POV Narrador
- Querida, você sofreu um aborto.
As palavras de Magda atingiram sua filha dolorosamente. O coração de America batia fortemente, machucando-se cada vez que se chocava contra suas costelas.
Um mar de lágrimas desabrochou dos cantos de seus olhos. A jovem encolheu o corpo, desacreditada. De todas as notícias recebidas naquele dia, aquela, definitivamente, era a pior, a mais triste.
- O quê?! - a voz de Maxon, mais rouca do que nunca, ecoou pelos ouvidos da ruiva, fazendo com que ela o olhasse de imediato, tirando-se de seu transe.
Seus olhos estavam inchados, seus cabelos loiros, desgrenhados, o contrário de como sempre se encontrava. Maxon, tanto quanto America, estava atordoado com a notícia. No entanto, ele sentia a necessidade de confortá-la, embora, estando na mesma situação que ela.
- Você estava grávida? - perguntou, fitando-a. - Por que não me contou?
- Eu não sabia. - a jovem murmurou, cabisbaixa.
Para ele, ver America sem um belo sorriso no rosto era uma tortura.
- Você estava com somente três semanas de gravidez. - a mãe da ruiva explicou, lamentosa, e voltou a lhe dizer mais algumas coisas sobre a perda.
Em momento nenhum, Maxon deixou de imaginar uma menininha de cabelos ruivos, olhos azuis intensos e lábios rosados e carnosos - cópia fiel de America. - correndo e brincando juntamente de Eadlyn e Ahren.
♣
A voz fina da doce garotinha fez Maxon despertar de seu sono. Ela estava entre America - que dormia pesadamente. - e ele, e cutucava a mãe, em uma tentativa falha de acordá-la.
- Mamãe. - a menina sussurrou no ouvido da ruiva, alto o suficiente para até o rapaz escutar.
- O que aconteceu, meu anjo? - Maxon questionou, unindo seu olhar ao dela.
- Eu não consigo dormir, papai. - ela choramingou, aconchegando-se em seus braços.
- Quer que eu te leve para seu quarto? - ameaçou se levantar, mas antes que o fizesse, viu a pequena negar com a cabeça. - Okay, ficaremos aqui.
Por alguns minutos, os dois ficaram em um silêncio absoluto, e o único som que era possível ouvir era o das respirações.
- Papi? - ela o chamou, acordando-o de seu breve cochilo.
- O quê, meu amor? - Maxon bocejou, enquanto falava.
- Você gosta da mamãe? - a garotinha perguntou, risonha, e seu pai assentiu em resposta, retribuindo-lhe o lindo sorriso que a filha lhe dera. - Ela é linda, igual a uma princesa. - comparou, pegando as mechas ruivas do cabelo da mãe e enrolando em seus pequenos dedos.
- Ela é. - o rapaz concordou, observando a nítida semelhança entre a esposa e a filha. - Igual a uma princesa.
- E você? É um príncipe? - embaralhou-se em suas próprias palavras, fazendo uma careta ao final da pergunta.
- Quase isso. - Maxon soltou uma risada baixa, para não acordar a amada. - E, respondendo sua pergunta, não, não gosto da sua mãe. - a menina arregalou os olhos, estupefata. - Eu a amo. Muito mais do que os príncipes amam as suas princesas.
Novamente, ficaram em silêncio, não queriam falar, apenas aproveitar a companhia um do outro. Com o tempo, que se passava vagarosamente, a pequena Amethyst foi fechando seus olhinhos, indicando seu sono, que finalmente havia chegado.
Com cuidado para não acordá-la, Maxon pegou a filha no colo, apoiando a cabeça da menina em seu peito. Em passos lentos, chegou até o seu quarto, e a deixou deitada em sua cama, ao lado da irmã mais velha, Eadlyn.
- Durma bem, minha querida Amethyst. - disse, em voz baixa, beijando-lhe a testa.
♣
- Maxon? - America chamou, percebendo certa alienação do namorado. - Maxon!
O rapaz pulou, assustado, e, consequentemente, foi tirado de seus devaneios. Toda a sua atenção foi desviada de seus pensamentos, para a ruiva do outro lado do quarto.
Ela se encontrava de pé, de lado para o espelho, puxando a manga da camisola de hospital.
- O que está fazendo? - ele indagou, franzindo o cenho.
- Estou tentando ver... - a jovem retirou um pedaço de gaze, que cobria o ferimento em seu ombro esquerdo. - isso. - fez uma careta ao observar os pontos no local onde havia levado o tipo, e logo em seguida, seu rosto adquiriu uma expressão de tristeza, enquanto rememorava os momentos da manhã daquele dia.
Devagar, America caminhou até o rapaz, mas antes disso, com dificuldade, pegou Eadlyn no colo. Em seguida, sentou-se na beirada da cama de Maxon, que continuava com o filho dormindo em seu peito.
- Como se sente? - ele perguntou, inclinando-se para beijá-la.
- Física ou psicologicamente? - revidou, suspirando pesadamente.
- Os dois. - o jovem respondeu, e passou as mãos pelos próprios cabelos, em uma tentativa falha de alinhar os fios.
- Bom... meu corpo inteiro dói. - a ruiva confessou. - Vir até aqui foi um inferno. - riu pelo nariz, sem humor nenhum. - E... eu não tenho mais lágrimas para chorar.
America apoiou sua cabeça no ombro de Maxon, que sentiu seu coração contrair-se no peito.
- Estou farta de perdas. - grunhiu, tentando esconder sua decepção. - Me sinto como se eu tivesse perdido tudo.
- Ei. - encarou-a, fazendo carinhos na face e nos cabelos da amada. - Você não me perdeu.
A jovem almejou que aquele momento todo acabasse, que tudo o que tivesse acontecido fosse apenas um pesadelo.
- Você me tem, você tem Eadlyn e Ahren. - ele garantiu, segurando o rosto de America. - E... nós sempre teremos Amethyst.
- Quem é Amethyst, Maxon? - a jovem perguntou, desconfiada.
Era óbvio que ela não havia tido o mesmo 'sonho' que Maxon.
- Nossa filha. - America levantou as sobrancelhas, espantada e rancorosa por ter feito a pergunta.
- Como sabe disso? - questionou ela, referindo-se ao nome e sexo da criança.
- Era como um sonho. - repensou. - Ou uma alucinação, eu não sei!
- Ela se parecia com Eadlyn, ou Ahren? - finalmente, deixou a tristeza de lado e, começou a se interessar pelo o que o rapaz estava dizendo.
- Não. - ele riu fraco. - Ela era exatamente como você. Seus olhos, seus cabelos, até mesmo os seus lábios eram iguais aos dela.
America o ouvia atentamente, ansiando por mais perguntas.
- Por que Amethyst? - entrelaçou seus dedos nos dele, e deu um leve aperto na mão de Maxon.
- É o nome de uma pedra preciosa. - respondeu, óbvio.
- Eu sei que você quer falar sobre mitologia. - America revirou os olhos, tentando mostrar o divertimento de sempre.
- Não só quero, como vou. - lançou-lhe uma piscadela. - Então, na mitologia romana, certa vez, o Deus do vinho Baco foi insultado por um mero mortal. E, ele jurou que o próximo que cruzasse seu caminho, iria ser atacado por seus tigres. - a ruiva sorriu de lado, elogiando Maxon mentalmente por sua capacidade de memorizar histórias. - E eis que surge uma bela ninfa chamada Amethyst. A deusa Diana, para protegê-la da ira de Baco, a transformou em uma bela estátua de quartzo transparente. Ele, arrependido, chorou lágrimas de vinho sobre a donzela de pedra, tonalizando-a com uma coloração roxa. - enquanto a contava, o rapaz fitava suas mãos e as de America com atenção, jurando a si mesmo que não as soltariam em hipótese alguma.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.