Shoto estava nervoso. E, acredite, para Shoto Todoroki estar nervoso, algo desesperador tinha que estar acontecendo. Para o meio a meio, um adolescente de dezesseis anos, se assumir para a família — e, principalmente, para seu pai grande e intimidador — era algo assustador.
Não que Shoto tivesse uma boa relação com seu pai (era bem distante, para falar a verdade), sequer se importava com sua opinião e sabia que ele não era tão cruel a ponto de expulsá-lo de casa. Entretanto, seu namorado ia passar o dia dos pais com a família Todoroki (que se reunia pouquíssimas vezes no ano), e seria injusto apresentá-lo apenas como um amigo.
Katsuki, é claro, já havia tentado sair da situação várias vezes, afirmando e reafirmando que não havia problemas e que Todoroki não devia se forçar a fazer uma coisa dessas só por ele. O loiro chegou até a dizer que havia arrumado um compromisso para o fatídico domingo, mas a senhora Bakugo acabou, inconscientemente, desmentido-o.
Era um sábado à noite. Seus irmãos já haviam chegado e o jantar — preparado por Fuyumi, que era muito boa cozinheira, e Natsuo, que insistiu em ajudá-la — já estava quase pronto. O caçula, no entanto, sentia seu estômago revirar — e até chegou a pensar que quem não estava pronto era ele —, mas logo desistiu de desistir. Iria fazer aquilo por Katsuki e, principalmente, por si.
Quando foi chamado para a refeição, Shoto procurou sentar-se o mais longe possível de seu pai (porque, embora achasse improvável, ele poderia ter um ataque de raiva) e agradeceu mentalmente por Fuyumi e Hawks — que ninguém sabia o que estava fazendo lá — sentarem-se aos lados esquerdo e direito do senhor Todoroki. Eles eram bons em controlá-lo.
Enquanto comia — muito forçadamente, vale dizer, pois seu estômago ainda revirava —, tentou demonstrar o mínimo de nervosismo possível. Não deu muito certo e, não muito depois, Hawks perguntou:
— Shoto, querido, você está bem?
O caçula sentiu que aquela era a hora.
— Eu tenho um anúncio a fazer.
Todos olharam para ele e até Toya, que raramente demonstrava interesse em algo, encarou-o. O meio a meio sentiu vontade de correr e, quem sabe, começar a vender arte na praia. Mas não o fez.
— Então…? — Natsuo arqueou a sobrancelha.
— Eu sou gay.
Nada aconteceu. Nenhuma reação. Todos voltaram a comer, e Shoto pensou que talvez não lhe estivessem levando a sério. Quando abriu a boca para repetir, Natsuo interrompeu-o.
— Eu sou bi. — disse, simplesmente. O caçula arregalou levemente os olhos, mas sorriu.
— Eu sou assexual. — Foi a vez de Toya. O sorriso antes discreto de Shoto aumentou consideravelmente.
— E eu sou panromântica demissexual. — Fuyumi declarou. Parecia tão nervosa quanto o meio a meio há minutos, e o caçula dos Todoroki teve vontade de abraçá-la.
Quase que simultaneamente, todos os Todoroki olharam para Enji, que não demonstrava reação nenhuma — estava ocupado demais comendo. Shoto percebeu que Hawks sorria.
— O que? — O Todoroki mais velho perguntou.
Hawks deu aquele sorriso sugestivo, de quem estava aprontando alguma coisa ou sabia de algo que ninguém mais sabia. Rapidamente, deu um selinho em Endeavor.
— Porra, Hawks. — Enji parecia envergonhado.
Logo os irmãos soltaram um “oh!”, entendendo o que Hawks dizia. O Todoroki mais novo sentiu-se feliz pelo pai; não lembrava de tê-lo visto com mais ninguém desde o falecimento de sua mãe.
Pensou se deveria soltar a outra bomba, e concluiu que o pior já havia passado.
— Eu vou trazer meu namorado amanhã.
Agora, as reações foram diversas. Enji estava emburrado, resmungando algo como “Quem está namorando o meu caçula?”, enquanto Hawks tentava acalmá-lo; Fuyumi sorria para ele; Natsuo cerrou o punho, dizendo que iria matá-lo; e Toya ria, divertido. Simultaneamente, todos os Todoroki’s encararam Shoto e disseram:
— Não fode, Shoto.
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