Era estranho. Ele não queria, ele havia negado Castiel, duas vezes, e sua última discussão terminou da pior maneira possível. Mal se falavam, salvo as questões relacionadas à caça. Convencera-se, estava certo da sua escolha. Então porque magoava tanto ver o anjo sorrindo daquela maneira com outra pessoa? Porque a raiva surgiu, inflamando no peito feito um veneno? Foi Dean quem dissera que Cas devia ser feliz, achar alguém que o fizesse se sentir bem.
"Mas eu já tenho você Dean". Castiel replicou com sua expressão confusa e o loiro apenas espantou o pensamento do moreno. "Cara, eu já falei: nós somos amigos. Nada mais." E a frase acometeu o ex-anjo tal como um prédio caindo em cima dele.
Castiel também não entendia completamente qual a origem da sua atração por Dean nem se ela era algo mais, como ponderava.
Todavia, se pensasse um pouco consigo mesmo, se levasse em conta o que aprendera sobre os humanos nesse meio tempo e se usasse as experiências, por exemplo, do dia em que dormiu com uma mulher pela primeira vez...
Sim, ele podia se ver daquela forma junto de Dean, o abraçando, o trazendo para si em um beijo. Queria o beijar? Sim, e também diversas coisas que os humanos gostavam de fazer ao tocar o outro, porque Dean era sua pessoa importante, mas o loiro já deixou bem claro sua posição.
Engraçado como o anjo ainda pensava na sua forma etérea ao invés da casca humana. Porém, outra vez recordava das então regras mortais e o quanto eles ainda lhe pareciam complexas. Não era mais um anjo, era um homem. E Dean não gostava de homens.
Castiel podia viver com isso. Nenhum deles tinha culpa. Foi o moreno quem "caiu em tentação", no melhor uso dos termos bíblicos. Se pudesse continuar ao lado de Dean, o ajudando, protegendo, então ele poderia continuar a amizade, sendo feliz ao seu modo, tendo apenas o mínimo de Dean – mesmo que isso nunca preenchesse o vácuo apoderando-se dele.
Podia tentar esquecer estes problemas enquanto estava naquela cidade, onde tinha a total atenção de Louis. Era errado ficar tão próximo assim do garoto, afinal, eles haviam salvado sua vida e a gratidão dele estava ligada a isso. Contudo, Cas só conseguia se magoar ao dedicar pensamentos a Dean, sendo compelido a uma vontade egoísta de estar junto de Louis em momentos como o de agora onde podia se deslembrar das discussões com o caçador, apagar a vontade de tê-lo que o consumia por dentro.
O que o anjo não percebeu, ainda mais agora sem a sua graça, foi à presença de Dean do outro lado da lanchonete, vendo tudo, achando surreal demais. Era mesmo Castiel, ali, conversando abertamente com o garoto? Segurando sua mão? Onde estava aquele Cas sem jeito, que não sabe lidar com as pessoas?
"Eu só me sinto assim quando estou com você, Dean."
A frase de Cas estancou na cabeça, feito um letreiro luminoso, perpetrando em Dean perguntas sobre o ex-anjo e o medo ao se ver como humano, a incerteza, o embaraço, as perguntas incessantes e as expressões desentendidas... Se Castiel só agia assim com ele.
Não, que viajem! Precisava se recompor, estava divagando demais sobre o assunto.
Se Cas queria passar um tempo junto daquele moleque ótimo! Quer dizer, Louis era só um garoto! Não havia nada entre eles, só um adolescente confuso. E Castiel jamais cogitaria a hipótese de dar esperanças a Louis.
Ainda assim Dean se incomodava com a proximidade dele e Castiel. Mas por quê?! Qual a razão?! Por quê?! Por quê?! Por que!
Porque antes essa atenção era completa e apenas de Dean.
Não, não! Dean não se importava. Não muito... Talvez... Okay estava um pouco irritadiço, mas... Mas era bom ver Cas ali, se esquecendo dos bate-bocas, dos conflitos e desentendimentos. Com tudo passado, poderiam voltar a serem amigos como antes ignorando os últimos dias turbulentos. Sim, bastava apenas isso, que Castiel se esquecesse da ideia louca de que gostava de Dean.
Bastava que esquecesse Dean.
Bufando frustrado o loiro deu um soco no ar indo embora. Carecia de uma bebida, e das fortes. Quando Castiel virou a cabeça na direção da saída Dean já havia sumido, e o moreno apenas terminou de tomar o café.
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As últimas duas semanas em que Castiel juntou-se a dupla Winchester eram iguais. Os três no quarto se divertiam com piadas e a televisão, ou saíam para caçar. Quando de folga procuravam um lugar alegre onde beber até amanhecer. Dean, Sam e Castiel. Mas naquela noite, Sam ficou na biblioteca até tarde procurando uma maneira de derrotar a entidade e Castiel continuava fora dando uma de “salvador de almas” escoltando Louis pela cidade.
Já Dean encheu as fuças de cerveja, desde o fim da tarde e tentou a sorte com algumas garotas do motel. Duas delas acabaram se encontraram no meio do caminho do elevador quando estavam na porta do quarto de Dean. Em choque ao ver a cara de pau dele, as duas deram os devidos tapas na cara do loiro, indo embora em seguida. Dean achou graça daquilo, pensando o quanto adorava de mulheres - e muito. Não estava nem aí para homens.
Mas gostava de Castiel.
Praguejou consigo mesmo, pois mesmo ao tentar se dar bem com aquelas mulheres mal havia conseguido se livrar dos pensamentos em torno do moreno. Qual a razão de Dean se incomodar tanto? Porque estava sozinho naquela noite? Acostumara-se com a agitação de Sam e Cas? Não, não era isso.
Sam já ficou fora outras vezes e ele se virou muito bem. O problema ali era a falta de Castiel, do quanto o moreno estava próximo, mas agora... Agora desde ontem ele dedicava as horas do seu dia a Louis apenas.
Botando a memória para funcionar direito, apesar do álcool, o loiro conseguia conectar a sensação de ausência naquele quarto com outros momentos em que ele e o anjo ficaram separados por longos dias.
Angustia; um sentimento de perdido. Foi capaz de distinguir estes fragmentos. Porém havia algo mais, outro ponto por ele ignorado, mas que a bebida conseguia despertar.
Sentia falta da presença de Castiel quase o tempo todo, até mesmo ao estarem no mesmo cômodo e não podiam ficar mais acerca um do outro.
Dean entornou o restante da cerveja, tratando de procurar por mais. Depois voltou ao quarto jogando-se na cama, querendo dormir e o fez. No entanto, ainda refletia sobre Cas.
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Castiel chegou ao motel às nove da noite sentindo-se leve. O dia com Louis foi ótimo. Deixou o garoto no quarto ao lado do deles recebendo um forte abraço de despedida:
– Obrigado por tudo Castiel – disse rente ao ouvido dele.
– Você é um bom menino Louis.
– Por favor... – falou afastando-se envergonhado – Eu já tenho dezessete anos, não sou uma criança.
Aos olhos de um ser tão antigo como Castiel ele era. Afagando de leve o topo de sua cabeça o moreno o deixou sem graça com as bochechas vermelhas:
– Está certo. Qualquer coisa você pode nos chamar aqui ao lado. – falou se afastando até ter o pulso preso pelo garoto.
– Espere Castiel! – exclamou com a voz trêmula.
O moreno parou o encarando sem entender nada. A poucos metros, no quarto onde Dean repousava, Castiel não notou o barulho vindo de lá de dentro conforme o loiro arrastava-se da cama ao banheiro a fim de lavar o rosto. Ao recobrar parte dos sentidos, o caçador reconheceu as vozes abafadas do corredor franzindo o cenho.
Caminhou à porta parando com a orelha colada nela – sem saber o motivo da curiosidade o matando por dentro. O primeiro a falar foi Louis e ele estalou a língua, cansado demais daquele moleque:
– Castiel, eu... – disse num tom quase inaudível.
– Sim, Louis?
Engolindo seco Louis ergueu o rosto encarando o moreno:
– Vo-você e o Dean têm... Quer dizer, vocês são amigos? Mesmo? Só amigos? De verdade?!
Achando a pergunta dele um tanto quanto indiscreta Dean quase arrebentou a porta indo tirar satisfação com ele. Mas a verdade é que queria ouvir a resposta de Castiel.
Castiel também estranhou as indagações de Louis, afinal, já havia dito que’ sim’ mais cedo ao garoto. Mas respondeu da mesma forma no ato:
– Nós dois... Somos sim. Apenas amigos.
Cas carregava uma conformidade na voz parecendo ter aceitado o que Dean vinha lhe dizendo nos últimos dias. O seu corpo pesou numa ardência dolorida, porém era preciso aceitar os fatos de uma vez; de que Dean jamais o aceitaria de outra maneira.
Quase caindo no meio do quarto o caçador afastou-se da porta ficando tonto de repente, arquejando numa respiração falha. Qual a razão da frase de Cas apertar tanto seu peito? Dean havia dito a mesma coisa mais cedo à Louis, ainda assim porque lhe pareceu horrível à ideia de que o amigo tinha simplesmente... Desistido dele?
O cômodo girou e Dean precisou se apoiar na cômoda até chegar à cama, onde se jogou caindo de cara no travesseiro. Aquilo era um sonho, só podia ser!
Louis segurava a mão de Castiel parecendo nervoso, porém menos apreensivo. Levantou o olhar um pouco mareado, sentindo as bochechas arderem:
– É por que... Eu queria te agradecer Castiel. – falou quase se embolando nas palavras.
– Tudo bem Louis, não precisa se preocupar com isso.
Meneando negativamente a cabeça o garoto diminuiu a distancia entre eles:
– Você me salvou da minha família... – falou cabisbaixo – Ninguém nunca se importou comigo antes.
Respirando fundo, Castiel pôs a mão sobre o ombro dele querendo o confortar. Mesmo sem suas asas e todo o resplendor de um anjo, continuava agindo como um, roubando para si a amargura dos outros, querendo dar um jeito em todos os problemas do mundo – dessa humanidade que ele tanto amava.
– Vai ficar tudo bem daqui para frente Louis, apenas faça o certo. Sempre.
Aquiescendo, o garoto tentou esconder o rosto ao girar o pescoço para o lado, no entanto o formigamento na sua barriga o empurrava na outra direção – contra a boca de Cas.
Castiel não reagiu, apenas arregalou os olhos frente ao espanto. Os lábios de Louis bateram rápidos contra os seus apenas num alto estalo da junção das carnes úmidas, e então o garoto se afastou, encabulado demais para encará-lo:
– Obrigado por tudo, Castiel! - falou dando meia volta e entrando no quarto em meio segundo.
O moreno baixou os braços os colando rente ao corpo. Depois esfregou o meio da testa soltando uma rápida bufada. Não esperava que seu dia acabasse assim, mas, fazer o que. Já havia acontecido e ele estava esgotado demais para se dedicar a esse tipo de raciocínio. Louis entenderia depois, sim, com certeza, que aquilo foi um tanto quanto inapropriado.
Entrou no quarto tirando seu casaco azul escuro vendo que Sam não voltara. Já Dean jazia estirado na cama. O ex-anjo caminhou até ele devagar sem fazer barulho, vendo uma pequena coleção de garrafas de cerveja próxima à cômoda, vazias. Respirou densamente, achando que o loiro devia evitar por um tempo a bebida. Quis tocar o seu cabelo (as melenas claras e curtas que lhe davam a o ar rebelde) o despertando para que fosse tomar um banho, contudo retraiu a mão logo depois. Dean poderia reclamar do toque dele, optando por dar um passo para trás o chamando de longe:
– Dean.
Ele grunhiu, mas continuou de bruços. Talvez se continuasse parado o moreno fosse até ele, imaginava Dean. Cas se acercaria a cama, porém o paciente ex-anjo foi insistindo num tom de voz mais alto até o loiro proferir meia dúzia de palavrões e se ajeitar sentado coçando os olhos:
– Merda, que aconteceu agora?!...
Foi dizendo, porém calou-se ao ver Castiel o encarando da janela.
– Oh, já voltou é? - brincou vendo a hora no relógio – Cansou de bancar a babá?
Indagou parecendo ter uma espécie de felicidade na voz, mas ela foi desfeita na frase seguinte do moreno:
– Deixei Louis no quarto dele, estávamos tendo uma tarde agradável.
Dean riu em escárnio:
–Depois do que descobrimos sobre a família dele você se divertiu com o filhote de ocultista?
Apesar dos últimos minutos no corredor, Castiel não tinha ressentimento algum para com Louis. Ele apenas havia demonstrado de maneira... Afetuosa a sua gratidão. Sim, devia ser isso.
– Louis é um bom garoto, gostei dele.
"Gostou:" Dean repetiu mentalmente parecendo levar um soco na boca do estômago. Depois se reprendeu arriscando levantar da cama, em vão. Estava tenso demais e furioso demais, não sabia o que fazer nem o que falar. Perdera o controle sobre as palavras pipocando na mente:
"Ele gostou dele. Castiel vai se encontrar com ele de novo pela manhã e os dois vão ficar se encarando sem parar. Ele fica mais com o pirralho do que ajudando no caso; Cas só fica longe agora, ele... Não vai mais estar por perto?”.
Mas a real desolação de Dean vinha no seguinte pensamento: "Cas pode ir embora quando bem quiser.”.
– Dean, vou tomar um banho, quando se sentir melhor faça o mesmo.
Falou num tom consternado e direto. Entrou no banheiro largando Dean sozinho com o raciocínio alucinado brotando por todos os cantos do cérebro.
O ex-anjo agora tinha uma vida longe dele. Procurou até mesmo um emprego! Estavam naquela caçada juntos por acaso, mas depois dela... Depois tudo podia acontecer. E subitamente, a ideia de ter Castiel afastado de si fez o estômago de Dean doer.
"Castiel pode sim ir embora. A qualquer instante.”. – abarcou num pensamento sem volta – “É só ele ter uma chance, algo para se dedicar ou alguém. Feito esse maldito moleque e sua missão de resgate do soldado Ryan! E quem não o ia querer? Um cara maneiro feito ele. Dá para ver pela barba mal feita que é alguém despreocupado, mas não desleixado. Basta conversar um pouco para perceber o espírito de bondade. Cas é um cara maneiro mesmo. Podia ter uma mulher sim ou até mesmo um homem...”.
Estagnou na última frase sentindo o rosto arder. Balançou a cabeça tirando essa perigosa imagem da mente culpando a bebida.
"Cas é legal, e merece alguém legal" - Concluiu - "Quem é que diria não a ele?".
Dean havia dito, e por um minuto um arrependimento sem igual o acometeu. O peito pesou como se os pulmões fossem cheios de água. Quis vomitar, jogar para fora a cerveja e as ideias loucas, mas lhe era difícil forçar o vomito por algo assim.
Castiel ia escolher outra pessoa, outro qualquer, mas não seria ele. Depois de todos os problemas cruzados juntos Dean deixou bem claro que não teriam nada e culpou-se sem entender o porquê, pois não gostava de homens, não tinha atração nenhuma pelo mesmo sexo.
Ainda assim, ainda assim! Havia Cas!
O moreno saiu do banho com novas roupas tirando a atenção do loiro sobre os próprios pensamentos. Castiel observou Dean o afrontando sem piscar, enrugando a testa em incompreensão:
– Esta se sentindo mal, Dean?
Perguntou e o loiro sabia qual seria a ação seguinte de Castiel: abeirar-se dele eliminando o seu espaço pessoal com a expressão preocupada adornando a face serena, e os olhos azulados recairiam sobre os seus. Dean esperou, um tanto quanto ansioso por este momento. Que não veio.
Castiel permaneceu distante, quase que o evitando, apenas à espera de uma resposta. Limpando a garganta, Dean ergueu-se do colchão:
– Nada. Vou tomar banho.
Mentiu, passando bem longe do anjo, que não fez questão de tocá-lo, de repousar a mão sobe o ombro dele como sempre o fazia.
Dean trancou a maldita porta do banheiro apoiando as mãos na pia dando uma boa olhada no seu reflexo:
"Ele está se afastando..."- pensou.
A sensação o fez ranger os dentes num misto de ódio e um real desespero tomando conta de si. Teria quebrado o lugar todo se fosse possível o fazer sem chamar atenção.
Tomou uma demorada chuveirada e depois de vinte minutos saiu do cômodo escaldante. Sentia-se mais tranquilo após remover um pouco da bebida do corpo e então só lhe restava dormir esquecendo-se da noite exótica.
Sentou-se na cama vendo o colchão ao seu lado - onde Cas costumava ficar - vazio. Ele pulou para o outro lado do quarto perto da janela e lá já dormia de costas a ele.
Novamente veio. O mesmo nada de antes, aquele vácuo o sugando de dentro para fora, a raiva e uma profunda tristeza causando-lhe novas náuseas. Dean queria chegar mais perto de Cas. Tinha essa vontade, ao mesmo tempo em que não queria, quase socando a parede.
"Você vai se afastar de mim... E isso está me deixando louco!"
–------------------------(...)-------------------------
Cinco longos dias se passaram e os três caçadores continuavam na mesma cidade apenas tentando resolver o bendito caso, sem sucesso algum, enquanto o retrato da quinta vitima apareceu no jornal. Aparentemente ele era um jornalista que se meteu nos negócios da família de Louis.
Já a querida mãe do garoto. Tânia, não deu as caras. Provavelmente estavam escondidos depois do encontro com os caçadores, lambendo as feridas e escolhendo a próxima vítima do sacrifício. Funcionava para os dois lados: os caçadores não tinham de se preocupar com eles ao passo em que a família de Louis recuperava-se em paz protegida dentro de sua fazenda. Louis os alertou sobre voltar agora que Rick e Tânia conheciam quem eles eram, pois a casa devia ter recebido novos encantamentos.
Nesse meio tempo Sam queria visitar os conhecidos do morto e Dean tentou acompanhá-lo, mas o irmão mais novo o impediu:
– Não sei o que você tem Dean. - falou a ele querendo se fingir de desentendido – Mas essa sua raiva só vai servir se formos ‘pra cima dessa coisa. Vai procurar um jeito de matar essa coisa.
Ele até quis retrucar, porém precisou relutante, concordar com Sam. Estava à beira de um colapso, ainda mais ao ficar o tempo todo matutando sobre as ações de Cas, sobre os próprios pensamentos. Estava tudo diferente, tudo havia mudado desde que Castiel resolveu abrir a boca grande no ferro velho.
Enraivecido, Dean, por mais desgostoso que fosse, achou melhor não ver Castiel nem Louis juntos. Eles ficaram para trás no quarto analisando os livros trazidos por Sam e que, talvez, poderiam acabar com o ritual, isso se descobrissem como o sangue do garoto podia os ajudar.
Dean foi ao bar outra vez. Podia ter saído com o impala, mas precisava ficar por perto caso descobrissem algo. Ele mesmo estaria procurando por um meio de encerrar a tradição macabra da família Buscapé, contudo sua cabeça rodava demais em torno do moreno:
“Cas, Cas, Cas! Só consigo pensar naquele idiota!” – reclamava de si mesmo nos seus devaneios, tragando uma nova dose de whisky.
Whisky... Foi o que Castiel bebeu quando disse que queria o beijar.
Dean balançou a cabeça afastando a lembrança. Contudo depois dela veio outra. Na fazenda, quando os vidros explodiram, e seu rosto ficou tão próximo do de Castiel. Podia jurar que o hálito quente saindo da fresta dos lábios do moreno lhe trazia o sabor daquela carne rosada de Castiel.
Sobressaltado, o loiro ergueu-se da mesa suando frio. Estava... Estava mesmo considerando isso?! Que queria... Beijar Cas?!
Grunhiu ao se levantar indo para o beco ao lado do bar onde o lixo estava sendo jogado fora. O cheiro podre o livrou deste tipo de alienação.
Estava pensado em Castiel de uma maneira... Diferente. E, notou só agora, que isso vinha acontecendo desde o ferro velho – talvez até antes.
Naquela noite na casa de Bobby, ele foi se deitar como de costume achando que tudo havia passado dum mal entendido e no fim ririam juntos desta história mais tarde. Porém, ao invés disso, seus sonhos o traíram, criando as imagens do moreno em sua frente. Eram sonhos e memórias se misturando no inconsciente, sobre as tantas vezes em que perdera Cas e o sentimento ruim em seu peito que se seguiu. Depois vinham os reencontros e Dean não podia ficar mais feliz em revê-lo! Saber que o amigo estava vivo!
Sonhou a noite toda com o moreno, suas expressões calmas e desentendidas, seu jeito gentil e amável, mas que também sabe a hora certa de perder o controle – na maioria das vezes quando se tratava de proteger Dean.
O loiro quis gritar. Nem mesmo o fedor do lixo ao lado do bar o fazia se esquecer de Castiel. Tentou ignorar os sonhos por dias, mas mesmo depois de quase duas semanas ainda se lembrava fortemente da declaração no ferro velho, do semblante de Castiel, e em como ele havia se sentido ao ter conhecimento dos anseios do moreno.
Não com raiva, nem triste. Algo mais perto de... Lisonjeado, cuidado... Feliz.
Imerso nos devaneios do whisky, Dean só ouviu na terceira vez que uma das garçonetes do bar o chamava:
– Você está se sentindo bem? – perguntou ela. Tinha cabelos loiros curtos, e um corpo bem esculpido.
– Estou só meio zonzo.
– Quer que eu chame alguém para te ajudar?
– Oh, você me seguiu até aqui para chamar outra pessoa? Que triste!
Dean nem conseguia acreditar que conseguia lançar uma cantada assim, do nada. Bem, para dizer a verdade, estava mais para “mecanismo de defesa mental avançado”.
Se falasse com a mulher, poderia parar de pensar em Castiel. E se ela fosse com a cara dele, podia a levar para a cama, parando de uma vez com os devaneios confusos.
Para sua sorte, a garçonete sorriu indo até ele num passo promíscuo.
– Você não é daqui da cidade, é? – perguntou ao se aproximar e tocar-lhe o peito.
“Ela é bonita”. – Pensou Dean quase a comendo com os olhos através do decote:
– Sou de fora. Fico aqui mais uns dias para fazer umas pesquisas ‘pro trabalho.
– Qual seu trabalho?
– Escritor.
– Ah! Que maravilhoso! Adoro ler!
– Eu poderia te mostrar algum dos meus trabalhos. Quer ver?
– Adoraria. Onde está hospedado?
– Oh, não se preocupe. Eu tenho uma cópia no meu carro. Vamos à sua casa.
Sorridente, a mulher o puxou pela mão passando por dentro do bar. Jogou o avental em cima do balcão dizendo que ia tirar sua folga da tarde. Ela estava de olho em Dean desde que ele entrara no bar. Lindo e gostoso! Ainda bem que havia ido ao beco!
No meio do caminho, Dean parou a mulher ao lado do impala e num rápido movimento a recostou contra a porta, roubando-lhe um beijo. Ela havia gostado daquilo e o caçador também.
A beijava sem pensar em mais nada nem ninguém. Não havia a caçada, nem Sam, nem Louis, nem mesmo os lábios, aqueles lábios imersos na barba mal feita do moreno que saltaram do nada na mente de Dean:
“Eu gostaria de beijar você Dean”.
A mesma frase, a mesma expressão do ex-anjo naquele dia do bar! Veio tudo duma vez na cabeça do loiro. A ideia de que Castiel queria o beijar, que gostava dele, e a proximidade dos dois na casa após as janelas se quebrarem. Os lábios de Castiel roçando na sua blusa até ficarem a poucos centímetros dos seus. Foi tudo tão de repente, o fluxo de lembranças o invadindo conforme o ósculo com a garçonete continuava, que Dean mal teve tempo de refrear as palavras quando afastou a boca da mulher:
– Cas...
Disse, arregalando os olhos em seguida ao encontrar o semblante dúbio da mulher:
– Cas? – ela perguntou confusa.
Na hora, Dean deu dois passos para trás respirando acelerado. Que porra! O que tinha acontecido?! Náuseas vieram em meio a sua desordem e o álcool reclamava, querendo sair de dentro da barriga.
– Preciso ir.
Foi tudo o que conseguiu dizer ao pegar a chave do impala no bolso:
– Ei! Como assim?! – a mulher exclamou com raiva – Eu saí do meu trabalho seu babaca!
Ela continuou o chilique, mas Dean a ignorou entrando no carro e dando a partida. Nem se importou em furar alguns sinais vermelhos, só queria ir para longe, dirigir o mais distante possível; da garçonete, da cidade, dos próprio cérebro o traindo!
Parou meia hora depois num encostamento deserto. Ainda estava perto do centro, porém ali no meio do nada talvez conseguisse por a cabeça no lugar. Ou não.
O estômago ardeu outra vez e Dean perguntou-se quando havia ficado tão fraco para a bebida. Preferiu deitar no banco da frente duma vez permitindo que o corpo se recuperasse do enjoo. Logo caiu no sono – afinal, ele mal dormia mais de quatro horas por noite – e a tontura do whisky o deixou molenga.
No sonho que se seguiu, Dean via-se num quarto qualquer de motel. Uma loira bonita, provavelmente uma das muitas que ele já havia levado para a cama, usava apenas uma calcinha e sutiã vermelhos, o chamando para se deitar num tom seboso de voz delirante e promíscuo. Sorridente, o caçador o fez preparando-se para se divertir.
– Vou te fazer gritar, querido.
Ela disse, ajeitando a cintura delineada no colo de Dean. Ele, por sua vez sorriu. Fazia tempo não tinha uma bela visão como essa, os seios fartos saltando conforme a mulher pulava. A barriga dela era lisa e bem feita, os ombros pequenos, cabelos longos dourados esvoaçando com os movimentos del sobe e desce na pélvis de Dean. O caçador fechou os olhos a sentindo se mexer. Ah! Sim! Não conseguia pensar em mais nada! Era perfeito! Alisou o corpo gostoso dela prendendo os olhos na face esbelta.
Ao piscar, porém, Dean podia jurar que o negro das íris da mulher ganhava um tom azul.
E sim, a mulher foi se moldando noutra forma, num corpo mais forte e definido, desenhado em linhas duras, porém firmes e bem feitas. Dean respirou fundo, piscando outra vez tendo de levar as mãos à cintura daquele à sua frente para ter certeza de que era real:
– D-Dean! – gritou a figura, e o caçador estremeceu em deleite.
Até mesmo a voz rouca sua mente havia trazido a ele, criado diante de Dean a imagem de quem ele desejava sem saber.
Os orbes extremamente azulados o encaravam, cravando a visão sobre ele. O peito bem definido e malhado combinava belamente com os gomos do abdômen daquele corpo masculino rebolando em seu colo.
– Dean! Mais!
A voz rouca outra vez. Aquilo fez Dean suspirar num gemido. Deus! Era... Era Castiel! Grunhindo, o chamando manhoso em cima dele, sentando com força sobre Dean e gostando!
"Cas!" - urrou em sua mente conforme o corpo ilusório saltava sobre ele - "Cas! Cas! Oh Deus! Cas!”.
A excitação foi tanta, que Dean forçou as coxas do então Castiel para baixo o fazendo ir mais fundo. O loiro sentiu seu membro enrijecer mais e mais, tamanha era sua vontade crescendo de sentir, tocar e pensar que aquele ali era realmente o moreno!
Arquejando, Dean soltou um extenso suspiro já no seu limite. Aumentou a velocidade sorvendo o ar pesadamente em completa satisfação ao ver Cas se remexendo sobre ele. A visão era magnífica! As expressões de prazer que o moreno lançava, a face encabulada e em ao mesmo tempo em júbilo, o timbre rouco dizendo seu nome uma, duas, três vezes! Gemendo, implorando por mais!
Numa estocada brusca Dean parou, soltando um longo grito:
– C-Castiel!
Berrou incapaz de aguentar um segundo a mais sem proferir seu nome conforme chegava ao clímax, ao mesmo tempo em que acordava no banco do carro, ainda balbuciando o nome do moreno no ar vazio com cheiro de couro do veículo.
Seus olhos abriram-se, dilatando o máximo possível ao se depararem com o teto do impala. Ofegante, ele se sentou encarando o chão do carro, percebendo o incômodo volume no meio das pernas tentando saltar para fora da calça jeans de tão apertado. A respiração de Dean ficou descompassada.
O que... Como... Por que... Porque ele havia sonhado com Cas?! E daquele jeito! Não devia... Não podia querer isso! Céus! Isso não estava acontecendo!
Os pulmões de Dean pareciam ter se fechado. Hiperventilada num pequeno colapso de pânico.
Náusea. Uma dor na barriga atingiu o loiro. Ele cambaleou ao sair do impala. Apoiou as costas ao lado dele enquanto a cabeça girava provocando uma sensação desconfortável.
Não tinha como. Seu corpo, sua mente, seus mais ínfimos desejos despertavam duma única vez conforme Dean dava-se conta do que acontecia no seu interior.
A barriga reclamou novamente o obrigando a se escorar nas paredes dum prédio até chegar às lixeiras ao lado dele. Lá arqueou o tronco quase caindo de frente no chão, e por fim seu corpo expeliu a bebida incomodando o estômago. Numa golfada, o loiro caminhou de costas desequilibrado, parando ao lado do bloco de apartamentos numa rua sem saída onde pouquíssimas pessoas passavam. Arrastou as mãos pelo rosto limpando o suor começando a se dar conta do que se passava com ele. A sobriedade lhe trazendo um momento interno de reflexão.
Ele queria... Estar com Cas?!
Quer dizer, ele sempre gostou de Castiel, mas... Não desse jeito. Dean nunca havia se imaginado daquela maneira com o ex-anjo. Até por que... Ora! Ele nunca teve vontade alguma de ficar com homens!
Nas suas saídas noturnas tinha recebido inúmeras propostas dos mais assanhados, e mesmo tendo entupido a cara de bebida, jamais teve atração por eles, por um corpo masculino.
No entanto, com Cas... Ele sentia isso tudo! Desejo, carência, necessidade, excitação! Ah! Só de se lembrar das falsas imagens do moreno sobre ele sentia o peito arder numa convulsão espalhando-se até seu baixo frente - esquentando mais e mais!
Que estava acontecendo?! Foi depois... Começou sim logo depois da declaração de Cas. Alguma coisa no interior do loiro despertou, tal como se alguém ligasse um interruptor.
Pois antes, ele e o ex-anjo eram amigos e só. Os dois dividiam uma experiência de vida que os uniu por acaso; por ordens divinas.
Então Dean sempre achou que Castiel estava ao seu lado por ser um ser de luz, obrigado a descer a Terra, salvar o caçador do inferno em nome do Senhor seguindo suas ordens e o protegendo, pois este era seu dever.
Mas o apocalipse acabou junto da missão, e Cas voltou-se contra os anjos – por Dean.
Tornou-se um quase Deus, mas desistiu do plano – por Dean.
Salvou a vida de Sam após o que fez no seu momento de loucura – por Dean.
Rebelou-se completamente contra os anjos, sofrendo ameaças e ainda assim, Castiel permaneceu ao seu lado, até mesmo caindo e tornando-se humano.
Tudo por Dean.
Além da amizade e do companheirismo, tinha algo a mais entre os dois. Deus! Dean procurou que nem um louco por Castiel no purgatório! E mesmo assim ele não havia se dado conta do quanto o moreno lhe era importante!
Suspirou ao recobrar o controle sobre o estômago. Não dava mais para fugir ou negar. Seu próprio corpo e mente se contorciam para alertá-lo disso: de que Dean não mais podia fugir dos próprios anseios.
Era como se tem todos aqueles instantes em que se encaravam camuflassem um desejo oculto de que alguém tomasse a iniciativa.
Oh, bem. Cas havia tomado certo?
E Dean o repeliu.
Numa nova crise no estômago o loiro sentiu a barriga rezingando do excesso de álcool. Tentou vomitar outra vez, como se isso fosse uma maneira de se livrar das mentiras contadas a si mesmo durante este tempo todo; que Dean se recusava a enxergar uma verdade estampada na testa:
Também nutria sentimentos por Castiel.
Continua
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