História New Horizon- Hinny e Romione - Vai Gina!

Apesar de ser outono, a temperatura parecia ter caído a 0ºC aquela noite, após as atualizações de McBurn. A caverna, em geral bastante quente e sufocante, parecia imersa em frio. 

— Mas quem essa sangue-ruim pensa que é? 

McBurn olhava para baixo, evitando a fúria no olhar de Rosier após saber que Hermione Weasley assumiria a divisão de seres e planejava ampliar direitos de elfos, sereianos e lobisomens. 

A ruiva acabara de explodir um bocado de coisas na sede dos tergeanos. 

— Convocarei uma reunião com os inúteis essa noite. Temos que redistribuir as tarefas. Temos que dar um jeito na nojenta esposa do ruivo traidor. Aquela criatura desprezível também ajudou a matar o mestre. Ela estava com os outros dois destruindo horcruxes. Tinha me esquecido dela. 

Uma garrafa era estilhaçada ao ser arremessada na parede da caverna. 

— E quanto a mim? - McBurn tomou coragem de perguntar, ainda de cabeça baixa, quando Rosier pareceu se acalmar. 

— Continue nas graças do ministro.- disse com firmeza, franzindo as sobrancelhas e passando a mão pelo queixo,pensativa. 

McBurn deu um muxoxo de desgosto mas se curvou à mestre e se foi, deixando a ruiva imersa em pensamentos. 

Mais tarde, quando os seguidores mais jovens de Rosier adentraram a caverna, ela começou uma tensa reunião. 

—Greengrass, primeiro as atualizações sobre nosso amiguinho de Azkaban. 

— Tudo certo, mestre. A Imperius continua perfeitamente executada, ele obedece sem qualquer sinal de resistência. McBurn realmente fez um bom trabalho.

— Muito bem, depois o trazemos aqui pra começarmos a mexer os pauzinhos em Azkaban. 

Todos fizeram que "sim" com a cabeça. 

— Chamei vocês aqui essa noite não para anunciar uma mudança de alvo. De forma alguma. Nosso grande objetivo continua a ser uma fuga maciça de Azkaban e a morte do Potter e do Weasley. Entretanto, vamos acrescentar mais um alvo à nossa lista. A sangue-ruim Weasley, nascida Granger, esposa do ruivo, que ajudou Potter a matar o mestre ao destruir as horcruxes. 

Selwyn deu um muxoxo de desprezo e Crowerd Jr fazia cara de quem tentava espantar uma lembrança irritante, certamente lembrando do rigor de Hermione enquanto monitora e monitora-chefe. 

— Além de ser sangue ruim, essa atrevida criatura assumiu a chefia da divisão de seres do departamento de Regulamentação e Controle de Criaturas Mágicas, e pretende empestear o conceito de seres com sereianos, elfos e até lobisomem. Não demora ela vai querer acabar com a escravidão dos elfos. 

Os presentes riram, mas se calaram ao ver o olhar da mestre.  

— O que pretende fazer pra chegar até ela, mestre? Estudei com ela em Hogwarts. É muito talentosa com feitiços. 

— A habilidade dela não é páreo a mim, moleque. Não é o que me preocupa- disse, aproximando o rosto perigosamente de Crowerd Jr, que instintivamente inclinou o corpo pra trás, engolindo em seco ao ver a Mestre quase encostando seu nariz no dele, olhando tão profundamente o garoto que ele sequer conseguia piscar. 

—Mas respondendo à sua pergunta, no momento não vamos fazer nada.- A mulher disse, voltando a andar pela caverna, gesticulando. Temos que conhecer o terreno em que pisamos. Quero que sigam ela noite e dia. Descubram se ela tem algo a temer. Tentem localizar os pais trouxas, ela certamente os visita… 

— Mas mestre, não somos animagos como o Sr...

— Se virem!- Rosier trovejou- Apenas descubram qual a rotina dela, nem que pra isso tenham que colar o nariz na janela da casa! 

Ninguém ousou questionar a mulher, cujas narinas dilatadas de fúria quase exalavam fumaça. Se curvaram em reverência à chefe, e se foram. 

[…]

15 de dezembro- Estádio do União do Puddlemore.

Um estádio lotado e barulhento parecia aumentar um pouco a temperatura baixíssima daquele dia de outono. 

—Nem acredito que já é hoje a final!-Gina Weasley comemorava com as colegas de time, todas empolgadas e nervosas em igual medida. 

E eis que o campeonato europeu terminaria da mesma maneira que começou: Harpias de Holyhead x União de Puddlemore. 

A ruiva, que havia entrado no primeiro jogo graças a uma lesão da atacante, passou a assumir o papel de capitã, que cumpriu primorosamente, inclusive durante o reinício do campeonato após a descoberta da fraude do time francês. 

— Muito bom ver que estão animadas, pois será um jogo duríssimo.- a treinadora vinha chegando, séria, pra iniciar a preleção que sempre fazia antes dos jogos, aumentando subitamente a tensão no vestiário das meninas. 

Se o clima era tenso no vestiário, nas arquibancadas onde estavam os Weasley, Teddy e Harry, mal era possível respirar. 

Percy e Jorge estavam com as namoradas ali, aproveitando o momento em família e ansiosos em ver Gina jogando, já que ainda não tinham tido essa oportunidade. 

Audrey, que como Hermione e a Sra Weasley não eram grandes fãs do esporte, estava tensa; mas Angelina, que jogou na escola por vários anos, não podia estar mais empolgada.

— Não vejo a hora do jogo começar!- disse empolgada. 

— Aí, Merlin, pois eu só quero que isso termine logo!- Sra Weasley passava exasperada a mão pelos cabelos.

— Mas nem começou ainda, Sra Weasley!- Harry disse rindo- Gina ainda está no chão, em segurança. 

— Exatamente! E daqui a pouco não vai estar mais. Vocês sabem muito bem que só vim porque Gina me obrigou. Queria ver se fosse esse pequeno em cima da vassoura se você ia ficar calmo assim!- disse, pegando Teddy no colo. 

O garotinho sorria e brincava com os cabelos ruivos de Molly, Harry sorrindo ao observar a cena.

— Ah, lá vem ela!- Mione disse,sem tirar os olhos dos binóculos.

Todos se viraram para olhar o campo lá embaixo, vendo Gina e as demais colegas esperarem o início do jogo à beira do campo. 

— Não fosse o binóculos não enxergaria jamais. Estamos muito alto!- Ron observou, tirando o binóculos e passando-o pra Harry. 

Estavam no camarote, junto com as famílias das demais jogadoras. 

— Cara, sem querer bancar o irmão preocupado, mas olha o tamanho dos atacantes do Puddlemore?!- Ron disse baixinho no ouvido de Harry. 

O moreno concordou com a cabeça. 

Arthur, Percy e Jorge distribuíam bottons com o rosto de Gina e o brasão do Harpias de Holyhead em todo o camarote. 

— Nunca vi o Sr Weasley tão animado assim!- Harry comentou com Ron. 

— Sim. Ele tá todo orgulhoso da filha caçula. Todos estamos, na verdade. 

Harry assentiu, lembrando-se com um assomo de orgulho que Gina havia sido uma das indicadas como melhor jogadora desse confuso e longo Campeonato Europeu. 

Então, um silêncio desceu sob o camarote quando Kingsley chegou, acompanhado do Chefe de Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, Fred Gamble. 

O ministro cumprimentou a todos discretamente, assim como Gamble, que se posicionou no centro do camarote, colocou a varinha na garganta e começou:

— É UM PRAZER RECEBER OS SENHORES HOJE PARA UMA INCRÍVEL FINAL DA LIGA EUROPEIA DE QUADRIBOL. HOJE, TEREMOS A HONRA DE ASSISTIR EM CAMPO DOIS GRANDES TIMES. APLAUDAM AS GUERREIRAS JOGADORAS DE HARPIAS DE HOLYHEAD….

Uma zueira de furar os tímpanos foi ouvida no lado do camarote onde os Weasley estavam, enquanto lá embaixo Gina montava na vassoura e subia, todo seu nervosismo anterior evaporando ao tirar os pés no chão e se transformando em um sorriso reluzente que todo o estádio viu refletido no telão brevemente, momento em que Molly começou a se debulhar em lágrimas e Harry ficou boquiaberto, sentindo que seu coração tinha perdido algumas batidas. 

Quando a balbúrdia diminuiu, Gamble continuou: 

—E AGORA VAMOS DAR AS BOAS VINDAS AOS ANFITRIÕES DO UNIÃO DE PUDDLEMORE!

Uma onda de aplausos parecia fazer tremer o lado oposto do camarote. Harry e os outros aplaudiram educadamente, ele sem tirar os olhos do campo, à procura da sua ruiva. Localizou-a junto às outras duas atacantes, e conversava algo com elas, e em determinado momento deu novamente um sorriso que fez o coração do moreno bater na boca. 

— Harry, você está bem, filho?- Sr Weasley o tirou do devaneio. 

— Ah, desculpe Sr Weasley, disse algo?

— Não, mas seu afilhado está a alguns minutos tentando passar pro seu colo.

Harry olhou para o lado. 

Molly acalmava o garotinho, com os bracinhos abertos pra Harry o pegar. 

— Hey, vem cá garoto. 

— Papa- Teddy disse e Harry congelou. 

— Vocês ouv…

— Ouvimos, ele te chamou de pai- Sr Weasley disse bondosamente, sem se preocupar em enxugar uma lágrima que descia pelo rosto. A Sra Weasley nada disse. Apenas enxugou os olhos no lenço e no segundo seguinte, o juiz apitou o início da partida. 

Molly e Arthur, ainda emocionados se viraram para o campo abraçados. Hermione,ao lado de Ron, batia os pés no chão de nervoso, os olhos pregados no binóculos tal como o ruivo, que nem piscava. 

A tensão era palpável no camarote, todos focados em assistir e ouvir a narração oficial do jogo, que vinha de um bruxo numa cabine do lado oposto ao do camarote. 

Harry acariciava o cabelinho de Teddy, agora laranja, e observava o jogo, não contendo um sorriso ao ver a animação da Sra Weasley quando viu Gina passar voando próximo a onde estavam perseguindo um atacante que devia ter o dobro do seu tamanho.

— Vai Gina!!- a mulher gritou, empolgada, surpreendendo a todos.  

Mas do alto de sua vassoura, Gina não ouvia nada. A ruiva estava especialmente concentrada aquele dia. Seria capaz de jogar até o anoitecer se preciso fosse. 

Olhando pras colegas atacantes, decidiu que após meia hora de jogo apenas roubando a Goles e sem nenhum gol para ambos times, era hora de abrir o placar com uma abordagem mais agressiva. 

Se desviando rapidamente de dois balaços lançados nela, Gina mergulhou e no momento que um atacante ia passar uma bola pra outro, ela empinou a vassoura e pegou a bola, não perdendo tempo e lançando-a imediatamente para a colega de time, que marcou enfim o primeiro ponto do jogo. 

A ruiva sorriu com o resultado e voou até as amigas pra cumprimentá-las enquanto o estádio tremia aos gritos de "HARPIAS! HARPIAS!!" 

No camarote, a Sra Weasley dava pulos, enlouquecida, arrancando risadas do marido e dos filhos.

— Nunca vi mamãe assim! Ela nem gosta de quadribol!- Fred comentou com Percy exasperado. 

—Eu também não gostava, até hoje!- Audrey gritou, ao lado de Hermione que pulava no camarote. 

A algazarra do gol do Harpias logo deu lugar à tensão quando um balaço acertou no rosto uma das batedoras. 

Gina prendeu a respiração ao ver o sangue esguichar do nariz de Loren. 

— Precisamos de tempo!- Gina gritou para o juiz, fazendo o sinal com as mãos. 

O juiz apitou, e a ruiva foi com Victorie, outra atacante, até a colega, ajudando-a a chegar em segurança ao chão, já que parecia prestes a desmaiar.

Vaias eram ouvidas na torcida do Puddlemore.

— O jogo tá começando a ficar tenso…- Mione comentou com Ron, que tinha uma ruga de preocupação na testa. 

— E isso porque não tem nem uma hora de jogo e só 10 a 0 no placar. Os dois times nervosos, não vamos sair daqui tão cedo…

— Mamãe não te ouça, maninho- Jorge veio se aproximando da borda do camarote enquanto o juiz apitava o reinício da partida. 

Mas a Sra Weasley não ouviu. Agora que vira Gina voando de volta pro jogo, e Sarah, batedora reserva substituindo a outra, Molly voltava a observar o jogo,sem sequer piscar. 

Um atacante do Puddlemore, Murphy, pegou a Goles após um empurrão forte em Victorie e empatou a partida, deixando Gina furiosa. 

— Vou mostrar a ele o que é jogar quadribol.

Antes que a partida reiniciasse, a ruiva voou até as colegas de time. 

— Chris, Victorie, quando eu disser três…

As outras concordaram com o olhar. 

—Um, dois, três! 

Gina disparou no meio dos jogadores adversários até a baliza do Puddlemore, enquanto a as outras duas cercavam o atacante grandalhão em posse da Goles. Ao tentar passar a bola pro outro atacante, Victorie a roubou e disparou pro alto, atraindo os três atacantes para ela e quando eles estavam já bem mais alto que todos os outros jogadores, deixou a Goles cair direto nos braços de Chris perfeitamente posicionada abaixo dela, enquanto Gina estava praticamente esquecida, frente a frente com o goleiro do Puddlemore, já que os balaços lançados eram totalmente direcionados às outras duas atacantes. 

Chris se aproximou o suficiente e lançou a bola pra Gina, que dando um beijo na Goles a mandou direto no aro central adversário, marcando o seu primeiro ponto na partida. 

Harry teve a sensação que uma bomba explodia no camarote, tamanha a gritaria que Percy, Jorge, Arthur e  Ron faziam. 

Animado, viu Gina fazer um vôo ao redor de todo o estádio. 

Gina, sabendo que a família estaria no camarote, não resistiu e sobrevoou em frente a eles rapidamente, fazendo um coração com a mão pra todos ali, se surpreendendo ao ver a mãe pulando e vibrando com todos os outros e Harry com os olhos úmidos, segurando um Teddy que unia as palmas gordinhas, aplaudindo sem nem saber bem o quê. 

"Meus amores…" 

A visão da família ali fortaleceu Gina, que percebendo o aumento da agressividade no jogo tão logo ele recomeçou, cochichou instruções nos ouvidos das demais jogadoras, seguindo as dicas que a treinadora tinha lhes passado antes do jogo. 

O União de Puddlemore acabou ganhando um pênalti quando Victorie acertou a vassoura no peito de Bedton. Gina apertou o cabo da vassoura com as duas mãos até os nós dos dedos ficarem brancos, mas para alívio do time feminino Walsh defendeu espetacularmente, passando a bola direto pra Chris, que disparou como bala à baliza adversária e aumentou a vantagem. 

30 a 10 no placar. 

Furiosos, os batedores do Puddlemore lançaram um dos balaços na goleira, errando por milímetros a orelha dela. O juíz, notando a clara intenção do time, marcou um pênalti a favor do Harpias.

— Gina, vai você!- Victorie gritou, ao que Chris concordou. 

Gina engoliu em seco. Não era sua especialidade cobrar pênaltis. E se perdesse um no meio da final, num estádio lotado… mas como negar isso às colegas sendo ela a capitã do time?!  

"Você consegue, Gina Potter!"- murmurou pra si mesma enquanto recebia a Goles das mãos do juiz, fechando os olhos e respirando fundo. 

Ao abrir, era como se estivesse em um estádio deserto. As duas torcidas silenciosas. Embora houvesse outros doze jogadores em campo, ocupando sua visão periférica, naquele momento só havia ela, a bola vermelha escorregadia em suas mãos, e o goleiro do Puddlemore. 

O homem, corpulento, facilmente defenderia os três aros ao mesmo tempo, a menos que escolhesse um lado, ocasião em que Gina teria que jogar no lado oposto. 

Pensando corretamente que ele esperaria ela pegar a Goles pra se posicionar, a ruiva pegou a bola com a mão esquerda, esticando o braço em direção ao aro direito, e quando o juiz apitou, o goleiro foi direto pro aro direito enquanto Gina mudava a bola de mão e arremessava com violência a Goles no aro esquerdo, ele tentando mudar de posição a tempo e não conseguindo por milésimos de segundo. 

— Ah, Teddy, sua madrinha é a melhor jogadora de quadribol do mundo!- Harry pulava com o garoto em seu pescoço, junto ao lado vermelho do camarote, o sorriso estampado no rosto de todos os Weasley, Molly deixando cair algumas lágrimas ao pensar que sua caçula era uma mulher linda, talentosa, e provavelmente,em breve, famosa.

Os trinta pontos de vantagem irritaram o técnico adversário, que pediu 5 min de tempo técnico. 

A treinadora do Harpias, após um tapinha nas costas de Gina agradecendo-a pelo excelente trabalho, usou o tempo para conversar com a equipe sobre a melhor maneira de continuar a desestabilizar o outro time, e pediu especial atenção das batedoras. 

— E você Bettany, ao menos viu o pomo alguma vez? 

— Nada ainda, Sra Hermes! Nenhum reflexo dourado…- disse desanimada. 

— Hey, Bethany, olhe pra mim!

A loira olhou, relutante. 

— Você está fazendo o que tem que ser feito. Não se preocupe. Continue a procurar o pomo, e se preciso incorpore Victor Krum pra tirar o adversário da sua zona de conforto. 

Gina sufocou uma risada ao lembrar do jogador búlgaro usando a finta de Wronski na final da copa mundial de Quadribol alguns anos antes. 

— Veja, temos apenas 30 pontos de vantagem. Precisamos que aumentem essa vantagem pelo menos até 60 pontos pra respirarem um pouco na partida. Eles estão furiosos pelos lindos gols que tomaram- a treinadora disse piscando pra Gin nesse momento- é hora de manterem a cabeça fria e não apelarem quando engrossarem pra cima de vocês, ok? 

Todas assentiram e voaram de volta pro campo. 

Empolgadas, Gina, Chris e Victorie fizeram mais do que aumentar a vantagem. Deram um verdadeiro baile nos enormes atacantes do Puddlemore, e enquanto eles marcaram mais duas vezes, elas marcaram sete. 

110 a 30 era o placar. Mas então, com o sol a pino, o cansaço acumulado de terem jogado o campeonato todo de novo após a fraude das francesas, e a tensão da partida,  desaceleraram o jogo, que ficou agarrado nesse placar até perto de 3h da tarde, mais de duas horas após o último gol. 

 — Esse jogo vai varar noite adentro nesse ritmo…- Mione observou, começando a ficar cansada. 

— Merlin tenha misericórdia!- Sra Weasley exclamou- Não tenho idade mais pra isso. Tem duas horas que Gina mal se desloca do lugar. Pobre da minha menina, deve tar com fome e sede. 

O comentário preocupou Harry, ele próprio suado, sedento e faminto. 

O socorro chegou com Percy e Arthur. 

— Suco de abóbora para todos!- o Sr Weasley chegou com bebida para a família. 

— E sanduíches também- Percy e a namorada distribuíram os lanches para todos. 

Sra Weasley deu algumas mordidas no lanche e se levantou, supostamente para ir ao banheiro. Mas na verdade, foi até o Ministro. 

— Kingsley, Sr Gamble, eles estão exaustos. Há quase três horas não tem um gol sequer, eles estão quase desmaiando nas vassouras. Não podem dar um tempo? 

Os homens se entreolharam pensativos, mas no fim concordaram com a idosa. 

— A Sra tem razão. Vou anunciar 20 min de intervalo. 

Aliviada, Sra Weasley agradeceu e voltou ao seu assento. 

— Vão dar um intervalo para descansarem.- disse à Hermione, que olhava o campo aflita. 

Em segundos, a voz grossa do chefe do departamento ressoou, anunciando a parada na partida. 

Gina suspirou aliviada, o suor a lhe queimar os olhos. Bettany, que havia visto o pomo e o perdido de vista duas vezes na última hora, agradeceu a Merlin por aquela pausa. Ela, assim como a treinadora, acreditava que estava era faltando energia pra correr atrás da bolinha dourada. 

— Ah, Merlin, não esperava que o jogo fosse ser tão duro…- Gina reclamou. 

— Acalme-se, Potter, é apenas a sua primeira final. Primeira de muitas no que depender de mim- a treinadora falou em seu ouvido. 

A ruiva corou, ficando tão vermelha quanto seus cabelos. 

Após tomar água e fazer um lanche leve, as equipes voltaram com fôlego total. 

União de Puddlemore, então, pareciam novos em folha, tomando a bola do Harpias e marcando duas vezes seguidas. 

Mas Gina não deixaria barato, tomando a bola e passando pra Victorie marcar mais um.

Entre uma tomada e outra de bola, e uma jogadora do Puddlemore que teve um braço rachado por um balaço, o jogo seguiu assim algum tempo, num clima que esquentava a cada segundo. Até os apanhadores abandonaram o clima amistoso, e uma ou outra vez o apanhador do Puddlemore tentava ficar na cola de Bettany, sendo rapidamente desviado.

No camarote, os Weasleys chegaram a se levantar quando um balaço passou a perseguir Gina, errando a orelha direita por milímetros e obrigando a ruiva a fazer quase um balé no ar. Mas o balé chegou ao fim já com a noite começando a cair. 

Um laranja coloria o céu de outono. 

Teddy cochilava nos ombros da Sra Weasley. 

— Se não estivesse tão nervosa também cochilaria que nem esse pequeno. Estamos o dia todo aqui…- Sra Weasley reclamou. 

— Também tô aflito pra esse jogo acabar. Gina por mais atleta que seja é só uma jovem. Deve estar exausta…

— Ela costuma dormir várias horas depois dos jogos. Mas esse de hoje tá durando o dobro dos outros…- Harry comentou, sem tirar os olhos do jogo — Opa, olha lá gente. A batedora do Harpias viu o pomo!!

Harry quase pulava do banco, junto com todos os outros jogadores.

O apanhador adversário estava do lado oposto do campo. Sabia que não chegaria a tempo, então, o batedor do Puddlemore não pensou duas vezes antes de mirar um balaço na apanhadora do Harpias. 

— Bettany, cuidado!- Gina gritou, mas viu que a colega não ouviu, então disparou até o balaço para pará-lo enquanto Bettany continuava a mergulhar atrás do pomo, e quanto a menina levou a mão pra pegar a bolinha dourada, Gina passou a milímetros dela, caindo da vassoura. 

Bettany não viu, mas milésimos de segundo antes Gina levou uma balaçada na cabeça tentando proteger a colega, perdendo o equilíbrio da vassoura e ficando acordada apenas tempo suficiente pra ver a apanhadora segurar o pomo.

...

Gina acordou com lágrimas caindo sobre seu rosto.Abriu os olhos fracamente. Sentia a cabeça pesada. O primeiro rosto que reconheceu foi o da mãe, que tinha os olhos vermelhos, o rosto contraído de preocupação. 

— Mãe…

A Sra Weasley deu um pulo. Não havia percebido que a menina havia acordado, olhando então pra ela com nítido alívio. 

— Ah, meu amor, eu estava tão preocupada- a mulher a abraçou, caindo no choro. 

Gina passou o braço nas costas da mãe. 

— Tudo bem, eu tô viva. Só meio confusa. 

A mãe então se afastou um pouco e Gina percebeu que estava no St Mungus, em uma das enfermarias. 

— Quanto tempo eu dormi?

— Um dia inteiro. 

Gina suspirou. Sentou-se na cama com a ajuda de Molly. 

— Cadê Harry?

— Foi na casa de vocês tomar um banho. Vou mandar um patrono avisando a ele que acordou. 

— A gente ganhou, não foi?- Gina perguntou, a sombra de um sorriso passando seu rosto. 

Molly assumiu um ar zangado. 

— Sim, ganharam, mas precisava ter se enfiado na frente de um balaço? 

— Era a nossa melhor chance de ganhar a partida!! 

— Sua treinadora sabe disso. O que não impediu de ela estar furiosa com você assim como eu. Minha vontade é de sentar nas minhas pernas e te dar uma coça! 

— Foi só um desmaio…

— Desmaio?! Gina, você quebrou um braço, uma perna e o crânio!

Gina a olhou assustada, batendo a mão na testa. 

— Harry deve estar querendo me matar. 

— Todos nós!- Arthur vinha entrando no quarto, tão sério quanto Molly, embora visivelmente aliviado de vê-la viva. 

— Desculpe mamãe, papai. 

Molly a desculpou de má vontade, os olhos ainda lacrimosos. 

— E meus irmãos, por que não estão aqui me dando bronca? 

— Percy e Jorge trabalhando, embora preocupados. Vou mandar uma coruja a eles avisando. Ron e Mione estão com Harry, ajudando com Teddy. 

— Ok- Gina respondeu, envergonhada. 

"Harry deve ter pirado!"

— Ah, vejo que acordou, Sra Potter.- o medibruxo vinha andando. 

— Bom, eu vou avisar Harry, e seu pai vai avisar os outros, volto daqui a pouco. Vamos querido.- Molly e Arthur saíram deixando a jovem sozinha. 

— Sente dor?

— Apenas na cabeça, está pesada. 

— Normal, vamos te dar uma poção pra dor a cada 4h. A senhora é bem corajosa, mas deixou sua família preocupada. 

As entranhas de Gina queimaram de remorso. Estava tão focada em evitar que aquele balaço parasse a apanhadora que nem pensou no risco que corria. 

— Eu fiquei muito mal?

— Bastante, tinha muito sangue saindo do crânio. Sorte que você foi rapidamente tirada do campo.Depois que eu a remendei, dei sedativos fortes pra ajudar com a dor, mas ainda assim você demorou mais que o previsto pra acordar. Seu marido quase me agrediu quando disse a ele mais cedo que não sabia quando você iria acordar…

— Céus!

Não demorou mais que 3 min, o medibruxo já ia sair, quando Harry e Ron entraram como uma bala no quarto, seguidos por uma exasperada Hermione pedindo calma aos dois.

Harry chegou primeiro, indo até a cama de Gina e a encarando tão profundamente como jamais fizera, em seguida soltando a respiração que sequer sabia que tinha prendido, fechou os olhos, e ao abrir novamente perguntou:

— Como diabos faz isso comigo? Com nós!- berrou apontando Ron e Hermione. 

— Minha única irmã, caída no chão do estádio, com uma poça de sangue ao redor, e eu sem poder fazer nada!- foi a vez de Ron esbravejar. 

Gina suspirou.

— Dá pra pararem com o sermão?! A Sra Weasley já deve ter falado o bastante! Não tão vendo que ela tá cansada!- Hermione saiu em defesa da ruiva, que olhou com gratidão pra cunhada. 

— Obrigada por me entender, Hermione. Pelo menos você…

E dizendo isso olhou magoada pra Harry, fechando a cara e desviando o rosto quando ele tentou beijá-la. 

— Mione, deixa eu ficar com esse pequeno. Tava com saudades dele já. Ele tava todo animadinho no jogo no colo do padrinho, né, lindo?!- Gina disse pegando Teddy no colo. 

Ron olhou meio constrangido pra Hermione, e sob incentivo dela, pediu desculpas à irmã.

— Desculpado. 

Harry olhou pros amigos, pedindo que se retirassem.

— Ron, vamos…- Mione cochichou com o ruivo e se retiraram, prometendo voltar mais tarde.

O clima não podia ser mais tenso no quarto. 

Harry, andava em círculos ao lado da cama, numa guerra silenciosa entre brigar com Gina por sua falta de responsabilidade e compreender a vontade da ruiva de defender uma colega. 

Gina fingiu que não percebeu a tentativa de Harry de começar uma conversa e continuava a brincar com Teddy em seu colo. 

— Sabe Teddy, seu padrinho é um homem muito orgulhoso, teimoso…

Harry não se aguentou. 

— E apaixonado. Tão apaixonado que tive que ser segurado por Ron pra não mandar um Avada no batedor do Puddlemore. Eu quis matá-lo, Gina, pela primeira vez na vida peguei minha varinha pra matar alguém, pois quando vi você, quase morta no campo, achei que não valia mais a pena viver!- Harry enfim botou pra fora o desespero dos últimos dias, chorando.

— Harry…

— Não, Gina, eu vou terminar. Eu entendo porque fez aquilo. Eu entendo que quis defender sua amiga. Eu já vi um amigo morrer pra me defender, sei qual a intenção. O que não sei é como pôde não pensar em mim, no Teddy, nos seus pais, irmãos, cunhadas… Estávamos todos lá Gina. Sei que não queria perder, e que já estava doida pro jogo acabar depois de mais de 12h em cima da vassoura, mas você devia ter, por um segundo, pensado que em vez de segurar o balaço você podia acabar machucada por ele. Você não era a batedora, droga!- Harry ia se sentindo mais leve, a medida que desabafava.

— Depois, eu fiquei aqui, junto com a Sra Weasley, minuto após minuto, hora após hora, esperando você acordar. E você não acordava. Então o médico disse que não sabia nem se você acordaria. Você despencou de 40 m de altura. Ele disse que era um milagre você ainda estar respirando. E então, me lembrei dos votos de casamento, onde prometi te proteger, e achei que tinha descumprido meus votos. Eu deixei você se machucar, não pude fazer nada pra evitar pois eu tava preso no camarote, e vi você se machucar pelas lentes dos meus binóculos. Agora tente, só por um minuto, pensar no meu desespero!

Harry chorou até estar mais calmo, quando então Gina falou:

— Me perdoa. Fui egoísta, não pensei na minha família linda, que tava lá me dando apoio. Pensei somente em desviar aquele balaço com o cabo da vassoura. Eu não tinha ideia que ele poderia acertar minha cabeça. Já levei balaços mais velozes durante o campeonato, e no máximo quebrava um dedo. Eu não tinha ideia, naquele momento, que eu poderia cair da vassoura. Sinto muito ter feito você e todo mundo sofrer. Agora por favor, se acalma, ver você chorando assim acaba comigo- Gina disse, envergonhada e com os olhos marejados, recebendo em seguida um selinho de Harry, que se sentou na beira da cama ao lado dela, colocando o nariz em sua testa, enquanto Teddy esticava os bracinhos pra ele o segurar. 

— Ah, isso me lembra uma coisa.

Gina arqueou as sobrancelhas pra ele. 

— Teddy me chamou de papai durante o jogo.

Os olhos da ruiva se encheram de lágrimas. 

— Oh Harry…

O moreno também estava emocionado. 

— Pois é,Gi. Já temos um filho pra criar. 

— E vamos conseguir fazer isso com sucesso, você vai ver, meu amor- Gina deu um selinho no marido.

— Sim, eu vou, mas porque tenho você do lado. 

Gina voltou para casa dois dias depois, com orientações que ficasse em repouso pelo menos mais uma semana. Durante o tempo que esteve internada, a ruiva ficou um tanto emocionada com a visita das colegas de time e da treinadora, que apesar de rigorosa tinha os olhos marejados ao ver a ruiva viva, levando pra ela a taça que tanto ajudou a conquistar. Com a garantia que teria lugar na equipe titular no ano seguinte, Gina mal podia esperar para aproveitar as férias ao lado da família. Afinal, ela pensou ao entrar em casa, já tinha trabalhado o suficiente aquele ano.