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História Nas linhas do amor - Capítulo único: Pintar certo em linhas tortas


Escrita por: snct

Notas do Autor


Primeira fanfic para esse projetinho tão lindo e maravilhoso. Um pouquinho de fluffy água com açúcar, slice of life, com uns bocadinhos de comédia – algo que vocês nunca viram, aposto.
Muito obrigada à dona Milka pelo plot, dona Karina pela capa e dona Ana Luiza pela betagem. Enfim, meus amores, boa leitura e espero que gostem ♡

Capítulo 1 - Capítulo único: Pintar certo em linhas tortas


Dizer que Lee Taeyong não gostava da ideia de ter uma alma gêmea era eufemismo, porque Taeyong odiava aquela baboseira toda de que conheceria o amor da sua vida aos dezessete anos. Estava à espera da aparição daquela porcaria de alma gêmea há três anos e nada da tal fulana sequer demonstrar sinais de existir. O problema era que todo mundo ao seu redor parecia cair naquele papo – sua irmã mais velha vivia dizendo que ele precisava de ser tão pessimista porque ora ou outra, a tal alma gêmea apareceria e aí ele se apaixonaria, casaria, teria filhos e todo o blábláblá que irmãos mais velhos insistem em dizer aos irmãos mais novos. Taeyong não acreditaria naquela lengalenga de jeito nenhum.

Também havia o fato de que não conseguia ver cor alguma até se apaixonar – conhecer ou esbarrar na pessoa na rua não era o suficiente, não, ele precisava se apaixonar pela sua alma gêmea para então começar a ver cores. Como um estudante de artes, não ver cores era uma porra, afinal, como caralhos que iria conseguir usar cores se não sabia como elas eram? Sabia a teoria das cores, mas não fazia ideia de como colocá-la em prática, e era uma bela bosta depender de etiquetas com os nomes para saber se estava pintando com a cor certa.

Ser estudante de artes visuais não era nem um pouco fácil quando não conseguia ver cor, especialmente naquela altura do semestre – fim de semestre sempre era aquele caos que não parecia acabar. Junto com o fim do semestre, vinha a famosa busca por um emprego de meio período para finalmente conquistar sua tão sonhada independência financeira. A chegada das férias era o momento certo para procurar um emprego temporário para não morrer mofando em seu dormitório, ou intoxicado com o cheiro de terebintina de tanto pintar com tinta a óleo em seu tempo livre.

Eram plenas três da madrugada no que Taeyong se encaminhava à lavanderia comunal do bloco B do dormitório masculino. Esperou seus colegas de quarto caírem no sono, checou o corredor e tudo para ter a certeza de que não teria companhia – a lavanderia era seu lugar de paz e silêncio no meio daquele caos constante que era o campus. O problema era que Taeyong não estava sozinho na lavanderia do bloco B; tinha um carinha magrelo lá, sentado num dos bancos com os pés para cima, o olhar fixo no celular, evidentemente entediado.

— Quem lava roupa às três da manhã? — perguntou, pousando o cesto de roupa suja em cima do balcão. Soltou um suspiro; o cara em si não parecia ser tão ruim assim, apesar de usar regata, calça de moletom e chinelo. Fuckboy na certa; conseguia até ouvir Johnny, seu colega de quarto, dizendo o quanto aquele cara devia ter mil e uma namoradas desesperadas pela atenção dele, e Taeyong entenderia – o desconhecido era muito lindo. Fazia todo sentido que ele tivesse mil e uma namoradas.

— Olha quem pergunta — retrucou, os braços cruzados em cima do peito largo – no qual Taeyong reparou porque não havia mais para onde olhar, muito obrigado; o celular na mão tocando uma música qualquer. — Que tipo de psicopata você é?

— Eu tenho uma entrevista de emprego amanhã e a máquina de lavar do meu bloco está quebrada — retorquiu. Abriu três das máquinas enfileiradas, dividindo as roupas por tonalidades: claras em uma, escuras em outra, e tecidos delicados noutra. O cara voltou a encarar o próprio celular, uma música diferente dessa vez. — Qual a sua desculpa?

— Não gosto de dividir meu amaciante com os outros pirralhos que vêm aqui durante o dia.

— Você só pode estar zoando.

— Você acha que eu vou dividir meu amaciante soft com um bando de moleques fedidos com roupa cheirando à porra? — disse, todo ofendido, como se fosse óbvio que alguém se sujeitaria a lavar suas roupas no meio da madrugada porque tinha ciúmes do próprio amaciante. — Nem morto.

Ficaram em silêncio. Taeyong sentou-se ao lado dele e expirou, olhando para a luz pálida no teto, cansado; tinha que acordar cedo na manhã seguinte para a entrevista e ainda teria que esperar mais umas duas horas para terminar a lavagem e colocar as roupas na máquina de secar. O carinha parecia entretido em seu telefone e Taeyong estava cansado demais para puxar assunto, então permitiu-se relaxar contra o banco duro e tirar uma soneca ali mesmo.

Quando acordou, estava deitado no colo do desconhecido, que dormia com a cabeça pendendo para trás, de cenho franzido. Levantou-se apressado e num susto, piscando repetidamente; o ciclo de lavagem estava no fim. O carinha acabou acordando também, minutos depois, com o apitar da máquina de lavar.

— Você acabou escorregando e ‘tava deitado numa posição meio exorcista, e como você parecia tão cansado, não quis te acordar. Deitei você no meu colo para que você não acabasse caindo no chão — disse, mas Taeyong não contestou o porquê de nada. — Ah, e meu nome é Kim Dongyoung, mas pode me chamar de Doyoung. Estou no segundo semestre de artes gráficas. E você?

— Lee Taeyong, terceiro semestre de artes plásticas.

— É um prazer — retrucou, estendendo a mão para ele apertar. — Quer um pouco de amaciante?

— Não era você que não gostava de dividir o amaciante?

— Você não é um moleque fedido com roupa cheirando à porra.

Taeyong riu e Doyoung riu junto. Taeyong se levantou, recolheu suas roupas e logo colocou-as na máquina de secar, e Doyoung fez o mesmo, antes de se sentar outra vez e apoiar a cabeça no ombro do outro. Como ele não demonstrou incômodo, Taeyong fechou os olhos outra vez e dormiu.

E foi numa discussão sobre amaciante na lavanderia do bloco B que Lee Taeyong conheceu seu melhor amigo. Nada de convencional até aí, especialmente na parte em que convinha normalidade – Taeyong acabou por descobrir que sua amizade com Doyoung seria regada de discussões bobíssimas, humor ácido e patadas vindas de ambos os lados, além de apoio incondicional e um ombro para chorar.

Agora que já conhecemos Lee Taeyong, pulemos a ele nos dias atuais. Formado há menos de um ano, Taeyong estava sofrendo para encontrar um emprego. Quem disse que a vida era fácil depois da faculdade realmente não fazia ideia do que estava falando. Hoje em dia, você não precisa só de um diploma do ensino superior para conseguir um emprego que preste – você precisa ser fluente em outras duas línguas, ter uma carta de recomendação de algum professor seu e dar um triplo mortal carpado quando for entrar na entrevista.

Taeyong foi um dos vários ingênuos que achou que seria fácil arranjar um emprego dado seu diploma recém-adquirido e seu certificado de excelência acadêmica. Fez incontáveis entrevistas e foi rejeitado em todas – ou não tinha os requerimentos necessários, ou seu diploma não valia muito, afinal, quem ainda escolhia artes plásticas como uma carreira? Tolos, meus caros. Só tolos gastam quatro anos da própria vida aprendendo a desenhar e pintar quando qualquer vídeo-aula no Youtube ensinaria exatamente a mesma bosta.

Ele precisou, então, apelar. Pediu à irmã mais velha para ver se conseguia encontrar alguém que precisasse de babá, uma vez que ela não iria pagá-lo para cuidar da própria sobrinha, ou que fosse viajar e precisasse de alguém para regar as plantas ou cuidar de algum animal de estimação. Aquilo funcionou por alguns meses; havia uma senhora idosa no prédio dela que viajava todos os meses para ir tratar da saúde num hospital universitário na China e Taeyong ficava lá, cuidando dos três gatos velhos e gordos da senhora Zeng. Não era muito dinheiro – era suficiente para rachar o aluguel daquele apartamento muquifento que dividia com Doyoung e sobreviver com o básico do básico.

Eis então que sua irmã teve a brilhante ideia de colocá-lo na pintura de cara numa festinha dessas de creche. Era bem básico, pegar seus potes de tinta de rosto, os pincéis mais baratos que tinha em sua coleção e desenhar animais na cara de pestinhas. Fez muito sucesso da primeira vez por conta do cabelo descolorido, uns pivetes acabaram dizendo que ele parecia um personagem de anime e pronto. Foi assim que acabou conseguindo seu emprego como animador de festas infantis.

Taeyong não era necessariamente um pessimista, mas também não era um otimista; realisticamente falando, seu emprego era uma bela bosta. Nunca, em sua vida de artista plástico, imaginou que fosse se rebaixar a ponto de fazer bicos pintando a cara de molequinhos ranhentos. Pagava bem o suficiente para não morrer de fome e não ser expulso do apartamento; Doyoung não se importava em pagar a maior parte do aluguel, de qualquer forma – seu emprego como tatuador num estúdio renomado ajudava nas despesas dos dois amigos. O Kim sempre ria quando via Taeyong fazendo careta antes de ir trabalhar e por isso, deixava um bilhete motivador colado em cima dos potinhos de tinta para relembrar ao amigo que a vida não era, de todo, tão ruim assim. Era fácil para ele falar, afinal, era um tatuador, e não um animador de festas infantis.

Era um sábado chuvoso e Taeyong não tinha a mínima vontade de sair da cama, apesar de ter uma festinha de criança para comparecer e o aniversário de seu outro melhor amigo e crush incubado havia uns bons anos, Moon Taeil, à noite. Aquela era a oportunidade perfeita para Taeyong, enfim, confessar seus sentimentos para Taeil. E mesmo que tivesse tanto para dizer, tinha a impressão que assim que chegasse no local do aniversário, ia vomitar no sapato de alguém e sair correndo. Romântico, claro, especialmente se vomitasse nos sapatos de Taeil. Só o pensamento de ir ao tal aniversário o deixava de estômago embrulhado.

Ouviu a porta sendo destrancada e logo puxou o cobertor para cima do rosto. Talvez se fingisse que estava morto, Doyoung deixaria a ideia de irem juntos à festa de lado e Taeyong poderia maratonar The Good Wife ao invés de encher a cara, dar o famosíssimo PT e desmaiar no colo de algum estranho – no pior dos casos, de Doyoung.

— Você vai no aniversário do Taeil? — o mais novo perguntou, assim que largou a sacola com as compras da semana no balcão da cozinha. Ao ouvir um “não” abafado pelo cobertor, exclamou:  — Qual é?! Ele é seu crush desde que eu te conheço, cara. Não ‘tá na hora de, sei lá, criar coragem e confessar?

— Eu provavelmente vou vomitar se for — disse, fazendo careta quando Doyoung puxou o cobertor de cima de seu rosto. — Sério.

— Você comeu alguma coisa estranha?

— Eu só não quero ir.

— Você precisa ir. Além de ser seu crush, ele é seu amigo. Sem falar que ele disse que tem algo muito importante para anunciar — insistiu, sacudindo Taeyong pelos ombros. — Por favor. Eu tiro o lixo por duas semanas, se você for.

Foi uma verdadeira briga para conseguir convencer Taeyong a ir, de fato. Doyoung precisou fazer uma lista de motivos pelos quais ele devia ir, além de ter sido obrigado a prometer que iriam embora logo após o jantar e que lavaria a louça até o fim do mês, fora tirar o lixo e recolher o correio.

Mal Taeyong tinha chegado em casa depois da festinha de criança, que Doyoung já o enfiou embaixo do chuveiro, enquanto ele próprio ia escolher uma roupa minimamente decente. A vontade de ir ainda estava negativa, mas Taeyong não estava tão mal assim para uma noite na balada com seus amigos. Tudo bem que os dois eram pessoas completamente domésticas quando se falava em festas e baladas; Doyoung já tinha dito inúmeras vezes que preferia dormir a trocar saliva com algum estranho numa festa e Taeyong não era muito diferente. Um casal de avôs, como Taeil gostava de brincar.

Foram ao jantar de Uber, já antecipando a bebedeira que estava por vir. O restaurante escolhido servia churrasco coreano e era considerado um dos melhores não-tão caros restaurantes do tipo em Seoul. A viagem demorou lentos minutos de tortura, nos quais Taeyong se perguntava se era uma boa ideia mesmo irem juntos ao aniversário.

Sentaram-se lado a lado, apertados pelos outros convidados, na pequena mesa quadrada reservada ao grupo de quinze amigos. Taeyong conhecia a maioria dos presentes de vista; já tinha esbarrado com Yuta e Hansol em algum lugar na faculdade antes de se formar, apesar de provavelmente já ter trocado os nomes deles vez ou outra. Donghyuk, o mais novo, era praticamente irmão mais novo e xodó do anfitrião, junto com Sicheng e Jaehyun, o casal de melhores amigos.

Claro que um jantar com um bando de conhecidos não era tão bom quanto seu Netflix e cobertas, mas dava para o gasto.

Logo começaram a comer. Doyoung fez uma cara feia para ele quando disse que não ia comer, e em questão de minutos, o mais novo já o tinha obrigado a virar uma tigela de arroz frito goela abaixo. Conversa vai e conversa vem, assim como alguns shots de bebida e algumas garrafas de soju; Taeyong já ria mais abertamente e Doyoung já tinha o rosto corado. Taeil bateu nada delicadamente num dos copos com uma colher, atraindo a atenção dos presentes para o anfitrião – ao ver Taeil sorrindo minimamente para si, Taeyong sentiu o estômago revirar. Céus. Era tão apaixonado por ele que chegava a ser patético.

— Então, pessoal. A notícia que eu gostaria de compartilhar com vocês é: finalmente encontrei minha alma gêmea! — anunciou, feliz, e Taeyong sorriu amarelo, olhando nervoso para Doyoung. Os outros convidados aplaudiram alto e logo os dois se viram obrigados a aplaudirem também. Taeil ergueu um copo de shot antes de continuar: — E nós estamos noivos!

Foi tanta informação em um período tão curto de tempo que Taeyong mal conseguiu processar tudo. Era até razoável para ele aceitar que Taeil acreditava veementemente na baboseira de almas gêmeas, especialmente quando ele parecia ser o único que não acreditava naquela porcaria.

O problema era que Taeil estava noivo.

E o carinha era conhecido seu.

O tal de Johnny era um americano alto e estupidamente barulhento e bagunceiro, que trabalhava no mesmo estúdio que Doyoung. E bem, era noivo do carinha com quem um dia se imaginava casado com dois filhos e um cachorro. Foi um choque, sim, e logo Taeyong puxou Doyoung pela manga da camisa social, cuspindo uma desculpa qualquer para saírem apressados. Taeyong saiu a passos largos, seguido por um Doyoung cambaleando, e o mais velho só conseguiu relaxar quando estavam no táxi, voltando para casa.

A pior parte não foi nem que Taeil estivesse noivo de Johnny, e sim a culpa que abateu Taeyong logo após deixarem a festa. Ele deveria estar feliz por Taeil, afinal, não era todo dia que você noivava com o famigerado amor da sua vida. E lá estava ele, agindo como um coitado, como se um anúncio de noivado fosse a pior coisa que já lhe aconteceu. Talvez ele só estivesse sendo dramático. Talvez ele nem gostasse tanto de Taeil assim e fosse só sua mente exagerando as reais proporções. Talvez...

Suspirou. Não tardou para que o taxista os deixasse na frente do prédio onde moravam; de um jeito ou outro, conseguiu arrastar Doyoung consigo até o elevador. A questão era que Doyoung, sóbrio, já era praticamente impossível de lidar – imagine bêbado, rindo, abraçado em Taeyong, enchendo o amigo de beijos. Com certa dificuldade, conseguiu fazer com que Doyoung tirasse a roupa e deitasse, nu, na cama. A única condição proposta pelo mais novo foi que Taeyong dormisse com ele; o mais velho nem pensou duas vezes antes de se despir e logo se deitar ao lado do amigo.  

— De qual cor você acha que é o céu? — perguntou Doyoung, e Taeyong anotou mentalmente que aquela era a cento e vigésima e sétima vez que eles tinham aquela mesma conversa. Era um tópico recorrente, até, para conversas filosóficas durante a madrugada.

— Ouvi dizer que é violeta — chutou. — Eu queria que fosse rosa.

Doyoung abriu um sorriso grande, completamente bêbado.

— Hoje eu vi cor pela primeira vez — revelou. — E o céu é azul.

— Você se apaixonou pela sua alma gêmea — Taeyong disse, embasbacado. — Meu Deus! Quem é?

— Isso é segredo até ele se apaixonar por mim.

— Eu o conheço?

— Melhor do que você imagina — retrucou. — O mundo é tão bonito em cores. Das cores que eu já vi, minha preferida é rosa, então preciso concordar com você e dizer que o céu rosa ficaria muito bonito. Mas azul é bonito também. As cores são todas bonitas, na verdade.

Ficaram em silêncio. Taeyong encarava o ventilador rodando no teto, entretido, e Doyoung parecia estar dormindo.

— Você não acha estranho que um tatuador não tenha tatuagens? — soltou sem pensar direito, e Doyoung riu em resposta, revelando que estava sim, acordado — Qual é?! Isso é tipo o requerimento básico para ser um tatuador.

— Eu tenho medo de agulhas.

— Isso não faz o menor sentido. Você é um tatuador!

— E daí? Eu não confio em ninguém para me tatuar.

— Eu posso fazer uma tatuagem em você.

— Você é maluco, real oficial. Você pinta a cara de pirralhos para sobreviver. Qual é, Taeyong. Tatuagem é permanente, então se você errar qualquer coisinha, vai ficar marcado na minha pele pra sempre, e você entende que pra sempre é muito tempo pra ter um pinto tatuado nas costas, né? — falou, e Taeyong riu. A ideia de fazer uma tatuagem feia de propósito em Doyoung soava tentador, apesar de cruel. — Sem falar que... Minha alma gêmea não tem tatuagens, então se eu fizesse uma, ele ia ver e descobrir.

— Algo minimalista, eu prometo. Aí deixo você me tatuar também.

— Pode ser uma linha. Ou um coração.

— Eu não sou bom em pintar dentro das linhas.

— Tudo bem, eu ensino. Agora boa noite. Meu cérebro não consegue mais processar nada do que você diz.

Felizmente, a ideia de tatuarem um ao outro foi só coisa da bebida e nenhum dos dois tocou no assunto na manhã seguinte. Era domingo e Taeyong tinha outra festinha àquela tarde; Doyoung não tinha nenhum cliente aquele dia, então preferiu passar o resto da manhã na cama. Típico de manhãs de ressaca; apesar de não terem enchido a cara como tinham planejado, os dois tinham baixa tolerância ao álcool – especialmente Doyoung.

Doyoung, como o bom amigo que era, tinha comprado tintas novas para Taeyong, e etiquetado e nomeado cada potinho de tinta. Deixou, como de praxe, um bilhetinho de incentivo, com direito a carinha feliz e tudo. Taeyong nunca respondia os bilhetes, e mesmo assim, Doyoung não desistia de mandá-los.

Aquele domingo foi a primeira vez que Doyoung teve uma resposta.

"Eu quero conhecer minha alma gêmea."

Ao ver a resposta na manhã, Doyoung sorriu travesso e logo deixou outro bilhete nos potinhos de Taeyong antes de sair.

"Restaurante Grande Muralha, meio dia. Ele deverá estar vestindo uma camiseta amarela e uma touca preta."

E lá foi Taeyong até o restaurante no horário marcado, e não tardou para encontrar a tal pessoa, e... Não podia ser.

Mark Lee. Sua alma gêmea? Sério?

Mark abriu um sorriso nervoso no que viu Taeyong se aproximar, entregando-lhe outro bilhete de Doyoung.

“Pensou que seria fácil assim? Ah, Taeyong, amar não é tão fácil! Livraria na esquina, quatro da tarde. Secção de livros estrangeiros, dentro do seu livro favorito.”

Frustrado, Taeyong se despediu de Mark e voltou para casa. Aquela era uma péssima ideia. Doyoung ia fazer sua vida um inferno naquele ritmo, ele sabia, conhecendo Doyoung como conhecia, era até óbvio. Apesar de querer esganá-lo com as próprias mãos, Taeyong ainda foi até a livraria e futricou nos livros para ver o outro bilhete. Ponderou quão longa seria aquela tortura para descobrir quem era sua alma gêmea, e por quanto tempo aguentaria aquele joguinho mental.

“Apartamento da Sra. Zeng, embaixo do bonsai na porta.”

Um mês inteiro se passou e os dois continuavam naquele joguinho de gato e rato; Doyoung parecia gostar de torturar Taeyong, escondendo a identidade da tal alma gêmea. Cada dia que passava, era uma pessoa ou local completamente diferente; fosse algum amigo ou conhecido seu, ou algum lugar que costumava frequentar, como a cafeteria duas quadras antes de casa e o apartamento de sua irmã.

Foi tortura, sim; quis matar Doyoung mais vezes do que o normal, e mesmo ameaçando e obrigando-o a fazer todos os tipos de tarefas domésticas que sabia que ele detestava. Doyoung era simplesmente impossível.

Trigésimo dia. Último bilhete, enfim.

“Você tem o nome da sua alma gêmea tatuado em algum lugar do seu corpo, babaca. Era só procurar, lol.”

Taeyong nunca tinha parado para procurar o nome de sua alma gêmea tatuado em seu corpo; não só porque não acreditava, como também porque era simplesmente bizarro e extremamente narcisista ficar se encarando no espelho por Deus sabe quanto tempo para ver se achava o tal nome. Ele sabia que já estava na hora de finalmente tomar coragem e procurar. Olhou por tempo demais para as próprias pernas, sem sucesso – era óbvio que o nome não estaria ali; sua pele era quase transparente de tão branca e ele obviamente repararia num nome tatuado. Fitou os braços, as mãos, os dedos e nada.

Virou-se de costas para o espelho. Não viu nada em suas costas, nem na parte traseira de seus braços e pernas. Levou uma mão até a nuca, passando os dedos pelos fios descoloridos – que ele descobriu estarem rosa-pastel, de acordo com Doyoung – e foi lá que encontrou; mesmo que desbotando em cor, estava lá, a bendita tatuagem.

Kim Dongyoung era sua alma gêmea.

Puta que pariu, nossa senhora da bicicletinha cor de rosa, valha-lhe Deus. De todas as pessoas no Planeta Terra, logo ele, seu melhor amigo e colega de quarto. De todas as pessoas que conhecia, logo Kim Dongyoung. Logo ele.

— Por que você não me disse? — indagou no instante em que Doyoung pôs os pés em casa. — Porra, Doyoung! A gente podia estar casado com três cachorros agorinha se você ao menos tivesse tido a coragem de me dizer e tipo, por quê? Meu Deus, você não faz ideia do quanto eu quero te-

— Porque você ia surtar — interrompeu, dando um suspiro. — Tipo agora.

— Há quanto tempo você sabia?

— Desde o dia em que a gente se conheceu — confessou, mostrando a tatuagem, também desbotada, no interior de seu dedo anelar. — Uma pena que nenhuma das indiretas que eu joguei na sua cara funcionou.

— Você podia ter sido, sei lá, direto. Indiretas passam completamente batidas pra mim.

— Pra começo de conversa, você nem acreditava nisso de alma gêmea até uns dias atrás. Sem falar que... Qual seria a graça? Eu me diverti bastante vendo você sofrer para saber quem era quando a resposta estava embaixo do seu nariz o tempo todo.

Taeyong teve vontade de socá-lo. E socou, de fato, e o filho da puta riu.  

— Lee Taeyong, você aceita maratonar The Good Wife comigo? — perguntou, ajoelhado no chão. — Quer dizer. Você quer namorar comigo?

— Não.

— Vai tomar no cu então. Porra, sério? Eu fiz um negócio todo bonitinho pra você descobrir que eu sou sua alma gêmea pra você me dizer não?

— Eu quero um encontro. Flores e todas essas coisas. E quero que você faça uma tatuagem em mim, porque eu vou fazer uma em você.

— Você sabe que se você tatuar um pinto nas minhas costas, você vai ter um pinto tatuado nas suas também?

Taeyong riu, permitindo, enfim, ser abraçado pelo mais novo. Deixou Doyoung segurar seu rosto, fazendo careta, o nariz franzido enquanto fazia bico para o outro, que riu ainda mais da brincadeira. Era bobo e infantil, até, mas foi o suficiente para Taeyong sorrir um pouco.

— Você já vê cor, hyung?

— Ainda não.

— Se eu te beijar, você acha que começa a ver cor?

— Eu realmente não sei como isso funciona.

— Feche os olhos, então.

— É sério isso?

— Eu não gosto que me olhem durante um beijo. É bizarro. Especialmente se você estiver de olho aberto e eu não. Fecha logo! Vai ser rápido, eu prometo!

E Doyoung o beijou – por cinco segundos, mas beijou, e Taeyong sentiu as famosas borboletas no estômago e uma vontade enorme de beijá-lo de volta. Ainda não via cor, porém. O mais novo deu de ombros e disse:

— Parece que eu vou ter que te beijar até você começar a ver cor.

— Com todo prazer.

 


Notas Finais




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