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História Namorado de Aluguel - Bughead - Capítulo vinte e dois


Escrita por: aabbie

Capítulo 22 - Capítulo vinte e dois


— Não acredito que vocês levaram três horas para fazer dezesseis perguntas. Três horas.

— Culpa da Betty. As perguntas mais longas foram as dela — Veronica declarou.

Eu ri.

— Se você não analisasse cada uma das minhas perguntas, Jughead, eu não teria demorado tanto. E ainda temos mais quatro.

Ele entrou no estacionamento da universidade.

— Tenho a sensação de que vou ter que mudar minha resposta para alguma coisa mais empolgante, depois de tanta expectativa. Como na última vez.

— Espera. Você está dizendo que o seu nome não é Jughead?

Ele bateu de leve no meu braço com a mão fechada.

— Não, só que construímos uma expectativa enorme na última vez, e eu tive a sensação de que precisava mudar meu nome.

— Você não pode mudar a resposta. Isso é trapaça. Mas vamos parar o jogo, porque já chegamos.

— Ah, que bom, mais expectativa. — Ele parou em uma vaga e desligou o motor. Olhei para os prédios grandes à nossa frente. Descemos do carro, e Jughead o trancou.

— Estou animada para surpreender o meu irmão. Nunca fiz nada parecido.

Ele colocou algumas moedas no parquímetro.

— Ele vai adorar, tenho certeza.

— Ou vai ficar irritado. Uma coisa ou outra — Ronnie opinou, com um sorriso de provocação.

Jughead a imobilizou com uma gravata, e ela gritou de um jeito que nunca imaginei que pudesse.

— Que é isso, Veronica? Irritado? Como é que pode dois irmãos se irritarem? — Ele a soltou, e ela deu um soco em seu peito. Jughead permaneceu entre nós enquanto andávamos, e Reggie ficou do outro lado de Veronica. Depois de um minuto, Jughead apoiou um braço nos ombros de Veronica e o outro sobre os meus. Ah, que bom, entrei na categoria “irmã”.

Peguei o convite para ver o nome do prédio onde aconteceria a cerimônia: Macgowan Hall. Eu havia estado naquele campus algumas vezes, duas por causa do Chic, duas para visitar Archie, mas não lembrava onde ficavam todas as coisas. Paramos na frente de um mapa do campus. Vi imediatamente o café onde conheci Archie. Esperava sentir alguma coisa, a perda, saudade, mas não havia nada.

— Deve ser no departamento de teatro e cinema, certo? — O dedo de Jughead tocou, no mapa, o prédio ao lado daquele para o qual eu estava olhando.

— Já veio aqui antes?

— Não, mas tenho pensado em me transferir para cá. O programa do curso de teatro é incrível.

Por isso ele quis vir? Para conhecer o campus, encontrar motivação?

— Você devia começar o curso aqui, então — sugeri. Seria divertido ter Jughead na UCLA comigo.

— Preciso fazer as matérias básicas em algum lugar mais barato.

— É, nem todo mundo tem bolsa — Veronica comentou.

Como ela sabia disso? Veronica pesquisou sobre mim?

— Você tem bolsa para a UCLA? — Jughead perguntou. — A cada minuto que passa aprendo mais sobre você.

— Preciso tirar uma foto — falei, em parte para mudar de assunto, em parte porque tive uma ideia. — Fiquem ao lado do mapa do campus.

Jughead ameaçou protestar, mas dei um empurrãozinho nele.

— Vai logo.

Recuei vários passos e peguei o celular.

— Tudo bem, hum, Reggie, chega um pouco mais perto da Veronica. Isso, melhor. Um pouco mais perto, na verdade. Muito bom. Agora abraça a Veronica, como o Jughead está fazendo. Vai ficar mais legal. — O rosto de Veronica ficou um pouco corado, e a cara aborrecida de Jughead virou um sorriso. — Digam UCLA.

Depois de comer alguma coisa, chegamos ao teatro com uns dez minutos de antecedência, mas não vi meu irmão em lugar nenhum.

— Ligo para ele?

— Seria divertido se ele te visse na plateia — opinou Veronica. — A gente pode falar com ele depois.

— É, boa ideia. — A ideia era boa porque eu estava nervosa. Ele havia pedido para eu não vir, e eu tinha medo de estragar a noite especial do meu irmão com a minha presença. Ignorei o receio. Ele ia ficar feliz. Eu ficaria, no lugar dele, se o visse na plateia no dia do meu discurso de campanha, ou em uma das várias vezes em que tive que discursar diante do
colégio.

Alguns minutos antes das seis, as luzes foram apagadas e um telão se acendeu no palco. Eu ainda estava tentando localizar meu irmão, que agora imaginava estar sentado na primeira fila. Mas a parte de trás de sua cabeça parecia tanto com a de tantas outras: cabelo preto na metade da gola da camisa. Quando o relógio do meu celular marcou seis horas, um homem alto ocupou o pódio no palco e bateu com o dedo no microfone algumas vezes.

— Olá, amigos, familiares e, é claro, alunos do curso de cinema. É um prazer ver todos aqui. Sou o dr. Hammond, chefe do departamento de cinema. Bem-vindos à nossa cerimônia de premiação de fim de ano, na qual destacamos as melhores produções do período letivo. Sei que o tempo de vocês é valioso, então vamos direto ao ponto.

Meu irmão estava certo: a cerimônia era lenta. Um trecho de cada filme era exibido depois do anúncio do prêmio que ele havia recebido. Eram trechos curtos demais para entender o filme, mas longos o suficiente para a cerimônia se tornar arrastada. Peguei o celular e mandei uma mensagem para Jughead.

Serve para uma competição esportiva?

Era minha vez de perguntar, e eu tinha certeza de que reduzia suas possibilidades de resposta no Vinte Perguntas a poucas opções. Não era uma pessoa, não era um lugar, não respirava. Podia ser carregado. Um segundo depois, o celular dele vibrou e ele sorriu ao pegar o
aparelho e ler minha pergunta. Seus dedos se moveram sobre a tela digitando por mais tempo do que o necessário para um simples sim ou não. Apertei de leve seu joelho, e ele riu. É claro que, quando a resposta chegou, era uma análise da minha pergunta.

Competição esportiva é uma expressão muito ampla. Está pensando só em uma competição? Ou quer saber se um dos usos pode ser em uma competição esportiva?

As pessoas gostam de jogar com você? Ou é uma coisa que só acontece uma vez, e aí elas aprendem a lição?

Essa é uma das suas perguntas? Porque, nesse caso, seriam dezoito. E, como essa é a segunda vez que joga comigo, é você quem tem que me dizer.

Veronica me deu uma cotovelada, e eu levantei a cabeça a tempo de ver o nome do meu irmão no telão com o título de sua produção:
Reprogramando uma geração.

— O projeto a seguir — disse o dr. Hammond — é um dos meus favoritos. A visão e a perspectiva trazidas por Chic são brutas, honestas e reais. Por causa disso, além do prêmio pelo processo de documentação, Chic ganhou o maior prêmio do ano: melhor filme. Parabéns, Chic! Eu queria exibir o filme todo hoje, porque há muito para mostrar, mas não será possível. Sendo assim, vamos ver um trecho e depois, por favor, venha receber seu prêmio.

Na tela, o nome de meu irmão e o título do filme desapareceram, substituídos pela imagem do campus da UCLA. Os alunos seguiam para as salas de aula, os corredores estavam cheios e a câmera focalizava pessoas com seus celulares. Reconheci imediatamente o local da cena seguinte: nossa casa. Ouvi a voz de Chic.

— Como o valor pessoal é medido hoje? Pela quantidade de curtidas em um post, pelo número de amigos que temos em uma rede, pela soma de retuítes que acumulamos? Pelo menos sabemos o que realmente pensamos antes de postar nossos pensamentos e deixar outras pessoas nos dizerem se eles são importantes ou não? — Enquanto ele falava, a câmera se movia lentamente pelo corredor. Meu rosto estava dormente, porque eu sabia para onde ele ia. Eu me lembrava daquela câmera na frente de seu rosto todas as vezes que ele foi para casa no último ano.

— B, o que está fazendo? — ele perguntou.

Eu estava sentada no sofá com o celular na mão. Ele repetiu a pergunta. O que ele não mostrava no filme era que havia repetido a mesma pergunta quatro vezes, e eu havia respondido a todas elas. Agora ele mostrava a única vez em que o ignorei, porque ele tinha ultrapassado oficialmente o estágio irritante.

— B, o que está fazendo?

Finalmente levantei a cabeça na tela.

— Estou postando nossa foto no Instagram.

— Quantas curtidas?

Minha versão na tela sorriu, e minha versão real abaixou a cabeça.

— Só quinze. Se não tiver mais, eu deleto.

Chic deu risada.

— Vou transformar isso em vídeo para uma aula. Tudo bem?

— Tipo um Vine, ou alguma coisa assim?

— Não, é para um projeto.

— Não consigo pensar em um vídeo mais chato.

A plateia riu.

Veronica resmungou do meu lado.

— Meu cérebro está vivendo outro momento de imaturidade.

— O meu também — Jughead falou e afagou meu braço.

— Tudo bem — cochichei, tentando ficar bem de verdade.

A exibição prosseguiu, e eu queria muito que ela chegasse ao fim. Agora era só Chic, o que era melhor, andando pelo corredor novamente no mesmo dia, um pouco mais tarde.

— Se eu postasse a foto de uma árvore que vi caída na floresta e ninguém curtisse, eu ia começar a duvidar de que realmente aconteceu?

— Muito original — Veronica resmungou.

Agora Chic estava na cozinha, e minha mãe estava usando o computador para, provavelmente, pesquisar sobre o mercado imobiliário,
enquanto meu pai olhava para o celular, talvez jogando alguma coisa para relaxar. Chic segurou o próprio telefone diante da câmera, mostrando uma mensagem da minha mãe: Desce para jantar.

— Você me mandou uma mensagem para eu vir jantar, mãe?

Ela levantou a cabeça e sorriu desconfortável para a câmera.

— Sim, está pronto. Vai chamar a sua irmã.

Eu não queria que ele fosse, porque sabia o que aconteceria a seguir. Eu esperava que o tempo de exibição acabasse e que, como nos outros filmes que vimos esta noite, a projeção fosse interrompida no meio da cena. Mas não tive essa sorte. Apareci na tela, dessa vez no meu quarto.

— Jantar, B — Chic avisou. Dessa vez eu estava na frente do meu laptop. Antes eu tinha feito a lição de casa, mas isso ele não mostrou. — Quantas curtidas agora?

— Quarenta curtidas, cinco retuítes.

— Então isso significa que é bom.

— É. — Fechei o laptop e levantei sorrindo para ele e para a câmera. — O seu rosto agrada, eu acho. Quem diria.

— Que bom que os seus amigos avisaram, ou a gente nunca saberia.

Eu sabia que era sarcasmo, e respondi de um jeito igualmente sarcástico.

— Verdade.

Mas isso só reforçou o que o filme tentava mostrar. A tela ficou escura. Chic subiu ao palco e se dirigu ao palanque. Ele exibia um sorriso confiante.

— Obrigado por essa grande honra — disse, segurando a plaquinha que o professor lhe entregou. — Espero que meus amigos estejam tuitando sobre isto, ou não terá acontecido, certo? — Ele apontou para duas pessoas na primeira fila, e a plateia riu. — Eu também queria que um trecho maior do filme fosse exibido esta noite, porque no fim eu mostro o lado mais sombrio desse vício, da necessidade de aprovação. E, muitas vezes, as pessoas de quem esperamos aprovação são totalmente desconhecidas. Não importa quem está dizendo que gosta de alguma coisa. O que importa é a quantidade de gente que diz isso. Se eu tiver cem curtidas por isto mais tarde no Instagram, saberei que é especial. — Ele segurou a placa. — Se eu tiver só duas, é porque não tem valor nenhum. O que esse vício está criando? É tarde demais para desfazer o estrago?

Escorreguei na cadeira, detestando ser a protagonista da perspectiva debochada que meu irmão exibia da sociedade. Senti Veronica e Jughead me olhando, mas agora eu estava concentrada no veludo vermelho da cadeira na minha frente. O professor de Chic voltou ao palco.

— Obrigado, Chic. E a boa notícia é que, se quiserem ver esse filme ou qualquer outro dos exibidos esta noite, podem visitar este site. — O endereço apareceu no telão.

Eu não queria ver o filme de Chic, mas memorizei o endereço mesmo assim. Quando as luzes do teatro foram acesas, eu pulei. Jughead tocou meu ombro.

— O que quer fazer? Quer falar com ele?

— Eu quero socar a cara dele — disse Veronica.

— Ronnie, isso não tem a ver com você — Jughead lembrou.

Reggie levantou a mão.

— Também quero socar a cara dele.

— Ele editou muito as imagens.

— Não precisa explicar, Betty.

Por isso Chic não queria que a gente viesse, e eu não devia ter vindo.

— Tudo bem. — Levantei e olhei para Chic lá embaixo, cercado de amigos e com o professor.

Uma estudante atrás de mim disse:

— Ei, você é a menina do filme. E ficou mexendo no celular durante a cerimônia. Que ironia.

Eu me encolhi, e Veronica olhou feio para a garota. Forcei um sorriso.

— Quero ir para casa — falei para Jughead. — Converso com ele amanhã, quando Chic estiver menos ocupado.

— Eu posso ir falar agora, enquanto ele está cercado de gente cuja opinião considera importante?

Veronica deu um empurrãozinho no ombro do irmão.

— Sim. Pode.

— Não. Só quero ir para casa — repeti.

Saímos do teatro lotado e do campus, e só então eu respirei fundo. Jughead, Veronica e Reggie estavam quietos demais. Eu queria que eles falassem e agissem como se tudo estivesse normal. Se fingíssemos que nada daquilo havia acontecido, seria muito mais fácil.

Quando chegamos ao carro, eu me acomodei no banco. A primeira coisa que pensei em fazer foi pegar o celular e me distrair, esquecer a realidade do que havia acabado de acontecer, mas não consegui. Não com a minha imagem fazendo exatamente a mesma coisa ainda tão nítida na minha cabeça.

Jughead deu partida e saiu do estacionamento.

— Se serve de consolo, não acho que ele falou especificamente de você. Foi só um exemplo para ilustrar o que ele queria provar. Ele disse que o problema é de uma geração. Não é um problema específico seu.

Assenti.

Veronica bateu no braço dele.

— Isso não é consolo. Ele é irmão dela, não devia ter feito isso. Ponto.

— Eu sei — Jughead concordou.

— O problema não é esse — falei, e minha voz era tão baixa que não sei se me ouviram.

— Qual é?

— O problema é que é verdade. Eu sou aquela pessoa.

Eu me importava com o que os outros pensavam sobre mim. Apagava fotos ou tuítes que não tinham muitas curtidas. Media meu valor nesses termos. Devia ser a garota mais superficial da face da Terra, e só agora eu descobria isso.

— Todos nós somos aquela pessoa, Betty. Por isso ele ganhou o prêmio. Todo mundo se identifica.

Talvez Jughead estivesse certo, mas, por alguma razão, eu sentia que aquilo se aplicava mais a mim. Apoiei a cabeça no vidro do carro e fechei os olhos.



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