Capítulo 10 – Amigos?
Sacudi o homem e, por Deus, ele estava respirando. Peguei o canivete e limpei na blusa dele, peguei também a arma que eu havia feito ele derrubar e fui embora. Sem dinheiro, sem transporte e há 50 quilômetros do hospital. Em algum lugar por perto, achei uma bicicleta amarrada por uma corda em uma grade enferrujada. Apesar de ficar 15 minutos tentando cortar a corda com o canivete, consegui.
Mesmo não sabendo o caminho para o hospital, isso não foi um problema. As pessoas me davam informações e eu olhava em placas. Avistei o prédio branco e verde. As letras vermelhas escrito “Hospital de Saúde Caperon” estampavam o letreiro. Estava no lugar certo.
Me escondi atrás de alguns arbustos e esperei, esperei, esperei. Não chegava ninguém. E quando estava pensando em desistir e sair, ouvi uma voz sendo transmitida de um megafone.
— Mãos na cabeça, senhorita Oliver, temos uma ordem de prisão! — O policial atrás do megafone segurava uma arma, pude avistar 2 viaturas de polícia. — Jogue as armas que estiverem com você no chão e sairá ilesa.
Não havia para onde fugir, atrás de mim havia um muro alto demais para ser escalado, eu estava cercada. Pude ver minha madrasta e meu pai ao lado do policial com o megafone. Suzy chorava e meu pai transmitia uma expressão que podia ser raiva, ou decepção, talvez tristeza, não consegui decifrar.
Saí de trás dos arbustos, joguei o canivete no chão. Suspirei e joguei no chão também a arma que havia pego do homem que feri. Ao ver que eu portava uma arma de fogo, meu pai abriu a boca, surpreso.
Os policiais me pegaram e me algemaram. Colocaram-me em uma das viaturas, enquanto Suzy e meu pai foram na outra. Comecei a chorar quando o carro andou. Eu estava sendo vítima de um terrível engano, mas como poderia provar? Eu sempre estava no lugar errado e na hora errada. Em breve, encontrariam o homem ensanguentado em sua cama de casal e seria mais uma acusação em minhas costas.
Chegando na delegacia, os policiais me revistaram, para ter a certeza de que eu realmente não estava carregando mais nenhuma outra arma. Depois, pegaram minhas digitais e tiraram fotos minhas, segurando uma placa com o número 30452. Então deram-me o “kit presidiária”: uma blusa laranja de mangas, uma calça também laranja, ambos largos. Um chinelo tão duro quanto uma borracha de pneu de carro e um casaco, para o caso de haver frio.
Antes mesmo de eu conhecer meu novo lar, um policial me levou para uma sala onde havia uma mesa e duas cadeiras, uma de frente para a outra. Em uma das paredes, havia uma grande janela.
Sentei em uma das cadeiras de costas para a porta e ouvi alguém entrando. Interrogatório, ótimo. Pensei. Mas, na verdade, ouvi o som de alguém chorando e me virei.
— Pai? Pai, eu sinto muito... é tudo um engano. — Levantei, tentando me aproximar e meu pai se afastou.
— Eu estou decepcionado, Emma! — Ele disse, seu tom transmitia dor. — Eu te criei com muita paciência, fiquei em seu lado a todos os momentos. Mas saiba que eu passei pelas mesmas dores que você e não precisei fazer besteiras para me manter forte. Não precisei ficar trancado no quarto, porque a vida continua, não importa o que aconteça.
— Se eu fiquei trancada, eu tive motivos! — Elevei o tom. — Você acha que depressão é brincadeira? EU. NÃO. MATEI. NINGUÉM! — Berrei. — Sabe por que você não precisou ficar trancado no quarto? Porque você já havia arranjado outra pessoa. Você nem ligou para a morte da minha mãe. Suzy nunca vai ser minha mãe! Ela nunca vai substituí-la! — Meu pai ficou vermelho de raiva e levantou a mão para me bater. — Você vai me bater, pai? Vá em frente, isso nunca vai mudar nada. Eu não fiz nenhuma besteira e quando eu provar isso, nunca mais quero olhar na sua cara. — Abri a porta e saí, batendo-a com a maior força que pude.
Os policiais me contiveram, mas eu disse que não queria mais ficar na sala. Então meu pai disse que “tudo bem”, mas a raiva e a dor eram totalmente perceptíveis em sua voz. Eles concordaram e me levaram para uma cela. Um homem estava deitado na cama de cima do beliche. Os agentes da polícia me colocaram dentro da cela e trancaram-na. Sentei na cama livre e coloquei o rosto entre as mãos.
— Então? Drogas? — O homem na cama de cima perguntou, indiferente.
— Assassinato. Mas eu não deveria estar aqui, é um engano.
— Todo mundo diz isso. — Levantei a cabeça e vi que o homem havia descido da cama. Ele não era um senhor como eu imaginei, parecia ser apenas alguns anos mais velho que eu. — Se está planejando fugir, esqueça. Já tentei. — Ele se virou e me fitou com seus estonteantes olhos azuis. Não respondi nada. — Não temos muitas mulheres por aqui. — Ele deu um sorriso perverso.
Admito que o homem era mesmo bonito, algumas tatuagens percorriam a extensão de seu braço e ele continuava a me fitar.
— Michael.
— O quê? — Eu disse, sendo tirada de meus pensamentos.
— Meu nome. Michael. — Ele continuava a me encarar.
— Ér... Emma. — Por um momento pareci esquecer meu próprio nome.
— Acho que seremos grandes amigos. — Ele sorriu e se virou novamente.
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