História Ninguém Sabe - 9

 

Após tantos pensamentos, eu finalmente consegui dormir um pouco. Mas logo fui acordada pelo meu toque de celular. Assim que acendi a tela, notei que eram notificações de ligações perdidas, e pra minha surpresa, as ligações eram de James. Dei um suspiro, e tentei dormir novamente, mas a tentativa foi em vão... Foi quando novamente meu celular tocou..

 

Ligação on ;

 

    - É... Susan, temos que conversar...

 

    - Temos? - suspirei.

 

    - Sim.

 

    - Então fala James, o que você quer?

 

    - Quero me explicar... Olha Susan, não era o que você tava pensando naquele dia que conversamos..

 

     - E o que eu tava pensando?

 

     - Eu sei que você imagina que eu tava com outra garota. Mas não era exatamente isso, era só uma amiga minha que eu não via faz um tempo.

 

      - Era Louise não era?

 

      - A gente não fez nada Susan, posso te garantir.

 

      - James vocês namoravam a mais de 7 anos. Era seu "amor juvenil", como você quer que eu acredite nisso? Se não fizeram nada demais porque não me contou? Porque não retornava as minhas ligações e nem respondia minhas mensagens? - alterei meu tom de voz. Eu sabia que James estava mentindo pra mim, e queria ver até onde ele iria levar essa mentira.

 

      - Susan...

 

      - Não James. - eu o interrompi. - Vamos esquecer ta? Eu estava bem até o momento em que você decidiu me ligar de volta. Chega de mentiras.

 

Ligação off ;

 

Desliguei o celular sem exitar. Estava com raiva demais pra continuar ouvindo a voz dele. E o pior de tudo? Ah... O pior de tudo é que eu o amava. O amava demais para poder odia-lo, para poder ignora-lo. Mas uma coisa que eu realmente não suportava, era mentiras e James sabia disso mais do que qualquer pessoa. Senti meu corpo tremer enquanto os pensamentos fluiam em minha cabeça, coloquei as mãos no rosto na intenção de fazer com que aquilo parasse.

 

      - Susan? - era minha mãe.

 

      - Sim, mãe? - a respondi com as mãos ainda no rosto.

 

       - Era o James não era? - assenti positivamente. - Quer conversar sobre isso? - neguei com a cabeça. Eu sabia que naquele momento, minha mãe seria minha melhor conselheira, mas eu era orgulhosa demais para dividir aquilo com ela. Eu era muito boa em esconder meus sentimentos, mas aos poucos fui perdendo essa 'habilidade'. - Susan, você tem que parar de esconder seus sentimentos.

 

       - Como sabe que to escondendo meus sentimentos? - tirei as mãos do rosto e direcionei meu olhar para mamãe.

 

       - Susan. - revirou os olhos. - Sou sua mãe. Sei quando você está bem, quando não está, quando esta fazendo birra e até quando algo esta incomodando você. E nesse momento eu sei que isso ta te machucando. Sabe que eu quero te ajudar não sabe?

 

        - Sei. - respondi.

 

       - Não vou forçar você a falar. Quando quiser me dizer algo, pode falar. Além de sua mãe, sou sua amiga. - disse ela acariciando a ponta do meu queixo. E eu apenas dei um sorriso pequeno. - Bom... Hoje é aniversário do Tyler...

 

       - Ai meu Deus, mamãe, eu esqueci completamente disso... O que vamos fazer pra ele? - ela riu.

 

       - Calma. Martins vai cuidar da festa surpresa, e Justin levou ele para passear no parque, depois eles vão ao teatro. - sorri. - É... - franzi as sobrancelhas com dúvida..

 

       - O que aconteceu dona Mabel? - ela riu forçadamente.

 

        - Temos um convidado quase especial. - fiz uma expressão de dúvida, esperando sua resposta que saiu tão baixa quanto sua voz.

 

        - Seu pai. - paralisei por alguns segundos antes de tomar qualquer atitude.

 

       - O papai? - sorri.

 

       - Sim. Mas ele virá acompanhado por uma amiga.

 

      - Amiga? - questionei.

 

     - Susan... Seu pai é um homem...

 

     - Já sei. - a interrompi. - Mamãe.

 

   

 

     - Que bom filha. - ela sorriu. - Bom, vou descer e ajudar a Martins com os balões. A casa não é muito grande, mas vai estar um pouco cheia hoje a noite. - disse se levantando.. - Ahhh, Justin comprou umas roupas pra ele, comprou um vestido para mim e outro pra você. Use ele hoje a noite. Está ali no seu armário. Quero ver se Justin realmente tem bom gosto pra roupas femininas. - apenas assenti.

 

Naquele momento, comecei a me perguntar o porque Justin havia comprado um vestido pra mim e pensei em recusar. Mas a curiosidade foi atona e acabei por aceitar o presente. Fui em direção ao armário e abri o mesmo, notei uma caixa da cor vermelho vinho com um laço dourado em volta, abri com delicadeza para não rasgar o enfeite. O vestido era maravilhosamente perfeito. Era preto com um corte em formato de U nas costas, era justo nas coxas e bunda. Eu fiquei encantada pelo mesmo, e não via a hora de usá-lo.

 

 

 

          ~ Naquele dia mais tarde ~

 

Os olhos de Tyler brilhavam ao ver tantas decorações e doces que foram feitos especialmente para ele. Todos estavam muito bem arrumados, notei que havia alguns homens e mulheres que eu nunca tinha visto e me dei conta que eram amigos de Justin. Mamãe estava com um vestido longo que marcavam muito bem suas curvas perfeitas, ela soltou seus cabelos e optou por não passar muita maquiagem. Eu me sentia maravilhosa, e Justin afirmava isso o tempo todo com seus olhares maliciosos pra mim. Era por volta de 20hrs, quando ouvimos a campainha tocar, puxei uma grande quantidade de ar e senti meus lábios se esticando para um grande sorriso. Papai havia chegado, com um pacote enorme em suas mãos. Tyler correu o mais rápido que conseguia, e deu-lhe um abraço.

 

      - Papai, você ta aqui... - Tyler dizia quase gritando de felicidade.

 

      - Ei meu garoto, como você ta hein? Olha o que o papai trouxe pra você. - Papai mostrou o pacote enorme que estava em suas mãos, mas Tyler não dava muita atenção pois o que ele mais queria, estava ali. Tyler pegou na mão do mesmo e o puxou para dentro, com sua amiga. Assim que papai me viu, sua expressão mudou de alegre para surpreendido.

 

        - Como você cresceu minha menina. - seus olhos se encheram de lágrimas, e os meus também.

 

       - Pai.. - corri para lhe dar um abraço. Naquele momento, eu esqueci de todos os problemas que eu estava tendo. Meu pai estava ali, e era aquilo que importava. - Você ta aqui.

 

       - Sempre vou estar. - deixei uma lágrima escorrer. Notei que estava muito tempo abraçando ele, então decidi solta-lo. Papai sorriu pra mim e virou para mamãe, apesar da separação, nem isso conseguia mudar o olhar dos dois para com outro. - Oi... Mabel.

 

          - Oi, Jones. - Mamãe acabou deixando escapar um sorriso. - Você esta mudado.

 

         - Você também mudou bastante. - o clima por alguns segundos ficou um pouco tenso por conta das trocas de olhares do papai e da mamãe. - É, Mabel, esta é Scarlett, minha amiga. Scarlett, esta é Mabel, minha... - ele franziu as sobrancelhas. - A mãe dos meus filhos.

 

         - Olá... - sorriu. - Jones falou muito dos meninos pra mim. Eles são extremamente encantadores. - Mamãe sorriu forçadamente.

 

         - É um prazer conhece-la. - sorriu novamente. - Este é Justin, meu namorado. - Papai franziu rapidamente as sobrancelhas mas voltou a sorrir, por educação. Justin comprimentou papai e Scarlett em seguida.

 

     

         - Então pessoal, vamos para a mesa? - perguntei. Todos sorriram e eu aceitei aquilo como um sim. Mamãe tinha feito um jantar especial. Acredito que o mais ansioso pelo bolo ali na mesa seria o Tyler.

 

Quando Martins serviu o jantar, mamãe começou uma série de perguntas para papai, e ali foi surgindo uma série de conversa. Me senti deslocada, então optei por focar apenas na minha comida. Estava feliz por estar com minha família. Não era da forma que eu mais queria, mas era minha família.

 

         - Susan? - despertei.

 

         - Sim papai? - ele me olhou com curiosidade.

 

         - Ouviu o que eu disse?

 

         - Não papai... Desculpe.

 

         - Estava dizendo pra sua mãe que em Paris tem boas faculdades. E que você pode ir pra lá quando quiser. - arregalei um pouco os olhos.

 

          - Paris? - ele assentiu sorridente. - Pai.. É claro que eu iria, meu Deus, Paris. - sorri. Notei que Justin fez uma expressão não muito agradável, mas aquilo pouco me importou.

 

Quando o jantar acabou, fomos todos para sala e lá, mamãe puxou outra série de conversa. Até que em um certo ponto, ela pediu para que eu fosse buscar o bolo que estava na geladeira. Apenas assenti,  segui para lá. Quando cheguei, me deparei com Scarlett e Justin conversando bem próximos um do outro.

 

        - Justin?

 

        - Sim, Susan? - ele direcionou seus olhos para mim.

 

         - Sabe onde esta o bolo? - apesar de eu saber onde estava optei por dizer que não sabia. Não entendia o motivo mas aquela situação tinha me feito sentir raiva.

 

          - Ah, claro, esta ali na geladeira... Deixa que eu pego. - sorri forçadamente.

 

          - Então Scarlett, como conheceu meu pai? - a fitei com seriedade.

 

          - Trabalhamos na mesma empresa. Seu pai é fotógrafo sabia? - neguei com a cabeça.

 

         - Fico feliz que ele finalmente seguiu o que mais queria.. Ele é apaixonado por fotografia. - ela sorriu. - Bom, vamos pra sala? Ta na hora do parabéns. - Justin e Scarlett assentiram positivamente. - Ah, Scarlett, se importa em levar o bolo pra mim? Preciso da ajuda do Justin em umas coisas aqui.

 

            - Ah claro. Levo sim. - disse enquanto pegava o bolo das mãos de Justin. - A gente se fala depois, Justin. - dei um suspiro.

 

          - Ela é uma grande mulher. - revirei os olhos.

 

          - Cria vergonha na cara Justin. - disse o fitando com a expressão de raiva.

 

          -  Ta com ciúmes Susan? A propósito, você esta linda nesse vestido. Tenho muito bom gosto.

 

          - Não. - ele riu.

 

          - Não parece. - dei de ombros. - Marllon se interessou em você, e sabe o que eu disse?

 

         - O que? - ele se aproximou de mim.

 

         - Disse que você não servia pra ele. Que você era quietinha demais pra uma pessoa como ele. - Marllon era um colega de Justin, do teatro. Ele era encantador, e tinha 19 anos.

 

         - Ta com ciúmes, Justin? - ele riu novamente.

 

         - Ciúmes de uma pirralha? - franzi as sobrancelhas. - Não tenho ciúmes de uma garota que sente remorso pelo namoradinho babaca que esta no Japão comendo outra. Acho que você não o satisfaz Susan.

 

           - Você me da nojo Justin. Nojo. Nunca mais toque em mim de novo. - disse me virando, quando senti a mão de Justin me puxar para o canto.

 

            - Nojo é? - disse passando as mãos em minhas coxas.- Sente nojo, mas eu te dou prazer só por dedar você princesinha, tenho certeza que se você transasse comigo, não iria sentir nojo. - o empurrei para longe.

 

          - Você ta certo. Não sentiria nojo de você. Sentiria nojo de mim, nojo por ser capaz de me entregar pra alguém como você. - me virei e fui em direção a sala, por incrível que pareça, já tinham cantado parabéns. Estavam todos conversando e comendo bolo, Tyler não desgrudava de papai em momento algum. Subi as escadas devagar para não chamar atenção...

 

   

      - Volta aqui mocinha. - papai tinha notado que eu estava tentando escapar. Voltei ao primeiro degrau e o olhei... - O que esta acontecendo Susan? Você parece incomodada... - Justin nesse momento se encostou na parede me observando, enquanto bebia champanhe.

 

         - Quer saber pai? Realmente tem algo me incomodando. - Justin me fitou com o olhar sério.

 

 

 

         - E o que é? - meus olhos começaram a lacrimejar.

 

         - Me incomoda te ver aqui e não ser mais a mesma coisa. Me incomoda ver você e a mamãe se tratando como estranhos. Me incomoda ainda mais ver o Tyler grudado em você, coitado, porque no fundo ele sabe que você vai partir de novo.

 

         - Susan...

 

         - Eu sinto falta de você pai, eu não quero mais ter que viver longe de você. Dói. Dói muito ver que minha família se separou, dói ver você e a mamãe seguindo a vida sem o outro. E eu amo vocês demais pra querer que vocês fiquem longe um do outro. - eu estava ofegante, e me perdia em meio de tantas lágrimas. Eu não era muito sentimental, então aquela atitude me fez se surpreender com tudo.

 

          - Ei, ei... - ele veio em minha direção e em seguida me dando um abraço. - Não vamos ficar longe um do outro.

 

          - Conta pra ela Jones... - Mamãe falou em meio de sorrisos.

 

          - Contar o que? - perguntei limpando as lágrimas.

 

         - Eu comprei uma casa aqui em Seattle... - franzi as sobrancelhas.

 

         - Pai, você odeia comprar casas aqui em Seattle. - ele riu.

 

         - Mas eu comprei, ta certo que aqui em Seattle as coisas não andam muito boas mas comprei. E você pode ir passar uma semana comigo se quiser. - arregalei os olhos sem acreditar. - É só você me mandar mensagem, e eu venho te buscar... Fica um pouco longe, então é só ligar.

 

Eu estava extremamente feliz. Feliz por ter a certeza que pelo menos por um tempo, eu iria ter o meu pai aqui, comigo. Eu tinha minha família unida novamente, não era da forma que eu esperava, mas aquilo significava muito pra mim.