Escrita por: Bruna_NU
Paramos em frente à casa dele. Josh desligou o motor e saiu do carro antes que eu pudesse detê-lo. Quando parou do meu lado e abriu a porta, eu disse: — Desculpa. Eu devia ter avisado que precisava de carona para casa.
— Ah. — Ele olhou para os dois lados da rua, como se esperasse ver um carro parado em algum lugar. — Minha irmã foi te buscar?
— Sim.
— Ela é cheia de estratégias.
— Sim, ela é. — Continuei sentada no carro, esperando que ele fechasse a porta e voltasse para o banco do motorista.
Mas Josh continuou onde estava. E apontou para a casa.
— Você precisa ir embora agora? A minha irmã vai querer um relatório. Acho que você pode contar tudo melhor que eu.
O relógio do painel marcava dez horas. Eu ainda tinha duas horas até o meu horário de voltar para casa.
— Tudo bem. Claro.
Andamos até a porta da frente, e Josh a abriu e entrou. Sentada no sofá da sala, joalin desligou a TV imediatamente e olhou para nós.
— E aí?
Josh me abraçou.
— Você vai gostar de saber que a noite foi de muitos joguinhos e muito ciúme. Não sei bem quem jogou mais e quem sentiu mais ciúme, mas a any fez tudo o que você a fez jurar que faria.
Joalin olhou para mim.
— Tudo bem. Agora eu quero saber exatamente o que aconteceu. Nada dessa bobagem vaga.
Nesse momento uma mulher entrou meio agitada na sala. O cabelo formava um coque frouxo preso por um lápis e várias mechas haviam escapado do arranjo, dando a impressão de que ela havia enfrentado uma ventania.
—Joshua, eu sabia que tinha escutado sua voz. Preciso do seu rosto.
— Mãe, estou com uma amiga. — Ele apontou na minha direção.
A mulher sorriu para mim.
— Não sei em que isso muda as coisas. Pode trazê-la.
Joalin se levantou e foi atrás da mãe, que já saía da sala sem esperar por uma resposta.
— Não adianta discutir — disse josh. — Ela sempre vence. — E me levou pelo corredor até uma sala grande com porta dupla e assoalho de madeira.
Dentro dela havia toneladas de pinturas, algumas concluídas e penduradas, outras pela metade, e também havia telas em branco. Uma delas repousava sobre um cavalete, e no chão embaixo dele havia uma folha grande coberta de manchas de tinta, como se alguém tivesse abandonado a pintura no meio. Todos nós entramos na sala.
— Mãe, esta é a any.
— Ai, desculpa, que falta de educação. — Ela estendeu a mão para mim.
— Eu sou a Úrsula. Peço desculpas por roubar este garoto, mas preciso desse rosto lindo. Ah, me fala se este rosto não inspira criatividade.
Josh e joalin reviraram os olhos.
— Ela diz isso sempre que traz a gente aqui, e depois cria coisas como aquela. — Josh indicou uma pintura que era meio inseto, meio zebra, um rosto que se abria para revelar uma flor desabrochando. — Eu não inspirei aquilo.
— Inspirou sim — a mãe afirmou.
— Ela se sente sozinha aqui — comentou joalin.
— Os meus filhos debocham de mim, mas são as minhas musas. — Ela me estudou. — Acho que você também pode ser uma musa. A sua estrutura óssea é incrível.
— Não acredite nisso — joalin interferiu. — O que ela está dizendo é que quer pintar ossos, ossos de dinossauro, provavelmente, ou coisa parecida, enquanto olha para você.
Úrsula não parecia ofendida com a provocação. Só deu risada e começou a pintar, enquanto Josh ficava sentado no banco diante dela. Pelo jeito como o analisava, ela parecia usá-lo como modelo, mas eu via a tela, e aquilo não era Josh, definitivamente.
Joalin olhou para mim.
— Desembucha. Quero saber tudo o que aconteceu hoje.
Olhei para a mãe deles sem saber se queria admitir a mentira na frente dela.
— Minha mãe já sabe — joalin falou. — Apesar de não concordar, ela entende por que o nosso cérebro imaturo pode achar que isso é necessário.
— Não foi isso que eu disse, joalin. Falei que a vingança é produto de emoções mal direcionadas, mas eu tenho algumas emoções com relação a Heyoon também.
— Você não disse mal direcionadas — joalin argumentou, em voz alta. — Lembro nitidamente de você falando “imaturas”.
— Talvez eu tenha dito “pouco desenvolvidas”.
— É a mesma coisa — joalin e Josh falaram ao mesmo tempo.
Josh deu uma pincelada larga de azul-marinho na tela, bem embaixo dos olhos roxos e tortos que já tinha pintado.
— O que eu quero dizer é que a vingança nunca é a resposta.
— Sei, sei. — joalin abanou a mão para a mãe e olhou para mim. — Conta logo sobre a vingança.
Olhei para Úrsula e tentei descobrir se estava aborrecida com a discussão.
Ela não parecia brava.
— Bom, a Heyoon estava lá com o Ryan.
— Eu sabia! —joalin gritou. — Eles ainda estão juntos, não estão?
Eu assenti.
— Mas você estava certa. Ela também queria o Josh.
— Não queria — Josh interferiu.
— Então por que o abraço? Por que sentar tão perto e tocar sua perna?
— Ela tocou sua perna? — A expressão de joalin endureceu.
— Tocou? —Josh perguntou.
— Ah, por favor — disse joalin. — Você sabe que sim. Não se faça de inocente, Joshua. E você deve ter gostado.
Ele a encarou com uma expressão neutra, indecifrável.
— Quero saber se vocês deram o troco — joalin falou, olhando para mim.
— Ficamos de mãos dadas, trocamos abraços, dançamos...
— E a any pulou em cima de mim — Josh contou.
Eu arfei, chocada, e Úrsula me encarou.
— Eu não... Bom, mais ou menos. Foi um acidente. Eu não queria te derrubar.
— Espero que ela tenha visto — joalin falou, sorrindo.
— Viu.
Ela girou uma vez com os braços abertos, depois me segurou pelos ombros e me sacudiu.
— Você é incrível. A vingança é incrível.
Úrsula pigarreou.
— Porque eu tenho uma mentalidade muito, muito imatura — joalin acrescentou.
— Amanhã todos nós vamos ser pessoas melhores — disse Úrsula, e era quase a mesma coisa que Josh dissera mais cedo. Olhei para ele, e Josh assentiu uma vez.
Pessoas melhores. O jeito como eles falavam me fazia querer tentar.
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