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História Need you right away - Vinte e dez


Escrita por: taeyeol

Notas do Autor


♥ ~

Capítulo 2 - Vinte e dez


 

 

Coloquei uma das minhas blusas confortáveis, bermudas e chinelos. Não me preocupei quanto á perfume ou acessórios, apenas saí de casa levando a sacolinha importante e deixando a bagunça lá do jeito que já estava quando entrei em casa na noite passada. O sol estava quente e, no céu, não havia nuvens. Entrei no carro escondendo o maço de cigarros, que estava amostra no banco do passageiro, e verifiquei a parte de trás, só pra ter certeza de que minha irmã não encontraria alguma peça íntima ali. Liguei o carro e, em poucos minutos, eu já estava na frente do apartamento dela. Fiquei meia hora esperando a princesa se arrumar.

- Achei que você não ia mais. – Falei impaciente assim que ela abriu a porta.

- Se for reclamar eu saio do carro e pego um táxi. – Me deu um beijo no rosto e fechou a porta depois de se sentar.

Dawon é mesmo inacreditável, é a irmã mais velha e, também, a irresponsável da família.  Se quiser saber, a culpa não é dela, meu pai foi quem transformou o anjinho em monstro. Falando em meu pai, nós estamos indo visitá-lo, todo domingo nós vamos. Outra longa história.

- Você trouxe os remédios? – Ela perguntou assim que parei o carro no estacionamento.

- Claro. Se fosse por sua conta, papai já estaria morto. – Recebi um beliscão no braço, mas apenas a ignorei.

Meu pai mora numa casa para idosos – asilo, pros insensíveis. Eu e Dawon não fomos os responsáveis por isso, se for o que você ta pensando. Foi o próprio senhor Jung Teimoso quem insistiu em vir morar aqui, ele disse que assim não atrapalharia a vida bem sucedida dos filhos amados – quase o tranquei na minha casa, mas, por respeito, concordei em assinar os papéis pra fazer a vontade dele. O lugar nem é tão ruim, pra falar a verdade, parece mais um hotel, tem piscina e cada um tem seu próprio quarto, mas também, se fosse menos que isso, eu não toparia pagar a fortuna que pago pra ele morar aqui.

Batemos na porta do quarto dele e ele nos atendeu com o sorrisão de sempre. Eu não me arrependo de ter assinado os papéis, e nem de ter que pagar mais que um salário mínimo todo mês, pra que meu pai viesse morar aqui, esse lugar pareceu deixá-lo muito mais alegre desde que a mamãe se foi. Ele morou um período com a Dawon e depois ficou um pouco comigo, mas sempre ficava cabisbaixo e ainda abalado com o que havia acontecido. Vê-lo voltar a sorrir é reconfortante pra mim, consigo notar o quão forte ele ainda é. Nós passamos a tarde toda com ele, conversando sobre as nossas vidas, relembrando algumas coisas passadas e ouvindo o que ele tem pra contar, é sempre divertido, até ele tocar no meu ponto fraco.

- Faltam seis meses pro seu aniversário de trinta anos – Eu estava apoiado na janela do quarto quando ele começou. – E você ainda não se casou.

- A Dawon também não é casada. – Tentei me safar e, quando me virei voltando a encontrar o interior do quarto, recebi o olhar furioso da minha irmã.

- Mas ela tem o relacionamento dela com aquele rapaz.

- Os relacionamentos com aqueles rapazes. – Ri um pouco e ela mostrou o dedo ofensivo.

- Você sabe aonde eu quero chegar, você não precisa ficar sozinho. – Falou ignorando a minha implicância e a falta de educação de Dawon.

- Pai eu não to sozinho.

- Ele ta sim! Só fica enfornado naquele apartamento fazendo prova pros alunos, não tem vida social nenhuma. – A estraga prazeres abriu a boca.

- Meu filho, não é porque ele fez isso com você que outras pessoas também vão fazer. – Papai disse e minha irmã assentiu, sentada ao lado dele no sofá.

- Vão começar a falar sobre a minha vida de novo? – Me irritei e, por isso, elevei um pouco o tom de voz. – Eu to bem, eu gosto do meu emprego, gosto de ser solteiro e gosto do jeito que eu levo as coisas.

Odeio falar sobre esse assunto. Uma coisa que aconteceu e todos insistem em dizer que eu continuo afetado por isso. Não é verdade, já faz cinco anos. Só me irrita ter que repetir que eu estou bem vivendo do jeito que vivo agora, mas eles não entendem, não importa quantas vezes eu diga.

- Aposto que você tem um blog onde fica postando suas dores de professor solitário e aposto também que, a maioria das coisas que você escreve, tem haver com a escola. – Dawon comentou fazendo meu pai rir. Fui obrigado a jogar uma almofada nela.

Ficamos mais algumas horas jogando conversa fora e, quando já tinha começado a escurecer, tivemos que dar tchau. A despedida não era tão difícil, pois, no próximo domingo, nós com certeza voltaríamos e toda aquela tarde se repetiria e eu ia gostar ao mesmo tempo em que ia achar chato. Na volta pra casa, eu e Dawon costumamos conversar sobre as partes mais problemáticas das nossas vidas. As partes que a gente evita falar pro papai, afinal, não é necessário deixá-lo preocupado. E, num piscar de olhos, nós já estamos em casa.

- Eu te amo. Você sabe que pode me chamar sempre que precisar. – Eu disse e ela sorriu pra mim inclinando um pouco a cabeça, como a mamãe costumava fazer.

- Eu também amo você. – Respondeu me puxando pra um abraço apertado.

Se despediu mais uma vez e saiu do carro. Esperei que ela estivesse dentro do condomínio pra depois dar a partida e ir pra casa. Sem dúvidas, tenho a melhor irmã e o melhor pai do mundo.

 

Segunda-feira. A semana começou. Arrumei minhas coisas e saí indo direto pra escola. Quando cheguei, vi apenas o carro de Yoongi ocupando a vaga do outro lado do estacionamento. Estamos sempre distantes um do outro, mesmo que o caminho esteja livre. Sobre o nosso encontro: ainda não rolou. Aquela nossa conversa, sobre “marcar onde nos encontrar amanhã”, aconteceu já faz algumas semanas. A gente até tentou, mas, sempre que eu tava livre, ele não podia e depois acontecia o contrário. Então, na semana passada, foram as provas bimestrais e nós concordamos em adiar essa ideia por conta do trabalho. Eu não acredito nessas coisas de destino, mas, talvez, uma história onde nós dois ficamos juntos não fora escrita pra acontecer.

Cumprimentei alguns alunos e roubei meu copo de café diário da cantina. Entrei na sala dos professores e ele estava lá. Estava sozinho verificando algo em seu notebook.

- Bom dia. – Desejei.

- Bom. – Sorriu pra mim e, enquanto eu me sentava em uma cadeira afastada, abaixou a tela enorme. – Um jantar hoje á noite?

Ele estava mesmo disposto á desafiar o destino, não é? Não desistiu, mesmo depois de parecer que eu é que não queria ir á um encontro. Isso é empolgante, admito.

- Ás 19h? – Perguntei, contendo minha ansiedade.

- Perfeito!

No mesmo momento, mais alguns professores chegaram e, logo, a sala estava lotada. Discutimos rapidamente sobre os trabalhos do ultimo bimestre e, no horário exato, demos início á rotina.

Pra minha infelicidade, o dia demorou á passar ou apenas pareceu demorar. Levou uma eternidade até que a hora do intervalo chegasse. No caminho pra sala dos professores, escrevi meu endereço e meu número de celular numa das folhas que Yoongi carregava. Eu não tinha ideia de onde nós podíamos ir para jantar, então ele se ofereceu pra me levar e escolher um lugar ele mesmo. Quando chegamos na sala, nos separamos, como sempre. Ele se sentou com os professores das matérias de exatas e eu fiquei com meu bom e velho grupinho de humanas.

- Eu vi vocês dois no corredor. – Namjoon se sentou ao meu lado.

- Conversa sobre trabalho, a sala dele é no mesmo corredor em que a minha... – Suspirei e fingi desinteresse. – Acontece.

- Eu te conheço há quatro anos e você ainda tenta mentir?

- Ta, o que você quer? – Me virei para encarar meu amigo de fios descoloridos.

- Vai se envolver com ele pra depois terminar tudo sem explicação? – Foi direto ao ponto. – Não é a primeira vez Hoseok.

- Mas agora é diferente.

- Quer parar de cometer os mesmos erros? Isso é burrice! – Tomou um longo gole do líquido em sua caneca.

- E porque você ta incomodado? Tava investindo nele também? Ta gostando de mim, por acaso? – Apenas continuei o encarando. Eu tentava não parecer irritado, mas estava. Minhas pernas não paravam de balançar por debaixo da mesa.

- Não, eu só to vendo acontecer de novo exatamente o que aconteceu no ano passado e no retrasado – Fez uma cara de quem não aguentava mais dar conselhos, ou, talvez, aquela fosse a cara normal dele. – Você se interessa por alguém, diz que vai ser diferente, faz a pessoa se apaixonar e, depois, termina tudo de repente. Se não é engraçado pra mim, que só assisto tudo, imagina quem cai nas suas conversinhas e passa por isso.

Me levantei, assustando meu amigo por conta do movimento inesperado, e saí da sala.

Ouvir esse tipo de coisa é tão frequente na minha vida que eu já me cansei de toda essa pressão que aparece quando tento me aproximar de alguém. Sempre vai ter um idiota pra dizer que estou fazendo errado, pra dizer que ainda tenho meus problemas e que não posso virar a página se ainda não terminei de ler o que estava escrito na anterior.

Namjoon estava falando exatamente sobre o que meu Pai comentou ontem, o assunto que me tira do sério. Eu realmente não sei mais o que fazer. De um lado, minha família insiste que eu não fique mais sozinho e, do outro, meus amigos pedem que eu não me envolva com ninguém por enquanto. Eles não entendem que a vida é minha e que não preciso de ajuda quanto á isso, eu já estou bem... Eu estou bem.

- Hoseok? – Nem percebi que Namjoon havia saído da sala e me seguido até o jardim da escola. Senti suas mãos em minhas costas. – Me desculpa.

- Só não fala mais sobre isso... – Me sentei em um dos bancos de mármore e ele ao meu lado.

- Você e o Kim ainda têm saído juntos?

- Sim, mas-

- Então não me peça pra não falar sobre isso, babaca! – Bufou. – Você não mudou, continua descontando nas pessoas.

- Eu não desconto nada em ninguém, é só uma forma de me proteger.

- Se proteger do quê?

- Oh não! – Olhei para o relógio no pulso de Namjoon e fingi, de maneira engraçada, estar assustado. – O sinal vai bater agora. – Me levantei o deixando sozinho.

- Não é porque alguém errou que todos vão errar! – Ouvi a voz dele ao longe dizendo a frase que conseguiu me irritar um pouquinho mais.

As horas seguintes foram uma merda. Minha cabeça estava explodindo e tive que me esforçar pra não perder o foco no meio das aulas. Então o sinal, indicando o término das aulas, soou. Esperei que os alunos deixassem a sala, arrumei minhas coisas, mas, ao invés de sair, eu tive que me sentar um pouco.

Eu só queria saber o porquê disso ainda doer tanto, já faz anos e parece algo tão recente. Eu não consigo ficar com alguém sem fazer com que a pessoa acabe sentindo essa mesma dor. É como se eu me vingasse sobre o que aconteceu, e eu me sempre me vingo das pessoas que não tem nada haver com isso. Me sinto tão covarde, mas isso é inevitável, simplesmente, não consigo me controlar. Nada, que as pessoas ao meu redor dizem, é mentira. Tenho que tomar cuidado, tenho que continuar sozinho até que eu esteja bem de verdade. Não é certo sair magoando as pessoas por aí e eu, mais que ninguém, deveria colocar essa ideia em prática.

- Ei – A voz me tirou dos meus pensamentos. – Você não parece bem.

- É, eu... – Me levantei pegando minhas coisas e me apressando pra sair da sala. – Eu não tive um dia muito bom.

- Entendi. – Yoongi parecia curioso pra saber o que tinha acontecido, mas não disse mais nada. Continuamos andando pela escola indo em direção ao estacionamento.

- Acho melhor deixar aquilo pra outro dia. – Eu disse rápido demais.

- Aquilo hoje á noite? – Perguntou e eu o encarei. Não parecia nada contente, na verdade, eu vi aquele restinho de persistência, que ele costuma ter, sumir como num passe de mágica. Ainda assim, o vi sorrir pequeno. – Acho melhor deixar pra dia nenhum.

- Yoongi – Parei de andar e ele parou um pouco mais á frente. – Não é o que você ta pensando, eu quero muito sair com você.

- Sei. – Com o mesmo sorriso no rosto, se virou pra me encarar. Acho que ele estava sem graça.

O que diabos eu devo fazer? Se eu desistir agora, posso evitar uma dor de cabeça maior no futuro, mas aí ele, provavelmente, vai acabar com tudo o que a gente já tem – que é menos que uma amizade. Eu posso tentar não errar dessa vez... Talvez eu consiga não errar. Não é só porque aconteceu uma vez, que vai acontecer sempre.

- Quer saber, a gente vai hoje sim. – Eu disse.

- Não, você não quer. – Me deu as costas e passou pela porta que dava ao estacionamento.

- Calma aí! – Corri para alcançá-lo. – Eu quero sim! Vou te esperar na minha casa, hoje ás 19h.

- Pode esperar. – Ele se sentou no banco do motorista e, mesmo que eu tenha ficado parado ao lado de seu carro prata igual á um idiota, foi embora sem nem olhar pra mim.

 

O relógio marcava às 19h em ponto. Eu já estava pronto há uns dez minutos, só pra garantir que eu não vá me atrasar se ele for pontual – afinal, nunca se sabe. Um minuto se passou e eu resolvi me sentar. Ser ansioso não é muito legal. Mais cinco minutos e acabei por me deitar no sofá. Soltei um longo suspiro percebendo que eu estava fazendo papel de trouxa e que ele não viria mesmo.

Yoongi não se dar ao trabalho de aparecer no meu apartamento foi até melhor. Assim, ninguém vai sair chateado e, se tiverem que culpar alguém por nós não termos dado certo, a culpa não vai ser mais minha. O problema é que eu já estou arrumado e, quando eu me arrumo, sou obrigado á sair, é meio que um ritual muito sagrado pra mim.

Mentira, eu só to a fim de beber mesmo.

- Seokjin – Chamei, assim que percebi que ele tinha atendido o celular. – Eu sei que ainda é segunda, mas eu preciso sair hoje.

- Se controla, a gente já se divertiu o bastante no sábado... Falando nisso, você levou mesmo aquelas duas pro seu apartamento? – Ouvi o som do vídeo game ligado.

- Hyung, por favor! – Insisti, ignorando a pergunta que já tinha uma resposta óbvia.

- Que foi? Finalmente se cansou do trabalho? Achei que você fosse uma maquina.

- Não é isso. – Fiquei calado por alguns segundos ouvindo ele xingar, provavelmente, algum personagem do jogo que estava jogando. – Pode deixar, eu vou sozinho.

Ás vezes eu me esqueço de que meu querido hyung, Kim Seokjin, não da à mínima pro meu estado emocional. Só me procura quando ta a fim de arrumar confusão e precisa de um cumplice pra se fuder junto com ele. É parecido com a minha irmã, só que um pouco pior.

Me levantei do sofá, verifiquei o quanto de dinheiro eu ainda tinha na carteira, peguei minha jaqueta e saí andando pelo corredor. Apertei o botão para que o elevador viesse e quase desci pela escadaria por conta da demora.  Então as portas se abriram e, tanto eu quanto a criaturinha pálida, nos assustamos.

- Você veio. – Me juntei á ele imediatamente, parando ao seu lado e tentando não parecer surpreso.

- Eu me atrasei um pouco, não é? – Deixou escapar uma risada breve. – Não sou muito bom procurando endereços.

E eu não sou muito bom esperando, mas ele não precisa saber disso.

Segui Yoongi até o carro dele e, quando entramos, ele me encarou com uma expressão um tanto séria por um tempo, antes de dar a partida. Ri um pouco daquilo e ele também pareceu achar graça enquanto prestava atenção na estrada, mas não falamos nada. Menos de meia hora depois, ele estacionou o carro próximo á um restaurante que eu nem sabia que existia. Parecia não ser nada tão elegante, mas também não era um pub em qualquer esquina – que bom que optei por uma blusa de mangas cumpridas, assim, posso deixar essa jaqueta no carro, já que ela não tem nada haver com todo o resto.

- Então professor de Inglês – Disse quando já estávamos fora do carro. Andamos lado á lado e, só quando estávamos próximos á entrada do restaurante, ele completou. – Parece que eu tava certo quando disse que você não queria vir.

O lugar tinha uma iluminação amarelada, cadeiras acolchoadas e um clima aconchegante. Não estava tão cheio, por ser início de semana, então havia várias mesas vazias.

- O que você disse? – Me perdi um pouco na ultima frase dirigida á mim e tive que andar um pouco mais rápido para alcançá-lo até chegarmos á mesa.

- Você tava saindo quando eu cheguei no seu apartamento. – Nos sentamos numa mesa próxima á uma das janelas.

- Eu só tava ansioso, eu ia te esperar do lado de fora. – Segurei a vontade de rir quando ele fez uma cara de quem duvidava de cada palavra. – Ta bem, eu achei que você não ia parecer.

- Você é engraçado. – Rimos juntos.

- Já chegamos na parte do encontro onde nós trocamos elogios?

Primeira risada tímida da noite e nem foi minha intenção. Eu não acho que Min Yoongi seja tão diferente assim dos outros com quem já saí, ele só está num padrão de homens que me atraem. A noite pode ser divertida.

Conversamos um pouco sobre as profissões que escolhemos. Ele me contou que nunca planejou ser professor de matemática um dia, mas que sempre foi fácil pra ele lidar com números, então, quando não teve escolha, acabou cursando a faculdade e agora até gosta do que faz. Eu contei á ele a história que sempre conto nos meus encontros. Minha mãe adorava viajar e, por isso, eu tenho contato com várias línguas desde muito novo. Assim que saí da faculdade, consegui meu primeiro emprego em uma escola renomada de Seul, não foi surpresa pra família.

Deixei que Yoongi escolhesse o prato da noite e ele começou a falar do quanto o Japchae¹ daquele restaurante era maravilhoso. Depois de bancar um expert da culinária, apenas pra que ele sorrisse mais um pouco, tive que concordar, estava mesmo delicioso. Nós não bebemos muito, pois no dia seguinte teríamos de ir trabalhar – foi essa a desculpa dele.

- Você já namorou alguém, é claro – Assenti enquanto ele falava. – Já se casou?

- Hm, quase. – Tomei um pouco do suco que eu havia pedido.

- O que houve?

- Traição. – Sorri vendo que sua expressão não mudou como, geralmente, acontecia com as outras pessoas, quando eu falo sobre esse assunto. – Ele me traiu.

- Que terrível – Eu tinha que concordar, não era nada agradável. – Seu ex deve estar tão infeliz agora.

- Ta bom. – Ri um pouco. – E você? Já se casou?

- Já.

- Então é divorciado?

- Não exatamente. – Ele me olhava sério.

- Ah, Min Yoongi... Você não é casado ainda, é?

- Sou viúvo. – Riu da minha cara, mesmo sabendo que o que disse não fora tão engraçado assim.

- Tudo bem, eu não sei se fico aliviado ou se me sinto mal por isso.

Talvez eu tenha calculado tudo errado sobre Min Yoongi, ele tem algo de diferente sim. A noite, até ali, tinha sido divertida, apesar de ser uma segunda-feira. E, digamos que, já faz um tempo que eu não me divirto com algo mais simples. Quero dizer, minhas noites de diversão, geralmente, tem haver com uma bebedeira um pouco exagerada e sempre termina em sexo com alguém desconhecido – daí, no dia seguinte, tenho que limpar minha bagunça e voltar a ser o responsável e admirável professor Jung –, mas hoje, com Yoongi, isso não precisou acontecer.

- Quantos anos você tem? – Perguntei assim que entramos no carro. Coloquei minha jaqueta com pressa, o frio tinha aumentado assustadoramente.

- Sou mais velho que você. – Ele disse me observando com um sorriso brincalhão no rosto.

- E como você sabe? – Empurrei seu ombro gentilmente.

- Eu sempre sou, ta bom? – Balancei a cabeça negativamente rindo da situação. – Você deve ter... Vinte e seis?

- Vinte e nove. – Vi a cara dele de surpresa. – Espero que você tenha me achado mais novo pela aparência e não pelas conversas que nós temos.

- Eu tenho vinte e dez. – Revelou enquanto colocava a chave na ignição.

- Vinte e dez? – Sorri quando ele confirmou. – Então porque a vergonha? Você ainda ta novo, nem saiu da casa dos vinte.

Não sei de onde tiramos tantos comentários engraçados, mas, durante o caminho de volta pra casa, foi impossível segurar as risadas. Quando ainda estávamos jantando no restaurante, Yoongi disse que era raro alguém ouvir uma de suas gargalhadas, mas eu ouvi várias em uma só noite. Principalmente quando ele conseguiu errar o caminho até a minha casa, mesmo estando comigo dentro do carro explicando o que ele deveria fazer. Acho que o pouco de soju² que nós tomamos, acabou fazendo algum efeito no fim. Depois de longos minutos divertidos, ele parou o carro na frente do meu condomínio.

- E pensar que nós adiamos esse encontro várias vezes. – Ele comentou.

- Talvez, se tivéssemos saído em alguma outra noite, não fosse tão bom quanto foi hoje.

- Então você achou a noite boa?

- Foi ótima! Você é ainda mais engraçado que eu.

- Ta, agora você ta mentindo. – Virou o rosto fingindo indignação.

- Eu não to! – Não contive a risada.

- Vou acreditar em você. – Sorriu minimamente.

- Pode acreditar... – Nos encaramos por um tempo até que o ar da graça acabasse. – Eu gostei de você, nós deveríamos sair mais vezes.

- Nós deveríamos. – Concordou.

- Hora da despedida?

- É, já são quase 2h da madrugada. – Disse verificando as horas no celular.

Tirei o cinto de segurança e me inclinei para chegar mais perto do rosto de Yoongi. Ele continuou parado, olhava nos meus olhos, estava esperando. Então me aproximei mais, até que minha boca pudesse tocar sua bochecha, demorei mais do que eu tinha planejado pra me afastar, seu cheiro é tão bom. Me afastei e quando meus olhos encontraram os seus outra vez ele estava sorrindo.

- Olha você... – Não terminou a frase.

- Que foi? – Ri junto sabendo exatamente o motivo dele estar desconcertado.

- Boa noite.

- Até daqui a pouco.

 

 


Notas Finais


¹Japchae: Um prato tradicional lá da coreia. Basicamente, é um espaguete de batata doce.
²Soju: Bebida destilada feita de arroz.


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