Tate, 13/05/2017.
Breaden e eu tentávamos fazer um bolo. Bem, como eu disse... tentávamos. Ficamos responsáveis por cuidar da casa e do Sr. Mayers pelo final de semana inteiro, já que os pais de Breaden tinham ido para alguma reunião envolvendo o trabalho, e voltariam apenas na outra semana.
Tudo estaria tranquilo se Breaden não tivesse colocado na cabeça que tinha que fazer um maldito bolo. Tudo bem, bolo é muito bom, mas quando você está de bem com a vida para fazê-lo e esse não era o caso dela. Um estranho poderia vir aqui, olhar para ela por um segundo e já saberia que ela estava estressada. Ela exalava medo, culpa, estresse, irritação e muitas outras coisas ruins. E eu estava parado. Observando-a e pensando em um modo de acalmá-la. Belo namorado você é, Tate. Suspirei e caminhei até ela, tirando a batedeira da tomada. Ela me encarou com um misto de desespero e raiva.
- Precisa parar com isso. Não será... fazendo bolos ou qualquer outra coisa idiota que irá trazê-los de volta.
- E desde quando você sabe o que é melhor pra mim? - Sua voz saiu afiada como uma faca recém afiada. Aquilo machucou, mas resolvi ignorar. - Desculpa... É que... tudo está uma confusão aqui dentro. Não sabemos se o Nick realmente morreu ou também foi parar na Beifong, não sabemos se o Octavian vai sair vivo de lá.
- Está tudo bem com eles... se foram realmente para a Beifong, Nick vai ajudá-lo. Eles são espertos e irão conseguir sobreviver por uma semana. Já se passaram quatro dias, mais três e eles estão livres. Vai dar tudo certo...
- Não... nada está certo. Sabe a sensação de que tudo que está acontecendo é culpa sua? Eles não estariam nessa situação se eu tivesse sido sincera desde o início.
-Brea, entende uma coisa, eles seguiram o Octavian porque quiseram. Em momento algum você os deixou sozinhos.
- A mãe do Nick me ligou hoje... a Jud não atende o celular e ela estava ameaçando chamar a polícia. Céus... o que será que vai acontecer com a gente se a polícia descobrir que estamos envolvidos?
- Sinceramente? Não sei, mas ouvi dizer que vão abrir uma investigação para a morte dos meninos.
- Mas que inferno... deixamos as coisas saírem do controle. O que vamos fazer?
- Eu não sei... mas no momento, acho que não podemos fazer muita coi... - minha fala foi interrompida pela campainha. Encaramos a porta. Percebi que Breaden ficara tensa. Eu precisava fazer alguma coisa. - Calma, não é a polícia.
- Quem te garante?
- Apenas... apenas fique aqui. Vou ver quem é. - andei em passos lentos até o porta, e quando a abri, me deparo com uma moça, margeando os 34 anos, com cabelo preto. - Oi, boa tarde.
- Boa tarde - era visível o desespero em sua voz -, a Breaden está aí? Preciso falar com ela.
- Sim, ela está... - dei passagem para a moça entrar. Breaden veio em nossa direção.
- Breaden, desculpa te incomodar mas... você tem notícias do Octavian? Ele... ele não aparece em casa há dias e hoje a diretora me ligou dizendo que ele não aparece na escola há quatro dias.
Percebi Breaden encolher os ombros e abaixar a cabeça, respirando fundo e então encarou a moça de novo.
- Vivian, me desculpa mas... - nessa hora eu pensei que ela fosse dizer a verdade sobre o desaparecimento dele - eu não sei. Realmente, notei a falta dele nesses últimos dias mas achei que estivessem viajando.
- Céus... onde esse menino está?! - Vivian abaixou um pouco o corpo, como se impedisse à si mesma de surtar e ter uma crise de choro na frente de dois adolescentes. Agora eu entendo o que Breaden dissera antes. A sensação ruim de culpa.
- Vivian, não é? Então, o treinador as vezes pega os alunos para fazer um treino particular. Ele nos leva para um local reservado, sem muitas agitações e distrações. Afinal, tem um campeonato se aproximando. Precisamos estar focados, talvez seja isso. - digo tentando acalmá-la com essa história inventada. Mas ela é mãe e mães sentem quando algo está errado com o filho.
- Não, se ele fosse teria me contado. Se não a mim, ao irmão dele.
- Geralmente o treinador pede segredo. E isso inclui a própria família. Mas a senhora não se preocupe, ele está em boas mãos. Olha, um amigo nosso também foi.
- Mas você também faz parte do time, não?
- Sim, eu faço, mas os jogadores vão de dois em dois. Eu fui mês passado, junto com meu amigo, Aspen.
- Hum. Tudo bem... Mas se alguém tiver alguma notícia, por favor, não hesitem em ms chamar. Desculpa o incômodo.
- Nada... se fosse o meu filho eu também ficaria preocupada. - Breaden sorriu gentilmente e acompanhou Vivian até a porta. Elas pararam para falar alguma coisa que eu não fiz questão de prestar atenção.
O meu celular vibrou.
Abri o chat e me surpreendi com as mensagens.
FREDERICK:
- 20min
- É o que vc tem p chegar aqui.
- Onde está com a cabeça?!
- Não me kbrigue a ser rude com você.
- Obrigue*
Suspirei e encarei Breaden. Ela fechou a porta e me encarou.
- O que houve? - ela perguntou. Pelo visto minha cara não estava boa.
- Nada... é que deu um problema no encanamento do apartamento, aí eu preciso ir lá para resolver. Morar junto da uma dor de cabeça...
- Isso foi uma indireta para mim? - ela ergueu uma sobrancelha.
- Não, não foi uma indireta. Há uma grande diferença entre morar com a minha namorada maravilhosa, que tem sérios problemas com o humor diário e morar com um amigo idiota que depende de mim para tudo. - me aproximei mais dela e a abracei. - Volto ainda hoje para te ajudar com seu avô. Te amo.
- Também te amo... - e nos despedimos com um beijo.
Virei a esquina e adentrei o prédio. Décimo quarto andar. Uma porta de madeira, no estilo rústico. Até hoje eu ainda não entendia muito bem seus gostos, mas mesmo assim, me aproximei devagar e toquei a campainha. Em uns poucos segundos, a porta fora aberta com violência.
- Muito bem, cachorrinho. Pelo visto essa ordem você não desobedece. - ele comentou irônico.
- E ter a infeliz chance de ter você infernizando ainda mais minha vida?! Não, muito obrigado.
- Não me provoque, querido... Tenha em mente que todo o "inferno" que faço em sua miserável vida é culpa sua.
- Não precisa me lembrar desse fato toda vez que olha na minha cara. Mas então, o que houve?
- Tecnicamente dizendo, avançamos nas pesquisas. Há um artefato que pode matar a Breaden de vez.
- Okay, e onde está este estupendo artefato? - rebati na ironia também.
- Eu vou dar na sua cara... (N/A: CHEGUEI/TO PREPARADA PRA ATACAR. #PablloBaixouNoMeuSer)
- Tenta.
E nos encaramos. Daquele tipo que xerifes e bandidos do Velho Oeste se encaram nos filmes.
- Bom, está na casa da Yhsa. Sabe aquela espada que a família dela tem de herança? Então, era uma peça antiga da cidade e que... - ele interrompeu a sua fala e correu para o quarto, voltando com um livro imenso em mãos - era capaz de separar o corpo da alma.
- Não, não, não, espera. Essa coisa de separar corpo e alma é muito arriscado.
- Vai amarelar agora, Tate? Estamos próximos do fim dessa confusão toda.
- Não, não é questão de "amarelar" é questão de: se utilizarmos a espada e ela sobreviver, vai voltar sem alma e a alma vai ficar presa nesse mundo, vagando sem rumo e então, teremos mais dois problemas.
- Tate, Tate... não se preocupe quanto à isso. Irei garantir que ela esteja realmente morta.
- Você é insano... mas gostei do plano. Como vamos pegar a espada?
- Breaden fará isso por nós. Agora ao outro fato. - Ele deixou esse livro de lado e abriu outro, que estava sobre o sofá. - Encontrei uma coisa que poderá mantê-la viva.
- "Mantê-la viva" você se refere a...
- Sim, à ela. Mas voltando. De acordo com a mitologia, a rainha das Amazonas possuía um cinturão de prata, que tecnicamente lhe dava a imortalidade ou algo do tipo. É desse objeto que mais precisaremos.
- Okay, e onde está?
- Com Peters. A mãe dele o comprou em um dos leilões na cidade.
- E como saberemos que é verdadeiro?
- Vai funcionar. Não esqueça que estaremos em solo enfeitiçado.
- Tudo bem. E depois disso?
- Depois disso... - ele se aproximou um pouco mais de mim - ela matará todos os nossos amigos, ou fazê-los de escravos, e assim... até dominar todo o mundo. - ele completou com um sorriso. Sorri também.
- É, parece um bom plano. Se tudo sair como o planejado já ganhamos essa luta. Isso me faz lembrar de Ciara... era algo tão ruim, mas tão bom.
- É por isso que somos uma boa dupla... enquanto eu uso o cérebro pra bolar o plano, você usa a sua mente conturbada para executar, sem remorso algum...
- É. Bom, era só isso? Preciso ajudar a Breaden com o avô. Posso ser o carinha malvado, mas não quebro minhas promessas.
Ele não disse nada, apenas me acompanhou até a porta.
Eu realmente esperava que o plano desse certo. Cada palavra dita era como uma nova e recém afiada faça perfurando o meu peito. Se nada saísse como o planejado, a nossa situação será pior do que já está.
Breaden Mayers, 13/05/2017
Juddy não atendia o telefone. Eu já estava ficando mais preocupada do que já estava. Depois de arrumar a cozinha, tomei banho, troquei de roupa, tentei arrumar o cabelo e corri para o quarto do meu avô. Ele ainda dormia. Suspirei aliviada. Peguei o celular e mandei uma mensagem para Tate.
Breaden:
- Tive que sair. Pode dar uma olhada no meu avô dps que terminar de fazer suas coisas no apt?
Tate:
- Claro. Na verdade não tinha muitos problemas, era só uma saída que não estava bem fechada. Já estou voltando. Fique tranquila.
Breaden:
- Ah, obgd. Te amo, até mais.
Tate:
- Nd. Até mais.
- Te amo.
Desliguei o telefone. E liguei para Annabell. Depois de um tempo chamando, ela finalmente atendeu.
- Brea? Aconteceu algo?
- Não. Ér... conseguiu falar com a Jud ou foi até a casa dela?
- Não. Eu tentei ligar e deixei mensagens, mas ela não respondeu... tentei ir até lá, mas os pais estavam no trabalho e ela não iria fazer esforços pra atender.
Suspirei passando a mão pelo cabelo.
- Tudo bem. Eu vou lá agora. Eu to com medo de ter acontecido algo.
- Okay, qualquer coisa me liga.
- Uhum. Tchau.
- Tchau...
Desliguei e corri para a rua.
Encarei a casa de Juddy e me perguntei como iria entrar. Depois de muitos cálculos e teorias se formando, decidi entrar pela janela do quarto. Seria a opção menos arriscada.
Com muito sacrifício, achei a janela certa e subi. Minha aterrissagem no quarto não foi algo tão heróico assim, mas dava para o gasto. Encarei o local ao meu redor. Ou pelo menos tentei, né. Tudo estava escuro. Eu não conseguia enxergar um palmo à minha frente. Com a luz do celular, caminhei até o interruptor e o acendi.
Caos. Não havia palavra melhor para descrever o estado do quarto. Encarei o pequeno ser enrolado nas cobertas. Meu coração diminui dentro do meu peito.
- Jud... - sussurrei e corri para a sua cama. Eu, particularmente, não sabia a ela estava viva ou... cala a boca, Breaden. - Jud. Tá me ouvindo? - perguntei enquanto tentava tirar aqueles pedaços de pano da cama.
- Sim, estou ouvindo e quero que vá embora.
- Desculpa, mas nunca fui muito boa com ordens. - puxei a última coberta. Torci o nariz. - Há quantos séculos você não sai daqui?
- Brea, vai embora. Eu não quero falar com ninguém. - ela puxou a coberta da minha mão.
-Não. Você vai falar. Quem você pensa que é na fila do pão para me ignorar? - puxei a coberta.
- Alguém muito deprimido que quer sofrer em paz. - ela puxou de volta.
- Ah, mais na fossa que eu você não está. Jud, eu estou falando sério. Estamos preocupados... - suspiro, puxando a coberta de vez. Me levanto. - Anda, não quero saber o quão na merda você esteja. Eu sou a protetora de unicórnios e você é um únicornio. Meu trabalho é cuidar de você! Agora levanta e vai tomar um banho. - ela não mexeu um palmo. - Quer que eu faça isso por você? Tudo bem. Você quem pediu.
Avancei para a cama, no intuito de pegá-la no colo, mas ela recuou e sorriu. Parece que estou conseguindo. Amém, Deus.
- Eu vou. Já estou indo. - Ela levantou os braços em rendição e foi pegar uma roupa, direcionando-se até o banheiro. Sorri enquanto começava a arrumar o quarto.
Juddy saiu do banheiro com uma aparência menos depressiva e assassina. Fiquei feliz com o resultado.
- Não precisava arrumar o quarto.
- Era o mínimo que eu poderia fazer. Vamos, coloquei hambúrgueres no forno. (N/A: Breaden, A Bela, Recatada e do Lar)
- Você é impossível.
Ela revirou os olhos e desceu a escada, fui atrás dela. Depois de fazer três hambúrgueres e dois copos cheios de vitamina, me sentei de frente para Juddy e a encarei. Suspirei pensando no que Nick e Octavian, possivelmente, estavam passando nesse momento. Enquanto nós comíamos e fazíamos hambúrgueres, eles lutavam para salvar a própria vida.
- Tem alguma coisa te incomodando. Pode falando. - sua voz saiu abafada pela quantidade de comida que havia em sua boca. Sorri.
- Não é nada... eu só estou preocupada com os meninos. Você não faz ideia das coisas horríveis que tem naquele lugar.
- Bom, pelo menos não é o seu namorado que está lá. É o seu vizinho mala. - ela deu de ombros e continuou comendo o hambúrguer.
- É... - suspirei e encarei minhas unhas, que estavam roidas ao ponto de fazer feridas. Juddy jogou o hambúrguer no prato e me encarou. Nem me assustei. - O que houve?
- Como assim "É... pufff"?! - ela me imitou suspirando. Eu não suspiro desse jeito! - Não me diz que...
- Juddy, é complicado, okay? E-Eu não sei o que está acontecendo. Eu amo o Tate, amo com todo o meu coração, mas algo no Octavian me deixa confusa.
- Você não pode estar falando sério... Meu deus, a Ann vai surtar quando souber disso.
- Por isso não iremos contar nada. - Sorri daquele jeito ameaçador, como se dissesse Hey, se você disser, não irei hesitar em usar uma faca em você.
- Tudo bem. Mas me diz uma coisa: como chegou à essa conclusão? Tipo, vocês viviam entre tapas e do nada você começou a namorar o Tate e agora diz que está gostando do Octavian.
- Não! Eu não estou gostando. Eu... arg! É por isso que é complicado. Não é paixão ou amor é... Eu não sei.
- Uma hora você vai saber o que é. Apenas... fique calma, okay? - ela sorriu para mim e segurou minha mão, que termina levemente. Sorri irônica.
- Era para eu estar te aconselhando. É o seu namorado que está lá...
- É... Nick me ajudou muito. Eu estou sofrendo, mas não imagino como a Katherine deve estar... ela falou algo com você?
Suspirei e recolhi minhas mãos. Como eu diria que a mãe dele tinha ligado e que ameaçou chamar a Polícia?! Meu deus, essa história só piora a cada dia. Mesmo hesitante, comecei:
- Olha... É meio complicado. Ela ligou. Disse que não conseguiu falar com você, veio aqui na sua casa e não viu movimento, ligou para os meninos e eles não souberam falar... e então ela me ligou. - me calei e abaixei a cabeça - Ela foi na escola e o zelador disse que nos viu saindo da escola na terça. E então... ameaçou chamar a Polícia e que ia nos indiciar como suspeitos. Eu tentei enrolar mas...
- Meu Deus. Estamos ferrados.
- Ferrados é pouco. A mãe do Oct... - minha fala foi interrompida por uma mensagem no celular. Franzi a testa por ser um número desconhecido. Assim que abri a mensagem, meu coração, pela milésima vez em uma semana, falhou uma batida.
20 MINUTOS. NA PRAÇA QUE VOCÊS COSTUMAVA IR QUANDO A CONHECERAM.
- Juddy, vamos. Rápido. - Junto à mim, Juddy correu para a porta.
Eu não sabia como ou quando, mas precisávamos parar isso... antes que realmente tudo saia do controle.
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