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História Nindou - KakaSaku - Tempo de mudança


Escrita por: LoreyuKZ

Notas do Autor


OINNN <3

Desculpem a demora, galera, mas as coisas só acontecem...

Lembrando que eu não trabalho com revisão K e é isto!

CAPÍTULO TÁ NA MÃO, VEM COMIGO!

Capítulo 3 - Tempo de mudança


 

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Nunca iria esquecer aquele olhar que recebeu quando a encontrou com os joelhos nos tatames da casa principal dos Hyuugas. Os longos cabelos negros se espalhavam junto a coloração escura das roupas. O sol era brilhante e fazia todas as cores parecerem mais vivas diante do garoto. Ele viu o creme das paredes, o marrom da madeira dos móveis simples que se acomodavam nos cantos do lugar, o perola quase transparente da cortina arruinada que dançava conforme o vento quente que invadia o quarto.

A janela estava aberta e havia sinais de um pequeno confronto para aqueles que tivessem olhos atentos, mas Naruto não percebeu a marca das kunais na tapeçaria requintada ou o desalinhar das penas no chão, fruto de um travesseiro destruído. A perspicácia nunca lhe foi um atributo que merecesse destaque, mas a cena diante de seus olhos não exigia muito daquilo.

Hanabi estava sangrando nos braços de Sakura, que a confortava enquanto executava aquele ninjútsu médico que havia aprendido por si só.

Era engraçado como Sakura conseguia usar meia dúzia de livros para algo tão produtivo, chamando a atenção, até mesmo, da maior iryō-nin do mundo. E sempre que ela usava aquele jutsu, Naruto sentia como se Sakura pudesse fazer de tudo. Sempre que a via com aquela expressão focada, Naruto percebia o quão grande Sakura era e o quão pequeno ele era.

Debaixo daquele verde, entretanto, havia o sangue real dos Hyuuga.

O sangue de Hanabi.

Foi a primeira vez que Naruto notou que aquela expressão focada de Sakura, na verdade, era uma expressão de dor.

Naquele momento, o garoto de apenas 14 anos percebeu muitas coisas sobre a companheira de time, e foi tudo tão rápido que ele sequer teve tempo de processar. Bastava olhar para ela e qualquer um poderia decifrá-la como se a senha para os seus maiores segredos estivesse naquele verde brilhante de suas írises, e ele conseguiu enxergar tudo numa velocidade assustadora quando Sakura o olhou.

Foi apenas um segundo. Hanabi gemia em dor, tão pequena, e Sakura o olhou.

Mas ele não... processou.

Ao invés disso, Naruto pediu socorro sem perceber que Sakura também precisava de alguém que a socorresse.

Eram apenas dois genins sem perspectivas. Pelo menos ele não tinha muita perspectiva. Do time 7 – o antigo – ele com certeza era o mais irresponsável, precisando sempre ser salvo por alguém. Sakura o censurava apenas para incentivá-lo a treinar, mas nunca era severa o suficiente para constrangê-lo. No final, acabavam rindo.

Nas memórias dele, Sasuke também ria no final das contas, do jeito dele, é claro.

O Uchiha nunca foi o garoto mais sociável da turma, e todos sabiam que para o segundo filho do líder de um clã as expectativas eram outras. Enquanto a glória era esperada ao primeiro, o segundo apenas podia se contentar em ser seu braço direito. Essa é coisa sobre clãs tradicionais, e Sasuke pareceu nunca se contentar com seu papel, lutando para não ficar a sombra do gênio Itachi.

Na academia, Sasuke era metido e introspectivo, mas depois...

Depois, Sasuke era... Alguém precioso.

E Naruto descobriu o senso de humor contido, as risadas comedidas, as caretas de desgosto quase imperceptíveis, mas que, para seus olhos atentos, eram muito evidentes. Lembrava do tom de voz dele naquelas conversas técnicas que tinha com Sakura, sobre jutsus e controle de chakra, e de como eles acabavam sempre concordando em discordar. Também não era sempre um mar de rosas, é claro. O Uchiha era birrento, às vezes ficava com raiva e se calava. reservado, abusado... Sasuke tinha lá seus defeitos, mas Naruto aprendeu a lidar com todos eles.

No final das contas, Sasuke se tornou alguém que ele não queria viver sem, assim como Sakura, é claro, mas... Com Sasuke era diferente.

Se ele notou todos os olhares disfarçados de admiração, Naruto nunca soube, mas foi esse sentimento que o impediu de perceber o que realmente estava acontecendo. Sasuke estava se afastando, e por medo, Naruto não teve forças para puxá-lo de volta. Ao invés disso, Naruto também se afastou, sabendo que era demais para Sasuke processar, e no meio de tudo isso estava Sakura, focada em seu treino, em sua vida.

Ele nunca entendeu o porquê de ela chegar sempre tão cedo nos treinos. Talvez quisesse ser a preferia do sensei – e era – mas por que tanta dedicação? Chegar antes de todo mundo para esmurrar aquele tronco não iria fazer dela uma ninja melhor, não é?

Um dia, Naruto a perguntou e a resposta foi um simples “é que eu não tenho nada melhor para fazer”.

Naquela época ele não entendeu, e sequer pensou muito naquela frase tão banal, mas naquele dia, quando Sakura o olhou com sangue nas mãos, naquele segundo que o verde dos olhos dela revelaram tudo o que ele precisava saber, Naruto se sentiu despedaçado.

Por ela, e por ele.

Ele percebeu, finalmente, o que era não ter ninguém.

Sakura-chan, traga o Sasuke de volta.

Foi a única coisa que ele conseguiu externar diante das milhões de tragédias que os atingiam como cascatas a todo instante. Ele estava perdendo tudo e a única pessoa em quem ele podia confiar era nela, mas ele não sabia que aquele pedido o iria fazer perdê-la também.

Eles não se viam a anos.

Depois de tudo o que aconteceu, Sakura treinou como ninguém, e antes que ele pudesse perceber, ela era alguém completamente diferente. Não lembrava exatamente quando, mas certamente sabia como tudo tinha acontecido. Sua companheira de time e grande amiga havia mudado de maneiras que ele jamais compreenderia, ou talvez ela sempre tivesse sido daquela maneira. Ele não sabia. E naquele dia em que a viu pela primeira vez no uniforme ANBU, seus olhos se encontraram novamente em meio ao acinzentar do céu chuvoso.

Quando nos virmos novamente, Naruto, eu vou estar ao lado de Sasuke, e tudo vai ser como antes.

Nunca duvidou das palavras dela, mas já haviam se passado tantos anos desde aquele último dia... E ela certamente havia retornado à vila algumas vezes, mas nunca o procurava. Tudo o que ele sabia eram pelas pessoas. A chacina que ela fez perto do País do Redemoinho, o combate com um remanescente dos Espadachins da Névoa, a cirurgia que salvou o irmão do Kazekage, a cura massiva no campo de batalha, o dizimar de todo um relevo, o alvoroço na casa principal dos Hyuuga, as fofocas sobre Shusui...

Eram tantas histórias, mas nenhuma delas fora Sakura quem o contou.

Não.

Eles não se viam a anos.

E agora, ela o olhava e Naruto não sabia dizer o que aquilo significava.

Havia silêncio no escritório até o barulho do riso de escárnio surgir como shurikens arremessadas. A viu olhar para Shikamaru e depois para Hiruzen antes de, novamente, se olharem, nesse momento o riso desaparecendo de seus lábios para dar lugar àquela expressão dura, e então, como se não tivesse mais nada a ser discutido, ela apenas foi embora, atravessando a janela larga logo atrás do Hokage, e Naruto...

Naruto não sabia como se sentia.

Estava atordoado, quase sufocado e seu olhar desconsertado encarava o espaço por onde as costas da moça haviam sumido para além da vila. Aquela era sua resposta, não é? Não havia mais nada para ser dito, e mais uma vez Naruto se sentiu idiota como a muito tempo não sentia.

Ele sabia que ia acabar desse jeito.

Ele sabia.

— Vá atrás dela, Naruto.

Foi Shikamaru quem disse aquilo, mas ele estava tão em choque enquanto encarava a janela às costas do Hokage que sequer teve reação. Sakura riu e foi embora. Não teve uma negativa, uma discussão... Ela nem quis saber o que ele iria fazer em Kumo ou o porquê de ter sido escolhida.

Não.

Sakura só saiu.

De novo.

Naruto olhou para o homem que era seu único amigo naquela vila e depois para o Hokage em silêncio.

— ... Desculpe, eu não...

— Naruto – Shikamaru disse novamente, sua postura deixava claro que não estava falando como seu amigo, mas sim como o Comandante dos Jounins — Você pediu que fosse ela, então vá atrás dela e resolva isso.

Resolver?

Ele abriu a boca querendo dizer alguma coisa que não sabia o que era. Desviou o olhar, finalmente decidindo que não havia nada a ser dito e então, do mesmo jeito que Sakura fizera momentos antes, Naruto sumiu pela janela do escritório sentindo o vento quente da corrida acelerada acertar seu rosto em cheio. Ele não sabia o que esperar, o que dizer, mas é... Ele precisava resolver, e não precisava ser nenhum gênio ou especialista para saber que Sakura também queria resolver as coisas.

Então ele fez seu caminho em velocidade, indo direto para o local onde tudo entre eles acontecia. Aquele lugar que presenciou a história de suas vidas, de suas infâncias trágicas. Sentiu as telhas sob seus pés, o contato da sola emborrachada com a superfície inclinada, saltou numa caixa d’água ouvindo o ruído quase nulo de seus movimentos bem treinados, girou por cima de uma mureta, tomando impulso com o chakra nos pés para alcançar aquele poste mais alto.

Parou ali, olhando a paisagem da área florestal de Konoha. Precisou de um segundo antes de continuar, passando pelas árvores rapidamente, saltando pelos troncos maiores, desviando dos cipós e alcançando, finalmente, a clareira ampla que se projetava nos limites do cercado de metal. Tudo estava em perfeita paz no campo de treinamento 3, exceto por Sakura.

Exceto por ele.

O barulho do farfalhar das folhas nas árvores soou alto devido ao vento mais forte que passou. Os cabelos rosas balançaram junto com o excesso do tecido azul da hitaiate que não era dela. Aquele uniforme verde com camisa azul... Aquele não era o de Sakura. Certamente eram os de Ino, porque faltavam coisas que só o uniforme de Sakura tinham, ou talvez ela apenas tivesse renegado aquela parte de si, talvez se visse mais como a discipula de Senju Tsunade e tivesse deixado o legado de Sakumo para trás.

Não importava.

Ficou olhando para as costas da mulher que jazia parada frente à um dos três troncos no centro da clareira. Ela tinha uma mão pousada na madeira, deslizando em seus vincos profundos que se misturavam aos sinais dos muitos treinos que já aconteceram por ali. O vento começava a soprar macio e o sol fazia o cabelo rosa ganhar um brilho estourado, mas ainda assim, Sakura estava parada.

Não sabia dizer quanto tempo ficou estático, incapaz de dizer qualquer coisa diante da mulher. Tanta coisa estava se passando por sua cabeça e ele não se percebeu respirar mais profundamente quando desviou o olhar, mirando o horizonte entre as árvores, vendo um ou dois pássaros se agitarem. Seu olhar abaixou para os caules e raízes expostas, a relva comportada parecia seca, e quando se deu por conta, Naruto encarava seus próprios pés.

Quando levantou o rosto novamente, Sakura estava parada, dessa vez, o corpo virado na sua direção e o olhar verde era tão intenso que ele não conseguia sequer falar. Se olharam daquele jeito confuso, o ar ganhando uma tensão estranha como se houvessem faíscas prestes a incendiarem toda a floresta, mas ao mesmo tempo, parecia frio. Tudo parecia frio demais, longe demais, longo demais, triste demais....

Naruto desviou o olhar novamente.

— Por que, Naruto?

Silêncio.

Naruto continuou olhando para algo além deles, além do campo de treinamento, além das faíscas frias que teimavam a ameaçar explodir.

— Por que você está fazendo isso, Naruto? Por que? – Perguntou com aquele tom de voz confuso, ofendido.

E as palavras ainda escapavam de sua mente, que se recusavam a articular uma frase sequer. Ele olhava para longe, quase como se quisesse fugir, mas não poderia, não é? Ela era a única pessoa de quem ele não poderia fugir.

Ele era a única pessoa de quem ela não poderia fugir.

Era por isso que estavam ambos ali, desviando das faíscas frias e explosivas que caiam singelas por todo aquele campo verde e brilhante onde estavam. Era por isso que as memórias que haviam ali os confortavam diante daquela conversa silenciosa, e mais ainda, era por isso que mesmo depois de tanto tempo, ainda era tão difícil conversar.

No final das coisas, tudo o que Sakura tinham eram promessas.

Naruto continuava olhando para o além de algum lugar naquele silêncio eterno que não fazia jus ao homem que conhecera. Ela tinha mudado, mas era tudo para que ele não precisasse mudar. Era tudo por ele, para que ele não precisasse, nunca, se sentir como um dia ela se sentiu.

Porque naquele dia, enquanto segurava Hanabi nos braços e Naruto chegou apressado, seus olhos se encontraram como nunca antes o fizeram, e lá ela viu o medo de alguém que estava perdendo tudo, que era bastante diferente do medo que ela tinha de perder tudo. Medos iguais, medos diferentes... Naruto, que sempre teve tudo, de repente se viu sem nada; e ela, que desde sempre teve nada, de repente se via perdendo o pouco que tinha conquistado.

Talvez, naquele momento, Sakura e Naruto finalmente tivessem se reconhecido. Talvez não. Não importava.

Ela o viu abrir a boca e depois fechá-la. Era tão difícil responder uma simples pergunta? Foi Tsunade quem a disse, uma vez, que as perguntas mais significativas eram, na verdade, as mais simples. Foi Sakumo, em um outro momento, quem a disse que as respostas mais difíceis eram as mais óbvias.

Será que ela era tão cega a ponto de não conseguir ver a obviedade?

Viu a protuberância no pescoço de Naruto subir e descer enquanto a expressão dura dele se tornava confusa, quase acuado em seus pensamentos solitários com os cabelos loiros mexendo brevemente pelo vento. Ele usava uma jaqueta laranja por cima do colete ninja, uma cor chamativa demais para alguém com uma profissão que exigia discrição acima de tudo, mas ela gostava disso nele.

Ele estava tão maior do que se lembrava. Mais alto, mais forte. Nem mesmo aquele curvar breve de seus ombros o fazia parecer menor, e nem a expressão tão conturbada da visível indecisão em seu rosto o fazia parecer menos crescido.

— Tudo bem – Ela disse numa voz mais comum, dando as costas para ele, que a olhou confuso enquanto a moça iniciava uma caminhada para longe — Fique na vila, Naruto. Me espere em Konoha e quando eu voltar, eu juro, Sasuke estará comigo.

Em suas memórias, a mulher era um pouco mais alta, mas ali ela parecia miúda, quase frágil com suas costas estreitas e mãos delicadas. Era curioso como ele nunca tinha notado que ela tinha uma aparência franzina até aquele exato momento, afinal, Sakura nunca demonstrou nada além de força em tudo o que fazia.

Mesmo naquele momento, Sakura parecia muito mais forte, muito mais decidida, e muito além de qualquer um que tentasse alcançá-la, e as palavras dela pairaram no campo ensolarado entre as faíscas invisíveis que, antes que pudessem perceber, explodiram em conjunto.

Ele arregalou os olhos e sentiu.

Finalmente, Naruto sentiu.

— Não! – Gritou para ela antes que escapasse — Não, Sakura-chan! Não! Chega! — Esbravejou em urgência e viu Sakura virar-se para ele, confusa. — Para de me dar as costas! Para de achar que eu sou aquela criança inútil que você precisava proteger! Olha pra mim, caralho!

A frustração disfarçada de fúria presente em cada palavra de Naruto ecoou por todo o local, vibrando a pele de Sakura, fazendo seus olhos atentos mirarem o homem de maneira confusa. O que era aquilo? A expressão de dor e raiva estampada no azul intenso que pareciam até mesmo rancorosos.

O que ela deveria ver?

O que ela deveria enxergar?

O que era tão óbvio naquela resposta?

— Narut-

— Não! – Ele disse imperativo — Você sempre faz isso! Você sempre chega, sorrir e diz que vai resolver tudo! Desde sempre você coloca tudo nas costas e se vai! Chega disso! Eu tô cansado de ver você indo e vindo enquanto eu fico aqui, preso nessa vila esperando por um dia que nós dois sabemos que nunca vai chegar!

Sakura hesitou, recuando um passo enquanto as palavras dele a atingiam. O silêncio pairou agressivo e denso. Tudo explodia enquanto se olhavam.

Essa era a obviedade?

Os ombros caíram enquanto ela o olhou quase perdida naquele ataque que, honestamente, era tão óbvio, e ela sabia que um dia esse dia chegaria, o dia em que Naruto perderia a fé nela.

O dia em que ela o perderia.

E assim que o sentimento a agarrou, Sakura se sentiu ofegar num desespero estranho, algo que a muito tempo não sentia.

Estava acuada.

— Fazem sete anos que não nos vemos! Sete anos, Sakura! Sete anos que você não fala comigo! E eu sei que você esteve na vila várias vezes durante esse tempo, mas você nunca me procurou! – Naruto continuou naquele tom ferido e agressivo — Droga, Sakura! Sete anos que você não olha nos meus olhos!

— E que você queria, Naruto? Eu to lá fora procurando o Sasuke! Eu tô a isso de encontrá-lo novamente e você fica me chamando aqui para quê? Tomar conta de genin? Foda-se! Foda-se se você acha que eu não consigo cumprir essa promessa! Eu vou trazê-lo de volta porque o Sasuke também meu amigo!

— Mas a que custo?! – O outro rebateu num volume até mais alto que o dela.

Eles se encararam.

— Custe o que custar. – Ela disse mais baixo, mais séria.

Determinada.

Sakura disse tão séria quanto no dia em que se olharam e se reconheceram pela primeira vez. Eu vou salvá-lo. Lembrava das palavras dela naquele mesmo timbre, mas ao invés de apenas concordar no seu desespero de não perder mais ninguém, Naruto se manteve firme.

— Não.

Ela franziu o cenho diante daquela negativa com a confusão agressiva tomando conta de cada centímetro de pele. O vento soprou forte novamente, mas os pássaros já haviam fugido. O sol fora encoberto por uma nuvem longa, que flutuava distante, alheia a animosidade logo abaixo.

— Você quer desistir do Sasuke? – Ela perguntou de repente quase incrédula — Foi por isso que você me chamou aqui? Você quer desistir dele? – Perguntou mais urgente, mais confusa. As palavras correndo pela sua boca apressadas numa tentativa de entender, mas Naruto se manteve tão firme com aquela expressão séria.

— Eu nunca desistiria dele.

— Então por que você está tentando me fazer desistir?

— Você entendeu errado, Sakura-chan – Ele disse dando um passo a frente, aproximando seus corpos que estavam tão distantes — Eu não quero que você desista do Sasuke, eu quero que você me dê uma chance de lutar por ele também.

— O quê? – Disse num sussurro tão breve que se misturou ao vento que soprava.

—  Nós dois sabemos que você sozinha não é capaz de cumprir essa promessa, Sakura-chan, então me deixe lutar por ele também.

Naquele momento, Sakura se lembrou do Vale do Fim. A estátua de Madara encarando Hashirama na eterna rivalidade entre os maiores shinobis que o mundo já viu. Ela lembrou do barulho da queda d’água, do cheiro da terra úmida, da sensação da relva selvagem nos pés. Sakura lembrou dos olhos de Sasuke, e do céu. Lembrou-se do som abrasivo do fogo, e da sensação das rochas dizimadas em seus punhos.

A mulher tocou seu próprio abdômen, mas daquela sensação ela não se lembrava.

Não.

Daquele momento, ela lembrava apenas do soco no rosto do menino e depois estava no hospital, Naruto ao seu lado chorando logo após dizer que seu mestre havia morrido nas mãos de Sasuke. Lembrou-se da sensação das lágrimas dele escorrendo na mão que pousou no rosto dele, e lembrou das palavras.

Dessa parte, no entanto, Naruto também lembrava.

O toque da mão dela em seu rosto, o sorriso gentil da única pessoa que o entendia. Lembrava das palavras e das promessas, e lembrava de se perguntar se não estava colocando um fardo pesado demais para que ela carregasse, mas essa é a coisa com a Sakura. Nada parece pesado demais para aquelas costas que nem eram tão grandes assim.

Ele lembrava de assistir aquele treino absurdo que ela se propôs a ter com Senju Tsunade. Lembrava dos ossos quebrados, das bandagens e dos hematomas na pele tão branca. Lembrava do cabelo rosa molhado embaixo da chuva no dia em que fora embora com Tsunade para seu último ano de treino, lembrava do retorno dela e de como ela já parecia tão mais capaz. Anos se passaram e Sakura ficou famosa pelos seus feitos, e na ANBU, aquela coisa de flor da morte começou.

Naruto fortemente acreditou que se havia alguém capaz de enfrentar Sasuke, esse alguém era Sakura, mas isso foi só aquilo no que ele se agarrou para não admitir que tudo o que ela estava se tornando era culpa dele, e todo o sangue que ela tinha nas mãos era resultado daquela promessa estúpida que um dia fora feita de maneira tão irresponsável para alguém fraco demais, dependente demais, e desesperado demais.

— Quando você parou de confiar em mim?

Ele franziu o cenho.

— Nunca.

Era a única resposta possível, e naquele olhar trocado, ela soube que ele não estava mentindo.

— Então por quê? Por que eu tô aqui, Naruto?

...

— Porque eu preciso que você confie em mim.

E antes que ela percebesse, Naruto estava bem na sua frente, mais perto do que ele jamais esteve antes. Seus olhos presos um no outro enquanto a conversa que nunca tiveram acontecia na fração de um segundo. Foi a vez dela de abrir a boca e fechar, sem conseguir articular as palavras certas diante daquela frase tão simples, tão óbvia.

Então ela finalmente entendeu o que ele queria.

Finalmente ela compreendeu.

E aquilo a assustou muito mais do que qualquer outra coisa.

— Sakura-chan, eu vou a Kumogakure e só vou voltar quando eu puder controlar o chakra da Kyuubi, e aí, nós dois juntos vamos ser capazes de salvar o Sasuke.

— Isso... não. Naruto, isso é muito perigoso. Você não precisa fazer isso. – Ela dizia enquanto as palavras dele iam criando imagens em sua mente de todos os horrores pelo qual ela passou, de todas as decisões que precisou tomar, e todas as vidas que não pôde salvar.

Sakura balançou a cabeça reafirmando a negação diante das palavras de Naruto, afastando todas as possibilidades daquela decisão dele e quando percebeu, estava encarando suas mãos enquanto o sangue de todos os seus inimigos escorria por ali, e de seus amigos também.

Ela arfou sentindo-se perder o controle que não tinha, e antes que pudesse dar as costas novamente, Naruto segurou aquelas mãos ensanguentadas com as dele, tão limpas.

— ... Nesses sete anos, eu sei que você não tem me visto, mas... Eu... Toda vez que eu vinha na vila, eu dava um jeito de te ver. – Falou naquele timbre baixo, olhando para sangue nas mãos que manchavam as dele — Ontem mesmo, assim que eu cheguei, eu fui te ver. Você tava dormindo. Tinha comido ramen, e depois dormiu.

Naruto permanecia em silêncio sentindo as mãos dela apertarem as dele um pouco mais forte e as palavras eram tão baixas que facilmente poderiam se passar desapercebidas, mas ao contrário, todo o significado por trás delas o invada denso e ele se viu segurando as mãos dela mais forte. É claro que ela sempre olharia por ele. É claro que ele era um fardo para ela.

Mas ele não queria ser.

Não mais.

— Eu tô cansado de perder as pessoas, Sakura-chan.

— Eu já falei que vou trazê-lo de volta para você. – Ela disse, ainda com seu rosto baixo mirando as mãos entrelaçadas, sentindo os dedos de Naruto pressionarem mais fortes sua mão.

— Eu não tô falando do Sasuke.

A voz dele soou e ela levantou a cabeça por reflexo, vendo as lágrimas nos cantos dos olhos azuis como a muito tempo não via.

— Eu tô perdendo você um dia de cada vez, e sem você eu não vou conseguir... Eu não vou conseguir trazer você e o Sasuke de volta. Sakura-chan, eu não sou tão forte quanto você, mas eu sei que juntos, nós dois...

Ele parou de falar quando ela, sem soltar sua mão, levou o polegar ao rosto dele e enxugou aquela única lágrima que escorreu, seus olhares finalmente se encontraram mais firmes.

— Eu tô aqui.

Sakura disse firme, séria, decidida.

E sua voz era tão presente que Naruto se viu confirmando com a cabeça, como se pela primeira vez na vida daquelas palavras fizessem sentido. Era mais uma promessa, não era? Mais uma daquelas que pesariam nas costas dela, mas ele confiava que era o mesmo para ela. Que ela também não conseguiria sem ele.

— Então, por favor, Sakura-chan... Acredite em nós dois.

Naruto se odiou um pouco por dizer aquelas palavras quando as lágrimas começaram a rolar mais intensas de seu rosto, mas daquela vez, durante o abraço que se seguiu, enquanto as mãos dela o confortavam, Naruto acreditou que poderia ser mais forte, mesmo que soubesse que sendo quem era e tendo a história que tinha, aquilo não significava muita coisa, mas ainda assim, enquanto chorava no ombro de Sakura como a muito tempo não fazia, Naruto sentia que podia ir mais longe.

— Eu acredito.

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Era final de tarde e o clima ameno era convidativo para um longo passeio pelas ruas de Konoha. Famílias iam e vinham com seus animais, sacolas de compras, doces e salgados. O vento acolhedor fazia as flores sacudirem gentilmente nos canteiros das casas, e aquele catavento na mão da criança girou suave. Um bebê chorou carente da atenção de sua mãe, que logo o acolheu em seus braços, ninando-o com uma canção.

Mas ela não ouviu nada disso.

Naquele lugar, ainda que habitado por muitos, a única coisa que podia ouvir era o silêncio daqueles que já não podiam mais falar, e diante dela, a pedra fria jazia solene com o nome de todos os que jamais voltariam a ver.

Hatake Sakumo.

Ela viu os caracteres entalhados com esmero e manteve seus olhos ali por um longo momento sem se preocupar com o vento que a atingia. Tirou o colete de Ino, e segurou a hitaiate na mão, não notou a lagartixa solitária que correu perto de seus pés, mas notou aqueles outros nomes que jaziam tão frios. Namikaze Minato, Uzumaki Kushina, Uchiha Itachi...

Deslizou um dedo por todos na lista extensa que cobria toda a superfície plana, pairando novamente sobre aquele que era o seu mentor, Hatake Sakumo. Muito do que era enquanto ninja era fruto daquele que a ensinou o fundamento básico para todo e qualquer ninja: Trabalho em equipe.

Riu brevemente relembrando aquele teste idiota onde Naruto teve que ser carregado por ela e Sasuke apenas foi perfeito em tudo o que fez. Tá longe do ideal, mas existe... Foram as palavras dele quando finalizaram aquele teste, referindo-se, é claro, ao trabalho em equipe do trio de palermas que havia sido designado para ele.

Coitado.

Sakura pensou com outra risada.

Só em pensar em tomar conta de três pirralhos, um calafrio percorria o seu corpo.

Não fazia ideia de como foi, na perspectiva de seu sensei, lidar com três crianças idiotas que não tinham motivação para absolutamente nada. Naruto era um idiota com muita vontade e pouco talento, Sasuke era um gênio metido que se achava melhor do que os outros, e ela... céus... Ela era a pior de todas. A única coisa que tinha era seu controle de chakra e predisposição a genjutsu.

Mas pudera... Sasuke e Naruto tinham famílias cheias de tradições por trás deles. Sasuke já tinha um arsenal de jutsus de fogo devidamente aprendidos e Naruto já era capaz de executar um rasengan com maestria, mas ela... Ela só tinha aquele monte de livros velhos na biblioteca, que a ensinaram algumas coisas, é claro, mas ainda assim não se comparava a ter um legado.

No final das contas, foi Sakumo quem lhe deu um nome.

Os outros dois sempre falaram que ela era a favorita dele, mas a verdade é que ela era a que precisava de mais atenção ou seria um peso morto para o time. Ele a ensinou a manejar a tantō, a arma que dava sentido à alcunha de Canino Branco, e também, mesmo que não fosse sua especialidade, a ensinou vários tipos de genjutsu se aproveitando do seu incrível controle de chakra.

Talvez até a tivesse ensinado a invocar os cães.

Quem sabe...?

Quem poderia saber o que aconteceria se ele não tivesse morrido?

Deu os ombros minimamente enquanto mirava o nome do homem.

Para Sakura, restava lidar com o que havia sobrado, e isso incluía... Hatake Kakashi. Uma das pessoas que ela evitava sumariamente por motivos de... que diferença faria? Mas Naruto não o evitou, muito pelo contrário, Naruto se aproximou do moleque de apenas quatro anos, dando suporte para ele depois da morte do pai.

Bem... Alguém tinha que fazer isso, não é? E obviamente não seria ela.

Apesar do que Naruto lhe dizia na época, sobre apenas sentar para conversar com a criança, Sakura sentia que não tinha nada para dizer. O que ela poderia fazer por Kakashi? Ela, como uma boa órfã, sabia que o caminho seria tortuoso, mas, sendo muito honesta consigo mesma, ela não tinha nada para acrescentar na vida dele. Talvez o moleque até a odiasse, afinal, foi por culpa da incapacidade dela de vencer uma luta que o pai dele havia morrido.

Desde que Sakumo morreu, Sakura jamais viu Hatake Kakashi.

Talvez soasse como ingratidão depois de tudo o que Sakumo tinha feito por ela, mas ao mesmo tempo ela não podia se agarrar ao sentimento de estar em débito, afinal, haviam tantas coisas acontecendo naquela época, e ainda naquele exato momento, Sakura sentia como se tudo estivesse girando enquanto ela estava ali, parada, se justificando para o seu falecido mestre enquanto resistia a vontade de comer uma daquelas pílulas do soldado que estavam na cartucheira emprestada que vestia.

Ah, sim...

Ela tinha passado na base ANBU só para protocolar sua permanência indeterminada na Vila da Folha, e acabou acidentalmente passando pelo estoque. Quatro estavam em sua posse. Riu nervosa pensando o sobre a reação de seu mestre quando a visse daquele jeito, uma viciada que não conseguia passar vinte e quatro horas longe daquilo que a ajudava a focar em coisas melhores.

E essa mesma viciada seria responsável pelo time do filho dele, olha só.

Naruto não tinha como saber, mas Shikamaru sabia... Ela não conseguia entender como ele tinha aprovado aquela ideia de Sakura tomar conta de um bando de sub-vinte que nunca saíram do território do País do Fogo numa missão. Na verdade, ela tinha certeza que, devido a Naruto ser o receptáculo da Kyuubi, eles nunca se afastavam muito de Konoha, e isso implicava dizer que o novo time 7 era composto de ninjas inexperientes demais.

E ela era a capitã do time.

Que feliz.

Enfiou a mão na cartucheira pensando que Ino jamais notaria se fosse apenas um, enganando a si mesma que conseguiria manter o controle sob aquilo que, na verdade, a controlava. Pegou a bolinha marrom de cheiro nulo, a olhou por um longo momento diante do monumento dos heróis que se foram em combate, manchando sua imagem diante dos ninjas mais poderosos de sua vila, e lembrou-se, novamente, de Tsunade.

Mortos não falam, não sentem... Tudo é coisa da nossa cabeça, Sakura.

Sim. Dane-se se Sakumo a censuraria. Dane-se se estava manchando a imagem dele. Sakumo estava morto e não importava mais o que ele queria, o que ele achava certo. Ali só importavam os vivos, e ela estava viva.

Os lábios tocaram a pílula do solado como um beijo amargo e sua mão tremeu quando percebeu hesitar. Fechou os olhos com a respiração, de repente, descompassada, sustentando seu beijo solitário que selaria o seu destino enquanto a imagem de Naruto chorando invadia sua mente, e as palavras dele faziam ecos em seus ouvidos.

Engoliu seco, os lábios colados na pequena bola que aliviaria, quase que instantaneamente, aqueles pensamentos copiosos que insistiam em se espalhar por todos os cantos de sua mente. Fechou os olhos com ainda mais força, porque se sentia pronta para muitas coisas, mas pensar em Naruto solto por aí sem que ela pudesse acompanhá-lo não fazia parte desse rol.

Mesmo assim, ela disse, não é? Disse que acreditaria neles, como um time.

Como Sakumo havia ensinado.

E quando seus lábios entreabriram, sujos pelas migalhas, e a pequena bola se projetou para dentro de sua boca, Sakura ouviu um assobio.

Olhou por reflexo ainda que já soubesse quem era, porque ele também era essa alma perdida que gostava de se fazer presente entre os mortos. Se olharam e o sorriso dele continuava o mesmo, apesar da barba maior.

— Tá na merda de novo, Sakura?

Ele perguntou daquele jeito largado, o casaco pesado caindo nos ombros. Como alguém conseguia vestir aquilo em pleno dia ensolarado? Sakura pensou sorrindo de volta sem tentar esconder nada do que estava sentindo. Com ele não precisava.

— E desde quando eu sai dela, Kiba?

Ouviu aquela risadinha dele antes de vê-lo dar passos na direção dela, esticando a mão para pegar a pílula do solado da mão dela e colocar no próprio bolso. Akamaru, do seu lado, pareceu dizer ao a ele, que apenas maneou a cabeça.

— Vai me dar essas outras ou eu vou precisar tomar de você? – Ele perguntou daquele mesmo jeito largado, como se não fosse uma ameaça. Ela riu mais alto, mexendo os ombros antes de passar a mão nos cabelos.

— Como se você conseguisse.

— Você sabe que tenho bons métodos.

Ah, ele tinha.

— Vem pegar.

Ele riu ainda encarando o rosto da mulher que, na opinião dele, nem parecia tão ruim assim. Se ignorasse o tremor no olho, Sakura soaria apenas cansada, mas ele sabia que haviam muito mais coisas por trás da kunoichi de cabelos rosas, porque com ela nada era simples.

Akamaru o olhou novamente com certa urgência e Kiba apenas suspirou acenando positivamente com a cabeça antes de lhe fazer um pedido mudo, daqueles que só Akamaru entenderia. O cachorro saiu em disparada deixando-os a sós com os mortos e as lembranças.

Voltaram a se encarar e ele deu um passo à frente, depois outro. Vagaroso, ele inclinou o corpo na direção dela, pendendo a mão até a cartucheira para a abrir sem nenhuma resistência. Quando ele enfiou dois dedos, Sakura segurou seu braço de maneira ameaçadora, mas ele não se importou e continuou cavoucando até achar as outras três bolinhas, tão inofensivas, tão destruidoras... Enfiou a mão toda ali, puxando as três de uma vez só e Sakura em nenhum momento o soltou.

Ela olhou para a mão dele e depois para seus olhos com aquele ar desconfiado, mas Kiba parecia sempre o mesmo, tão relaxado.

— Por que você se importa?

Ele deu os ombros.

— Gosto de transar com você sóbria.

Sakura riu soltando o braço dele finalmente, e Kiba apenas enfiou todas aquelas pílulas do soldado no próprio bolso com o olhar da moça acompanhando todo o trajeto. Talvez ela fosse tentar recuperar, mas ali ele apenas se permitiu dar crédito a ela, afinal, sequer os lábios ela tinha lambido, deixando todas aquelas migalhas grudadas ali, ainda que fosse incapaz de simplesmente limpá-las.

— Pra onde o Akamaru foi? – Ela perguntou de repente, olhando na direção por onde o cachorro sumiu.

— Avisar a Ino que você tá comigo – Respondeu vendo-a revirar os olhos — e olhar os filhotes dele. – Completou depois de um momento, vendo ela parecer confusa.

— Akamaru é pai?

— De cinco filhotinhos. – Respondeu erguendo a mão para passar o polegar nos lábios da moça que ficou parada por um momento. Pronto. Melhor agora. — Você quer ver?

— Uau! Eu... Nossa... – Riu nervosa — Eu quero.

Kiba sorriu enfiando as mãos nos bolsos.

— Então vamos lá, rosinha. Segue o pai.

.

.

.

— Eu posso pegar?

Kiba riu quando Sakura fez aquela pergunta como se fosse uma criança de cinco anos pedindo ao pai para adotar um cachorro. Concordou com a cabeça ainda que Akamaru tenha lhe lançado um olhar levemente desgostoso. Pai ciumento, se pegou pensando quando a mulher içou a menorzinha, colocando no braço com um cuidado que só médicos possuem, para então fazer um afago gentil.

Estavam na casa da Hana, sua irmã, naquele anexo enorme destinado a todos os cães criados pela família principal. Os trigêmeos Haimaru estavam deitados em camas tão bem feitas quanto àquelas destinadas aos seus donos e olhavamo a cena sem muito entusiasmo, assim como os outros cães que apenas suspiravam diante do barulho fofo que os cinco filhotes emitiam.

Talvez para eles o apelo fosse outro, mas para Sakura era uma das coisas mais incrivelmente fofas que ela já havia visto.

Eles ainda não sabiam andar direito, também não latiam e provavelmente ainda não conseguiam enxergar, mas todos eram tão fofos e ela sentia que poderia passar o dia todo acariciando um por um num ciclo infinito. Os cheirou a nanica devagarzinho e riu para si mesma, porque era bobo, mas estranhamente reconfortante. A bafo de leite produziu um ruído baixinho, quase como um miado, e Sakura olhou para Kiba tal como aquela mesma criança de cinco anos, empolgada demais com algo que, para ele, já era rotina.

O homem agachou-se ao lado dela, pegando um dos irmãos e fazendo exatamente como Sakura, rendendo-se ao apelo fofo dos filhos de Akamaru. O cachorro desistiu e se sentou também, se permitindo olhar a cena de dois humanos idiotas cheirando filhotes que não haviam desmamado ainda. Começaram a conversar em sussurros animados sobre os cachorros e as coisas que aconteciam ali, e logo Sakura ficou ciente da aposentadoria de Akamaru, que estava próxima. Kiba tinha um ar solene e cuidadoso ao falar do companheiro de missão, deixando claro que ele não ficaria parado, mas que nas missões mais complicadas, Akamaru ficaria de fora, dando lugar a um dos seus filhos, que logo se tornaria um dos mais bem treinados cães ninja de Konoha.

Ela não soube bem como se sentia quando a noção de que o tempo estava passando lhe agarrou. Olhou para Akamaru lembrando das palavras de Naruto. Sete anos. Mordeu o lábio quando Kiba fez silêncio, contou mentalmente quantas vezes esteve na vila nesses longos anos, e chegou à conclusão que não foram muitas, mas que em todas elas acabava ali, ao lado de Kiba e, consequentemente, de Akamaru.

Pediu numa voz miúda para irem embora, e Kiba entendeu que talvez fosse um assunto pesado demais para ela, e bem, era para ele também. Akamaru o acompanhou desde sempre, e não podia negar estar feliz que ele tivesse sobrevivido por todas as batalhas que lutaram, mas pensar em continuar o caminho sem ele era complicado. Akamaru não era tão novo e seus joelhos já não eram os mesmos, nem seus ouvidos, ou seus olhos.

Tudo bem.

Quando voltasse para casa, sempre iria encontrá-lo.

Colocaram os filhotes devidamente amontoados naquele berçário, Akamaru ficando para trás enquanto eles caminhavam, juntos, pelo corredor não tão longo que levava a saída. Kiba fechou a porta e Sakura o olhou por um momento. Riram, os dois, compartilhando uma espécie de sentimento indefinido, que nem eles entendiam direito, mas que de alguma forma os uniam.

— Quer ir lá em casa? – Ele perguntou por fim, naquele convite que ela sabia onde ia dar.

A mulher olhou para o lado, vendo o bonito jardim da traseira da casa, as flores num tom bonito de amarelo e de repente ela quis saber o nome delas. Talvez as achasse na floricultura, não podia saber.

— Quero.

...

Kiba era um ninja de elite de Konoha e por certo tinha percebido o tremor das mãos dela, assim como a boca seca e os olhos um tanto fixos. Depois de quase dois anos tomando pílulas do soldado quase todos os dias, Sakura sentia os efeitos das suas primeiras vinte e quatro horas sem as benditas, e ela já sabia que seria um exercício de paciência, porque logo que o corpo se acostumasse sem elas, tudo se tornaria normal de novo, e o que ela mais gostava em seus amigos, era que eles certamente percebiam, mas pareciam não dar tanta importância a isso.

Eles não a tratavam como uma doente em recuperação ou alguém instável; na verdade, eles apenas continuavam conversando com ela como se aquilo fosse algo comum, e talvez fosse... Sakura não sabia dizer direito, mas talvez ninjas viciados em pílulas do soldado fosse mais corriqueiro do que ela imaginava, ou talvez fosse corriqueiro para Kiba e Ino encontrá-la naquela situação de abstinência e lidar com isso.

Ou talvez os dois.

Mas ela não pensou muito nisso depois de terminou aquele copo de d’água que ele a ofereceu assim que chegaram na casa dele, que estava diferente do que ela se lembrava, com alguns móveis novos e o sofá ocupava uma nova posição. Os porta-retratos ainda ocupavam uma prateleira inteira bem acima da janela central, e numa delas, Sakura estava montada em Akamaru, e Hinata parecia querer rir de alguma coisa ao lado de Kiba.

Sua mão tremeu um pouco mais, mas ela não se importou. Colocou o copo em cima de um aparador e quando virou-se, Kiba estava parado, provavelmente encarando a mesma foto. Os olhos em fenda desceram até os dela, e não disseram nada enquanto perduravam naquele olhar onde um acolhia o outro para então não se olharem mais.

Naquela tarde, Sakura havia dado seu primeiro beijo do dia naquela pílula do soldado que testava sua força de vontade, mas naquele anoitecer, seus lábios tocaram aqueles outros que já conhecia de outros tempos, mas ao contrário do que acontecia, Kiba se manteve sutil, beijando-a com algo que se assemelhava a um carinho.

Tudo bem. Ele sempre sabia do que ela precisava, ou talvez fosse o que ele precisasse também, e esse era lance entre eles: Dar o que o outro precisa. Então, mesmo que a mão tremula da mulher tenha circundado seu pescoço, e que estivesse magra demais, quebrada demais, Kiba ainda a beijou como se ela fosse aquela mesma Sakura de dezoito anos com quem ele transou naquele dia chuvoso.

Mãos, roupas, pele, suspiros, arquejos...

Num segundo, Sakura estava deitada naquela cama dele que, certamente, tinha ganhado um novo colchão, e Kiba arrancava todos aqueles gemidos sôfregos ao usar seus dedos calejados. A mão de um ninja era assim, não adiantava lutar contra os calos e as cicatrizes, porque elas sempre estariam lá, mesmo que não fossem visíveis. Ela sentiu a barba dele em sua pele quanto Kiba inspirou fundo na curva de seu pescoço, e seus pés contraíram com todos os estímulos.

Ela o beijou de maneira atrapalhada enquanto lutava para manter a compostura diante dos tremores certos que a invadiam. Gemeu na boca dele antes de fechar os olhos com força, e Kiba continuou preciso como sempre. Ela se agarrou ao lençol da cama, e quando aquele mais agudo lhe escapou, o homem afundou o quadril no dela, colocando a mão por cima daquela dela que precisava se agarrar em alguma coisa.

O suor dos corpos que mexiam, o ruído dos lençóis, a mão dela tremendo segurava a dele enquanto a outra arranhava aquelas costas largas demais. Quando aquela estocada mais profunda aconteceu, Kiba parou por um momento e Sakura jurava ter ouvido algo como um rosnar, e pouco depois, quando ele levantou o rosto para vê-la, Sakura mordeu o lábio tentando segurar uma risada, mas aquela cara de cachorro largado estava ali, estampada com um orgulho idiota.

Ela riu, e ele também.

Mas antes que percebesse, Kiba a estava abraçando com aquela coisa que ele tinha que se assemelhava a um carinho, e talvez fosse, ela não sabia, ela não pensou, porque naquele momento, Sakura chorou.

Era disso que ela gostava em Kiba.

Ele sempre sabia do que ela precisava.

Então ela apenas se agarrou no que ele oferecia, e se permitiu chorar sem motivo algum aparente, sabendo que quando parasse, Kiba não perguntaria absolutamente nada e a trataria como sempre. Era disso que ela precisava, e ficou ali pelo tempo que precisou, com o homem a embalando naqueles braços dele que não a soltaram até que ela pedisse por isso, e quando se olharam, ele apenas puxou o excesso do lençol e enxugou aquele rosto molhado dela.

— Quanto tempo você vai ficar aqui em Konoha, rosinha?

A mulher passou a mão nos cabelos, deixando-a pender acima da cabeça. Kiba a olhava apoiado num cotovelo.

— Para a sua felicidade, por tempo indeterminado. – Ela respondeu soltando o ar pelo nariz naquela risada preguiçosa.

— É? Isso é novidade. Você nunca passa mais de um mês aqui. – Considerou arqueando brevemente as sobrancelhas — Alguma missão especial?

— Você pode até chamar assim, mas... Parece mais algum tipo de punição. – A mulher fez uma breve pausa, se perdendo naquele vermelho das bochechas dele por um simples segundo — Vou substituir o Naruto como capitã do time dele.

Kiba riu em descrença.

— Essa eu quero ver – Disse daquele jeito sacana e Sakura revirou os olhos — Eu tô de molho por uns três meses, para ajudar a Hana com os filhotes, então pode ter certeza que vou fazer um esforço para assistir seus treinos.

Quanta honra. – Debochou flexionando um joelho, iniciando um balançar. — Não sei que merda o Hiruzen fumou dessa vez, mas o Naruto tá indo pra Kumo e eu vou ficar de babá aqui.

— Senti falta dos seus desaforos com o Terceiro – Comentou com humor antes de continuar — Mas isso é bem estranho mesmo. Eu soube que tá tendo uma movimentação acerca das bijuus. Suna recebeu um ataque esses dias, mas a princesinha gostosa lá deu um jeito.

— Princesinha gostosa?

— A tal da Temari.

— Ah... – Sakura riu — Essa aí é terrorista, mas sou fã dela.

— Essa terrorista matou um esquadrão inteiro. – Kiba ressaltou com aquela voz impressionada — Os caras não tiveram nem chances. Antes dos inimigos chegarem nos muros de Suna, a Temari apareceu voando naquele leque dos infernos. Quando ela saltou, o vendaval começou. Quem viu disse que foi areia e sangue pra todo lado.

— Eu ouvi falar que ela é bem impiedosa mesmo, mas quando eu a conheci, naquele lance com o irmão dela, a Temari parecia só uma mulher bastante preocupada com a família. Depois, quando tudo já tava resolvido, eu a vi falando com o Kazekage, e se você acha que eu sou desaforada, precisava ver aquela mulher. – Sakura riu — Eu sou fã dela.

— Vou ter que concordar com o Shikamaru nessa: Mulher é tudo problemática. – Ele disse puxando uns travesseiros para debaixo da cabeça. — Mas, pois é, os boatos dizem que foi um ataque para tentar capturar o jinchuuriki do ichibi. Me admira que o Terceiro esteja mandando Naruto para Kumo nessa época estranha para os jinchuuriki.

Sakura o encarou séria por um momento.

— Aquele velho precisa se aposentar – Resmungou irritadiça — E, sim, Naruto vai a Kumo durante um período extremamente perigoso para os jinchuurikis e, ao invés de me mandar como parte da escolta, o Hokage decidiu me manter aqui na vila.

— Isso tem cara de algum pedido pessoal do Naruto.

— É, mas desde quando aquele museu se importa com pedidos pessoais?

Kiba riu.

— Olhe pelo lado bom... Pelo menos você vai poder descansar um pouco.

— Descansar – Ela repetiu com desdém — Vou tá presa aqui com três pirralhos enquanto Naruto se arrisca em Kumo, e Sasuke continua por aí.

— Você tem que parar de achar que o Naruto é incapaz. Deixa o cara fazer os corres dele. – Maneou a mão displicentemente ao passo que Sakura apenas revirou os olhos — E rosinha, fala sério... Depois de todo esse tempo, você ainda acha que o Sasuke tem solução? Quer dizer, pra vocês, é como se o Sasuke apenas enfiasse a katana, mas quem matasse fosse deus, ou algo parecido. Vocês não enxergam que o cara é só maluco. Matou o próprio irmão, o sensei e quase te levou também.

— Sasuke tem problemas, eu sei, mas...

— Mas o quê, Sakura?

— Eu não posso desistir dele. – Disse e seu rosto ficando mais pesaroso. Kiba a encarou ainda com sua expressão comum, dando tempo para que os pensamentos dela se estabelecessem em palavras — Pode não parecer, mas eu e ele somos muito parecidos.

Kiba ficou em silêncio por um momento, questionando a si mesmo se queria rumar para aquele assunto. A olhou pelo tempo que foi preciso, e ela devolveu aquele gesto com um sorriso mínimo. No final, o homem apenas riu.

— Pelo que eu lembro, a bunda dele não é tão gostosa quanto a sua.

Sakura rolou os olhos e o empurrou brevemente.

— Eu senti sua falta. – Disse com bom humor, puxando um travesseiro daquele amontoado que ele havia feito debaixo da própria cabeça.

— Ninguém resiste ao cachorrão aqui – O outro falou girando na cama para deitar a cabeça sobre a barriga dela.

— Autoestima é tudo. – Ela riu dando um tapinha na testa dele antes de fechar os olhos naquele estado de relaxamento. Ficaram por um longo minuto em silêncio, e quando Sakura abriu os olhos, a curiosidade a atacou — Kiba, você sabe quem são os outros dois genins do Naruto?

O homem olhou para ela com uma sobrancelha arqueada.

— Genins? – Repetiu confuso antes de rir — Sakura, eles são chunnins.

— Hein? – Franziu o cenho — Como?

— Ué! Você sabe, oras. Passando no exame chunnin. – Respondeu ainda vendo a expressão confusa da mulher — Sakura, você tá bem perdida no tempo, né? Os moleque tão com 16 anos, no mínimo. O Sakumo Júnior mesmo virou chunin com 11 aninhos. A certinha com 13, e o filho do Naruto com o Sasuke foi nessa última edição que teve.

— Quê? – Sakura riu sem saber direito o que estava acontecendo naquele relato, porque era difícil acompanhar os vocativos privados que Kiba colocava nas pessoas.

O homem estalou a língua e se empertigou, virando o corpo na direção do rosto dela.

— O novo time 7 é composto de três chunins, Sakura. Todos eles, em tempos diferentes, foram aprovados. O Kakashi tá cotado pra jounin desde os 13 anos, inclusive, mas você sabe que precisa de voto unanime para ele ganhar a patente, e o Naruto sempre vota contra.

— Ele é tão bom assim?

— Eu não o chamo de Sakumo Júnior só porque o cara é filho do Sakumo-sensei. – Kiba disse para provar seu ponto antes de continuar — Eu assisti o torneio final da edição do exame em que ele foi aprovado, e o garoto saiu destruindo geral. Foi um massacre. Ele já usa Doton com a precisão de ninjas muito mais experientes que ele, e a noção de combate é assustadora.

Sakura considerou aquelas informações por um momento, sabendo que Kiba poderia ser exagerado em alguns momentos, mas nunca quando se tratava de combates. Fez uma nota mental de que, tudo bem, eram genins contra genins, mas vencer um torneio com apenas onze anos era algo impressionante, e agora, com dezesseis, se tivesse continuado nesse ritmo, de fato, poderia se equiparar a um jounin.

— E por que o Naruto não vota a favor?

Kiba riu brevemente, olhando para Sakura de maneira relaxada, quase como se dissesse “não é óbvio?”

— Ele acha que o Júnior é muito novo.

Ah... Sakura maneou a cabeça com um sorriso teimando em escapar.

Isso era tão Naruto.

— E os outros dois? – Perguntou tirando um fio de cabelo do rosto do homem com displicência — A certinha e o meu sobrinho.

Kiba riu.

— A certinha, que eu não lembro o nome, quer ser ninja médica. – Ele disse vendo Sakura arquear a sobrancelha com certo nível de surpresa — Não conheço muito, mas ela parece ser o tipo nice girl, toda educadinha, pensamento positivo, trabalho em equipe, blá-blá-blá.

— Ela é boa? Como foi a luta dela?

— Venceu apenas uma luta no torneio usando uma armadilha doida com papel bomba. Foi aprovada porque, você sabe, ninjas médicos são difíceis de encontrar.

Sakura esfregou a própria testa lembrando das palavras de Tsunade numa conversa antiga, mas guardou o pensamento para si mesma.

— E o Saskoruto?

— O Naruske? – Riram que nem dois retardados antes que Kiba continuasse — É um garoto Uchiha. Não lembro o nome também, mas, como você já pode imaginar, usa bastante Katon. De resto, é todo atrapalhado.

— Você viu o torneio da edição dele?

— Não, mas a Tenten me falou que ele melhorou bastante. – Disse dando os ombros — Aliás, o time dela é todo doido também. Deles eu lembro os nomes: Kurenai, a promissora; Genma, o moleque da senbon; e tem Shino Júnior, Aoba o nome. Não é Aburame, mas é tão calado quanto. Foi o único time em que todos os integrantes foram aprovados juntos no exame chunin e de primeira.

A promissora? – Sakura estreitou os olhos para o homem.

— Não, eu tô falando sério. Ela carregou o time nas costas lá na prova de sobrevivência. A guria é punk. Outra cotada pra jounin, mas essa é mais recente.

— Talvez eu devesse pedir umas dicas pra Tenten – Sakura disse, de repente, e Kiba riu. — Vai ser um desastre. Eu não sirvo pra ser capitã de time de genin.

— São chunins.

— Pra mim, eles são tudo genin.

— Humilde.

— Dane-se.

Kiba riu enquanto erguia o tronco para se sentar, virou-se para Sakura com aquele sorriso tão característico antes de só sugerir:

— Vai passar a noite aqui, rosinha?

— Que horas são?

— Nove.

E ali ela completou vinte e quatro horas sem sequer dar-se conta.

Sorriu para ele.

— Só se você me der comida.

— Tem leitinho quente aqui pra você. – Ele sorriu cínico.

Filho da puta – Resmungou rindo antes de se levantar, ficando parada por um momento enquanto encarava o armário.

— O que foi?

— Eu não posso ficar aqui – Disse de repente, virando para o homem.

— A Ino já sabe que você tá aqui, então relaxa. O pai cuida.

— Nãoé isso, Kiba. Se você dormir, eu vou pegar aquelas quatro que tão no bolso do seu casaco assim que eu acordar me tremendo e suando frio.

O homem riu.

— Pruma ninja ANBU você tá bem desatenta. – Ele disse levantando-se também, indo para frente dela — Eu deixei tudo com o Akamaru e, a essa hora, deve tá tudo enterrado em algum buraco por aí. – Falou segurando o queixo dela entre o polegar e o indicador – Relaxa, rosinha. Tenho até um chazinho pra ajudar sua madrugada difícil, então confia quando eu digo: o pai cuida.

Sakura fechou os olhos num misto de alivio e vergonha alheia. Mas era isto. Com Kiba, as coisas se misturavam de uma maneira muito aleatória, e ele sempre parecia tão descomplicado que soava irreal aos seus ouvidos, principalmente quando ele sorria daquele jeito sacana sabendo que a noite seria uma merda, e que ele ficaria de babá enquanto ela tentava simplesmente não o matar.

— As toalhas ficam no mesmo lugar, pai? – Ela perguntou relaxando.

— Ok, quando você me chama assim eu perco metade do tesão – Sakura revirou os olhos enquanto ele continuava falando — E sim, as toalhas ficam no mesmo lugar, então pega uma e se enrola antes de sair do quarto porque o Akamaru já deve ter voltado, e ele é um senhor de respeito, não precisa ficar vendo essa senvergonhesa toda.

— Aí, Kiba – Sakura resmungou com humor abrindo a porta do armário — Às vezes eu me pergunto como você consegue transar com outras pessoas que não eu.   

Ele riu.

— Já falei, rosinha. Ninguém resiste ao cachorrão.

É, cachorros tinham certo apelo afinal de contas.

.

.

.

Os raios de sol vazavam pelas frestas das folhas, atingindo a pele da kunoichi com padrões de sombras que decoravam seu rosto e cabelo recém cortado. A tarde em Konoha estava quente, e Sakura se escorava no tronco daquela árvore, sentada num dos galhos grossos que a acomodava com conforto e discrição. Naruto, ao seu lado, estava acocorado como um galo no poleiro, ambos observando a cena que se passava logo a frente.

O clone do loiro dialogava com os três adolescentes que formavam o novo time 7.

A mulher não dizia nada desde que os três tinham chegado no campo de treinamento três, mas riu quando Obito perguntou, de maneira não muito educada, quem havia quebrado um dos troncos de treinamento. Talvez devesse ter substituído antes do treino, mas sequer lembrou depois da conversa nada amistosa do dia anterior. Ao invés disso, Naruto voltou a torre para informar que tudo estava resolvido, e voltou para casa pensando se tinha tomado a decisão certa sobre... Sobre tudo.

Sair da vila, se arriscar a conseguir controlar o chakra da Kyuubi e deixar os três ninjas sob responsabilidade de Sakura.

Sempre que pensava no que estava prestes a fazer, Naruto sentia um frio na barriga lhe pegando desprevenido. Tinha medo de colocar tudo a perder, porque aí ele não conseguiria olhar nos olhos dela novamente. Não depois do que pediu no dia anterior. Engoliu seco ouvindo o barulho do mastigar da mulher ao seu lado, que havia trazido um potinho com cenouras cortadas em palitos e as estava devorando, uma a uma, de maneira vagarosa demais.

Naruto sabia que havia algo errado com ela. Notou o tremor no olho e como parecia incomodada algumas vezes. A perna espasmava, mas ela insistia em se manter com aquela mesma expressão de indiferença enquanto olhava para os três, ouvindo atentamente o clone falar sobre os problemas que haviam ocorrido durante sua última missão, mas a verdade é que o maior indicativo de que havia algo errado eram aquelas roupas que definitivamente não eram dela.

A calça do uniforme ninja estava nova demais para ser a de Sakura, e ele apostava que era de Ino, mas a camisa... Aquela era grande demais, tendo ela ensacado o excesso na calça para ajustar melhor ao corpo. Nem precisava olhar o símbolo enorme nas costas do haori que vestia por cima para saber que eram roupas do Kiba; e tudo bem que Naruto o achava gente boa, mas ele não aprovava aquele relacionamento dele com Sakura.

Na verdade, ela tinha um dedo horrível pra homem.

Mas quem era ele para julgar quando ele mesmo não estava numa situação muito melhor?

Deixou uma risada baixa sem perceber, o incômodo de não saber o que se passava com a kunoichi sendo afastado pelo pensamento aleatório de que estava sendo ciumento como um irmão mais novo pentelho que não aceita a vida amorosa – ou não amorosa, no caso de Kiba – da irmã mais velha.

— Não ria. – Sakura disse de repente, mastigando aquela maldita cenoura — Isso aí é problema de base. Esse Obito precisa de alguém que entenda o sharingan para dar umas dicas a ele.

Naruto piscou aturdido, perdido por um momento entre os próprios pensamentos e o que Sakura dizia. Ela o olhou com uma sobrancelha arqueada, e ele percebeu que estava falando do que se passava lá em baixo.

— Eu sei – Disse apressado — Mas você sabe que não sobraram muitos Uchihas na vila.

Sakura deu os ombros indiferentemente, deixando a conversa morrer enquanto assistia a cena trágica do clone de Naruto pedindo aos três genins que fizessem uma autoavaliação de seu desempenho na última missão. Estava evitando revirar os olhos, porque era a mesma coisa que Sakumo-sensei fazia com eles quando mais jovens e Sakura odiava se autoavaliar.

Os próprios erros são difíceis de enxergar, era o que ela dizia para o homem, mas a verdade é que era difícil admitir os próprios erros. Mordeu aquele pedaço de cenoura que tinha nas mãos percebendo que o potinho estava prestes a ficar vazio, e tinha que admitir que Ino tinha razão quando a obrigou a levar aquilo pro campo de treinamento: Ajudava, e muito, com sua inquietude.

Se não fosse aquela ação tão simples de mastigar, talvez ela já tivesse ido embora e deixado Naruto sozinho naquela árvore, porque ela nem queria estar ali em primeiro lugar. Odiou quando ele apareceu de supetão na casa de Ino a convidando para assistir ao encontro de time e se familiarizar com seus futuros subordinados, tentou recusar o convite sem causar comoção, mas Naruto começou um discurso enorme, sua cabeça começou a doer, a paciência lhe escapando como água entre os dedos, e somada a noite difícil ao lado de Kiba – que, de fato, cuidou dela – Sakura sentia que só queria um pouco de paz.

Mas Naruto queria que ela fosse naquele maldito encontro.

E pra sorte de Naruto, Ino era uma expert em lidar com a kunoichi de cabelo cor-de-rosa, por isso percebeu a irritabilidade latente e a obrigou a levar cenouras. Se não fossem as malditas cenouras, Sakura já teria arrancado a cabeça do Uchiha, que resmungava a toda hora, falava alto demais, e não parava de se justificar.

Estava quente, e ela queria tomar outro banho. Queria deitar no sofá e tomar aquele suco detox que Ino fazia, cheio de planta, mas que era gostoso de alguma maneira. Ela também tinha planejado passar na casa da irmã de Kiba, a Hana, para dar outra olhada nos filhotes. Hana era sua senpai, e a mulher sempre a tratou muito bem, talvez pudessem jogar conversa fora enquanto Ino estava na floricultura.

A única coisa que ela não planejou, foi estar ali.

Mas já que estava, resolveu prestar atenção.

A certinha ia falar.

— Eu acho que poderia ter feito mais pela missão. Sinto que só acompanhei vocês.

— Você é uma ninja médica, Rin. Não deve se arriscar.

— É, mas... Não é como se eu fosse uma garota indefesa. Eu tenho meus truques, Obito.

— Não se preocupe com isso, Rin. Foque no seu treino e deixa o combate comigo! Eu vou te proteger!

Sakura evitou um longo suspiro, registrando o nome da menina em sua mente enquanto confirmava tudo o que Kiba tinha dito sobre ela. Certinha era um bom apelido pra ela.

— Eu também quero proteger vocês! Quer dizer, se eu pudesse fazer mais, talvez você não tivesse se ferido e o Kakashi não precisaria ter se arriscado tanto lutando sozinho.

— Eu não me arrisquei, Rin. 

Metido.

Daquela posição, Sakura mal conseguia ver os rostos deles. Tinha se protegido com um genjutsu bem fuleiro, e era até esquisito que eles ainda não a tivessem notado, mas era melhor não chamar atenção, porque ali, Sakura conseguia fazer uma análise pessoal de todos eles. O Uchiha era o mais espalhafatoso, a menina não servia para ser ninja e o Júnior...

Sakura olhou para os pés dele e depois para o cabelo espetado, evitando ver a tantō embainhada em suas costas. Toda vez que se demorava naquela lâmina, Sakura sentia que queria ir embora. Não era a mesma que seu sensei usava, é claro, mas era bem similar nos detalhes que podia ver, quase como uma espada gêmea. Pegou mais um daqueles palitinhos de cenoura, fazendo uma nota mental de que iria embora assim que sua cenoura acabasse.

— Tá bom, chega disso – O clone disse com cara de cansado quando viu que a autoavaliação tinha se tornado um bate-papo entre os três sobre besteiras quaisquer — Essa semana vocês vão ter folga, então recomendo que descansem bastante e na outra semana vamos treinar um pouco esse seu taijutsu, Obito.

— Mas Naruto-sensei!!! Eu tô cansado de treinar! Eu quero sair em missão! Eu sou um chunnin agora, e por isso podemos pegar missões de rank mais alto! Até mesmo uma S!!

Naruto estreitou os olhos.

—  Uma S, é? – E então suspirou quando os outros dois pareceram interessados, cada qual a sua maneira. — Dattebayo... – Resmungou desanimado.

 

— Naruto, qual o maior rank de missão que vocês, como time, já pegaram? – Sakura perguntou de repente, ainda com seus olhos na animosidade lá embaixo.

— B. – O homem respondeu brevemente envergonhado — Eles não me deixam ir para muito longe da vila, e mesmo que seja perto, só de pisar fora dos muros sou cercado de ANBUS, então isso limita nosso leque de missões.

— Entendi. – Disse dando uma breve pausa — O Kiba me disse que o Kakashi tá cotado pra jounin a muito tempo, mas você tem barrado a promoção. – Seus olhos finalmente giraram na direção do amigo — É por que você acha que ele não tá pronto ou por que isso elevaria o status do time?

Naruto sorriu ainda envergonhado pelas palavras tão diretas da kunoichi, que parecia não se importar em constrangê-lo com o fato de que ele era um jounin limitado.

— Um pouco dos dois. – Disse depois de um momento — Se ele fosse promovido, seria estranho não pegarmos missões mais difíceis, mas ele poderia seguir solo ou ir pra outro time. Minha questão é que ele é muito novo, e tem muita merda acontecendo por aí. Ele é um ninja excelente, mas eu gostaria de preservar a adolescência dele um pouco mais.

Sakura concordou com a cabeça.

— Ele sabe que é você que o impede de progredir de patente?

— Eu creio que sim.

— Quando é a próxima assembleia?

— Próximo mês – Naruto respondeu considerando aquela conversa por um momento — Eu vou estar fora, então não sou parte votante, mas você....

— Eu vou votar contra a promoção dele, não se preocupe. – Ela disse pegando aquela outra cenoura. — Você é o sensei do time. Você que sabe o que é melhor para eles. Eu só vou... Sei lá... Jogar eles na boca do leão e ver o que acontece.

Naruto riu.

— Pega leve com eles, Sakura-chan – Naruto pediu com um semblante mais leve — Aliás, você podia ajudar a Rin com ninjutsu médico. Eu não entendo nada disso e a coitada meio que fica sobrando.

Sakura fez uma careta.

— Não prometo nada.

Dattebayo....

 

— ... e é por isso que vamos apenas descansar nessa semana, ok? – O clone disse conciliativo, mas Obito continuava emburrado — E estão dispensados.

O clone colocou as mãos nos quadris e Sakura já estava dando graças pelo final daquela sessão de tortura, mas pra sua infelicidade, o Júnior se virou na direção da árvore onde Naruto e Sakura estavam escondidos e disse em alto, claro e bom tom:

— Agora você já pode descer daí.

 

— Parece que fomos pegos. – Naruto disse sem muita surpresa e Sakura deu uma risadinha observando o rosto de Obito, que também não parecia ter sido pego de surpresa.

— Acho que a menina não percebeu. – Sakura comentou colocando aquele último palitinho de cenoura na boca.

— Talvez... – Naruto disse dando os ombros — Quer ser apresentada?

— Nah... Eu vou embora. – Disse porque queria honrar com sua decisão de minutos atrás. Fim da cenoura, fim da tortura. — Inventa aí qualquer desculpa pros pirralhos. Ja ne, Naruto.

Sakura saltou da árvore sem esperar uma resposta do amigo, que pulou logo em seguida. Ambos pousaram na relva tranquila do dia ensolarado, mas Sakura não esperou. Apenas deu as costas e começou a fazer o seu caminho de maneira vagarosa até a trilha que levava direto para o centro da vila.

Obito, Rin e Kakashi estavam parados encarando o sensei ao passo que o bushin desaparecia numa nuvem de fumaça característica. Obito fez um bico, cruzando os braços sobre o peito enquanto que Rin franziu o cenho, pensando se era quem ela pensava que era...

Não podia ser...

A kunoichi que queria conhecer tinha, sim, cabelo cor-de-rosa, mas não era do clã Inuzuka.

— É por isso que você quer uma folga, hein, Sensei? – Obito Ralhou naquele tom ofendido, tirando Rin de seus pensamentos — Arrumou uma namorada e não consegue desgrudar dela?

— Obito!! – Rin o censurava com espanto, as bochechas avermelhadas ao processar a imagem de Naruto e alguém namorando a metros de distância.

Naruto riu por diversos motivos.

— Ela não é minha namorada. – Se limitou a responder apenas isso, achando que seria interessante que eles descobrissem por si só o que o futuro os reservava. — Nós só estávamos conversando.

Eh...? Escondidos, numa moita?

— É uma árvore.

— Que seja! – Obito disse ainda naquele tom — Eu nunca a vi aqui na vila! Uma Inuzuka de cabelo rosa é novidade pra mim!

— Sempre tem uma primeira vez pra tudo – Naruto comentou dando os ombros — Agora chega dessa rebelião repentina! Se vocês não têm nada melhor pra fazer, então vão treinar! Tô indo nessa! ‘tebayo! – Disse acenando para o trio antes de saltar em velocidade para longe.

— OE, SENSEI! VOLTA AQUI! NÃO ME DEIXA FALANDO SOZINHO!!

E no meio daquela gritaria sem fundamento algum, Hatake Kakashi se via encarando a mulher sumir na trilha em meio as árvores.

.

.

.

 


Notas Finais


E AI? GOSTARAM?

Falei que o Kakashi ia aparecer, mas nunca disse que ia ter destaque K

TEM FILHOTE DO AKAMARU PRA ADOÇÃO, E UM DELES JÁ É DA @Agatha_Lis
Adianto que eles só comem biofresh, então preparem o $$$$$$$$$, mas são fofos demais, vale a pena. AHAHAH

CONTINUEM COMIGO! LOGO TEM MAIS SOFRÊNCIA PRA GENTE!!!


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