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História Nas Profundezas do Desespero - Culpado


Escrita por: WilkensOficial

Notas do Autor


Nas Profundezas do Desespero funciona como uma sequência para todas as histórias anteriores deste universo, amarrando pontas soltas e esclarecendo dúvidas a cada capítulo. Acho que é uma de minhas favoritas e poderia muito bem ser o encerramento de todo esse universo, mas quem me conhece sabe que ainda tenho mais história pra contar, mas que irão para uma nova direção futuramente.

Devo finalizar Marcados Pelo Sangue 2 pra vocês antes que vocês tenham spoiler aqui, rs

Boa leitura.

Capítulo 8 - Culpado


[Nomoto, o Desmascarado]

 

Fernando estava quase despido quando o oficial o levou de volta à cela 216.

- Aprenda o seu lugar, miserável! – disse o oficial o jogando para dentro – Nomoto, venha comigo! – todos se entreolharam quando fui chamado.

Levantei e caminhei rumo à porta sem olhar para os demais.

O oficial César tinha um olhar satisfatório e um riso preso no rosto enquanto caminhávamos pelo extenso corredor do Complexo.

- Sabe porque está aqui?

- N-não senhor.

- Porque preciso de respostas. – e então veio o riso preso, ecoando pelo corredor enquanto outros jovens presos nas celas olhavam sem entender o que estava acontecendo.

Quando chegamos ao andar superior, me vi em uma sala grande com uma parede cheia de bastões vermelhos. Haviam também alguns livros dos quais pude ver A Guerra de 1914, Mistérios de Hoffenheim e Expurgo.

- Me diga, Nomoto, você sabia que Fernando possui desvios comportamentais?

- Co-como assim?

- Ele é homossexual. Tem tendências a adquirir A Praga do Século e pôr a vida de todos vocês em risco.

- Eu sabia, mas porque tá me dizendo isso?

O oficial retirou sua boina, exibindo seu cabelo ralo e me lançou mais um sorriso amarelado.

- Há alguns anos ele se envolveu com um rapaz chamado Leandro, na cidade de Braga. A relação acabou em tragédia quando houve um incidente que acelerou sua doença e paralisou seu corpo. – o oficial fez uma pausa e caminhou ao redor da poltrona onde eu estava sentado – Nando chegou aqui surtando. Todas as noites ele chamava por Leandro, isso nos fez investigar a vida do rapaz e descobrimos que hoje ele faz um tratamento em Londres que é financiado pelas Corporações Leben.

- E porque está me dizendo isso?

- Porque eu não tenho dúvidas que Fernando foi o responsável pela aceleração da doença desse Leandro e quero que compreenda o quanto seu amigo é perigoso.

- Ele não é meu amigo. Nenhum deles é! Não preciso de amigos.

- Hum… francamente, fico impressionado com sua determinação. Acho que temos muito em comum, mas pra ser sincero, te trouxe aqui por um motivo.

- Q-qual?

- Quero que faça um relato e diga que Fernando lhe assediou. Ele não pode sair daqui. Ele matou os pais friamente.

- Mas ele nunca fez…

- Sim, ele já fez, não é mesmo? Bom, tudo o que precisa fazer é assinar um depoimento que convença os órgãos superiores a estenderem a estadia dele aqui.

- Mas porque simplesmente não o deixam preso e pronto?

- Porque ainda existem leis e lá fora… por enquanto. – o Oficial fez uma pausa e abriu uma caixinha com cigarros – Agora, porque não fuma um cigarro comigo?

- N-não quero. Obrigado.

- Eu insisto. – disse colocando o cigarro aceso em minha boca.

- Sabe, um objeto meu desapareceu três semanas atrás, será que você poderia me dizer quem foi?

- Que objeto?

- Um cigarro que deixei no Complexo 03. – quando ele disse isso, congelei.

Eu havia pegado o cigarro e escondido no meio das minhas roupas. Embora três semanas houvessem passado, eu ainda tinha o cigarro comigo.

- Não sei. – falei cabisbaixo.

- Tudo bem. – ele puxou o cigarro de minha boca e atirou pela janela – Agora, me responda… porque Erast os protegeu naquela noite?

- Também não entendi.

Fiquei em silêncio, suando frio enquanto ele me encarava como se tentasse enxergar minha alma pelos olhos.

- Certo. Tudo bem, os soldados o levarão de volta à cela. Obrigado pela colaboração e lembre-se, não confie em ninguém!

*

Aquela agora era uma triste cela no inferno, onde o amor e a confiança estavam mais fragilizadas do que nunca. Pensei enquanto caminhava e, inevitavelmente, lembranças invadiam minha mente e por mais que eu tentasse fugir delas, pareciam fortes o suficiente para me torturar.

 

*

Eu tinha só oito anos quando aconteceu.

Minha mãe era casada com um japonês viciado em jogos que ao morrer deixou muitas dívidas a ponto de sermos despejados e ameaçados de morte.

Sem alternativa, fomos para as ruas rumo a um futuro incerto.

Certo dia, caminhamos até a casa de um senhor de sessenta anos aproximadamente. Ele era gordo, fedorento e repugnante, ainda assim, confiei em minha mãe que tentava sempre me passar positividade.

O dono do bar me ofereceu uma caixinha de balas tentando conquistar minha confiança. Aceitei contente e me sentei na varanda enquanto ele conversava com minha mãe em um canto.

O tempo foi passando e minha mãe não voltou. Decidi procurar por ela e então a vi sendo levada até o banheiro pelo homem gordo, que fechou a porta com violência.

Não demorou para que e começasse a escutar os gemidos e gritos de minha mãe enquanto aquele porco gordo em quem eu havia confiado a violentava.

A verdade é que naquele ano nosso país estava passando por uma terrível crise e muitas famílias foram vítimas da fome e escassez. Minha mãe havia cedido seu corpo por uma porção de comida.

Passei a ter grande aversão à sociedade que a cada dia me deixava mais enojado. Como eu poderia confiar nas pessoas se elas eram podres por dentro e sempre faziam o bem em troca de alguma coisa? No final, ninguém é verdadeiramente bom, todos são movidos a interesses. Faz parte da humanidade.

Ferang, meu país natal, nunca se recuperou da crise e por isso viemos para o país vizinho a fim de tentar começar do zero, mas tudo o que encontramos foi desprezo e preconceito e por isso não tive outra escolha a não ser me tornar um trapaceiro mascarado para sobreviver.

A verdade é que contusões e fraturas se curam com o tempo, mas as feridas do coração não se curam facilmente.

*

O soar do alarme de incêndio me despertou de minhas lembranças. E então percebi uma correria anormal pelos corredores. Algo terrível estava acontecendo.

- O que houve? Porque o alarme disparou? – o soldado que me levava algemado à cela parecia assustado enquanto perguntava a um oficial o que estava acontecendo

- Um incêndio. Começou perto da sala do oficial César. – isso foi o suficiente para lembrar do cigarro sendo atirado pela janela.

- Não pode ser! – cochichei a mim mesmo.

- Oficial Washington, você ficará responsável pelo Complexo 01, eu assumo daqui. Cuidarei do Complexo 02! – disse César surgindo por trás de mim e me puxando pela blusa.

- Vamos levar todos os garotos para o pátio imediatamente! – o oficial Washington disse isso e correu para longe.

- Venha comigo! – disse o oficial César me puxando para longe da escada – Os outros devem estar desavisados na cela. É perfeito! – disse remexendo no molho de chaves apressadamente.

- O que vai fazer?

- Eu vou fazer isso! – disse retirando a chave da cela 216 do molho e então atirando pela janela – Não posso destrancar a cela sem a chave. Veja, não está aqui. – disse com um olhar psicótico enquanto eu tentava afundar na parede, assustado – Você tem a chance de ser livre, só precisa ficar calado, agora vá para o pátio com os outros!

Incerto do que tinha acabado de fazer, corri com os outros para o pátio, onde todos estavam enfileirados e cercados por soldados que tentavam manter a ordem.

Não havia sinal do Doutor Iziel ou de seu irmão, mas, para o meu assombro, Fernando apareceu ao meu lado e me encarou com um olhar cheio de frieza e julgamento.

- Desmascarado? Porque está aqui fora? Onde estão os outros? – Fernando me devorava com os olhos e fazia minhas pernas tremerem. Eu estava dominado pelo medo e pela culpa.

- Eu… eu… eu não fiz nada, eu juro! – falei com a voz embargada.

- Desmascarado!

- EU NÃO SEI! NÃO SEI DE NADA! – caí de joelhos agonizando por ser o provável responsável pela morte de muitos jovens, incluindo a dos meus cinco companheiros de cela.

 


Notas Finais




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