.
Tal nome fez com que America borbulhasse de raiva, e logo, atacou seu reflexo, logo encontrando a plena e completa escuridão.
- Não há mais nada a se fazer. - lamentou um dos médicos. - Ela se foi.
- Hora da morte, sete e trinta e nove da noite. - disse o outro, analisando o visor de seu relógio.
Então o quarto foi se esvaziando, até se restar apenas uma enfermeira e o corpo de America.
- Sinto muito não ter conseguido, querida. - disse, com os olhos totalmente lacrimosos.
Em um impulso, o peito da jovem deu um pulo, sendo levado para cima. E ao bater suas costas no leito, os grandes e maravilhosos olhos azuis de America foram abertos, e fitavam o teto branco do hospital. Ela havia conseguido.
- Isso é um milagre... - murmurou a enfermeira, inconformada. - Ela acordou! - gritou, para seus colegas de trabalho.
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