História Namorado - Brincadeiras

 - Namora comigo. – o pedido surgiu de repente e, na emoção, Yixing quase partiu uma corda à guitarra, parando abruptamente de tocar.

Quando voltou a olhar o ecrã do portátil, Chenyu gargalhava na imagem, meio deitado na própria cama depois de se ter abatido contra o colchão perante a reação do amigo. Yixing desejou por um momento que fosse possível esmurrar as pessoas através da internet, mesmo sabendo que não seria capaz de o fazer.

Chenyu tinha aquele hábito – um péssimo hábito, para constar – de brincar com os sentimentos de Yixing. Não eram apenas as declarações absurdas e descaradas, eram também elogios gratuitos e olhares sugestivos e até alguns comentários mais perversos. O mais velho parecia adorar a ideia de fazer o coração de Yixing acelerar feito louco, ainda que o último tivesse a total noção de que era tudo apenas uma brincadeira. Mesmo que às vezes Chenyu o olhasse de formas que o faziam pensar que era a sério, Yixing sabia que era só uma brincadeira.

 - Não vou aceitar um pedido de namoro pela internet. – ripostou-lhe, fingindo-se indignado. Por muito que aquela brincadeira lhe acelerasse o coração, Yixing nunca se deixava ficar atrás.

Viu Chenyu voltar a sentar-se na cama, abanando a cabeça para sacudir os cabelos desordenados e olhando novamente a webcam. O sorriso quase infantil ainda lhe ocupava as feições.

 - Quando voltas cá? – provocou ainda, inclinando-se na direção da câmera. Yixing suspirou frustrado, não conseguindo ainda assim deixar de sorrir levemente.

 - Não estou de férias, como tu! – protestou em resposta, atrevendo-se depois a provocar Chenyu de volta. – Se vieres cá pedir, talvez eu aceite. – arqueou uma sobrancelha de forma sugestiva, apoiando-se na guitarra que ainda segurava. Viu o outro rir.

 - Não vais a Changsha nas férias? Talvez possa ir lá. – Chenyu respondeu, apoiando o queixo numa mão.

 - Ficava mais perto vires a Seoul do que ires a Changsha! – o mais novo riu, ao que o outro teve de concordar. – E acho que não vou lá – lamentou a seguir, suspirando. – Tenho um trabalho importante para entregar até dia vinte e cinco e não vou conseguir fazê-lo antes das provas e depois não sobra tempo antes do próximo semestre e – suspirou de novo, de cabeça baixa, não vendo quando Chenyu abanou a cabeça num lamento.

 - Malditos coreanos, estão a destruir o meu futuro namorado. – respondeu, conseguindo arrancar mais um riso de Yixing.

 - Inaceitável.

 - Também acho. – concordou de imediato. Quando o mais novo tornou a olhá-lo, ele ria em silêncio.

 - Referia-me a ti! – Yixing protestou, não conseguindo deixar de rir com o outro.

 - Desculpa, não compreendo o que dizes quando falas com esse sotaque de Changsha. – Chenyu espicaçou, recebendo uma tentativa de expressão séria por parte do mais novo.

 - Não sei por que perco tempo a ligar-te. – resmungou a seguir, vendo o amigo inclinar a cabeça para um dos lados para lhe lançar um olhar falsamente inocente.

 - É porque me amas. – declarou, num tom propositadamente doce demais. Yixing reprimiu um sorriso e suspirou de forma frustrada.

 - Vou estudar! – declarou, quase agressivo. Chenyu gargalhou, deixando-se novamente cair na própria cama e fazendo a imagem da chamada tremer com o impacto. – Idiota. – atirou, preparando-se para desligar.

 - Liga-me quando tiveres mais tempo! – disse de repente, sabendo que Yixing poderia desligar naquele momento. Voltou a sentar-se em frente à webcam. – Também tenho uma música nova para te mostrar. Mas nem penses que vou mostrar se estiveres ocupado assim, então liga-me só quando estiveres mais livre. – explicou depois, fazendo o mais novo sorrir inevitavelmente perante a preocupação.

 - Okay, ligo-te no final de semana então. – respondeu-lhe, tentando não soar tão derretido quanto se sentia naquele preciso momento. – Até lá – despediu-se a seguir. Então quase estragou o botão do portátil, ao esmagá-lo violentamente para terminar a chamada, quando viu Chenyu esticar os lábios para lhe mandar um beijo.

O mais velho ainda teve o descaramento de lhe enviar um emoticon a rir, seguido de um coração e uma mensagem para que estudasse e dormisse bem, e Yixing ficou mais uma vez a perguntar-se por que tinha ele de ser daquela forma. Não chegava a maioria dos seus amigos a referir-se a Chenyu como seu namorado, o próprio Chenyu ainda tinha de ir e fazer aquele tipo de coisa.

Teve de passar as horas seguintes a fazer um esforço enorme para se concentrar na matéria que tinha de estudar, tentando não pensar na brincadeira de Chenyu a pedir-lhe em namoro, mas nunca chegou a resultar realmente. Sempre que parecia estar a concentrar-se de verdade no estudo, o pedido voltava a soar na sua mente e a distraí-lo com mais um sorriso involuntário.

Tinha conhecido Chenyu há quase dois anos. Ironicamente, os dois já se tinham falado vez ou outra no weibo, por se seguirem mutuamente lá, mas foi só depois de Yixing ir estudar para a Coreia do Sul que começaram a conversar com mais frequência. Em apenas um par de meses, os dois passaram de conversas simples e casuais para conversas mais pessoais, incentivadas pelos gostos em comum, e daí até Yixing perceber que estava a apaixonar-se foi apenas um momento.

A primeira vez que os dois se encontraram pessoalmente foi quando Yixing usou a viagem de regresso a Seoul como desculpa para se desviar um pouco do percurso. Sendo a sua primeira visita a Beijing, Chenyu foi uma espécie de guia turístico durante os dois dias que ficou na cidade. Nessa altura, Yixing ainda não estava certo sobre os próprios sentimentos.

Foi só na segunda vez que se encontraram que teve a certeza. Dessa vez, Yixing estava de volta a casa para matar saudades da família e Chenyu tinha viajado até Shiyan para visitar a mãe e a família da parte desta, como fazia todos os anos desde o divórcio dos pais e a sua mudança para Beijing. Eram cerca de seis horas de viagem entre Shiyan e Changsha, mas ainda assim o mais velho atreveu-se a fazer a viagem apenas para passar um par de dias com Yixing.

Tinha sido mais ou menos a partir daí que Chenyu começara a brincar com os sentimentos alheios, dizendo coisas que pareciam ser de propósito para fazer o coração de Yixing acelerar, mesmo que tudo não passasse de uma brincadeira. Ou pelo menos Yixing acreditava que era uma brincadeira, o que o levava a responder também e, de certa forma, acabara por provocar a emboscada que sofreu exatamente no dia da sua última prova do semestre.

 - Onde estás? – a voz de Chenyu perguntou-lhe, logo que atendeu a chamada.

 - Eh? – Yixing tropeçou ao sair do metro, só não se estatelando no chão porque Sehun o segurou por um braço. Virou-se para agradecer ao mais novo, vendo-o abanar a cabeça enquanto ria de si.

 - Só queria saber onde estás. – a voz ao telefone respondeu, recuperando a sua atenção.

 - Oh, estava no metro, foi por isso que não atendi antes. – explicou, caminhando para a saída da estação. – Estou a ir para casa agora, ia ligar-te quando chegasse.

 - Como foi a prova? – inquiriu, soando animado.

 - Correu bem, acho que vou ter uma boa nota. – Yixing respondeu, reprimindo depois o sorriso que lhe surgiu nos lábios e virando a cara ao olhar sugestivo que recebeu de Sehun. – É hoje que vais mostrar-me a tal música? – perguntou a seguir, segurando um braço de Sehun para que este o guiasse enquanto centrava toda a sua atenção na voz que lhe falava pelo telefone.

 - Sim, mas vais ter de me emprestar a tua guitarra. – Chenyu respondeu, deixando-o confuso só para piorar isso logo depois. – Estou à porta do teu prédio, não demores.

 - Eh?! – quase gritou. – Chenyu?! – continuou, já não obtendo resposta do outro e olhando o telemóvel para ver a chamada terminada.

 - Que se passa? – Sehun perguntou, olhando-o por cima do ombro.

 - O Chenyu está a tentar matar-me do coração. – o mais velho respondeu, soando meio indignado e meio em choque.

 - Oh, o teu namorado? – o outro provocou, só para rir quando Yixing puxou o ar rapidamente antes de responder.

 - Ele não é meu namorado. – resmungou em surdina, mas Sehun limitou-se a rir.

 - Claro, olha para ti todo exaltado, muito convincente. – espicaçou, ainda a rir. O mais velho escolheu ignorá-lo.

Estava ainda a pensar se Chenyu poderia realmente estar a falar a sério sobre aquilo de estar à entrada do seu prédio quando dobrou a esquina para a rua onde morava. Então parou totalmente no passeio, arregalando os olhos para a figura parada alguns metros à frente.

Perguntou-se por um momento se não estaria apenas a imaginar a figura conhecida, vestida com as suas típicas roupas negras e coturnos, mas esta sorriu-lhe ao encontrar-lhe o olhar e agarrou a mochila no chão para se aproximar de si. Yixing avançou também até ele, com as palmas das mãos viradas para cima de cada lado do corpo, enquanto abria e fechava a boca numa tentativa falhada de tentar dizer algo.

 - Olá – Chenyu cumprimentou, com um sorriso, agarrando uma das mãos de Yixing.

 - Ma- Uh- O qu- Eh?

 - Dá-lhe um momento. – Sehun intrometeu-se, com o seu mandarim limitado, atraindo a atenção de Chenyu para si e conseguindo também um sorriso deste.

 - Sehun, certo? – perguntou, apenas para confirmar, já tendo visto o mais novo várias vezes nas chamadas de vídeo com Yixing, uma vez que os dois partilhavam o apartamento. Sehun confirmou com a cabeça e apertou a mão que lhe foi estendida. – Chenyu. – apresentou-se depois.

 - O namorado do Yixing? – o coreano provocou, conseguindo imediatamente um olhar indignado do amigo.

 - Sim. – Chenyu respondeu, quando o outro ia protestar, deixando-o ainda mais chocado.

 - Eu vou subir. – Sehun informou, a rir, afastando-se depois para o interior do prédio.

 - O que – Yixing ainda não estava a conseguir processar a informação corretamente.

 - Disseste que aceitavas se viesse cá pedir-te em namoro. – argumentou o mais velho, soando tão divertido quanto parecia, julgando pelo sorriso que lhe ocupava os lábios e o olhar que mantinha sobre o outro. Yixing demorou a responder, não sabendo o que fazer com aquela situação toda.

 - Estás a falar a sério? – inquiriu depois, tão descrente que temia deslocar a mandíbula. O outro riu, puxando a mão que ainda segurava e aproximando os corpos.

 - Eu viria de Beijing até aqui se não fosse a sério? – questionou, voltando a rir a seguir. – Anda, vais trocar de roupa e levar-me num encontro. – decidiu depois, puxando Yixing atrás de si até ao interior do prédio próximo a eles.

Chamou o elevador e selecionou o andar correto depois de os dois entrarem na caixa metálica, dando graças por saber aquele tipo de informação já que o outro estava ainda demasiado em choque para o ajudar, ainda que um sorriso começasse a esboçar-se-lhe nos lábios. Moveu a sua mão que ainda segurava a do mais novo, entrelaçando os seus dedos nos dele, e abafou um riso quando Yixing desviou a cara, incapaz de conter o sorriso sob o seu olhar atento.

 - Será que estou a sonhar? – meio que resmungou para si próprio.

 - Costumas sonhar comigo? – Chenyu espicaçou, arqueando uma sobrancelha.

 - Não vou responder a isso. – resmungou a seguir, pausando um momento antes de voltar a olhar o mais velho. – Estás mesmo a falar a sério? – inquiriu, ainda incapaz de acreditar.

Chenyu revirou os olhos, sem deixar ainda assim de sorrir. Então aproximou-se do mais novo, num movimento suave mas decidido, e selou-lhe os lábios com os seus num beijo calmo ao qual Yixing correspondeu apenas um momento depois.

 - Já te parece a sério? – perguntou-lhe contra a boca, arrastando o nariz pelo dele num carinho discreto.

 - Hm... Não, não muito. – Yixing respondeu, numa mentira óbvia que lhe garantiu um riso abafado e mais um beijo de Chenyu antes de as portas do elevador abrirem.