História Namorado de Aluguel - Bughead - Capítulo dezesseis

Paramos em frente à casa dele. Jughead desligou o motor e saiu do carro antes que eu pudesse detê-lo. Quando parou do meu lado e abriu a porta, eu disse:

— Desculpa. Eu devia ter avisado que precisava de carona para casa.

— Ah. — Ele olhou para os dois lados da rua, como se esperasse ver um carro parado em algum lugar. — Minha irmã foi te buscar?

— Sim.

— Ela é cheia de estratégias.

— Sim, ela é. — Continuei sentada no carro, esperando que ele fechasse a porta e voltasse para o banco do motorista.

Mas Jughead continuou onde estava. E apontou para a casa.

— Você precisa ir embora agora? A minha irmã vai querer um relatório. Acho que você pode contar tudo melhor que eu.

O relógio do painel marcava dez horas. Eu ainda tinha duas horas até o meu horário de voltar para casa.

— Tudo bem. Claro.

Andamos até a porta da frente, e Jughead a abriu e entrou. Sentada no sofá da sala, Ronnie desligou a TV imediatamente e olhou para nós.

— E aí?

Jughead me abraçou.

— Você vai gostar de saber que a noite foi de muitos joguinhos e muito ciúme. Não sei bem quem jogou mais e quem sentiu mais ciúme, mas a Betty fez tudo o que você a fez jurar que faria.

Veronica olhou para mim.

— Tudo bem. Agora eu quero saber exatamente o que aconteceu. Nada dessa bobagem vaga.

Nesse momento uma mulher entrou meio agitada na sala. O cabelo formava um coque frouxo preso por um lápis e várias mechas haviam escapado do arranjo, dando a impressão de que ela havia enfrentado uma ventania.

— Jughead, eu sabia que tinha escutado sua voz. Preciso do seu rosto.

— Mãe, estou com uma amiga. — Ele apontou na minha direção.

A mulher sorriu para mim.

— Não sei em que isso muda as coisas. Pode trazê-la.

Veronica se levantou e foi atrás da mãe, que já saía da sala sem esperar por uma resposta.

— Não adianta discutir — disse Jughead. — Ela sempre vence. — E me levou pelo corredor até uma sala grande com porta dupla e assoalho de madeira.

Dentro dela havia toneladas de pinturas, algumas concluídas e penduradas, outras pela metade, e também havia telas em branco. Uma
delas repousava sobre um cavalete, e no chão embaixo dele havia uma folha grande coberta de manchas de tinta, como se alguém tivesse
abandonado a pintura no meio. Todos nós entramos na sala.

— Mãe, esta é a Betty.

— Ai, desculpa, que falta de educação. — Ela estendeu a mão para mim.

— Eu sou a Gladys. Peço desculpas por roubar este garoto, mas preciso desse rosto lindo. Ah, me fala se este rosto não inspira criatividade.

Jughead e Veronica reviraram os olhos.

— Ela diz isso sempre que traz a gente aqui, e depois cria coisas como aquela. — Jughead indicou uma pintura que era meio inseto, meio zebra, um rosto que se abria para revelar uma flor desabrochando. — Eu não inspirei aquilo.

— Inspirou sim — a mãe afirmou.

— Ela se sente sozinha aqui — comentou Veronica.

— Os meus filhos debocham de mim, mas são as minhas musas. — Ela me estudou.

— Acho que você também pode ser uma musa. A sua estrutura óssea é incrível.

— Não acredite nisso — Veronica interferiu. — O que ela está dizendo é que quer pintar ossos, ossos de dinossauro, provavelmente, ou coisa parecida, enquanto olha para você.

Gladys não parecia ofendida com a provocação. Só deu risada e começou a pintar, enquanto Jughead ficava sentado no banco diante dela. Pelo jeito como o analisava, ela parecia usá-lo como modelo, mas eu via a tela, e aquilo não era Jughead, definitivamente.

Veronica olhou para mim.

— Desembucha. Quero saber tudo o que aconteceu hoje.

Olhei para a mãe deles sem saber se queria admitir a mentira na frente dela.

— Minha mãe já sabe — Veronica falou. — Apesar de não concordar, ela entende por que o nosso cérebro imaturo pode achar que isso é necessário.

— Não foi isso que eu disse, Veronica. Falei que a vingança é produto de emoções mal direcionadas, mas eu tenho algumas emoções com relação a Eve também.

— Você não disse mal direcionadas — Ronnie argumentou, em voz alta. — Lembro nitidamente de você falando “imaturas”.

— Talvez eu tenha dito “pouco desenvolvidas”.

— É a mesma coisa — Veronica e Jughead falaram ao mesmo tempo.

Gladys deu uma pincelada larga de azul-marinho na tela, bem embaixo dos olhos roxos e tortos que já tinha pintado.

— O que eu quero dizer é que a vingança nunca é a resposta.

— Sei, sei. — Veronica abanou a mão para a mãe e olhou para mim. — Conta logo sobre a vingança.

Olhei para Gladys e tentei descobrir se estava aborrecida com a discussão. Ela não parecia brava.

— Bom, a Eve estava lá com o Ryan.

— Eu sabia! — Veronica gritou. — Eles ainda estão juntos, não estão?

Eu assenti.

— Mas você estava certa. Ela também queria o Jughead.

— Não queria — Jughead interferiu.

— Então por que o abraço? Por que sentar tão perto e tocar sua perna?

— Ela tocou sua perna? — A expressão de Veronica endureceu.

— Tocou? — Jughead perguntou.

— Ah, por favor — disse Veronica. — Você sabe que sim. Não se faça de inocente, Jughead. E você deve ter gostado.

Ele a encarou com uma expressão neutra, indecifrável.

— Quero saber se vocês deram o troco — Veronica falou, olhando para mim.

— Ficamos de mãos dadas, trocamos abraços, dançamos...

— E a Betty pulou em cima de mim — Jughead contou.

Eu arfei, chocada, e Gladys me encarou.

— Eu não... Bom, mais ou menos. Foi um acidente. Eu não queria te derrubar.

— Espero que ela tenha visto — Veronica falou, sorrindo.

— Viu.

Ela girou uma vez com os braços abertos, depois me segurou pelos ombros e me sacudiu.

— Você é incrível. A vingança é incrível.

Gladys pigarreou.

— Porque eu tenho uma mentalidade muito, muito imatura — Veronica acrescentou.

— Amanhã todos nós vamos ser pessoas melhores — disse Gladys, e era quase a mesma coisa que Jughead dissera mais cedo. Olhei para ele, e Jughead assentiu uma vez.

Pessoas melhores. O jeito como eles falavam me fazia querer tentar.