— Eu acho que fiz merda, Yoongi. — disse, jogando-me na cama.
— Novidade. — riu — Qual foi a da vez?
— Não ria da minha cara, eu ‘tô falando sério. Resumidamente, eu conheci um garoto em uma festa há alguns dias, e aí eu mudei de escola. Até aí, tudo certo. Só que eu acabei caindo na mesma escola que o maldito. — suspirei.
— Imagino que você tivesse algum interesse nele na festa, então, por que estar na escola dele seria um problema?
— Porque ele acabou de ir embora da minha casa puto da vida comigo, já que eu dei um tapa na cara dele quando ele me deu um selinho.
Yoongi riu alto. — Às vezes, desacredito que você tenha mais de treze anos.
— Bom, eu ainda preciso de um banho e preciso pensar, eu só queria te contar o que houve, mas você ‘tá achando que é piada.
— Mas é uma piada você querer ficar com alguém, e quando esse mesmo alguém tenta algo, você agredir o coitado.
— Eu desisto, Min Yoongi. Vou desligar.
— Vê se não sai correndo se um dia vocês transarem. Paz. — ele disse, desligando a ligação logo depois.
Não que Yoongi fosse um péssimo amigo, ele só era um pouco sincero demais. E, com isso, não segurava suas risadas quando achava algo ridículo, nem disfarçava a cara fechada ‘pra alguém que não gostava, e muito menos calava a boca quando ouvia o que não queria. Acreditem, vocês não gostariam de discutir com ele, e muito menos irritá-lo.
Quando éramos mais novos, por volta de uns oito anos, eu o odiava. Muito mesmo.
Apesar de personalidades diferentes, sempre tivemos gostos muito parecidos: os mesmos animes, séries, cores, roupas, etc. E, com isso, tínhamos uma pequena rivalidade, pois um pensava que o outro estava tentando ser igual. Crianças.
Mas, poucos anos depois, quando os neurônios estavam ativados em nossas cabeças, resolvemos esse problema, e a amizade continua firme até hoje. Minha mãe provavelmente ama mais o Yoongi do que a mim.
Ela mesma já disse isso. Pois é.
Enfim.
Eu gostaria de não estar me sentindo culpado quanto ao Jeongguk. Tipo, ‘tá bom, ele me deu um selinho, e daí? Não foi contra a minha vontade, e ele não me obrigou a nada, então, pra quê tanto drama ao ponto de eu agredir o menino?
Kim Taehyung, você é um lixo.
Eu deveria ligar ‘pra ele. Pelo menos, pedir desculpa, explicar que eu não quis fazer isso e pedir pelo amor de Cristo para que ele volte aqui. Mas eu iria parecer um desesperado. Talvez eu seja.
Não, não é assim também.
Eu sou apenas confuso. Demais. E isso me mata. Porque eu nunca consigo deixar claro as coisas que eu quero, minha ansiedade ataca e tudo desmorona.
Foi fácil falar com ele na festa, obviamente. Eu não o conhecia, ele estava bêbado, e tenho cem por cento de certeza que ele não se lembra de mim, ou seja: qual a dificuldade?
Ignorei um pouco meus pensamentos e fui até a sala, mais especificamente, embaixo da televisão, onde tinha um pequeno armário cheio de bebida alcóolica. Meu pai criou o hábito de guardá-las ali, pois quando eu era criança, tinha medo de armários.
O que é irônico, já que aos quinze, saí de um.
Não vem ao caso.
Peguei uma meia garrafa de vodca que estava lá no fundo, mas, apesar de tudo, eu sou fraco ‘pra bebida. Não posso virar uma dose de tequila que vocês já me encontram arrastando o cu no chão no meio de todo mundo. É triste, ‘pra falar a verdade.
Então, fui até a cozinha, e joguei o líquido transparente dentro da coca-cola, misturando as substâncias, criando o veneno perfeito.
Agora que estou pronto e com minha morte em mãos, vamos falar um pouco de um assunto horrível que eu, particularmente, adoro falar sobre, porque é muito devastador: infância.
Mas o que a sua infância tem a ver com o Jeongguk, seu estúpido? Muitas coisas.
Como já dá ‘pra se notar por conta da minha ex intriga com o Yoongi, eu era meio retardado, assim como toda pessoa entre seis e treze anos (mas alguns ultrapassam essa faixa). E, em uma certa época, eu comecei a notar que eu gostava muito mais de garotos do que de garotas. Eu via os vestidos e as saias e achava incrivelmente fofo, mas não me atraía, não prendia o meu olhar.
Na sexta série, um garoto novo entrou na minha sala. Ele tinha cabelos castanhos e usava um boné azul virado ‘pra trás, e suas roupas eram um pouquinho largas. Ele disse que se vestia assim porque seu pai também fazia isso, e ele queria ser igual. Um fofo.
Viramos amigos em pouco tempo, e um dia, ele veio dormir na minha casa. Justo nesse maldito dia, meus pais resolveram que seria ótimo sair ‘pra jantar fora e deixar dinheiro ‘pra eu pedir uma pizza. Até aí, tudo certo.
Estávamos jogados na minha cama vendo filme, quando ele deitou no meu peito. Minha reação foi essa mesma que vocês imaginaram: eu quase chorei de emoção.
Pode-se notar que eu sou bem exagerado quanto a relacionamentos, sentimentos e coisas derivadas. Mas fora esses assuntos, eu sou bem pé no chão, realista e tudo mais, eu juro. Eu consigo falar de assuntos sérios e consigo agir com maturidade. É só que eu acho que é muito mais fácil fugir disso, mas não é em todos os momentos do dia em que posso fazê-lo. Então, fora de casa, eu tento me manter sério e evitar muito contato.
A briga que rolou na escola é história para outro dia.
Voltando ao assunto. O garoto.
Se eu estava na sexta série, eu deveria ter uns onze anos, mais ou menos. Após deitar no meu peito, ele notou que eu fiquei meio… nervoso. E, com isso, ele disse:
— Taehyung, você gosta de garotos?
Como que um ser humano tem a audácia de fazer uma pergunta dessas ‘pra uma pessoa de onze anos de idade?
Eu comecei a tremer. De verdade. Não sei o porquê, mas provavelmente foi por medo. Eu não queria gostar. Mesmo que na época eu não soubesse nada sobre homofobia e preconceitos em geral, alguma parte de mim entendia aquilo como um pecado. Então, eu tirei todas as forças que restavam no meu corpo, e respondi que não.
Mas ele não acreditou.
Maldito miserável.
E, ele me beijou.
E ainda devem estar se perguntando onde o Jeongguk entra nessa história. Bom, ele me beijou, meu pai abriu a porta do quarto logo depois para avisar que ele e minha mãe chegaram, ele viu aquela cena maravilhosa e me bateu. Muito. Sendo mais detalhista, ele me deixou roxo em várias partes e por muita sorte não quebrei o nariz.
Meu pai sempre foi o tipo de pessoa que, se não for o filho dele, tudo certo. Se ele ver cinquenta homossexuais transando no meio da rua, que se foda. Mas, se eu estiver ali no meio, o buraco já é mais embaixo.
Moral da história: mesmo que eu tenha apenas um pequeno interesse no Jeongguk, eu não quero ter. Eu me recuso. Não pelo meu pai, não por ter apanhado, mas por mim. Eu não sou forte. Eu não sei se eu aguento uma vida inteira sendo algo que as pessoas nunca irão aceitar. Meus pais não me aceitariam. Minha família toda também não, e talvez, nem mesmo o Yoongi aceitaria.
Mas, eu não sei até quando vou conseguir continuar negando.
Digo, eu não quero ser, mas, e se eu for?
É tão simples aceitar as diferenças e gostos dos outros, então, por que é tão difícil aceitar a mim mesmo? Por que eu continuo me vendo como um erro, sendo de que eu nunca vi essa situação toda lá fora como algo errado?
Eu gostaria de poder sair do meu corpo e dar vários tapas na minha cara.
E o maior problema de todos é: e se um dia eu realmente me apaixonar por um homem?
Como eu poderia fugir de algo tão inevitável como o famigerado amor que todo mundo tanto fala?
Kim Taehyung, você é mesmo um lixo.
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