MAL
Eu não sabia ao certo o que Victor pensava, sua expressão em seu rosto era indecifrável para mim.
Droga!
Eu devia ter pego um carro e partido sozinha, ele vai avisar ao Ben e as coisas para mim só ficarão piores na certa.
Minha ansiedade por sua resposta estava me matando por dentro.
Até que ele finalmente me responde:
-Está bem, como quiser.
Ele abre a porta do carro e eu entro rapidamente ainda surpresa por sua resposta. Talvez ele esteja tentando me enganar... Não importa as consequências, eu preciso tentar e sei que só na Ilha encontrarei a resposta para o que tanto vem me perturbando.
Ele entra no carro e me olha nos olhos pelo retrovisor como se me analisasse, ficamos parados um tempo enquanto ele fazia algo que eu não conseguia ver, ele então finalmente começa a dirigir, sinto um frio na espinha e uma sensação horrível passa por todo o meu corpo com um vento gelado que bate no meu rosto apesar das janelas do carro estarem fechadas.
Eu esfrego meus dedos e tento tranquilizar a mim mesma durante o caminho de que tudo ocorrerá bem.
Quando passamos pela barreira, eu pude ouvir uma rouca voz me chamando e olhei pela janela vendo olhos amarelos em meio à uma névoa de escuridão, não é possível, não há nem mesmo magia na Ilha.
O que está acontecendo comigo? Sinto como se estivesse enlouquecendo, talvez já seja isso mesmo, eu já não tenho domínio sobre minha mente.
Me espantei ao Victor abrir do carro para que eu pudesse descer, eu nem mesmo notei quando o carro parou.
Eu olhei rapidamente para ele e voltei meu olhar para a outra janela percebendo que os olhos tinham desaparecido, eu só posso estar louca.
Ele me estendeu a mão e eu a segurei descendo do carro e observando onde tínhamos parado, a minha antiga casa, ele pareceu adivinhar meus pensamentos.
O vi cobrindo a limusine com um enorme tapete preto que havia no porta-malas do carro e as coisas só ficavam mais estranhas para mim, era como se ele já soubesse exatamente o que fazer, mas preferi ignorar mais uma vez e encarei o lugar que ao menos parecia desabitado.
-Eu vou acompanha-la.
-Certo.
Respondi ainda um pouco confusa com as lembranças que vinham á minha mente.
O Castelo da Pechincha ao menos na época em que morei aqui e quando vim á Ilha pela última vez era uma loja que vendia roupões Enchanter usados e chapéus pontudos, o piso superior da mesma servia como casa para mim e para minha mãe. Mas agora já não tenho tanta certeza pelo estado da mesma, tudo mudou tanto.
Eu estranhei ao vê-lo aberto e mais uma vez senti que deveria sair dali, mas eu precisava investigar e saber a verdade. Eu não fugiria agora.
Entramos devagar e eu olhava para trás e ao meu redor tentando ver se vinha alguém atrás de nós, eu podia ver algo se mover no meio das sombras e tratei de cobrir meu rosto com o capuz.
Eu peguei meu celular para iluminar o chão e vi marcas vermelhas nele, eu podia ouvir o barulho do que eu imaginava ser ratos ou morcegos por ali, mas o pior era o horrível cheiro que me fazia querer vomitar, eu poderia dizer que alguém morreu aqui.
Eu gritei e Victor cobriu minha boca com a mão me segurando por trás quando diversas velas de repente foram acesas e diversos morcegos voaram pelo lugar derrubando algumas armadilhas que estavam cheias de sangue. Isso me lembrou o quarto em que estive no Olimpo e eu levantei meu olhar vendo marcas de sangue nas paredes e palavras escritas com o líquido que eu não conseguia saber em qual idioma estavam, talvez fosse algum código.
Alguns corvos com pedaços de carne em suas bocas começaram a sair do andar de cima e fugir pelas janelas, há tempos eu não passava por uma situação assim e fiquei sem reação em meio à esse momento tão macabro.
Victor me soltou e eu dei alguns passos sentindo que o chão não parecia mais seguro, eu parei num ponto onde tinha o sinal de uma interrogação, eu olhei para a escada e queria subir para onde era a minha casa.
Uma enorme aflição tomava conta de mim, o que eu poderia descobrir?
Eu comecei à subir a escada e a temperatura do lugar só parecia abaixar, ignorei tudo a minha volta e fui direto ao meu quarto, se é que eu ainda posso chamar assim.
Ele estava muito diferente do resto do lugar, estava bem conservado, como se alguém tivesse cuidado dele durante esse tempo em que estive fora, eu não sabia ao certo por onde procurar, nem se encontraria algo aqui, além da nostalgia é claro.
Eu dei alguns passos e tropecei em algo caindo no chão em seguida, eu pus a mão instantaneamente em minha barriga e respirei fundo tentando não me desesperar com a possibilidade de algo ruim ter acontecido.
Vi o objeto que me derrubou, uma simples boneca, alguém esteve aqui sem dúvida, eu peguei o objeto e senti que era mais pesado do que eu imaginei, era como se fosse de metal, tinha cabelos roxos e estava sem olhos, sua boca estava com um buraco no lugar que mostrava alguns arames dentro dela, eu vi a marca de um M em seu peito e a joguei com força para o outro lado do quarto.
Eu me levantei e olhei para meu guarda-roupa que estava entreaberto, caminhei até ele e abri suas portas, eu passei a mão pela parte de trás do mesmo e arranquei seu fundo falso. Eu fiquei parada observando a caixa de metal que tinha lá, eu deveria abri-la somente quando fizesse vinte anos, mas não dava mais para esperar.
Peguei a mesma e tirei-a dali, eu me sentei no chão com ela em meu colo e tirei sua tampa encarando os objetos que tinham ali com uma certa angústia.
Tinha dentro dela vários vidrinhos de tinta e desenhos meus, eu torci meu nariz ao ver um vidro com mel e em um canto dela algumas fotografias amarradas com uma fitinha vermelha, eu as peguei e desamarrei o laço com cuidado, tudo parecia estar no mesmo estado de anos atrás, quando eu tinha cinco anos, mas eu precisava dela para ver os borrões que estavam em minhas lembranças.
Tinha uma foto minha com um homem me segurando no colo, mas seu rosto estava completamente riscado, atrás estava escrito “Jamais esqueça de mim, ” e os números 191521-521, 8, 19521-1619, no canto, o numero de impressão talvez ou alguma mensagem, eu passei várias fotos que eram a mesma coisa da primeira, o rosto rasurado e vários números escritos, mas pareciam querer dizer alguma coisa, mas o quê? Numa última foto eu fiquei em choque, meus dedos tremiam e eu não já não conseguia me mover.
As minhas desconfianças estavam erradas, essa era a prova que o mundo escancarava na minha cara, eu fui a única errada da história. Eu errei.
Era uma foto de um homem idêntico ao Leroy, a diferença era apenas seus olhos que eram verdes brilhantes, ele me segurava no colo e eu estava com um desenho em minhas mãos com alguns insetos e pássaros que me fizeram arquear as sobrancelhas, atrás da fotografia não tinha números como as outras, apenas a seguinte frase: Serei sempre seu protetor.
Era então dele que eu me lembrava nos meus sonhos? Dele que minha mente estava atormentada com tantas lembranças? Então ele é realmente o meu pai e Leroy e eu somos irmãos?
Eu sempre duvidei da palavra do Leroy, e agora está aqui na minha frente, ele não mentiu, ele é apenas alguém que quer minha atenção e que eu posso ter matado ao atira-lo por aquela escada.
Eu guardei as fotografias nos bolsos internos do sobretudo por precaução e fechei a caixa a pegando nos meus braços e me levantando percebendo então que Victor deve ter ficado lá embaixo.
Saí do quarto atordoada e corri em direção às escadas, no meio disso, ouvi um barulho ensurdecedor e uma enorme estrutura de metal caiu por cima de mim, como uma enorme gaiola, por pouco não me atingiu, mas agora eu estava presa.
-Victor!
Gritei e no mesmo momento ele apareceu ao lado de algumas pessoas da Ilha, ele tinha um sorriso sádico no rosto e eu sabia que havia sido pega numa armadilha em todos os sentidos, meus olhos encheram de água ao pensar no meu filho, não era só a minha vida que estava em jogo.
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