História New News - I forgive you

  Calmo, sim, estava tudo calmo, não tinha mais que me preocupar com o meu pai, ele não iria mais ameaçar nem machucar ninguém.

  Sempre tive medo de o denunciar, que ele não tivesse o que merecia e minha punição fosse pior, mas daquela vez tive coragem e fiz o que era certo.

  Era difícil ver o próprio pai sendo preso, ainda mais quando ele tinha tantas coisas ruins na ficha, mas me senti muito mais leve, como se mais nada de ruim pudesse acontecer.

  Não me lembro do que tinha sonhado, apenas me lembro de sentir um peso nas minhas costas, um peso que ficou pulando em cima de mim, me fazendo acordar.

  Abri os olhos sem entender nada e virei minha cabeça, vendo a irmã do Tae sorrindo e saindo de cima de mim, sentando do meu lado.

-"Acorda papai Hobi" -Disse rindo e me sacudindo.

  Me virei e fingi uma cara de bravo, fazendo cosquinhas nela em seguida, fazendo a mesma soltar umas gargalhadas.

  Eu tinha dormido na casa do Tae, depois que os pais dele insistiram para que eu jantasse com eles, já que tinha prometido que iria um dia.

  Foi divertido, e depois ficamos jogando banco imobiliário, o Tae foi o mais competitivo dali, até anotava os gastos dele, eu saí gastando tudo mesmo, quase comprei a irmã dele.

  Me levantei com a EunJin nas costas e fui até a sala, onde o Tae estava vendo televisão com uma coberta e tomando alguma coisa.

  Cheguei perto dele e fiquei na frente dele, tampando a sua visão, ele tentou continuar olhando, mas fiquei tampando, e a irmã dele ficou rindo.

-"Muito engraçado, dá licença" -Disse enquanto tentava ver.

-"Me dá atenção" -Fiz bico e entrei na frente dele de novo.

-"Pensei a única criança aqui era a EunJin" -Disse rindo e se levantando, dando um beijo na minha testa e voltando pro sofá.

  Logo o mais novo se acomodou de novo e pegou o controle, tentando ver a televisão de novo. O encarei com as sobrancelhas arqueadas.

-"O que foi? Já te dei atenção" -Disse sorrindo quadrado.

  Se eu não amasse ele e o mesmo não fosse tão fofo, com certeza iria ficar emburrado.

  Do nada o telefone do Tae tocou e ele atendeu, falando coisas como "tá", "uhum", "entendi" e logo desligou suspirando.

-"Quem era?" -Perguntei enquanto deixava a EunJin no chão.

-"Era a minha mãe, me pedindo para buscar algumas coisas" -Respondeu enquanto se levantava e ia para o banheiro.

  Depois de alguns minutos, ele voltou com uma rouoa básica mesmo e pediu para eu ficar com a EunJin, para a mesma não ficar sozinha. Concordei e a pequena sorriu, ainda bem que temos uma relação boa desde o começo.

  Logo a EunJin pediu para que fizéssemos uma receita que ela tinha visto na televisão.

-"O que você viu?" -Perguntei pegando o celular para pesquisar a receita.

-"Bigadêro" -Respondeu sorrindo largo.

  Bigadêro? O que diabos era aquilo?

Taehyung POV

  Nem sabia direito o que tinha que comprar, mas minha mãe disse que o cara que vendia as coisas já sabia o que era, então só fui lá para buscar mesmo.

  Como era do outro lado do metrô, resolvi passar por ele, assim chegaria mais rápido e dava para ir a pé mesmo.

  Do mesmo jeito que fui, resolvi voltar por dentro do metrô. Estava andando com as sacolas e meu fone de ouvido sem me importar muito com o mundo ao meu redor, até que de repente vi alguém que me chamou a atenção.

  Era uma garota, que estava de frente para os trilhos, com a cabeça baixa. Apertei os olhos e cheguei perto, algo estava me puxando até ali.

  Cheguei até a menina e inclinei a cabeça para ver quem era, e logo a mesma levantou a cabeça.

  Era a Hwon Nah.

  Mas ela não estava normal, não estava com aquela cara de esnobe e de víbora que sempre tinha. Ela estava vermelha e com os olhos mais vermelhos ainda, com lágrimas descendo sem parar dos seus olhos.

  Fiquei chocado ao a ver daquele jeito, ainda não tinha nem acreditado que tinha visto uma lágrima saindo do seu olho no casamento do Hobi, imagina naquele estado.

  Fiquei com um pouco de dó.

-"Hwon Nah? Está tudo bem?" -Perguntei e a mesma fez uma cara estranha.

-"Não Taehyung, eu não estou bem" -Respondeu com a voz totalmente falhada.

  Mesmo que eu não gostasse dela, eu era um ser humano e tinha coração, então fiquei com vontade de ajudar.

-"O que houve? Por que está aqui?" -Tentei olhar para os seus olhos mas ela desviou.

-"O que houve? O que houve é que eu sou um demônio, um demônio que desde pequena atormenta a vida dos outros na esperança de ser feliz. Quando eu achei que tinha encontrado alguém que eu gostasse, atingi a todos ao seu redor para que eu ficasse feliz, mas ele não estava" -Disse quase sem voz.

-"Está falando do Hobi?" -Perguntei baixo.

-"Sim, eu sabia que ele gostava de você, mas mesmo assim tentei te afastar dele e até aceitei um casamento arranjado, eu causei tanto mal a todos para me sentir melhor, mas olha como estou" -Seus olhos encontraram os meus.

  Nunca tinha a visto daquele jeito, seus olhos estavam claramente tristes. Ela não era a pessoa sem coração que eu achava.

-"Hwon Nah, o que você fez foi errado, mas você pode começar uma vida nova, você pode encontrar alguém que te ame"

-"Ninguém me ama, Taehyung, nem mesmo meus pais, nem aqueles que chamo de amigos, ninguém me ama e nunca irão me amar, porque como muitos dizem, sou uma víbora" -Meu coração apertou naquele momento, eu a chamava daquele jeito.

  O que dizer para uma pessoa que até então você queria ver atropelada, que estava quase se matando? Como a impedir?

-"Você só precisa mudar, se não pisar nos outros para se sentir superior, se for mais gentil..." -Tentei.

-"Não, não tem mais volta, não tem mais jeito, não há mais mudança que possa melhorar isso" -Disse se virando para mim e passando a mão nas gotas que insistiam em cair.

  Parecia que ela queria lutar com seus sentimentos, como se quisesse recusar aquelas demonstrações de dor.

-"Tudo pode se resolver, você só precisa de força de vontade" -Coloquei as sacolas no chão.

-"Você não entende, nunca vai entender o que é tentar ser melhor que todos, tentar ser mais bonita que todos, muitos olharem para você mas nenhum te querer realmente, você sabe o que é ser amado, mas eu não" -Disse com a voz firme e dando um passo para trás. -"Eu só queria ser feliz, só queria ter um marido e dois filhos, sempre quis ser mãe e fazer compras com eles, mas isso nunca vai acontecer"

-"Hwon Nah, o que pensa que está fazendo?" -Me aproximei mais dela mas a mesma deu mais um passo.

-"Eu não vou fazer falta, Taehyung. Não quero mais atrapalhar a todos, não quero mais causar sofrimento, quero apagar tudo o que eu fiz" -Disse baixo e falhado, dando mais um passo.

-"O único jeito de apagar isso, é criando coisas boas no lugar, pense nisso, você pode ajudar as pessoas, pode criar memórias boas" -Me aproximei mais.

-"Não nasci para ser boa, acho que meu papel aqui era ter te trazido sofrimento, e eu não me orgulho disso" -Sorriu e mais lágrimas caíram -"Eu não me orgulho de ter te insultado, nem de ter te deixado naquele buraco, nem de ter entrado na conta do Jimin e postado as fotos, ter usado a sua irmã para te irritar, ter gritado e ter sido rude com você, ter falado para o meu pai te sequestrar, ter quase me casado com o homem que você ama..." -Seus pés deram mais um passo para trás, ultrapassando a linha de segurança.

-"Está tudo bem, não estou mais chateado com isso, mas não jogue sua vida fora por causa dessas coisas, pense que tudo pode dar certo se você seguir o caminho correto" -Dei um passo para frente e estiquei minha mão -"Sai daí, deixa eu te ajudar"

  A Hwon Nah olhou para o lado e ouviu o barulho do metrô se aproximando, a mesma me olhou e esticou a mão, mas logo a encolheu de novo e sorriu chorosa.

-"Me perdoe" -Disse e se jogou.

  Não pensei direito e corri até a linha mais próxima dos trilhos, mas tudo o que eu vi foi o trem passando por cima da Hwon Nah, fazendo com que tudo ao redor ficasse tingido de vermelho, inclusive o meu rosto foi atingido.

  Fiquei parado tentando analisar o que aconteceu, e logo me ajoelhei no chão e deixei uma lágrima cair, enquanto ouvia gritos ecoando pelo metrô.

-"A Hwon Nah... se matou...?" -Sussurei para mim mesmo, tentando voltar a realidade.

  Fechei os olhos para não ver como ela estava, e me levantei rapidamente, correndo o mais rápido possível até em casa.

  Aquela foi a cena mais horrível que eu já tinha visto em toda a minha vida, saber que alguém se matou na minha frente me deixou horrível, e o pior de tudo, eu me sentia culpado.

  Sempre a odiei, a xinguei de todos nomes que conhecia e até inventava outros, mas naquele momento meu coração apertava de ressentimento, como se toda a culpa da morte dela caísse sobre meus ombros.

  Cheguei em casa chorando e abri a porta rapidamente, o Hobi e a EunJin estavam no sofá, me apoiei na parede para tentar não cair. O moreno se levantou rápido e veio até mim.

-"Tae? O que aconteceu? Isso é sangue? Você está bem?" -Perguntou rapidamente, mas só consegui chorar ainda mais.

-"A Hwon Nah..." -Disse soluçando e o mais velho passou a mão nos meus cabelos preocupado.

-"O que ela fez com você?" -Perguntou e eu apenas balancei a cabeça negativamente.

  Daquela vez ela não tinha me machucado, nem falado coisas ruins para mim, ela nunca mais iria fazer aquelas coisas.

-"Ela... se matou" -Disse e me joguei nos braços do Hobi. -"Eu vi tudo... foi horrível..." -Enterrei meu rosto nele e solucei.

  O mais velho ficou em silêncio e me abraçou forte, nunca tinha me sentido tão horrível, meus ombros pesavam tanto quanto a minha consciência.

-"É tudo culpa minha... ela se desculpou comigo antes de se jogar e... o metrô... ela..." -Não consiguia falar direito.

-"A culpa não é sua Tae, calma" -O Hobi me abraçou ainda mais e acariciou a minja nuca.

  Eu só queria que ela desse a si mesma uma segunda chance, eu sabia que ela poderia mudar, mas por que ela escolheu aquele caminho?

  Eu queria dizer que a perdoava, queria a ajudar, mas não consegui.

(2 dias depois)

  É realmente verdade que tudo o que temos aqui não servirá de nada depois que morrermos. Mesmo a mais rica pessoa vai para o mesmo lugar do mais pobre, mesmo que em caixões diferentes.

  Uma menina que sempre foi esnobe, contava vantagem por suas bolsas caras, agora estava em um caixão branco, tendo o mesmo destino que alguém que nem sapatos deve ter também irá um dia.

  Sempre odiei velórios, era uma coisa que me recusava a ir, principalmente de pessoas importantes para mim. Mesmo a Hwon Nah não tendo sido a melhor pessoa do mundo, principalmente para mim, achei que pelo menos naquele último momento dela, eu deveria abrir uma exceção.

  Não prestei atenção na cerimônia, tentei ao máximo não me sentir pior do que eu já estava. O pior mesmo era que de todas as pessoas que ficavam ao redor dela, apenas três estavam ali.

  O dinheiro não compra amigos de verdade, pensei

  Depois que a mesma foi enterrada, tentei consolar a mãe dela, que parecia que naquele momento estava demonstrando o que sentia pela filha.

  Creio que ela não deve ter sido a melhor mãe do mundo, mas tinha certeza que ela a amava, mesmo que não mostrasse.

  O Hobi ficou em silêncio todo o tempo, assim como eu, creio que ele também estava se sentindo culpado de alguma forma.

  Esperamos todos irem ver a lápide e fomos juntos. A cada segundo que fiquei olhando para aquilo, meu coração se partia mais.

  Me abaixei de frente para a pedra polida e deixei ali algumas tulipas, que estavam amarradas com uma fita rosa, já que ela só usava roupas daquela cor.

  E na ponta da fita estava a aliança, claro que ela não simbolizava o amor dela e do Hobi, mas sim que aquela aliança poderia ser o selo de um perdão.

  Juntei as mãos e rezei, me levantando em seguida. O Hobi suspirou alto e deixou algumas tulipas ali também.

-"Me perdoe, Hwon Nah" -Sussurrei baixinho. -"Porque eu te perdoo" -Deixei uma lágrima cair.

  O moreno me olhou e passou o polegar na minha bochecha, me puxando para um abraço em seguida.

  Todos merecem uma segunda chance, uma nova oportunidade de mudar o que você fez, criar boas memórias.

  Mas infelizmente nem todos querem a chance, e preferem achar que nada pode ser mudado, e que a melhor forma é desistindo de tudo.

  Queria que a Hwon Nah tivesse usado a sua segunda chance.