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História Ninfeta - Zelena


Escrita por: Bradfork

Notas do Autor


Encontro WickedBeauty está lindo demais, boa leitura!

Capítulo 31 - Zelena


De todos os cenários em que eu me imaginava, dentro de um corolla 97 parado no meio da rua certamente era o ultimo dos lugares.  Crescer privilegiada era uma benção do qual eu estava muito ciente de ter caído sobre mim. Por exemplo, eu nunca tive que lidar com um carro quebrado, simplesmente porque esse tipo de coisa nunca aconteceu comigo. Eu sempre tive empregadas que se livravam de minhas roupas sujas e voltavam com elas limpinhas, motoristas que me levavam para qualquer destino e outras infinitas regalias. Imagine a minha cara quando o carro velho de Belle começou a soltar fumaça e parou no meio da rua. Pensei que ali seria o fim desse desastroso encontro.

— Me desculpe, isso sempre acontece. – Belle gritou do lado de fora do carro. Eu, como boa acompanhante, não falei nada quando ela estacionou de qualquer e saiu do carro, abrindo a capota e soltando ainda mais fumaça. – O motor só precisa esfriar, vai levar alguns minutos.

— Não quer que eu ligue para ninguém? – Revirei minha bolsa em busca do celular. – Talvez um guincho. É isso que chamam quando tem um acidente, não é?

Belle deu a volta e parou na janela ao meu lado, o sorriso de canto me fez esquecer por alguns segundos as preocupações.

— Isso não é um acidente, só um imprevisto. – Suas mãos estavam com um pouco de graxa, ela se inclinou para dentro do carro e tomou cuidado para não me sujar, alcançou o porta-luvas tirando de lá um pano branco, que usou para se limpar. – Vamos chegar a tempo no jogo.

— Tem certeza? – Franzi a testa voltando a me preocupar. Estava disposta a dar uma chance a Belle, então teria que confiar na palavra dela, mesmo que aquilo me tirasse de minha zona de conforto.

— Absoluta.

A fumaça do motor se dissipou, o que percebi ser um bom sinal. Belle deu um sorriso maior ainda e voltou para frente do carro, fechando a capota e voltando em seguida para o banco do motorista. Ela girou as chaves fazendo o carro voltar a vida, deu uma risada em comemoração e começou a dirigir.

— Viu? Apenas um imprevisto.

 

x.x

 

Outro cenário improvável: um estádio de basquete lotado de torcedores. Segundo Belle estávamos torcendo pelos Lakers, não era o time da casa, mas eram os favoritos ao titulo e o time que ela torcia desde criança. Como eu não entendia nada apenas segui o embalo, e a animação da menina era contagiante. Logo me vi sorrindo enquanto ela me explicava às regras básicas de um jogo de basquete.

— Então são basicamente vários homens correndo atrás de uma bola? – Desdenhei enquanto Belle ria. – Me diga como isso é diferente de futebol?

— Você joga com as mãos. – Ela mexeu os dedos como se apertasse uma bola de basquete. – Não acredito que você nunca foi a um jogo de basquete. Onde estava seu pai esse tempo todo?

Engoli em seco a menção de meu pai. Sei que ela não tinha feito por mal, mas acabou me afetando de certa forma.

— Como você sabe tanto dessas coisas? – Tentei mudar de assunto, mas sua resposta acabou me fazendo sentir da mesma forma.

— Meu velho me ensinou tudo. Ele sempre quis um menino, mas acabou me ganhando no lugar e me mostrou tudo que saiba. O que era muito. – Achamos nossas cadeiras no meio da multidão e nos sentamos. – Ele era técnico de um time de escola pública, nada muito grande.

— Você... Hum... Ainda vai a jogos com seu pai?

— Nós não nos falamos mais. – Um homem vendendo cachorro quente passou perto de nos e Belle chamou sua atenção. – Está com fome?

Olhei para aquilo e meus olhos cresceram, imediatamente cruzei os braços e me encolhi no meu lugar.

— Não me diga que... Não... – Belle começou a rir e eu fechei a cara. – Você nunca comeu um cachorro quente?

— Eu nunca tive a oportunidade. – Falei irritada.

— Você está tão fora de si. – Belle continuou a rir e depois de um tempo aliviei a tensão e sorri para ela. – É adorável. Você é adorável. – Eu tinha certeza que minhas bochechas estavam da mesma cor que meu cabelo. Ela se virou para o homem e fez o pedido. – Dois cachorros quentes, e duas cervejas. Aposto que essa aqui só bebeu vinho a vida inteira.

— E champanhe também. – Arqueei a sobrancelha e dei um leve sorriso.

— Mulher chique a senhora. – O homem disse logo após que entregou nossos pedidos. Belle o pagou e ele saiu para atender outros torcedores.

— De fato, muito chique. – Ela me entregou um cachorro quente e um copo com cerveja, que eu encarei amedrontada. – É muito bom, confie em mim.

Ainda hesitante, dei uma mordida no lanche e mastiguei, achando o sabor surpreendentemente gostoso. Tomei um gole da cerveja e coloquei o copo entre nós duas, terminando de mastigar em seguida.

— Está bem, é muito bom. – Belle comemorou com uma ridícula dancinha, me fazendo rolar os olhos.

Quando terminamos de comer o jogo tinha começado. Belle não se continha e toda vez que um jogador chegava perto da cesta ela vibrava, sendo incentivando seu time ou vaiando o adversário.

— Você viu isso, Zelena? – Ela dizia em pé enquanto apontava para os jogadores. – Foi uma cesta de três pontos!

— Eu pensei que as cestas eram de dois pontos! – Gritei para tentar ser ouvida, a multidão fazia um barulho indescritível.

— Mas foi de fora do garrafão, vale três pontos. – Quando ela terminou essa frase os Redhawks já tinham tomado à posse da bola e empataram o jogo novamente. – Filhos da puta!

— Que palavreado bonito. – Repreendia sua atitude de cara feia, mas Belle apenas deu de ombros e continuou a torcer.

— Estamos num estádio, tudo é permitido e perdoado aqui. – Me estendeu a mão, me convidando para levantar de meu assento e torcer junto com ela. – Quer tentar?

— Eu não estou acostumada a uma linguagem tão escassa. – Encarei sua mão por alguns segundo, decidindo se me juntaria aquilo.

— Até hoje você não tinha comido cachorro quente e bebido cerveja barata, e pelo seu olhar mais cedo aposto que nunca esteve em um carro com defeito. Hoje é um dia de primeiras experiências. – Mordi o lábio de leve e segurei sua mão, me levantando e ficando parada em sua frente. Belle passou as mãos pela minha cintura, encostou a cabeça em meu ombro e sussurrou: – O numero 10 é capitão do time, use o seu pior xingamento.

Olhei através do estádio até localizar o jogador do qual ela se referia parado no canto esquerdo da quadra, esperando receber um passe. Coloquei as mãos ao redor da minha boca e gritei com toda a força de meus pulmões.

— Você é um bundão número 10!

O jogador olhou em minha direção, perdendo o passe que estava para receber. Em seguida vários torcedores dos Lakers começaram a me imitar, fazendo a frase ‘você é um bundão número 10’ ecoar por todo o estádio.

Não sei se o coro dos torcedores que desestabilizou os jogadores do Redhawks, mas eles começaram a perder vários pontos em seguida, deixando que os Lakers aproveitassem a oportunidade e abrissem uma boa vantagem. No fim do jogo eu já tinha me convertido a uma fã oficial dos Lakers e comemorei a vitória tão animada quanto Belle, até me rendi a sua dancinha boba e me soltei imitando seus passos.

Saímos do estádio rindo abraçadas, ela me conduzindo pela cintura até sua lata velha que eu já tinha pegado certa estima.

— Você ganhou o jogo pela gente! – Belle exclamou quando chegamos ao carro. – Você é um bundão número 10! – Voltou a gritar enquanto abria a porta para mim.

— Então foi você que nos custou à derrota. – Escutamos uma voz irritada e nos viramos, dando de cara com dois torcedores do Redhawks.

— Acho que essa aqui não sabe respeitar o time da casa. – Disse o outro, ele segurava um copo de plástico e o amassou, jogando no chão.

— Caiam fora. – Belle se colocou na minha frente. Os dois brutamontes eram bem maiores que ela e não pareceram intimidades.

— Olha só são duas sapatonas. – Zombou o primeiro, fazendo o amigo babaca rir.

— E se formos? Vocês não tem chance mesmo. – Me surpreendi com minha ousadia, mas não iria deixar dois homofóbicos nos atacarem assim de graça.

— Talvez elas só precisem dos caras certos para voltarem ao normal.

Irritei-me ainda mais, empurrei Belle delicadamente para o lado e dei um passo à frente, encarando aqueles dois ogros em forma humana. Fechei a mão direita e levantei o punho, e sem pensar muito, dei um soco no primeiro atrevido com toda a força que possuía. Senti o osso de seu nariz quebrar contra meus dedos e ele foi ao chão sangrando.

— Caralho. – Belle disse ao meu lado.

— Sua maluca! – O outro, que ainda estava intacto, exclamou irritado e tentou socorrer o amigo que se contorcia no chão.

Entramos no carro o mais rápido possível e Belle deu partida, nos tirando dali. Por sorte o carro não deu problema e conseguimos colocar uma boa distancia daqueles dois homens.

 

x.x

 

— Da onde veio aquilo? – Belle perguntou assim que estacionou em frente a minha casa. Apertei a mão de leve, estava satisfeita de ter quebrado a cara daquele homem, mas a dor que veio em seguida me fez repensar tal atitude.

— Eu não podia ver ele te falando aquelas coisas e ficar quieta. – Ela pegou a minha mão e examinou, estava com uns pequenos machucados.

— Precisa colocar gelo. – Ela assoprou com cuidado, aliviando a dor que eu sentia. – Posso entrar para te ajudar? Sem segundas intenções.

Meneei a cabeça e ela me seguiu para dentro da mansão, indo direto até a cozinha. Sentei perto da mesa com a mão repousando sobre a perna enquanto Belle procurava na geladeira cubos de gelos. Ela pegou uma forma e colocou em cima do balcão.

— Tem bolsa de gelo no ultimo armário à esquerda. – Belle pegou a bolsa de gelo onde eu tinha informado e a encheu com cubos, depois foi até mim e ajoelhou na minha frente, colocando de leve sobre a minha mão.

— Está doendo? – Perguntou preocupada. Seus olhos miravam a minha mão a todo instante, tomando cuidado para não me machucar ainda mais.

— Não muito. – Coloquei a ponta dos dedos em seu queixo e levantei seu rosto, encarando-a com um sorriso. – Obrigada por esse encontro.

— Você saiu com a mão machucada. – Belle murmurou.

— Ainda assim eu me diverti muito.

— Obrigada por me defender. Aqueles homens me lembraram do meu pai. – Belle contorceu a boca e voltou a encarar minha mão. – Quando descobriu da minha sexualidade ele me expulsou de casa, e nunca mais nos falamos.

— Oh, Belle. – Entrelacei meus dedos nos dela com a mão que não estava machucada. Ela me encarou novamente dessa vez com um sorriso de canto.

— Está tudo bem.

— Meu pai morreu junto de meu irmão quando eu era muito nova. – Confessei para ela. – Minha mãe morreu anos antes. Eu sou muito rica, mas não tenho ninguém com quem dividir isso realmente. Essa noite me mostrou que o que importa são as coisas pequenas, os detalhes, os gestos das pessoas. Você me abriu para um mundo totalmente novo e desconhecido, eu estava morrendo de medo no começo, mas agora só tenho vontade de experimentar cada vez mais.

Aproximei meu rosto do de Belle, já prevendo e ansiando pelo que viria em seguida. Encostei meus lábios nos dela suavemente, deixando que um beijo calmo se iniciasse. A primeira mulher que eu beijasse depois de Emma tinha certeza que seria um desastre, mas foi muito pelo contrario. Os lábios de Belle se encaixaram tão perfeitamente aos meus que todos os outros beijos em minha vida pareceram irrelevantes.

— Eu nunca fiz isso num primeiro encontro, mas você disse que hoje é uma noite de primeiras experiências, certo? – Sussurrei entre seus lábios e Belle apenas concordou com a cabeça. – Então o que você acha de esquecermos as regras sociais e irmos para o meu quarto?

— Eu acho que depois de socar aquele idiota, essa é a melhor ideia que você teve hoje.



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