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História Nerve - Fim de jogo


Escrita por: LustForJohn

Notas do Autor


Desculpem pelo capítulo gigante xD
Boa leitura, Observadores.

Capítulo 20 - Fim de jogo


Ouço gritos vindos do corredor, acompanhado de passos tumultuados sobre o tapete. O fecho de luz ilumina perfeitamente o rosto de Martin, cujo aponta sua pistola para mim, de um jeito mais ameaçador ainda. Ele dá alguns passos antes de Nick entrar na minha frente, mudando sua mira de Zayn para Martin.

Mais tiros são disparados, dessa vez todo mundo grita. Aposto que foram falsos, porque, como da última vez, ninguém se queixa de dor. Querem que eu pare, mas não tenho medo do que não existe.

— Por que estão fazendo isso? — Martin rasga a garganta. — Falta menos de dez minutos pra gente ganhar a porcaria dos prêmios.

— Ou para levarmos um tiro. — Estou sem folego por causa do frenesi. Bato mais uma vez no vidro, expandindo mais ainda o buraco. Esse último golpe feriu minha mão, mas não é hora de se importar com isso agora. — Não quero ficar aqui por mais nem um minuto.

Alguém grita de fora:

— Eles estão fugindo!

Um zumbido estronda dentro da sala, me causando náuseas e dor de cabeça. O projetor acende uma mensagem no chão e todo mundo olha, até mesmo eu paro de quebrar o vidro por um momento.

SHAWN E NICK VIOLARAM A INTEGRIDADE!

APONTEM SUAS ARMAS AGORA

OU TODO MUNDO PERDE O PRÊMIO!

Uma música genérica começa a tocar bem alto.

— Eu tô pouco me fodendo! — grito.

Martin dá mais um passo, ignorando Nick.

— Eu tô! — ele me responde. — Para com essa putaria agora ou eu acabo contigo!

Nick segura a arma com duas mãos firmes. A adrenalina fez ele parar de tremer? Também não noto mais tremores em mim, estou quase livre.

— Tenta — desafia Nick. Um estalo na sua arma deixa a entender que ele engatilhou a pistola. — Ficou com medo?

— Seus otários! — Agora é Zayn quem decide entrar no meio. — Estamos quase terminando e vocês vêm com papinho de disparar. Ninguém aqui é doido de atirar de verdade.

A risada de Martin é nítida.

— Claro que não.

Dessa vez eu chuto o espelho, fazendo um grande pedaço se desprender e cair em estilhaços. A parte de cima é resistente, então tenho que bater de novo com a pistola. Posso ver o peitoral de Martin inchando e desinchando freneticamente, puto de raiva.

— Eu prometo que não vou atirar, mas se não pararem com isso agora eu vou fazer de tudo para que não tirem o prêmio da gente.

— Ninguém aqui é ingênuo! — resmunga Nick. — Você acabou de afirmar que faria de tudo pelo prêmio.

Consigo remover uma parte maior do vidro, um tamanho perfeito para me permitir atravessar. Fica na altura da minha cintura, vou ter que me espremer para passar e me equilibrar para não cair.

Dou uma leve olhada nos jogadores. Martin está perto de Nick, mas longe o suficiente para fazer algo — ambos com as armas apontadas. Os olhos de Nick estão grudados nos olhos de Martin, que o encara de volta. Esse foi o erro de Nick, pois não viu que Zayn arremessou sua pistola em cheio na cabeça dele, fazendo-o cambalear no chão. Depois disso, não vejo nada além de Martin voando para cima de mim como da última vez, adquirindo a mesma posição sentado na minha barriga.

— Sai de cima de mim!

— Nem fodendo! — a voz de Martin agora é roca, de tanto gritar. — Você está acabando com tudo por paranoia!

— Não é paranoia quando é óbvio!

Me esperneio, mas estou muito cansado para adicionar força. Por outro lado, Martin também demonstra cansaço, pois consigo levantar meus braços do chão, apesar de ser inútil, já que Martin permanece imóvel.

— Fica quietinho — ele murmura com a boca ao lado do meu ouvido, — e você não vai se ferir.

Nick consegue levantar rápido o suficiente antes que Zayn chegue nele. Nick o empurra com força para trás, derrubando-o, depois se joga em cima de Martin, tirando-o de cima de mim para meu alivio.

Fico de pé e consigo ver o contorno de pelo menos quatro armas no chão. Qual é a minha? Não importa. Porém, antes de eu escolher uma pistola, Zayn me puxa e me empurra contra os armários coloridos, me prendendo como um atleta de escola faria com sua namorada depois do treino. Ele não está pensando em me beijar de novo, está? Zayn me manda uma piscadela.

— Você é gato, mas não estou afim de você. — Tento distraí-lo enquanto tateio por algum item no armário que possa me ajudar.

— Assim você me machuca.

Encosto em algo gelado.

Agarro um copo de milkshake apimentado cheio que distribuíram na hora do vídeo das armas e jogo todo o liquido na cara dele. Ele instintivamente dá passos para trás e grita, me deixando livre. Espero que a pimenta não o deixe cego. Chego perto do buraco — Nick ainda prende Martin no chão — e olho para as garotas. Até elas pararam de apontar. Pego uma pistola no chão e guardo atrás na minha calça — só por precaução.

— Última chance — anuncio a elas. — Ou vocês vêm comigo, ou vocês ficam para ver como isso vai acabar.

Gigi é a única a dar um passo adiante.

— Eu quero ir.

Graças aos deuses alguém possui neurônios além de Nick e eu. Zayn permanece tentando tirar a bebida dos olhos, mas ele parece ter ouvido o anúncio de Gigi.

— Jelena! — Zayn estira os braços, depois recua com dor nos olhos. Ainda bem que fizeram essa mistura bizarra com pimenta. Além disso, ele a chamou de Jelena? — Por favor, não vá!

Ela passa por ele, demonstrando pena, mas sem hesitar.

— Desculpa, Z, mas isso foi longe demais. Tô fora.

— Eu prometo que vai tudo acabar bem — suplica Zayn, mas Gigi o ignora.

Zayn tira sua blusa de lã, revelando uma longa tatuagem no peitoral magrinho, mas definido, e múltiplas outras pelos braços, que estavam escondidas pelas longas mangas. Ele usa a blusa para acelerar a limpeza do milkshake. Temos que apressar.

Gigi vira para as garotas e suplica uma última vez:

— Vamos galera, mulheres!

Bella balança os cabelos.

— Não — sua resposta é rápida. — Tudo isso é culpa do Shawn. Não vou participar dessa rebelião idiota dele.

Ela cruza os braços. É claro que Bella não era de se confiar, pelo menos cumpriu com sua palavra e não atirou. Charli senta em uma das poltronas e relaxa.

— Foda-se — ela exclama, exausta e derrotada. — Vocês bobocas foderam tudo.

Gigi e eu trocamos olhares, depois damos de ombros. Nick ainda prende Martin no chão, que se esperneia como um cachorro raivoso, suas palavras ofensivas são como latidos. Abro espaço para Gigi passar primeiro. Ela se contorce de um jeito que deixa a entender que era líder de torcida na escola. Seu porte físico atual, por outro lado, demonstra que ela é aspirante a modelo.

— Consegui — ela diz, se agachando para olhar para mim através do buraco. — Não vejo ninguém e está um breu.

Apagaram as luzes de fora? Pego meu celular e ligo a lanterna e vejo que Gigi faz o mesmo do outro lado. Minha bateria está nos seus últimos suspiros.

— Ok. — Olho para Nick, que troca socos cinematográficos com Martin. Se eu usar a imaginação o suficiente, posso ouvir os sons de efeito. — Vou voltar com ajuda, Nick. Fica bem!

— Não se preocupe comigo, Shawn. — Ele não se vira para mim. — Foge logo!

— Isso, foge logo, príncipe covarde do caralho! — A declaração rouca de Martin parece ter saído de um filme de suspense onde o assassino principal usa uma máscara de fantasma. Depois vejo um soco atingir seu rosto.

Coloco meu torso para dentro do buraco. Gigi pega meu celular e segura minhas mãos, me ajudando a equilibrar. Preciso fazer esforço para não encostar nas pontas afiadas de vidro. Minhas mãos afrouxam de Gigi quando uma força desumana me puxa de volta para dentro da sala. De costas, caio por cima do tórax desnudo de Zayn, que me aperta com uma força que eu não fazia ideia que ele possuía.

Ele me agarra muito em cima, me dando liberdade o suficiente de lhe dar uma mordiscada na mão. Ele grita e me solta, e eu rolo para o lado, ficando em pé. Meus dentes não foram fortes o suficiente, porque ele também levanta e me agarra pelos antebraços.

— Gosta do que vê? — Ele pergunta, apontando com os olhos para seu torso.

— Já vi melhores. — Minha resposta é automática. Tento dar um golpe no meio das pernas dele, mas ele prevê meus movimentos e prende meu joelho com suas coxas firmes.

— Clichê.

— Vê se isso é clichê. — Nick surpreende nós dois pulando em cima de Zayn e o prendendo no chão com a barriga virada para baixo. Zayn se debate em protesto, mas é inútil. Nick olha para mim, todo esperançoso. — Vai logo, Shawn. Não posso segurar os dois ao mesmo tempo.

Balanço a cabeça e corro para o buraco. Posso ver Martin se levantando lentamente, ainda atordoado dos socos que recebeu. Gigi me ajuda a passar novamente. Antes de passar a última perna, uma mão forte me agarra, fazendo com que eu perca o equilibro e caia. Meu grito ecoa quando uma ponta afiada no buraco do vidro rasga e perfura minha panturrilha. Em protesto, dou um chute bem na fuça do meu agressor que, com o resmungo, percebo ser Martin. Livre, puxo minha perna cuidadosamente.

— Volta aqui, príncipe. — Sua voz, ainda roca, está fraca.

Ele enfia a cabeça pelo buraco, mostrando dentes, hematomas nos olhos e sangue no nariz. Defensivamente agarro o maior caco de vidro que vejo, sem me importar com seus lados afiados me machucando, e desfiro um corte contra sua bochecha, passando pelo nariz e indo até a testa. Ele solta um grito rouco e mortífero, e some dentro da sala.

Gigi me ajuda a levantar e devolve meu celular. Aponto a lanterna para a recepção da área VIP e me assusto quando vejo olhos curiosos, mas relaxo quando lembro que são apenas Observadores. Eles soltam altos cochichos, e noto seus contornos marchando para a porta, na direção dos elevadores.

Com a perna mancando, dou o meu melhor para correr até eles. Está tão escuro que tenho medo de algum psicopata surgir das sombras, mas, com rápidas iluminações, a lanterna do meu celular não revela nada além de cantos vazios.

Ouço um grito vindo de trás, não consigo diferenciar de quem veio.

— Príncipe! — Agora é Martin. — Volta aqui, por favor!

A porta da recepção já estava quase fechada quando a agarro e puxo com força. Ainda bem que esta porta é pesada e lenta. Dentro do corredor dos elevadores há luz, e eu posso muito bem ver o rosto de quem estava no camarote, o que confirma minha teoria: um grupo de velhos com roupas chiques e ridículas. Todos resmungam com desprezo. Desligo a lanterna do meu celular e, como se fosse um bicho-papão, percebo que um deles é familiar.

É aquele atendente mal-humorado do Cafeinamente.

Ele revira os olhos para mim. As luzes se acendem na recepção e Gigi aparece ao meu lado, ofegante. Ela encontrou os interruptores, penso. Ainda bem.

— O que vocês querem? — Pergunta uma velhinha de chapéu bordado. — A diversão acabou.

Claro que acabou, penso.

Pigarreio, sem tirar os olhos do atendente da lanchonete.

— Vem comigo.

Ele levanta uma sobrancelha.

— Ou o quê?

Com um movimento rápido, puxo a pistola das minhas costas e aponto para ele. Todo mundo solta um coro de surpresa e medo, até ele. Uma gota de suor escorre pela minha testa.

— Você não me assusta. — Ele está me desafiando?

Meu polegar puxa o martelo para trás, soltando um estalo e engatilhando a arma.

— Claro que não assusto — digo. — Afinal, são falsas, certo? — O peso em minhas mãos diz o contrário. Agora que há luz, posso ver que minha mão está ensanguentada e grudenta. Foi quando peguei aquele pedaço de vidro para atacar Martin? Levanto minha outra mão para ajudar a segurar a arma e disfarçar o sangue e o tremor.

Ele parece pensar demais.

— Por que quer que eu vá? — Sua voz treme.

Estralo o pescoço.

— Não interessa. — É bom dar ordens.

Uma veia pulsa na sua têmpora. Ouço sussurros como ratos escondidos na parede. Um homem, pelo menos vinte anos mais velho, cochicha para o atendente na minha mira. Seria este velho a principal cabeça por trás de NERVE? Não, já teria se manifestado antes. O atendente da lanchonete suspira alto, em desaprovação. Acabei de ouvir lamentos vindo do corredor atrás de mim?

— Tá, que se foda. Vamos.

Ele dá um passo bem repentino na minha direção, me fazendo recuar.

— Opa! Está com pressa? Saia lentamente.

A ruga na sua testa fica dez vezes mais evidente.

— Cala a boca, pirralho.

Ele não notou que o armado sou eu?

— Ou o quê? Pensei que gostasse de ver as pessoas sob pressão.

Ele engole em seco e não responde. Abro espaço para ele passar, sem abaixar a mira.

— E a gente? — Ouço uma mulher do outro lado da porta perguntar.

— Deem o fora daqui — respondo, sem me virar.

O som da porta se fechando confirma minha ordem. Sinto a respiração de Gigi ao meu lado. Ela me cutuca.

— Shawn. Tem alguém vindo aí. — Agora que Gigi disse, ouço os lamentos se aproximando e tropeços pelo tapete vermelho. Ela não acendeu as luzes do corredor.

Merda. Estou lotado de problemas. Tenho que pensar em alguma coisa rápido. Gigi corre para o meu outro lado e aponta para o corredor. Se eu virar para ver, corro o risco de ser desarmado pelo atendente. Droga, por que Gigi não trouxe a arma dela?

— Príncipe! — Porra, é o Martin. Ele não fala nada por um momento, talvez analisando a cena. — Quem é o homem?

Pensa rápido, pensa rápido, pensa rápido.

— Nem mais um passo! — Anuncio. — Se chegar mais perto, o funcionário de NERVE leva tiro. — Fui convincente?

— Eu não — o homem diz, mas faço um movimento com minha pistola, impedindo que ele termine a frase. — Eu não vou deixar que ganhem nada se me machucarem. — Ele anuncia, entrando no personagem que eu dei para ele. Ufa.

Com a pistola, aponto para o corredor. O homem me obedece calado, ficando entre mim e Martin. Ele foi burro de não ter trazido uma arma também, mas me sinto aliviado — estou na vantagem.

Gigi tem sua lanterna apontada para Martin, ainda na parte escura do corredor. Ele tem sua mão esquerda cobrindo o corte que eu fiz, mas não impede que sangue escorra. Não foi profundo e lá dentro tem kit médico, então minha consciência está limpa.

— E o que você pretende fazer com um refém, príncipe, exigir que prendam a gente e que te garantam apenas seu prêmio e do seu namorado valentão?

Ainda não sei o que fazer com este homem — nem com Martin. Era essa a ajuda que eu traria para Nick, mais problemas?

Limpo a garganta.

— Volte para a sala, Martin.

— Você não me dá medo, Shawn. Este corte nem está doendo.

— Não é a sua vida que está correndo perigo neste atual momento — digo rigidamente.

Eu não atiraria em ninguém, mas não quero que isso fiquei evidente.

O homem se pronuncia:

— Faz o que ele está mandando. Agora. Caso contrário, diga adeus a qualquer prêmio.

Martin pensa por um momento e dá de ombros. Sua mão e rosto estão encharcados de sangue. Hum. Espero que fique bem. Ele dá a volta e começa a marchar pelo corredor escuro, iluminado pelo celular de Gigi. Martin resmunga silenciosamente, a pistola em minha mão continua apontando para o atendente.

Quando chegamos, Martin olha para mim, silencioso. Posso ouvir apenas pequenos rangidos entredentes que ele solta por causa da ferida em seu rosto. Ai, minha nossa. Está doendo tanto assim? Detesto este meu lado benévolo.

Do lado de fora tenho uma vista nítida e iluminada de dentro da sala. Éramos observados desse jeito? Não quero nem imaginar como era minha visão deste ângulo nojento e pervertido. Algumas pessoas acenderam lanternas lá dentro. Nick permanece segurando Zayn contra o chão, mas seus olhos miram para a vidraça quando percebe nossos movimentos.

— Shawn? — Sua voz é cheia de curiosidade.

Com um suspiro aliviado, respondo:

— Sou eu. Estou bem. Por favor, venha.

— Ir pra onde?

— Para casa. O jogo acabou — digo orgulhoso.

Martin ri, soluçando.

— Sim, o príncipe conseguiu o que queria. O medroso do caralho.

E eu ainda tive coragem de sentir pena dele.

Ele sai de cima de Zayn, ficando em pé. Zayn também levanta cheio de dores nas costas, ainda sem blusa. Apesar do frio que faz dentro desta sala, o calor do momento deve ter o mantido bem quentinho.

Nick coloca a cabeça do lado de fora para ver a cena: Martin domesticado, um aleatório refém, Gigi fazendo bulhufas e eu garantindo nossa sobrevivência. Pirei? Olha as imprudências que fiz por causa deste jogo.

— Shawn, isso é loucura, mas não te culpo.

Vejo os outros jogadores se amontoando atrás de Nick, tentando enxergar alguma coisa. Em algum momento, Zayn vestiu sua blusa de volta.

Nick cuidadosamente projeta seu corpo para fora pelo buraco no vidro, se machucando um pouco. Essa passagem parece uma armadilha que saiu diretamente dos Jogos Mortais — felizmente, não matou ninguém. O casaco vermelho de Nick o protegeu da maioria das partes pontiagudas.

Quando fica de pé, ele troca olhares furiosos com Martin, que não tirou sua mão do rosto por um segundo. Ele para ao meu lado e revela uma pistola que, em algum momento, tinha pegado. Alguém mais pegou uma arma? Além disso, apenas quem está no corredor vê Nick apontando para Martin, fazendo o gargalhar bem baixinho.

— Os heróis da história! Me poupe.

Ainda bem que ele trouxe a pistola, eu era café com leite sendo o único armado. Espero que Nick não dispare.

Aponto para o buraco olhando para Martin.

— Volta lá para dentro.

Ele dá de ombros. Posso ver metade de seu sorriso, coberto por uma mão ensanguentada.

— Não estou afim.

Encosto o cano da pistola nas costas do atendente, mas não digo nada.

— Faz o que ele tá mandando se quiser ganhar alguma coisa — vocifera meu refém.

Martin permanece imóvel.

— Você nem deve ser tão importante assim. — Ele dá de ombros. — Se fosse, já teria sido resgatado e estes dois estariam, sei lá, fazendo a passagem para o inferno.

Argh. A casa caiu.

— Ele tem dinheiro — digo, confiante. Se está aqui é porque deve ter. — Diga seu preço.

— Meu preço? — Martin ri. — Eu virei garoto de programa?

Lentamente, o homem saca uma carteira grossa e estampada com peças geométricas. Isto é o que chamam de chique?

— Tenho bastante dinheiro — ele anuncia. — Pode levar tudo. Até os cartões de crédito.

Martin para pra pensar por um instante, ainda hesitante.

— Eu não sou ladrão — ele diz. Um vilão sensato?

Nick limpa a garganta.

— Ninguém está te chamando disso. Queremos ir embora, mas você está dificultando tudo. Aceita a merda da carteira, entra na porra do buraco e deixa a gente dar no pé.

Ele dá de ombros e agarra a carteira requintada do atendente. Sabia que não resistiria.

— Que se foda.

Antes de ele entrar pelo buraco, eu chamo sua atenção.

— Espera — digo. — Me passa a carteira de motorista dele.

Ele olha para mim de cima a baixo com apenas um olho livre e cai na gargalhada.

— Príncipe, seu rostinho é lindo demais para ser confundido com este ogro.

Ele me cantou! De qualquer forma, vou precisar dela para começar uma investigação contra NERVE. Um Observador VIP é um grande passo para chegar nos verdadeiros donos. Eu fui mesmo elogiado pelo grande vilão fisicamente presente?

— Me dá logo. — Minha voz errou uma nota.

— Não sei se consigo tirar minha outra mão do rosto. — Sua voz é baixa e melancólica.

Reviro os olhos. Droga, estou me sentindo péssimo por tê-lo machucado desse jeito.

Gigi é rápida e, depois de um passo, pega a carteira e vasculha pela identidade. Depois, devolve para Martin — não antes de tirar uma nota amassada de cem. Nos entreolhamos e ela dá de ombros.

— O quê? Vou precisar para o táxi. E quem sabe para algumas diárias em um hotel, não sei quando vou voltar para casa depois de Z se tornar um maluco.

É uma resposta plausível. Martin apenas ri sarcasticamente enquanto recebe a carteira de volta. Ele passa com dificuldade pelo buraco, mas consegue. Antes de qualquer coisa, ele enfia a cabeça de volta pelo vidro, sua mão não segura mais seu rosto, mostrando o corte inflamado e ensanguentado que causei. Ele manda um beijo bem teatral para mim.

— A gente se vê por aí, príncipe.

Sua sugestão faz calafrios correr pela minha espinha. Espero que não.

Olho para Nick, e ele olha para mim de novo. Ele está cansado, mas sem nenhum machucado grave. Ele foi o verdadeiro herói contendo dois vira-latas, devo muito a ele.

Charli corre para abraçar Martin e socorrê-lo com a bolsinha de medicamentos que eu usei mais cedo — vejo tudo pelo vidro fumê rachado. Volto a olhar para o atendente.

— Vira — digo, a voz rígida.

Ele me obedece e olha para mim. Ao ver melhor o rosto dele, Nick muda de postura para uma mais relaxa.

— É aquele cara do Cafeinamente?

— Sim — respondo. — Tenho certeza que um atendente de lanchonete não recebe o suficiente para pagar camarote em um jogo tão patrocinado quanto este.

O homem revira os olhos.

— Eu sou gerente executivo daquela loja. Só estava cobrindo as férias de um funcionário noturno.

Hum. Isso explica muita coisa.

— É melhor a gente se apressar — me alerta Nick, olhando para mim. — Eles ainda possuem cinco armas, contra apenas nossas duas. Nunca se sabe quando decidirão se rebelar.

— Você está certo. — Olho para o atendente da lanchonete por um momento e dou de ombros. —  Vai se foder. Mete marcha galera!

Deixando o atendente para trás, corremos pelo corredor até a recepção, parando perto dos armários onde fizemos as entrevistas. Abrimos a porta da recepção e entramos no corredor dos elevadores. Gigi fecha a porta pesada atrás de nós com um baque.

Nos entreolhamos, ainda atordoados com os últimos momentos. Olho para a arma na minha mão e jogo-a no chão, fazendo o tintilar ecoar pelo corredor. Não quero nunca mais encostar numa coisa assim. Nick faz a mesma coisa, para o meu alívio. Não tem como ter parceiro melhor que ele.

Caminhamos furtivamente pelo longo tapete vermelho. Está tão silencioso que tenho medo de ter algum assassino de aluguel escondido em algum lugar. O corredor é longo e não tem nenhuma porta nas paredes. No final, chegamos nos elevadores: o da frente é o VIP, por qual viemos, já na minha direita fica o elevador de serviços. Gigi está prestes a apertar o botão do elevador VIP, mas empeço-a com um rápido reflexo.

— Deve ter um exército de lacaios do NERVE esperando por nós lá embaixo. Vamos pegar o elevador dos zeladores.

Ainda bem que pensei nisto. Aperto o botão à minha direita e esperamos pacientemente pelo elevador. Quando as portas abrem, após um suspense, ficamos aliviados quando nenhum homem armado surge de dentro dele. Entramos num salto, Nick aperta o botão do primeiro andar e suspiramos. Está realmente acabando?

Quando as portas do elevador se fecham, Nick avança em mim, me dando um abraço forte e comovente. Meus braços o apertam tanto de volta, que não quero nunca mais soltar.

— Nós conseguimos passar por isso — ele diz, sua cabeça enterrada no meu peito.

— Sim — rio, mas de nervoso. — Nem consigo acreditar!

— Você está bem? Se machucou?

— Sim — digo. Sua expressão muda para uma preocupação sem fim. — Só que não é nada grave. Simplesmente me cortei nos vidros do espelho. Sobreviverei.

Levanto sua cabeça e colo meus lábios nos dele. Sinto todo seu cansaço em seu beijo, assim como ele também deve sentir o meu. Seus braços contornam meu pescoço. Encosto na parede e sinto seu peso deitar em mim. Nós dois queríamos nos beijar para sempre.

Mas o pigarreio de Gigi faz nossos lábios estalarem quando nos separamos. Eu pestanejo.

— Hum, galera — ela começa, — foi mal por tudo isso. Não pensei que passaria tanto assim do limite, não queria ficar contra vocês. Eu não estava, aliás. Vim para cá com o intuito de fazer amizades e curtir, não apontar para as pessoas. Isso é terrível.

— Totalmente — complemento. — Estou feliz por ter vindo conosco.

Nick dá uma piscadela para ela.

— Relaxa, sabemos que você não é má — ele diz. — Foi bom te ver de novo hoje.

Quase esqueci que eles já se conheciam. Gigi sorri.

— Meu nome real é Jelena — ela nos conta. — Gigi é um apelido de infância, minha mãe costumava me chamar assim e acabei preferindo ser conhecida assim.

Nick e eu nos entreolhamos com um sorriso, depois damos de ombro.

— Ok — dizemos em coro.

Puxo Gigi para um abraço confortante, e ela não hesita em me apertar de volta. Ela precisava. Sinto os braços de Nick nos contornando, completando em um abraço triplo bastante caloroso.

— Estou tão cansado — Nick murmura nos apertando com delicadeza. O perfume de Gigi invade minhas narinas, mas desta vez não me impoto.

Nos separamos com um salto quando as portas se abrem. Novamente suspiramos por não ter uma tropa de capangas esperando a gente com todos os tipos de metralhadoras apontadas para nossas fuças. Saímos em um corredor comum. Ouço a música alta bater forte do outro lado das paredes da boate. Olho para os dois lados, apreensivo. A porta mais a frente deixa escapar luz de strobo colorida pelas brechas, enquanto a porta no final do corredor na esquerda é calma e silenciosa, mas nada impede que uma tropa do NERVE esteja nos esperando com todos os tipos de armas miradas para nós.

Não acredito que estamos tão perto de nos livrarmos deste pesadelo que não parece ter fim.

Puxo Nick para um beijo demorado de vitória. Ou derrota, dependendo do ponto de vista.

— Vamos dar no pé.


Notas Finais


Espero que tenham gostado, meus queridos Observadores.

Estamos muito perto do final, infelizmente :(

Mas não esqueça de deixar seu comentário!

Beijos.


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