História Namorado - Único

Macarrão instantâneo de copo não era o café da manhã ideal a um líder de ginásio imponente, porém nem mesmo Galar poderia ser considerada a região dos sonhos, tendo em vista a variação regional Weezing, benquistos sejam todos da espécie, dissociando-se de seu ramo apenas para contribuir com a recuperação do clima já torturado pela industrialização excessiva e danificação da flora por idiotas engravatados, ou até mesmo os Corsolas, sem a mesma sorte. Talvez, um dia, os alimentos que consome o façam adquirir alguma forma exclusiva. Ou somente mais uma ida ao hospital. A terceira naquele ano? Estava realmente contando? As quantias exorbitantes descontadas de seu salário no final do mês, infelizmente, não eram simbólicas. Plano de saúde sofisticado para os líderes de ginásio seria bem-vindo, presidente Rose. Seu babaca pomposo. Ohos fixos nas letras desgastadas contidas em páginas amareladas, ajustou os dedos segundo a leitura, gesticulando em torno das páginas. A história de sua região sempre o anima. Seria agradável poder entender aquelas palavras verdadeiramente, no lugar de confiar em sua memória; porém, após algumas noites em claro, a visão de qualquer um estava apta a falhar. Acredite, seus quinze outonos o ensinaram muito sobre esgotamento. Assumir Hammerlocke, mesmo passando toda a sua vida se preparando para isso, é uma tarefa desafiadora. 

— Rai! Sou eu! Seu namorado!

O baque, seguido da declaração potente, passaram a ser rotineiros a quase um ano atrás. Mesmo assim, evitar saltar espantado da cadeira foi impossível. Por sorte, não danificou seu amado livro empoeirado. A lufada de ar liberta de sua boca deu origem a um suspiro estrondoso. Apoiou as mãos na mesa de madeira impecável, tomando alguns segundos para encarar o outro garoto, o qual devolveu seu olhar com expectativa. Suas íris douradas pareciam reluzir contra a luz, porém aquele fato fofo não amenizava sua inquietação. O produto cancerígeno ameaça fazer o movimento inverso de mais cedo ao ouvir sua alegação.

— Leon, o que você quer?

Buscou não soar entediado, raivoso, ou até cruel. À sua frente, estava uma criança três anos mais nova. Campeão, sim, porém ainda infantil. Trotando até ele, envolvendo seu corpo levemente mais alto em um abraço, despertando aquele familiar temor de um dia ser capaz de ultrapassar sua altura. Oh, não! Se fosse obrigado a suportar o outro treinador saltitante o tomando frequentemente como amante, deveria ao menos ter alguns centímetros a mais! Algumas coisas eram imperdoáveis. Leon pode invadir seu ginásio, fazer todos os treinadores se apaixonarem por ele a ponto de darem acesso a seu escritório, reivindicar estar em um relacionamento com ele, humilhar seus treinamentos de anos em cada Campeonato, porém Raihan iria pedir justiça e exigir que o universo deixasse seu irritante namorado inferior em escala.

— Camila e Sebastian falaram que você não sai desde ontem! Ária está preocupada, do jeito dela. Eu vim te animar! Você sentiu minha falta, amor? Senti a sua todos os dias! Faz tanto tempo! Posso segurar suas mãos?

Não soube em que velocidade o mais novo o envolveu em um abraço, porém também não entende o motivo de o mesmo pedir permissão para tocar suas mãos enquanto o enlaça como se fosse sumir. Apenas acenou a cabeça, percebendo-o soltar seu corpo e apoiar as mãos nas suas em tempo surpreendente, levando primeiro a direita à seus lábios, beijando-a ternamente. Repetiu o ato com a outra. Onde no mundo aprendeu aquilo? Ensinaram mais algo ao pirralho? Sentia seu rosto torpe de desgosto, lentamente se alastrando para todo o corpo. Os dedos queimavam sua pele. Onde havia encostado a boca, a sensação tinha se tornado insuportável. Queria vomitar.

— Raihan, você parece cansado.

Avaliou. Parecia controlar sua voz, entretanto, seu resmungo tombou para um tom choroso. Quase se assemelhava a uma bronca pacífica. Que vergonha, vindo de um garoto de treze anos vestido de bobo da corte!

"Rei, Rai! Entenda o conceito!" Foi capaz de ouvir sua costumeira resposta.

Saia de meu refúgio, vossa majestade.

Alteza?

— Não estou cansado.

Ignorado com sucesso. Quase cego com os dentes reluzentes alheios – uau, isso que é um plano de saúde adequado –, foi conduzido relutantemente em direção ao sofá próximo. Não qualquer um, o extremamente macio, de roxo ridículo, presenteado por sua companhia. Segundo o mesmo, era ideal para qualquer casal tirar uma soneca. Nunca experimentaram juntos, mas Leon o tinha como móvel favorito. "Cheira como você! E é da cor do meu cabelo!" Permitindo-se, por fim, ser arrastado pelo amante insistente, afinal, estavam a cinco passos da monstruosa mobília, relutou quando começou a ser empurrado para a mesma.

— Hora de dormir! Eu vou cantar uma canção de ninar para você! 

O Campeão de Galar era péssimo cantor, se um dia alguém lhe perguntasse.

——

— Serei seu namorado!

Três anos atrás, a minúscula criatura afirmou após ganhar sua insígnia, deixando não somente ele, mas seus treinadores severamente atordoados. Alguns riram após o incidente, Raihan somente ficou aliviado de nunca mais ter de o ver novamente. Era seu primeiro ano como líder de ginásio de Hammerlocke, não tinha tempo a perder com uma criança que nem passaria das primeiras fases do torneio. Tudo bem, pode ter sido derrotado, porém era tudo graças a sua autoconfiança.

Até se enfrentarem novamente e o resultado ser o mesmo. Bem, nem tudo. Raihan perdeu, mas Leon, derrotando o campeão e conquistando seu título, afirmou algo diferente.

— Agora você é meu namorado!

Incrivelmente, boa parte de Galar considerou adorável o fato de seu treinador mais forte reivindicar outro competidor de tal forma. Ninguém indagou o de orbes azuladas desejava isso. Existiam estórias de fãs, artes, vídeos compilando todas as suas interações! Tiveram que proibir a circulação de mercadorias contendo seus rostos ou nomes, pela utilização sem permissão de suas imagens! 

Criança? Afirmando namorar outra? Não? Tudo bem...

——

— Leon, é o tipo de presente que se dá a um noivo, ou noiva.

Reclamou. Observava descrente a pequena caixa escura. Era feita de camurça? Tão macia ao toque. Parecia realmente cara. Em si, parecia ter um preço absurdo. Buscou não pensar tanto sobre o anel. Diamante? Era laranja! Sugeria ser extremamente pesada! Armação feita de platina? Arceus.

Leon, quinze anos, agora está preparando seu casamento com afinco. Raihan espera ser notificado acerca do dia, no lugar de sequestrado.

——

— Leon, você poderia me pedir em namoro novamente?

Raihan, dezoito anos. Há rubor em toda a face, sorriso nos lábios enquanto seus dedos acariciam as bochechas alheias. 

O outro possui um misto de descrença e vitória, no olhar.

—