E se caísse? Do jeito que balançava, poderia uma das turbinas se romper e a estrutura pender para um dos lados, e todos estariam então pendurado pelo cinto de segurança. Iriam todos balançar-se e sufocar, com as máscaras caídas e os mesmos desesperados para pegá-las como peixes a isca no anzol. Uns cuspiriam e vomitariam nos outros e seria completamente nojento. Talvez as turbinas se soltassem, atingindo o teto e arrancando partes dos corpos alheios, mas antes disso poderia ser ouvido do auto-falante algo como " senhores passageiros, estamos fodidos" . Riu minimamente, sem se dar conta. Sua mão magra movia-se quase automaticamente, sobre o papel, apoiado na mesa versátil do assento, a tinta da caneta formava o que parecia ser uma árvore grande e seca. A moça do assento ao lado o encarou com desprezo por sua risada repentina e ele apenas ignorou. Continuou a rabiscar e olhar a paisagem coberta por nuvens cinzentas e campos e florestas escuras. O tempo sempre seria o mesmo no norte europeu. Sempre frio. Suécia ou Noruega, verão ou inverno. Mesmo já sentindo falta de casa, estava tão ansioso que seus pés movia-se assim como suas mãos. Diziam muitas coisas de lá, tantas que nem sabia no que acreditar, mas gostava da ideia de que a cena de Black metal era mais extrema. Acreditava que se sentiria "em casa" por isso, mesmo tão distante de sua moradia, que nunca foi sua de fato. Eram tantas.
Pelle estava com medo. Tentava afastar os pensamentos precipitados e covardes e apenas focar-se em quais seriam os passos seguintes. Ficaria na casa de Necrobutcher por um tempo, mas e depois? E se não o aprovassem? A ideia de ter que voltar pra casa e recomeçar lhe dava nos nervos. "Recomeçar", essa palavra lhe dava nos nervos, tanto quanto sociedade. E gatos. Mas a Mayhem parecia muito legal, o que diminuía o nervosismo em um ponto e aumentava em outro. Era um misto de sentimentos ao mesmo tempo.
Pelle suspirou, puxando as mechas de cabelo que caiam sobre seu rosto para trás. Encostou perto da janela e deixou seus olhos, que já pesavam, se fecharem por completo. Sua mente viajou por diversas imagens aleatórias e completamente soltas de um sentido e então retornou a um lugar familiar. Uma floresta com árvores altas, de troncos retos, negros, a luz era escassa mas suficiente para que se conseguisse ver algo. Era a luz da lua. Em sua concepção, o lugar era perfeito, mas o sentimento que o mesmo o trazia era desesperador. Havia algo, alguém, ou simplesmente não havia, mas parecia ter algo que estava ali para levá-lo. Sentia-se um animal encurarralado, não estava correndo, não conseguia se mover. Sua cabeça parecia estar sendo esmagada de orelha a orelha, a dor era absurda. E vinha aquela luz, aquela forte luz se aproximando. Não era a primeira vez que aquilo acontecia, sempre sonhava com coisas semelhantes em cochilos rápidos. Lugares diferentes mas a sensação era a mesma. Tentou sair daquele estado, quanto mais tentava, mais doía. Quando finalmente desistiu, foi acordado pelas instruções da aeromoça em norueguês. Não entendeu uma palavra do começo ao fim e só repetiu o que viu os outros passageiros fazerem. Fechou a mesa versátil, guardou a caneta no bolso, dobrou a folha de papel e a guardou também. Logo, a aeromoça repetiu em inglês, confirmando que o avião iria aterrissar.
A estrutura tornou a tremer assim como suas mãos, que acompanhavam o batimento cardíaco acelerado. Não, ele não tinha medo da aterrissagem... Ele tinha medo do que estava por vir.
E era o que tornava tudo tão interessante.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.