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História Never say Never - Clace - Shadowhunters ( Parte 1 ) - Volta dos mortos


Escrita por: MaduhSilva2

Notas do Autor


Olá amores❤️ Espero ansiosamente que gostem do que eu passei a escrever... Um beijo🧡

Capítulo 1 - Volta dos mortos



" Há mais um garoto que faz parte do meu passado


Nós nos apaixonamos, mas não durou muito


Porque no segundo que descobri que ele me amava, ele me afastou


E eu não lutarei pelo amor se você não for me encontrar no meio do caminho"


Olívia Rodrigo❤️- All I Want


⟨⟨🧡⟩⟩


Clary não sabia o que realmente a atraiu de volta a Nova York. De volta ao lado Sul, de volta a aquela casa. Depois de tudo o que passou ali, com eles, sua antiga família, como a considerava, na verdade, ainda considera. Contudo, não sabia se era recíproco, afinal, ela foi embora, por motivos significativos, mas ela se foi, podia não ser com a mesma mala que estava encostado em seus pés trêmulos, mas o mesmo moletom dele estava lá dentro, estava em sua saída chorosa, considerada dramática a telas de cinema. Ela lembrava a primeira vez que esteve naquela enorme casa, foi quando viu seu Jace a primeira vez, onde seu jeito arrogante e sarcástico a confundiu com um amor do passado, os dois em si não tinham nada parecido na aparência, mas adquiriram a mesma forma que ele a olhava, com amor.


 Isso a assustou, depois de todo o que passou com o pai mafioso em busca de sua vida, teve sua família com ela. Jonathan, seu irmão, que não via há três anos, sua melhor amiga Izzy, seu gigante Alec, ainda devia uma bola de futebol ao moreno. Magnus, a alegria da casa, sem dúvidas se lembrava de todas as vezes que o Purpurina a aconselhou sobre moda e sobre amor, duas coisas totalmente diferentes, mas a opinião nunca mudara. Seu melhor amigo, ah querido Simon, sentia falta de quem tanto conhecia desde os treze anos, um dos únicos que sabia sobre seu passado, sobre seu amor passado e todas as circunstâncias que ele causou... Seu Jace. 


A ruiva se sentia extasiada toda vez que lembrava dela. Uma onda de culpa assolou o peito dela, não era certo esperar que ele ainda a amaria, não que ele tivesse admitido algo, a menos, não para ela. Porém por mais que soasse arrogante, ela conhecia o olhar que ele lhe dava, era amor, e ela sabia disso, pois sentia o mesmo. Depois de tudo que passou, com seu passado considerado trágico, depois levada a essa mesma mansão em prol de derrotar o pai mafioso, ela não se sentia livre, não apenas por ter sido dispensada, mas sim por ter sido amada, amada demais.


‌Valentim já havia sido derrotado, nada mais a impedia de se manter ali, não só em Nova York, mas naquela casa, e durante todo o tempo que estivera longe, faltara algo, faltava sua família.

A primeira vez que estivera ali, teve breve apresentações de cada um deles, claro que a família, por ser parte donos do tráfico do Sul, não deixou o irmão de Clary muito feliz, talvez por serem rivais, e por amarguras do passado com o próprio chefe, seu Jace. Ela ainda não entendia qual era o verdadeiro problema entre eles, por mais que tivesse suas suspeitas, não conseguia entender qual era o motivo de tanto ódio. Lembrava claramente dos flertes que o loiro provocou, sua breve consideração ao moradores de sua residência instigou Clary a não só se sentir bem com eles, mas também a não desistir.


- ' Bom, tem a Izzy - dissera ele, com um tédio inabalável - Eue fica horas usando o banheiro dos outros e sempre mata alguém com a comida que faz, mas isso você já deve saber. Tem o Alec que é mais centrado e calmo, e geralmente quem salva todo muito. O Magnus, que faz complô com a Izzy contra tudo que a gente faz, e implica com nossas opiniões, além de sempre ser o mais animado, é gente boa, e meu cunhado - enquanto falava, ele a guiava por cada pedaço da casa, mas a ruiva passou a se perguntar como poderia se concentrar em qualquer outra coisa com ele a olhando, com seus instigantes e profundos olhos azuis - O Simon, que paquera a Izzy e às vezes merece uma surra. Mas sei que ele daria tudo pela gente, e não que eu o deixe saber disso, é uma das pessoas que mais confio. A não ser, é claro, quando ele some dentro dessa casa e liga as bocas do fogão pra ver se explode a merda toda...


- Simon?- havia esperança em seu tom, se fosse quem pensava, ajudaria a curar feridas do passado. Talvez reatar laços e rerguer o império que fora destruído. Naquele dia, pôde sentir o olhar de Jace queimar sobre si, ele a observava com curiosidade, como um grande mistério a ser desvendado. E algo lhe disse que ele a desvendaria... Pedaço por pedaço.


- Bem que eu senti cheiro de Amora - o mesmo brincara com seu apelido, o castanho se virou para ela com um sorriso de orelha a orelha. Era incrível como sua pose Bad boy se amolecia ao falar com a melhor amiga, a quem não via desde o trágico motivo de suas separações. Com todo seu longo histórico, estava aprendendo a não criar fortes esperanças, mas era impossível não criá-las perto dela. Mesmo com todas as cicatrizes do passado, Clary era todo o êxtase, a esperança.


- Meu Deus!- ela pulou em seus braços e lágrimas escorreram em seu rosto. Se não fosse por toda a empolgação, estaria gritando raivosa por ter sido separada dele por todo aquele tempo. Eram anos demais para quem passara quase a vida toda juntos, cuidando um do outro - Não te vejo desde o FBI!


- FBI?- foi quando notaram que não estavam sozinhos, e que isso com certeza seus revelado em um futuro próximo. O sigilo era algo exigido. E infelizmente, acreditavam que querendo ou não, o segredo era melhor que o risco de perder quem amava. Mesmo que isso arriscasse algo ainda maior.


- Há muitas coisas que não sabem sobre nós - os dois melhores amigos responderam cabisbaixos, e ganharam silêncio em troca disto.


- Como você está? - oerguntara ele, mas ela sabia que ele queria saber bem mais do que seu bem estar. Mas havia algo maior que apenas a presença de estranhos com eles. Existia a dor de dizer adeus ao passado -Depois de... Tudo - Simon acariciou a bochecha dela com afeto e preocupação, a ansiedade anestesiou cada senso racional que poderia cogitar acionar. Era seu dever, e talvez, não tivera sido cumprido - A Proteção a Testemunha me mandou para a Flórida, depois do funeral, e o Hospital, eu não pude ficar com você...


- Simon - chamou respirando fundo não aguentaria reviver todas aquelas memórias. Acalmar a voz afobada dele, era um lembrete que não estavam sozinhos - Você fez tudo que pôde.'


Depois de tempos e tempos encarando o grande portal de ferro tingido em preto, ouviu a voz familiar, a que lhe perseguiram por muito tempo. Talvez fosse a hora, não era um acaso estar ali, sua vida não tivera sido um acaso. E havia aprendido a não acreditar em coincidências. Não dava para recuar. Se era um caminho sem fim, teria que aprender caminhando. Mesmo que o destino fosse espinhoso, no fim haveria um lago. Onde toda a água a livrariam das impurezas do passado, a puxando para a borda. Impedindo que fosse levada pela correnteza.

- Clary?- havia euforia na voz da morena, além de grande confusão. Conheceria aquela cabeleira ruiva de qualquer lugar. Ela sentia seu coração sair pela boca, sua melhor amiga, quem ela tanto amava, ali, bem na sua frente. As sacolas que carregavam caíram de suas mãos, elas não importavam, não mais. A ruiva se virou melancólica, e sorriu sacana para a amiga.


- Olá, Izzy - saudou ela, sentindo seu olhar queimar - Espero que tenha sentido minha falta - afirmou brincalhona recebendo a mesma de braços abertos, tinha lágrimas nos olhos enquanto abraçava quem não via há anos. Era realmente muito tempo para quem não se desgrudavam uma da outra, para quem foi de assistir filmes juntas para ajudar a encobrir um assassinato e um cartel de drogas. Sem mencionar o grande mafioso que derrotaram juntas. Imbatíveis. Inabaláveis. Pena que vulneráveis.


- Você tem muito o que explicar - disse Isabelle, firme e convicta. O sorriso de Clary vacilou por alguns segundos, mas a amiga sorriu para ela, e um alívio percorreu seu corpo, ela não a culpava, isso era mais que apenas importante para ela.


As duas caminharam alegremente em um silêncio confortável. O jardim havia mudado desde a última vez que o viu, tinha rosas e tulipas preenchendo vastos montes verdes, a grama agora era molhada por uma mangueira, e o pequeno chafariz ainda atraia atenção de borboletas coloridas.


Clary mal notou o visual da companheira, ela usava uma saia preta de cintura alta, com uma blusa branca de ceda, e uma jaqueta vermelha, era presente dela, a ruiva sorriu ao entender que ela realmente lembrava dela, isso foi toda a coragem que ela precisou para subir as pequenas escadas da mansão branca.


- Pessoal, olha quem eu encontrei - Isabelle, sem mais delongas deu espaço para ela, a porta enorme e pesada de madeira em tingimento branco foi aberta, revelando uma ruiva particularmente nervosa, com os cabelos encobrindo seu rosto e suas mãos segurando firme sua bagagem. Ela se lembrou da primeira vez que vinhera ali, foi exatamente igual.


- Quem...- a voz curiosa de Simon falhou, como da primeira vez, ele estava distraído no vídeo game da espaçosa sala, com seus olhos levemente arregalados ele deu um salto do sofá - Você voltou!


- Eu...- ela gaguejou nervosa, com medo de realmente não ser bem vinda, mas foi surpreendida com um abraço apertado do mesmo. Como pudera duvidar que ele a receberia assim? Um abraço caloroso e amigo, que a salvara tantas vezes.


- Ah, Amora, senti tanto a sua falta - Simon fechou os olhos se lembrando de toda a preocupação que tinha com a melhor amiga depois que ela partiu. A saudade conseguia ser diminuída em um rápido movimento comparado a sua preocupação, tudo isso se esvaiu ao perceber que a pequena em seus braços retribuiu o abraço como se sentisse tanta falta quanto ele. Izzy olhava aquela cena com um sorriso estampado no rosto, mesmo sempre tendo uma queda pelo Bad boy Simon, nunca sentiu ciúmes da relação dos dois, ao contrário, se sentia eternamente grata, por ter não só um, mas sim os dois em sua vida. Isso com certeza não tinha preço.


- O que tá rolando? Tiveram notícias do...- Alexander descia as escadas afobado, não só pela preocupação com o irmão, mas sim pelos gritos eufóricos que ecoavam do andar de baixo, ao ver quem tanto tinha carinho, paralisou - Não brinca!


- Vem aqui, Grandão - Clary ergueu os braços sorridente ao moreno, sentia falta dos abraços fraternais que Alec sempre tinha dispostos a dar, perdeu a timidez e o receio ao sentir abraços lhe rodeando alegremente, ela havia quase esquecido como era. A sensação de ser querida, amada.


- Ah Moranguinho, não faça mais isso comigo - afirmou a rodando no ar, por mais alegre que estivesse claro em seu tom, tinha preocupação, o que sentia por Clary, era comparado ao que sentia por sua irmã, e ela sempre seria a sua mais nova, ou como adorava chamar, sua Moranguinho. Ao ouvir a tosse fingida da irmã, corrigiu-se: - Conosco.


- Vou fazer o almoço, alguém...- Magnus entrava pela sala, prestes a pedir ajuda para o castanho Simon, sabia que o mesmo não ajudaria em nada, mas adoraria implicar com ele toda vez que fizesse algo errado.


- Olha Purpurina, se quiser eu posso cortar algumas coisas - sugeriu a ruiva amorosamente, lembrava claramente das tamanhas façanhas que Magnus tinha na cozinha, como quase nunca participava das missões no Sul, ele sempre os recebia com uma comida na mesa. A cozinha se tornara não só um refúgio, mas também um grande confessionário. Magnus, talvez mais que todos, exceto por Simon, fosse quem sabia mais sobre seu passado. Sobre quem um dia foi, mas como o asiático uma vez lhe disse, duvidava ainda não ser aquela mulher.


- É você mesmo, Docinho?- indagou se aproximando, lançando um olhar de afeto para a mesma, não podia acreditar, ao longo desses três anos, todos os dias, era perguntado se havia notícias dela, era tão reconfortante saber que ela estava ali, e bem, com seu sorriso lindo e seu humor prestes a alegrar todos a sua volta, era incrível.


- Como pôde me confundir?- seu teatro ofendido fez todos na sala rirem, os sorrisos claros em casa um era contagiante a qualquer um que entrasse pela porta ainda aberta, o dia raiava em um Sol brando e leve, assim como o clima daquele cômodo. As coisas enfim pareciam estar em seu devido lugar.


Em poucos minutos estavam sentados, ou melhor, esparramados ao sofá com Isabelle lhe atualizando de tudo, ninguém ali tinha coragem de perguntar por onde ela andava, ou por que exatamente foi embora, afinal, tudo estava certo. Depois de brigas, sequestros e mortes, estava tudo em seu devido lugar, mas ela partiu, todos a conhecendo como conheciam, entenderam que teve uma razão, e sabiam que o Chefe, o Herondale, o querido irmão, cunhado e parceiro, sabia de tal motivo, talvez até o fosse, apenas faltava coragem para perguntar. Ou um coração extra para usar após Herondale os matar.


- Clary... Olha não sabemos o que aconteceu - Alec não conseguiu segurar sua preocupação, era inevitável, interrompeu o ar de conversas agradáveis, mas seu olhar não era severo como Clary esperava, era apenas preocupado - Mas sabe algo do Jace?


- Sei - afirmou baixo, antes de se levantar do sofá. Ansiedade se empregnou em suas veias - Mas quero saber o que vocês sabem primeiro.


- Depois que você foi embora...- Simon começou nostálgico, em parte confuso pelo mistério implantado na conversa - Jace começou a fazer viagens de negócios atrás de novos comerciantes.


- A morte de Valentine causada por nós, e a queda da máfia de Paris, chegou em ouvidos de alguns aqui. Então pararam de fazer comercialização conosco - Izzy explicou, a morena, como a boa mulher inteligente que é, havia pesquisado e memorizado todos os dados sobre cada negócio feito, era claro que tinha caído grandiosamente em relação aos cálculos e lucros passados - Ele focado em algo, ou apenas motivado em mergulhar fundo nisso...


- Pra mim ele só queria te tirar da cabeça - murmurou o Purpurina indiferente, os olhos de todos se arregalaram em imediato. Como dizia, a verdade era melhor omitida.


- Magnus!- repreenderam enquanto Clary se encolhia, visivelmente claro que sabia o que realmente tinha acontecido, e não parecia gostar muito de lembrar. Ela piscou e balançou a cabeça, um gesto quase invisível, mas Simon notou, e conhecia aquele olhar na melhor amiga. Era tão inesperado quanto o sol naquele inverno.


- A única coisa que sabemos - Alexander prosseguiu, olhando firme para o namorado, em repreensão, embora sua atenção não estivesse focada nele - É que há um novo traficante perigoso, estávamos tentando descobrir quem é, mas não achamos nada...


- Jace quis ir mais a fundo, e procurar por si próprio - prosseguiu a fala de Alec, não parecia muito surpresa, na verdade esperava isso dele - É claro que o meu Loirinho tem que se meter em tudo - revirou os olhos exausta, o quarteto de morenos se entre olharam, estava claro que algo tinha acontecido, e ela sabia disso, mas estavam surpresos por ela o chamar pelo tão amado apelido, depois de uma saída tão longa, e todas as razões apontavam para Jace a causa, ela continuava afetuosa quanto a ele.


- Você nunca para de me surpreender, Foguinho - a voz rouca e sedutora de Jace ecoou pelo cômodo, ela arregalou os olhos. Quase deu um pulo junto ao seu coração acelerado. Seria mentira dizer que não o vira há três anos, mas uma parte dela gritava para mandar todos fecharem os olhos e pular nos braços de seu Loirinho e nunca mais soltar, na verdade, já havia prometido isso ao mesmo, mas pelo visto, não fora devidamente cumprido.


- Jace!- foi uma exclamação em conjunto, era vozes aliviadas, logo pularam em seu abraço, mesmo que ele odiasse isso, nunca tinha abraçado ninguém com afeto_ a não ser Clary _ desde seu fatídico passado com o tão famoso amor. Uma ferida não curada, mas passada, e talvez, para a desgraça dele, nunca cicatrizada.


- Não vai abraçá-la?- perguntou Isabelle incrédula, afinal, ele só abraçava ela, ao ver o tão querido casal _ ao menos, esperado pelo quarteto _ se encarando, em breves olhares sedutores da parte dele, e intimidadores dos dela.


- Vocês não se vêem há três anos - incentivou o moreno mais velho, arqueando as sombrancelhas. Quem diria que se tornaria o maior incentivador deles. Ambos sorriram ao ouvir.


- Qual é, Herondale! - Magnus revirou os olhos em um tédio intrigante - Você ficou que nem um bebê quando ela foi embora - bufou, fazendo Jace o fuzilar com o olhar, todos na sala soltaram risos reprimidos, vendo Clary soltar um sorriso superior ao mesmo.


- É aí que você se engana, Alec - disse o loiro, ignorando o comentário do cunhado, olhando fixamente para a ruiva a dois metros dele. Clary odiava aqueles momentos, em que ele agia como se tivesse tudo nas mãos, cada coisa ocorresse de acordo com o planejado. Como aquele que permanece - Eu vi Foguinho muito antes de vocês, não é, meu amor?


- Me deixe explicar isso primeiro, Loirinho - Clary aliviou sua barra, não deixando de notar o arrepio que lhe tomou ao ouvi-lo chamando de amor. Como não ouvia há três anos. Claro que o sarcasmo e o desejo era presente na voz de Jace, mas não evitou sorrir sacana, e morder levemente o lábio finalmente notando em seu corpo, revestido com uma calça mostarda e uma blusa clara, com a clássica jaqueta preta, a mesma que ela lhe presenteou, mesmo com a blusa fina, se notava seu abdome definido. Seus olhos pareciam mais claros, o mesclado de cores era vivo, porém, tinha olheiras em seu rosto preso em um sorriso cafajeste. Seus cabelos como da última vez que viu, estavam maiores, porém continuavam sedosos, talvez até mais do que os dela.


Jace não evitou sorrir ao ouvir seu tão querido apelido, enquanto a ruiva que - mesmo sem demonstrar - fazia seu coração acelerar, se virando e caminhando pela casa, como fez anos antes. Ele admirou aquela cena. Desejou trancar a porta, selar todas as janelas e nunca permitir que ela pisasse um pé lá fora. Para longe dele. Sabia que não podia fazer isso, não só pelo motivo óbvio, mas de qual adiantaria, afinal, quem a afastou primeiro foi ele, não ela. Alec, sendo o último a seguir a ruiva, conhecendo bem o irmão, notou o sorriso genuíno na qual não via a muito tempo, depois a pequena hesitação.


- Você nunca vai dizer a verdade a ela, não é?- como um bom irmão mais velho, Alexander deu seu melhor tom reprovador a ele. Sabia bem mais que qualquer um.


- Alec, não vai querer ouvir a história?- Jace recuou da pergunta, seguiu todos pela casa deixando sua mochila jogada pelo chão, vendo o mesmo bufar revoltado por ser ignorado. 


O moreno nunca entendera de fato o porquê de toda a hesitação. A negação de dizer que a amava. Sabia e entendia mais do que ninguém o que seu irmão adotivo passou, mas via como ele olhava para Clary. Era muito mais de que como o amor passado, não era apenas desejo como o mesmo fazia parecer, tinha preocupação e afeto toda vez que ele a olhava, com seus olhos atentos e silenciosos. Alexander reparava quando Jace parecia notar o que disse, fez ou olhou, de um modo que o lembrasse que a amava. O jeito como ele se recompunha toda vez, fazendo alguma piada sarcástica, ou quando o pegava no ato a admirando enquanto falava, as pequenas brechas que só os mais velho dos Lightwood notava. Isso, o intrigava.


- Corta isso aqui para mim...- o pedido de Magnus era ansioso, estava quase tão curioso quanto os outros, cozinhar sempre o acalmava, mas seu instinto de investigação falava sempre mais alto.


- Bom, eu começo ou você começa, Loirinho?- indagou ela, começando a cortar as cebolas que lhe foi passado. Ela estava em pé com um pequena tábua de madeira na bancada onde estava apoiada, assim como Izzy que sentou em uma banqueta ao seu lado, Simon que se acomodou na pia de mármore, Alec que estava apoiado na grande mesa de jantar, um pouco afastado. Já Magnus pegava alimentos apressado pelo horário.


- A honra é toda sua - murmurou se escorando na parede, não podia deixar de notar o sorriso nos lábios carnudos e rosados de Clary. Apenas em pensar neles, sentia um arrepio pela sua coluna. Seria uma bruta mentira dizer que nunca os desejou mais uma vez, porém, duvidava que depois de tudo que aconteceu, algo mudasse entre eles. A não ser, é claro, com suas provações diárias.


- Depois que fui embora, não voltei a minha vida antiga - ela olhou fixamente para Simon, que suspirou alto, como se estivesse respondendo uma pergunta secreta entre os dois. Foi quando todos no cômodo, inclusive o que cozinhava, pararam para perceber, que depois de um pouco menos de um ano, mesmo a amando como alguém da família, nunca descobriram nada sobre seu passado. Exceto sobre o pai mafioso, a morte trágica da mãe, e a liderança do Norte com o irmão. Os dois sempre foram os misteriosos, com passados escondidos, talvez obscuros. Secreto, parecia ser o lema deles, mas Jace conhecia bem Clary para notar que ela ficava triste, talvez apavorada quando falavam disso - Mas fiz trabalhos, andei de estado em estado, país em país por um pouco mais de um ano.


- O que fazia?- indagou Izzy curiosa, os olhos negros esbugalhados em curiosidade admirada, todos pareciam um monte de crianças ouvindo uma história.


- Era uma ótima caçadora de recompensas - Jace elogiou, ele a acompanhava em segredo, cada passo dela, isso incluía os muitos ladrões que sua Ruiva pegava. Claro que depois de muitos infiltrados trabalhando para ele, descobriu coisas que lhe causaram ciúmes, talvez até inveja, mas isso não parecia importante no momento. Acompanhando o sorriso satisfeito de Clary em sua direção, o quarteto claramente notou a trocada de olhares do casal, e não evitaram rirem silenciosamente, com um toque de malícia, assim como Magnus que dava um toque de orégano em sua comida.


- Há dois anos o FBI me procurou - afirmou a Ruiva pesarosa, por algum motivo intrigante, falar sobre essa organização a deixava desconfortável, ao ponto de vista de Jace, até com raiva, o que seria considerado talvez até maluquice para todos. Clary era sempre calma e singela, mas tinha seus momentos de teimosia, e como ele odiava eles.


- Sobre a Proteção de Testemunha, ou...?- o tom sugestivo e misterioso de Simon, não os surpreendeu, pelo visto, aquilo não havia mudado, eram proibidos de falar. Não que alguém tivesse perguntado. Era claro o ar mórbido e triste que assolava toda vez que iniciavam esse curto assunto. Ninguém perguntava, não ficavam exatamente a vontade ainda para falar, mas Jace tinha percebido o olhar distante de Clary ao tocar neste breve assunto, ela perdera uma pessoa, compreendeu, e sua clara e passada hesitação em um romance passado entre os dois, justificava um clássico e infelizmente monótono, coração partido.


- Os dois, Simon, encontraram eles - os dois melhores amigos paralisaram em um complô apavorado, com seus olhos marejados. Clary gemeu - Argh.


- Clary - o chamado alarmado de Izzy, fez Jace dar passos lentos, porém preocupados em sua direção, era penas um corte no dedo indicador de sua mão esquerda, provavelmente a pequena hesitação foi uma bela armadilha da faca afiada em suas mãos.


- Eu...- a voz embargada de Clary era surpresa, parecia apenas ter notado agora o que acontecia - Eu estou bem - afirmou atravessando a bancada e Magnus, lavou seu dedo sangrento na pia. Simon a olhou cauteloso.


- Foguinho, está chorando - lembrou Jace calmo e sereno, já havia notado que não deveria insistir em tal assunto, e em meio a lágrimas silenciosas, ela sorriu para ele.


- É a cebola - falou como se nada tivesse acontecido, mas não parecia fingida, apenas realmente bem. Era assim que se sentia quando Jace a chamava, e Simon, que sabia todo o passado da ruiva, soube desde a primeira vez o que aquela trocada de olhares significava, só havia visto uma vez no olhar dela, por isso apoiava todo o romance _ ou a falta dele. Sobretudo, independente de sua lealdade ao Jace, o ameaçou em segredo de muitos socos depois de Clary ir embora, apenas por não perder seu cargo na mansão e no emprego, Simon entendeu que Jace realmente amava a ruiva e estava prestes para ser punido por isso com prazer, apenas não estava pronto para dizer.


- Algum dia terão que explicar essas trocada de olhares - Magnus murmurou, mas não tinha acusação em sua voz, apenas curiosidade cautelosa, porém ambos os amigos sabiam que após revelarem a verdade, o olhariam de forma diferente, principalmente para Clary. Embora Simon adorasse a ideia de se abrir, sua preocupação com o bem estar dela, era maior que isso, e no fundo Jace também pensava assim.


- Bem - prosseguiu - Como eu dizia... O FBI me encontrou na Flórida, depois de resolvermos coisas pendentes, me ofereceram um trabalho, queriam os meus dotes de interrogatório.


- Não brinca?- foi um coro em surpresa. Definitivamente, por mais teimosa e defensora que imaginavam ser Clary, nunca pensaram nela trabalhando para uma organização, não tão secreta quanto para os federais.


- Fiquei cerca de um ano trabalhando para eles - era inédito aquilo para ela, anos atrás nunca se imaginou tgrabalhando para eles, não depois do que fizeram com ela. Mas ela sabia que era o único jeito de não ser presa - Não chegava a ficar muito tempo lá, apenas ia quando precisavam - deu de ombros, balançando suas pernas sentada na bancada.


- Pagavam bem?- perguntou Alexander interessado, Clary riu pelos olhares curiosos.


- Bem melhor que o Jace - brincou ela, virando seu olhar ao mesmo, que a encaravam com admiração.


- Se bem que acho que você também recebia outro tipo de pagamento...- murmurou Magnus, a fazendo corar, e o loiro gargalhar como não fazia a um bom tempo.


- Não posso negar, mas tenho certeza que não te trataram tão bem quanto eu - se exibiu se aproximando da ruiva, que sorriu sacana em sua direção.


- Temo em concordar - admitiu maliciosa, mordendo um morango que antes se encontrava em uma tigela amarela ao seu lado na bancada - Eles não tinham morango com chocolate - sorriu após sua fala, lembrando da tão prazerosa noite em frente a lareira da sala, era claramente uma piada interna, mas que fez Jace rir fechando os olhos trazendo a tona a lembrança.


- Ah Foguinho, faço questão de ter isso bem na minha geladeira - rebateu no mesmo tom, com os olhos carregados em desejo. Sabia que estavam sendo observados, e provavelmente não podia demonstrar seu real afeto no passado, na época, era perigoso, se alguém descobrisse _ inclusive Clary _ que ele sentia algo a mais por ela, a ruiva se tornaria um alvo, não só do pai dela Mafioso, mas também dos centenas de traficantes que tinham uma rixa com o Herondale. Embora o desejo sendo claro em sua voz, seu olhar em parte com luxúria, lembrando de seus lábios correndo por seu corpo, sentindo seu gosto, havia preocupação.


- Sabe que eu prefiro quente - murmurou manhosa, alongou seu pescoço em um movimento rápido, por não querer perder o foco, sem nem ao menos ter sido tocada.


- Acredite, - assegurou - vai esquentar.


- Eles estão falando do que eu acho que estão falando?- Alec se aproximou e sussurrou no ouvido da irmã incrédulo.


- Acho que sim, maninho - afirmou Isabelle rindo baixo com malícia, vendo os dois morenos do outro lado da bancada ainda perplexos com o rumo que aquela conversa havia tomado.


- Onde eu estava?- Clary se recompôs, coçando a garganta, enquanto o loiro a sua frente mantinha seu olhar penetrado nela - Ah sim, eles acharam que eu era muito boa, e me colocaram no estágio do FBI.


- Como se você precisasse - Simon riu, mesmo sabendo que a ruiva era boa, tanto na luta corpo a corpo quanto nas armas, era preciso um treinamento teórico, mas não duvidava dela, rapidamente seus olhos se arregalaram, tinha preocupação em sua voz - Mas eles deixaram passar, tudo o que aconteceu? Tudo que fizemos?- era uma pergunta confusa quando se tratava dos dois.


- Bom, a morte dele pagou por isso não é?- indagou retórica, há um silêncio na cozinha, era o máximo que ela havia dito sobre o assunto desde que todos a conheceram, ela pareceu não notar o que disse, pois continuou - E ele não me ensinou tudo sobre o FBI - ele arqueou as sombrancelhas em sua direção, ninguém interromperia aquele momento onde, hipoteticamente havia um cara morto envolvido - Talvez os ensinamentos dele tenham me ajudado, mas enfim...- ela respirou fundo antes de prosseguir - Em uma das aulas apareceu um criminoso na América do Sul.


- Você não estava por lá?- Alec franziu o cenho, pela suposta conhecidência.


- Assassinato em massa, meu Loirinho ficou famoso - ela continuou, como se fosse a coisa mais normal do mundo.


- Eu não matei ninguém - se opõs calmamente, ao verem os olhares arregalados em sua direção - Bom, não nesses momentos - bufaram - Era uma gangue que traficava, queria interrogá-los para me darem seu fornecedor, mas ao que parece, os federais também estão atrás desse novo cara, então quando me encontraram ao pé dos corpos...


- O FBI mandou uma SWAT para prender ele, vivo ou morto. - acrescentou, se lembrando do susto que levou ao ver a imagem de quem não vira há três anos - E se tratando de Jace, é melhor morto.


- Não posso discordar - tivera feito coisas horríveis na vida, não tinha nada que pudesse fazer para negar isso, talvez seja o eterno motivo que afastou Clary de sua vida.


- Então eu os convenci a me levarem - lembrou claramente da frase que disse ao seu antigo diretor.


- ' Eu vou nessa missão caso queira ou não - dissera ela, ameaçadora - Deve conhecer meu histórico, então sabe que não brinco em serviço. Se for sobre minhas habilidades, me coloque para lutar contra qualquer agente escroto daqui. O desarmarei e o colocarei no chão antes que possa me desmerecer por ser mulher. A não ser que queira fazer parte do teste. Vou adorar destruir você, querido Diretor.'


- Convenceu os seus superiores do FBI a levar uma estagiária para uma missão onde iria ser pego o criminoso mais procurado da América do Sul, que por um acaso é seu ex?- Isabelle recapitulando sua mente questionou, não querendo acreditar no perigo eminente. O casal interrogado não pareceu se incomodar pela suposição de Isabelle, por mais que no passado os dois quisesse manter em segredo quaisquer relação que tiveram _ carnal ou amorosa_, nada passava pelo faro do quarteto de morenos, e apenas o modo como se olhavam, e como se olham agora, com arrependimento, saudade e desejo, só comprovava o fato de que no fim, sempre vão terminar juntos, ao menos, ligados enquanto se amassem.


- Basicamente. - a ruiva deu de ombros, apenas pensando no que aconteceria se não tivesse interrompido a missão, talvez ele estivesse morto, e ela definitivamente não queria pensar nisso.


- Acredite - Jace protestou, furioso, era inevitável não ter raiva de Clary por se espor por algo tão tosco - Eu já reclamei muito com ela por se colocar em perigo. - afinal, para ele, o que são federais.


- Não sei como não pediu para liderar tudo... - Alec não pode esconder a incredulidade em sua voz. Claro que era grato por sua Moranguinho ter salvado seu irmão, mas não imaginava o que significaria se tivesse acontecido algo, não temia apenas por ela, mas sim como isso afetaria sua família, principalmente Jace.


- Eu pedi. - ela deu de ombros, não entendendo os olhares de preocupação, sabia que fariam o mesmo - Não deixaram.


- Clary, já falou com o seu irmão que voltou?- indagou Isabelle franzindo o cenho, conhecia a super proteção de Jonathan quase tão bem quanto seu charme, e sabia que ele não gostaria nada de ver a irmã novamente no mesmo cômodo que Jace, o mesmo suspirou desconfortável mente, não só por se lembrar de alguém tão inoportuno, mas pelo envolvimento dele logo após a saída de Clary.


- Não - respondeu nervosa olhando de soslaio para seu loiro que abaixou a cabeça.


- 'O que acha que vai ganhar fugindo Clarissa? Vai sair correndo com o rabinho entre as pernas, como nossa mãe fez?- a voz bruta de seu irmão a fez corromper sua tristeza e substituí-la por raiva.


- Pelo menos, ela se importou o suficiente comigo para me deixar - fora a última coisa que dissera ao irmão ao longo de três anos. Amava o irmão, mas às vezes, seu auto controle era parecido demais com o de seu falecido pai.'


Jace não tinha apenas um passado encoberto com Jonathan, mas sobre todas as verdades que ele dissera ao loiro depois da partida de Clary, em uma das muitas vezes que pensara em ir atrás dela, ele intervia, e relembrava o quanto ele era ruim para ela, o quanto a fez sofrer não só pelas mãos do pai. Mas ele a amava, e isso o consumia, o drogava, o viciava.


-' Não preciso provar nada. - afirmara ela superior, enquanto sussurrava em seu ouvido. Ele cometia o erro de substimá-la - Acontece, que eu beijo muito bem, infelizmente, você nunca vai descobrir.


- " Never say Never "- cantarolou ele distraído.


- Obrigada por isso, Justin Bieber. - agradecera sorrindo com malícia - Mas não, não vai rolar. - recordou que no mesmo dia se beijaram loucamente na bancada daquela mesma cozinha. A primeira pegação a gente nunca esquece. Lembrava de sua língua explorando cada pedacinho da boca dela, era suculenta, era com certeza o melhor beijo que já dera. Lembrava da bruta e inoportuna interrupção, e de como fingiram que nada aconteceu, mas o gosto do beijo, a sensação quente e prazerosa de estar nas nuvens, os atraiu muito mais vezes.'


- Eu...- hesitou, nervosa - Eu vim direto pra cá, sinceramente, eu não quero ser um incomôdo, então se quiserem, eu posso...


- Você não vai sair daqui - todos disseram juntos, se levantaram brutalmente. Seria um eufemismo dizer que a manteriam apenas presa, mas não queriam que ela fosse embora, na verdade, se ela ficasse para sempre, ninguém se incomodaria, era uma grande alegria tê-la novamente em sua casa, sempre um novo raio de Sol a cada manhã.


- Sem problemas pessoal, eu posso arranjar um hotel - divagou relembrando todos os hotéis de Nova York, se é que ainda lembrava deles, afinal, na luta contra o Mafioso, ela fora despejada de seu apartamento. Embora soubesse que seu irmão provavelmente devia ter mexido uns pauzinhos para ela ter um motivo para ficar em sua mansão. Porém, com o perigo eminente, não podia ficar no lugar mais óbvio onde Valentine a levaria com ele sem muitos problemas, por isso acabara na mansão do lado Sul, em parte sempre achando que a insistência da melhor amiga fora maior do que enfrentaram. Clary apenas concordou em ser arrastada para lá, e mesmo sofrendo com a despedida sofrida, que não aconteceu, de seu Jace, e de sua família, ela não se arrependeu em nenhum momento de conhecê-los, talvez quisesse uma máquina do tempo para voltar e apagar tudo o que aconteceu diante a breve declaração de Jace dizendo que tudo acabara.


Ao olhar nos olhos dele, tudo que enxergava era sua dor em dizer aquilo. Algo lhe dizia que não se encontrariam de novo, e caso se encontrassem, teriam o mesmo fim.


-' Só, apenas me diz - ela suplicou, sentindo lágrimas queimando em seus olhos, fazendo Jace finalmente levantar o olhar para ela - Daquela pergunta que venho remoendo a muito tempo. Jace, o que somos?


- Clary...- chamou ela, magoado, afetado. Como se tivesse levado um tiro. Realmente não podia entrar nesse assunto, não podia suportar mais a verdade que queria gritar aos quatros ventos. Estava se apaixonando de novo, finalmente abriu seu coração, apenas não podia. Não podia fazer isso com ela. Submete-la a um final perfeito que ele nunca teria. Não sendo quem era. Era uma escolha que ele nunca estaria pronto para fazer.


- Você disse que não podíamos ficar juntos - apontou embargada pelo choro, sabendo que naquele momento teria seu coração despedaçado, de novo - E eu acreditei em você. - ela desce seu olhar a taça de champanhe em suas mãos. O jantar de gala na mansão ainda prosseguia, mal sabiam todos que teriam corações partidos naquela noite - Eu sempre tento seguir em frente, mas daí você aparece, agindo como...


- Agindo como o quê?- indagou automaticamente, estreitando os olhos em sua direção.


- Como...- ela suspirou firme, secando rapidamente as lágrimas por suas bochechas, como Jace se coçava para fazer - Talvez você apenas queira que eu seja infeliz.


- Nunca desejaria isso a você - as palavras escapuliram de sua boca em um automático ensaiado, parte dele pensava em como ela pudera pensar nisso, logo vindo dele - Tudo que eu quero é que seja feliz.


- Então olhe bem fundo na sua alma, - ela o encarou convicta - que eu sei que tem, e diga que o que sente por mim é verdadeiro. Ou é só um jogo. Se for real, daremos um jeito de nos entendermos apesar do nosso passado. Todos nós. Mas se não é. Então, por favor, Jace, por favor, deixe-me ir.


Ele respirou fundo antes de responder algo que mudaria sua vida, e destroçaria seu coração novamente.


- É só um jogo - afirmou abrindo um sorriso triste de lado - E odeio perder. Está livre para ir.


- Obrigada - ao se virar sentiu lágrimas escorrem por seu rosto. Se esforçara para atravessar as pessoas que comemoravam a vitória enquanto ela apenas perdera alguém que nem ao menos tinha de verdade. Seu vestido longo parecia não colaborar. Sentia olhares preocupados em sua direção, inclusive de sua família, ela parou por instantes, secou seu rosto em um movimento rápido, balançou a cabeça antes de sair pelas duas portas brancas, nada havia acontecido agora, afinal,- É só um jogo.'


Depois desses últimos momentos, qualquer um gostaria de uma máquina para reverter tudo que fizeram de errado. Tudo que não admitimos prontamente a melhorar, mas sim o que pecamos em deixar o vento levar. Todas as coisas que se acumulam ao passado e se tornam um peso para o próspero futuro. Resultando no estrago de seu presente.


Jace se arrependia do que disse. Talvez se fosse mais grosso, mais direto, ela não voltaria. Seu vício não voltaria. Ela era seu raio de Sol. A chama que estaria pronta para incendiar toda a floresta em um piscar de olhos. Isso o fazia Jace querer arrancar suas roupas e sussurrar em sua orelha que a amava ali mesmo, na frente de todos. Talvez não na frente deles apenas, por inveja deles verem seu corpo, mas não queria apenas saciar seu vício, queria dizer que a amava. Queria levá-la para uma ilha deserta e viver até o final de seus dias ali, mas aquilo na mente de Jace não parecia certo. Aquele era o final perfeito que ele nunca teria. Ele não era merecedor de tamanha graça e gentileza. Não merecia acordar de madrugada com o corpo de Clary ao seu lado com seus cabelos ruivos jogados e esparramados por seu rosto. Ele não era digno, ninguém era. Mas sabia que eventualmente não seria apenas o passado revelado, mas também novos perfis ilusórios da perfeição do conto de fadas que ele nunca daria a ela. Ou talvez mais alguém tão ferrado quanto ele. Não poderia dizer que não ameaçaria, talvez até mataria, qualquer um com segundas intenções diante da sua ruiva. Era inevitável, quase como respirar. Seu ciúmes não seria encoberto por muito tempo e ele sabia disso.


- Foguinho - chamou Jace, não escondendo seu tom de desaprovação - Você nunca mais vai ficar longe de mim de novo - a reação automática dele fez todos engolhirem em seco. Não queriam que ela fosse embora, porém o jeito profundo que foi dito os tocou, e apenas pelo clima tenso que se instalou, notaram que eles tinham muito o que conversar e que eles não deviam ser os reponsáveis por sua falta de comunicação.


- O almoço está pronto - Magnus interrompeu o silêncio, com a ajuda de Simon, levava as travessas com comidas quentes e saborosas para a mesa.


O Purpurina sabia, não só pelo seu namorado, mas era óbvio a forma protetora que Jace olhava para a ruiva. Ele, entendendo a forma profunda que se tratavam que se amavam, coisas que poucas pessoas não notaram, o passado de Sheldon _como insistia em chamar_ e Clary, nunca o incomodou. Mesmo fazendo parte dele. Afinal, todos tinham segredos. A vida deles em si era em secreto, o que considerando a personalidade forte e chamativa de Magnus, era quase impossível. E apesar de toda saudade e preocupação que sentiu por sua Docinho, não a culpava por ir, apenas compreendia que muitas vezes o medo pode nos acovardar, porque era exatamente isso que o amor trazia, medo.


Enquanto todos se sentavam a mesa, começaram conversas fluidas e atualizações de tudo que houvera acontecido. O olhar de Jace era fixo em Clary, não estava com fome, apenas olhava a expressão da ruiva em busca de algo, mágoa, tristeza ou até raiva, e encontrou.


- Então...- Isabelle ousada como sempre, coçou a garganta, e divagou suas teorias sobre o tão amado casal - Por que não vieram juntos? Ah vocês sabem, estavam no mesmo lugar... Aconteceu, alguma coisa, que possa ter interrompido vocês dois?- a suposição maliciosa de Izzy fez todos os olharem curiosos. Estavam se encarando. Cada um em uma ponta da mesa de seis lugares, queriam se decifrar, Jace riu e abaixou a cabeça.


- Não - afirmou Clary convicta, tentando transparecer despreocupação - Não aconteceu nada, não é, Loirinho?


- Claro que não - falou carregado em sarcasmo. A Ruiva apertou os olhos lembrando dele a pondo contra a parede, beijando seu pescoço e provando de sua boca com gosto de tequila. Não era algo que se orgulhava, mas que provavelmente, iria se repetir. Ele suspirou antes de beber um longo gole de sua cerveja - Ao menos... - acrescentou, não sem malícia - Não sóbrios.


O quarteto riu baixo, quase como um sussurro, enquanto Clary se afogava em sua bebida. Jace tinha uma expressão de satisfação no rosto, mas com algo que não podia explicar. A queria longe, porém precisava dela perto. Era um vai e vem sem fim, um lup carregado em voltas infinitas de linhas tênues. Era confuso demais, até mesmo para ele.


Era óbvio que depois da vitória do casal repelido, Jace insistiu em lhe pagar uma bebida, embora toda vez que fechasse os olhos lembrasse dela indo embora, e talvez fosse o motivo de mantê-la perto, mesmo que por um curto período. A Ruiva depois de muita insistência aceitou, em parte por ter sido encurralada pelo FBI, um ex _se é que podia chamar assim_ não faria diferença. Claro que depois de doses e doses de tequila, estavam alterados e com desejo a flor da pele. Porque era assim que funcionava. Eles se atraiam feito imãs, mas o beijo, a pegação no corredor do banheiro sujo do bar, não era apenas carregada em luxúria, tinha coisas demais juntas em um momento só. Apenas três anos longe. Afastados pelo mesmo motivo que tanto temiam, o amor. E mesmo se corroendo em receio de tudo dar errado, não podiam evitar, eram apenas eles. Clary e Jace.


- Ok - Alexander se atreveu em dizer algo primeiro, embora estivesse se divertindo com a situação - Moranguinho, irá voltar ao trabalho com a gente?- perguntou eufórico. Logo o assunto fora esquecido, e todos pareciam cruzar os dedos para que ela a aceitasse, já Jace, fechou a cara, em raiva e preocupação.


- Ei, vai com calma - ele se opôs rapidamente - Ela só participava de algumas coisas por causa do pai - afirmou, recordava de todas as missões na qual ela participou, era apavorante lembrar que ela quase morrera em várias delas - Agora que não temos mas nenhum psicopata possessivo a solta, ela ficará em casa - disse firme, pensar em Clary em perigo, mesmo que soubesse que ela sabia se defender, sem que estivesse ali para protegê-la, era inadmissível ao ver dele.


- O que?- indagaram todos juntos incrédulos, até ofendidos por ele não confiar o suficiente neles para protegê-la. Não que ela precisasse, ao menos não aquela Clary, pois era óbvio o quanto a mesma mudara, e isso ninguém podia negar.


- Você não tem esse poder de escolha sobre mim - Clarissa se alterou, opondo-se contra ele. Não entendia por que ele negava. Apreocupação clara em sua voz. Para quê tanta preocupação se nada havia de fato acontecido, se tudo fora um jogo sem sentido _prazeroso por assim dizer_ não tivera valido nada a ele, então o que tanto o impedia?


- Sim, eu tenho - afirmou impaciente, se levantado junto a ela - Sou o Chefe, e digo que você não sairá daqui para nenhuma missão perigosa, no máximo pode ficar no rádio.


- Por que isso agora? Quero dizer... - ela balançou a cabeça e riu sem humor - Depois de tudo, você se importa?


- Me importo em perder você, Foguinho - falou sincero com a voz falhada, não era isso que iria falar, não era o que podia falar.


O silêncio tomou novamente o cômodo. Perderam minutos se olhando profundamente. Era claro que muita coisa ainda teria que ser falado, mas não conseguiam. O quarteto de morenos claramente desconfortáveis ficaram entre olhando o casal, a espera de algo milagroso ou catastrófico acontecer. Queriam interferir, apesar de não saberem exatamente o que iriam interromper.


***


Clary andava pelo corredor do segundo andar da mansão. Em passos lentos e silenciosos, embora não quisesse, era atraída para o quarto dele. Onde tão sorrateiramente saia pela madrugada de noites turbulentas, por assim dizer. A porta de seu quarto estava entre aberta, ao entrar se deparou exatamente com o cenário que lembrava. As paredes em verde musgo, o teto em cinza, a grande cama sob um longo degrau de madeira, que cobria tanto parte da parede, quanto uma facha no teto. A madeira ainda coberta por verniz recebia a iluminação da varanda, onde Jace estava parado. Ela sabia o que ele admirava, era realmente uma boa vista, a esquerda a cidade de Nova York, e ao lado oposto um vasto verde, logo abaixo a grande piscina. Lembrava que amava aquela vista.


- Por que voltou, Clary?- rouco, o loiro questionou. Sem platéia, sem tom sarcástico, apenas frustado consigo mesmo por não suportar tê-la longe. A ruiva não pôde evitar um calafrio correr por sua espinha, ela se aproximou dele, cruzando o cômodo familiar até a sacada que ele tanto admirava.


- Pensei que tivesse parado de fumar - rebateu decepcionada, ainda não tinha olhado em seus olhos. O cheiro de cigarro era óbvio, e isso a magoava, pois o mesmo, há três anos atrás, prometera que tinha parado. Ele nunca mentira para ela.


- Apenas em dias estressantes. - disse, sem muito interesse - Afinal, nem tudo que prometemos é cumprido, não acha?


- Nunca disse que não voltaria - afirmou ela.


- Esse é o problema - murmurou, recuando de um trago, recuando de suas palavras - Eu prometi a você.


- Não se preocupe - assegurou sem muita firmeza - Não estava aqui para questionar.


- Você é inacreditável - riu de sua própria declaração, pisando no cigarro, provavelmente manchando o piso creme polido - Quer saber por que não quero você aqui?


- Deixou isso bem claro - seguiu o olhar que tanto a encaravam, seu tom era ácido. Isso fez Jace apertar os olhos - Sabe, na penúltima vez que nos vimos.


- Me arrependo daquela noite - confessou, desviando o olhar para a vista - Devia ter agarrado o que estava na minha frente - admitiu, vendo a ruiva abaixar a cabeça, acrescentou - No bom sentido, claro, a não ser que...


- É exatamente isso que você faz, Loirinho - Clary declarou, exausta - Você consegue dizer tantas coisas... E às vezes eu me pergunto se você realmente entende o que fala.


- Entendo perfeitamente bem - assegurou.


- Não é o que parece, lá em baixo você...- o instinto protetor que a rodeou foi muito mais do que ele dizia não sentir.


- Não estaria lá para proteger você - admitiu, olhando para o chão, sentido falta de um trago agora, ou apenas querendo algo na sua boca que o impedisse de invadir a dela - E antes que diga, sei que pode se cuidar sozinha, mas não posso me garantir apenas nisso.


- Você mesmo disse que eu era uma ótima caçadora de recompensas, não acha que...- divagou ela mantendo seu tom calmo, afinal, era o máximo que ele dissera sobre isso - Você...- ela recordou das vezes que achava ser seguida, ou de todas as vezes que algum agente do FBI diziam que alguém fora perguntar por ela, os presentes de coisas que gostava na qual sempre recebia, todas as vezes em que achou que tinha um anjo da guarda. Jace a olhou relutante no fundo dos seus olhos, sem fala - Mandou seus capangas atrás de mim?


- Mandei, e não me arrependo - afirmou confiante, não se deixando levar pelo tom incrédulo que ouviu, sua Ruiva não podia estar em perigo, não por causa dele, não por uma negligência tão estúpida, ele a manteria segura, mesmo que isso significasse se manter longe dela.


- Percebe o quão isso soa controlador?- ela sussurrou, seus pensamentos eram brandos e confusos, o que podia dizer quanto a isso?


- Me diz você - ao não ter respostas ele se virou para a vista, para o Sol que já não batia graças a se pôr no oeste - Teve a verdadeira volta dos mortos, não é?- aquela frase teve um impacto diferente em Clary, ela hesitou em pensamentos por alguns segundos.


- O que posso dizer?- entrou naquela brincadeira sarcástica - É a minha especialidade.


- Gostaria que eventualmente sempre estivesse viva - ele retrucou se aproximando de seu rosto - Que não precisasse voltar dos mortos.


- Às vezes...- ela sussurrou quebrando o espaço entre eles - Gostaria que não fosse tão indeciso.


- Sobre o quê - não sabia se tinha soado como uma pergunta. Estava preso na imagem a sua frente, os lábios de Clary, implorando para que fossem sugados, sua boca que com certeza lhe proporcionaria a mesma sensação de voltar aos vivos.


- Me ter - ela murmurou antes de esfregar levemente seus lábios nos dele. Ele se inclinou para frente esperando por mais, porém ela recuou, recuou dos braços que envolveram sua cintura. Caminhou em passos longos e cambaleantes para longe dele.


Seu coração batia desreguladamente. Podia ter um arritmia cardiaca em poucos minutos, seria um elogio dizer que fora o maior tempo que ficaram sozinhos sem segundas intenções - ao menos, não esperadas -, mas Clary estava afetada demais para pensar em fazer algo racional, ou que não vinhesse a trazer consequências no fim.


Jace tinha seus pensamentos bagunçados. Como ela podia mexer com ele sem nem ao menos tocá-lo. Ele não saberia como responder. Se sentia como um adolescente descontrolado de novo. Esse era o efeito que ela causava, como um furacão rompendo tudo o que passa, como uma ressaca avassaladora da manhã.


- Você sempre foi minha, Foguinho - declarou alto o bastante para ela ouvir, e ouviu, pois hesitou antes de ultrapassar a porta.


Naquele momento, ele percebeu. Deixou isso bem claro em sua mente, para lembrar por toda a vida. Ela era uma droga, sua droga, estava o fazendo ser dependente dela, provavelmente iria o matar. De abstinência, ou de overdose.


CONTINUA...




Notas Finais


Bijin amores🧡


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