História No game, no life. - Sweet illusion

02 de Novembro de 2010. Stratford, Inglaterra.

Sakura pov’s

Já havia se passado mais de um mês desde a morte de Steve. Tsunade sempre nos deixou claro que algumas vezes era inevitável a perda de um companheiro, mas no fundo eu, Nina e Sasori sabíamos que a morte de Steve não se enquadrava em “inevitável” e todos nós tínhamos nossas parcelas de culpa. No entanto Tsunade mesmo sabendo sobre nossa falha tanto individual quanto como equipe disse que iria fazer uma busca completa para saber mais informações sobre esses tais de “Visards” para que o que aconteceu com Steve não aconteça com mais nenhum outro agente.

Desde aquele dia Nina não saiu mais do quarto, Sasori e eu apenas continuamos a treinar sem nos falar de verdade desde então. Mesmo a culpa não sendo diretamente apenas de Sasori, a morte de um companheiro sempre caía nas costas do líder da missão, e não apenas por esse motivo, mas eu sabia perfeitamente que Sasori se culpava pela morte do companheiro de equipe e também seu amigo.

A tarde já tinha caído quando finalmente resolvi tomar uma atitude. Soltando minha arma de treino no chão caminhei em passos leves até Sasori que furiosamente continuava a atacar o manequim de madeira, e em um segundo para tomar fôlego eu o toquei no antebraço, impedindo seu movimento.

- Você precisa parar. – Disse indo direto ao ponto. – A culpa não é sua, todos sabem disso.

- Mas isso não muda o fato de que ele esta morto Sakura. – Respondeu com a voz tão fria que por um momento pensei que estávamos no inverno. – Se eu fosse um pouco mais forte e pudesse lutar mais um pouco naquele dia, talvez hoje ele não estivesse a um metro abaixo da terra.

- Porém, não éramos, e aconteceu o inesperado. – Respondi firme, enquanto arrancava o resto da madeira de sua mão, evitando encarar por muito tempo as feridas de treino em carne viva. – A morte dele esta tanto na sua mão, quanto na minha e até na de Nina, então pare de se culpa sozinho, pare de descontar tudo em si mesmo.

- Nina não saiu do quarto desde aquele dia. – Sussurrou depois de um tempo. – Eu até pensei em conversar com ela, mas sinto que talvez eu não seja a pessoa certa. – Respondeu cabisbaixo, e depois de 5 segundos entendi que a pessoa quem ele se referia para conversar com ela, era eu.

- Vou conversar com ela. – Disse e dei um tapinha em seu ombro antes de dar meia volta e caminha para a Ala A, diretamente para o quarto de Nina, porque mesmo que a simples ideia de conversar com ela me desse náusea, a realidade de deixar tudo em perfeito caos ainda era bem pior, e por essa razão segui em frente.

Se eu dissesse que passei o caminho todo pensando o que eu poderia falar para ela, estaria mentindo, a verdade era que minha mente estava em completo vazio, como se tudo estivesse no automático. Assim que parei diante de sua porta dei duas batidas suaves, e quando nenhuma resposta veio, entrei sem permissão e acendi a luz.

Nina estava de pijama, sentada na beirada da janela. Puxando uma cadeira até si, coloquei ao seus pés e passei a encarar a janela também, esperando pacientemente até ela quebrar o silêncio, coisa que aconteceu apenas uma hora e meia depois.

- Não sei como superar. – Sua voz estava tão fraca que de inicio achei que estava enganada sobre ela ter dito alguma coisa. - Não sei como seguir em frente Sakura. Steve era meu amigo, meu primeiro amigo, chegamos aqui no mesmo dia, e por sermos ambos calouros, perdidos e assustados nos tornamos amigos instantaneamente. E agora ele se foi, se foi diante dos meus olhos, e eu não fiz nada.

Nina em nenhum momento olhou para mim, passou o tempo todo olhando para além da janela enquanto chorava. Com a garganta seca, permaneci calada enquanto ela se abria e me contava o que queria.

- Nós dois treinávamos e comíamos juntos, passávamos todo o tempo juntos, fazíamos tudo completamente juntos. – Disse com um tom mais firme, antes de voltar a enfraquecer. - Então a dois anos atrás aconteceu o inevitável, a gente se apaixonou e começamos a namorar escondido. – Ela disse, e involuntariamente senti meus olhos se arregalarem um pouco. – A única pessoa que sabia disso era a Tsunade e talvez a Shizune, e mais ninguém, sempre fomos discretos e profissionais diante de todos. – Fungando ela se forçou a continuar. – Nós estávamos planejando fugir daqui, construir uma vida pelo menos mais normal, porém, não deu tempo Sakura, agora ele esta morto, e eu estou morrendo também, é como se um pedaço dentro de mim começasse a desaparecer a medida que os dias se passam.

Sem saber o que falar, a única coisa que eu pude fazer foi a abraçar. Um pouco tímida enlacei pelos ombros e me aproximei de si, e em resposta imediatamente a senti afundar a cabeça contra meu ombro enquanto chorava sem receio. Enquanto alisava seu cabelo e murmurava que tudo ficaria bem, realmente rezei para que ela superasse, que ela conseguisse se reerguer e que toda essa dor amenizasse.

- E eu ainda tenho mais um problema para enfrentar Sakura, e eu ainda nem sei como falar isso. – Disse enquanto soluçava em meu ouvido sussurrando algo que realmente me assustou de verdade.

Depois que Nina adormeceu, escapuli do seu quarto e vaguei sem rumo até o primeiro lugar que meus pés me levaram. Minha cabeça estava completamente pesada, e meu estomago agitado. Sufocada, desci até a sala acústica de tiro e então berrei com todas as minhas forças, me permitindo pela primeira vez liberar o peso do luto e da culpa. E sentindo que poderia desmaiar tentei me esquecer do que Nina havia me falado, tentei pelo menos não pensar nos últimos quarenta minutos que passei no quarto da ruiva, porém era praticamente impossível, porque Nina estava grávida e Steve estava morto.

 [...]

09 de Março de 2020. Los Angeles, Califórnia.

Sakura pov’s

Quando o sinal tocou resolvi esperar alguns minutos antes de sair da sala. Meu corpo estava leve, porem minha cabeça estava pesada. Eu tinha tantos problemas para resolver que não sabia exatamente nem por onde começar. Quando levantei, notei que estava sozinha na sala, e me perguntei quantos minutos eu passei sentada vegetando.

Como já se era esperado, Kakashi deu um jeito para que eu conseguisse passar esses dias foras sem que ninguém desconfiasse. “Internada com virose por três dias”, e tudo que eu tive que fazer era responder mensagens dos meus amigos evitando que eles fossem me visitar no suposto hospital em que estava internada. Já o moreno, bom, aparentemente era comum o Uchiha dar umas sumidas sem avisar quando queria ficar sozinho, detalhe esse que descobri durante a troca de aula quando uma fúria em forma de quatro garotas preocupadas me cercaram para perguntar se eu estava bem e precisava de alguma coisa antes de me inteirar das fofocas. 

Sorri sozinha ao perceber que mesmo não querendo, de alguma forma eu havia adquirido laços com essas pessoas e o pensamento que depois que essa missão acabasse, e possivelmente eu nunca mais visse eles, me era realmente estranha.

- Tem certeza que você esta bem? – Perguntou Naruto enquanto comia de boca aberta.

- Naruto termina de mastigar antes de falar. – Disse Ino o repreendendo.

- Eu estou bem. – Disse dando risada ao olhar para as duas pessoas loiras mais escandalosas que já havia conhecido.

- E o TCC de vocês? Já estão terminando? – Perguntou Neji e a maioria ali concordou com a cabeça, com exceção do Naruto e do Sasuke.

- Eu deixei dar uma boa atrasada nesses últimos dias. – Disse o moreno se pronunciando pela primeira vez enquanto almoçava.

- Ei Teme, é impressão minha ou você esta um pouco mais musculoso? – Perguntou Naruto e por um momento tive que segurar minha risada ao ver o Uchiha deixar o garfo escorregar e espalhar comida pela mesa. – Ah! Agora entendi tudo, você sumiu para treinar.

- E não é que você acertou. – Respondeu com um sorriso de lado.

- Sério? – Perguntou Sai. – O que você andou treinando?

- O de sempre, estou esperando uma certa pessoa marcar uma próxima luta para mim. – Respondeu enquanto olhava para o loiro que imediatamente abriu um sorriso de ponta a ponta.

- Espero que dessa vez não tenhamos que juntar mais ninguém do chão, ouviu dona Sakura? – Comentou Tenten dando risada da minha cara o que me fez mostrar o dedo para si ao dar risada também.

Em algum lugar dentro da minha mochila ouvi meu celular tocando. Dizendo que o refeitório estava muito barulhento levantei da mesa e fui para fora. Estranhando o fato de Kakashi estar me ligando aquela hora, não hesitei em retornar a ligação enquanto caminhava rumo aos jardins.

- Diga. – Disse assim que ele atendeu.

- Arrumei uma casa para você. – Respondeu ele sem rodeios.

- Uma casa para mim? – Ecoei.

- Sim, levou um tempo até equipar ela com tudo que vocês possam precisar.

- “Vocês”? – Repeti, já sabendo o que ele queria dizer com aquele plural. – E da onde você tirou a ideia que ele iria querer morar comigo?

- Que o Sasuke não vai querer isso não é novidade para ninguém. – Disse meu chefe com certa graça.

- Não sei se você se esqueceu disso, mas ao contrário de mim, o Sasuke tem uma vida aqui, as pessoas conhecem ele, e mudar assim do nada e passar a morar comigo. Isso é estranho, as pessoas vão comentar sobre isso, vamos passar a ter uma atenção desnecessária...

- É por isso que eu vou dar uma outra pequena missão para vocês. – Disse me cortando, e involuntariamente algo dentro de mim disse que eu não ia gostar do que iria saber através da caixa de som do celular.

Sasuke pov’s

- Vocês dois só podem estar de sacanagem com minha cara. – Disse enquanto a encontrava sentada no beiral de concreto da fonte. – Tsc. Eu não sou a merda de uma marionete.

- Se veio descontar em mim, saiba que eu também não estou de acordo. – Respondeu enquanto descruzava e esticava as pernas.

- Ele por acaso sabe que eu me formo no final do ano? –Perguntei sentindo minha raiva crescer a medida que ela fingia não prestar atenção ao se alongar. – Eu tenho um TCC para terminar e também tenho um estagio para fazer, e tudo que eu faço na faculdade vai parar no meu currículo. E tudo isso vai influenciar quando eu for arrumar um emprego, então eu não posso simplesmente ser expulso do dormitório porra!

- Só lamento por você. – Disse ela, simplesmente dando de ombros.

- Sakura, você não ficou nem um pouquinho incomodada com o plano do Kakashi? Porque isso não afetaria apenas a mim, mesmo eu não me importando muito com que os outros venham a pensar sobre você.

- Se você se refere ao fato de ambos sermos expulsos por termos supostamente transado em seu quarto, e eu talvez ser taxada de vadia, bom, quero que se foda isso.

- Você quer que isso se foda porque você não tem a porcaria de uma vida aqui e um emprego para correr atrás caralho! – Disse tão bravo que sabia que minhas narinas estavam levemente dilatadas.

- Então sugiro que você ache outro jeito de sair daqui de forma que não levante muitas suspeitas e me avise porque de uma maneira ou de outra, semana que vem eu estou me mudando para lá, com ou sem você. – Disse ela sorrindo abertamente, claramente sabendo de uma coisa que eu não estava sabendo.

- Tsc. Eu odeio muito vocês. – Disse por fim enquanto começava a correr logo atrás de si.

Acelerando o passo, passamos de uma corrida suave para uma corrida mais intensa, estranhando o rumo que Sakura estava indo. Geralmente corríamos sempre em direção a praia e então voltávamos, no entanto, dessa vez Sakura mudou de direção, correndo no sentido contrario e sem questionar passei a segui-la em seu passo apressado, seja lá para onde ela fosse ir.

Saltando uma sequencia de obstáculos, internamente fiquei admirado com a velocidade e com a agilidade dos movimentos da rosada. Assim que viramos a esquerda caímos diretamente em um beco sem saída e já estava pronto para perguntar o que estávamos fazendo ali quando em menos de cinco passos ela já se impulsionava e escalava a parede em direção as barras de ferro da escada de saída de incêndio.

Entendendo o recado, calculei os mesmos movimentos e então o repeti. Sem dúvida não foi com a mesma agilidade e graciosidade que ela tinha, mas também havia conseguido. Quando terminei de impulsionar o corpo para cima das barras Sakura me olhava com expectativa, sem entender olhei para si como se perguntasse “o que foi?” e sem dizer nada ela apenas me deu um tapinha no ombro e com um sorriso mínimo começou a subir as escadas.

Assim que subimos no telhado daquele pequeno prédio, não consegui evitar de olhar admirado para a vastidão das luzes da cidade no horizonte. A Haruno estava ao meu lado, respirando tão pesadamente quanto eu enquanto tirava alguns minutinhos para respirar e absorver a brisa.

- Lute a sério comigo. – Disse ela após cinco minutos de descanso.

- Aqui? – Perguntei.

- Tem algum lugar melhor? – Perguntou de volta e então dei de ombros. Eu ainda permanecia relutante sobre a ideia de lutar consigo, não apenas como homem, mas como pessoa, eu não era a favor da ideia de lutar contra uma mulher, mesmo que fosse na forma esportiva. – Sasuke, vou repetir de novo. A sua hesitação em lutar contra uma mulher pode muito bem ser sua assinatura para partir dessa para melhor.

- Ganha quem conseguir imobilizar o outro primeiro? – Negociei as mesmas regras que usamos em nossa primeira “luta” e ela com um suspiro assentiu mesmo a contragosto.

No momento seguinte já estávamos um de frente pro outro, nos avaliando enquanto a luz da lua iluminava nosso tatame imaginário e o vento gélido nos mantinha refrescados. Em um piscar de olhos ela veio até mim, pela posição do seu corpo não sabia dizer exatamente qual estilo de luta ela estaria utilizando, e mesmo se soubesse do que me serviria? Quando ela desferiu o primeiro soco, agarrei seu punho e o torci para suas costas, como minha primeira tentativa em imobiliza-la, o que claramente foi inútil já que no segundo seguinte ela havia girado o corpo e liberando o punho. Instintivamente pisei em seu pé e usei meu corpo para a levar ao chão, surpresa a queda foi inevitável para ambos, montar sobre si foi fácil, o difícil foi conseguir conter seus braços, ela era irritantemente mais ágil e mais forte do que o padrão das garotas comuns.

Em um momento de desatenção, ela conseguiu puxar uma de suas pernas para cima e a usou para me jogar para o lado. De igual para igual, não hesitamos em nos atacar, certo que devido ao cansaço acumulado o primeiro que voltasse a dominar seria o vencedor. Ela até tentou prender minhas pernas, ao jogar suas próprias pernas sobre elas, ofegante imobilizei um de seus braços o agarrando firme pelo pulso e então involuntariamente em uma tentativa de se libertar e eu de imobilizá-la, ambos acabamos no virando em sentidos opostos, chocando nossas cabeças com tanta força que por alguns segundos fui possível ver toda a galáxia e mais além.

Murmurando palavrões de dor, me sentei enquanto agarrava minha testa. E assim como eu a rosada também parecia estar vendo a galáxia e suas estrelas.

- Vou entender isso como um empate. – Disse ela após um tempo. – Isso aqui com toda certeza vai ficar com um roxo.

- A culpa foi sua. – Disse com o maxilar travado.

- Minha? – Perguntou ela.

- A ideia e a insistência foram de quem mesmo? – Perguntei e por um momento achei que tinha oito anos novamente. – Tsc, esquece. Vamos embora.

Tirando a terra da roupa fui o primeiro a me levantar e olhando de relance para si notei que ela estava sorrindo abertamente. Vê-la sorrir não era algo muito frequente a não ser que ela estava com o nosso grupo de amigos, mas mesmo assim aquele sorriso tinha algo diferente, era algo novo, um sorriso que se não estive partindo dela, seria algo descrito como angelical. Não havia ironia, não havia malícia ou irritação. Era o tipo de sorriso que toda a criança dava enquanto brincava com seus amigos, ou quando fazia alguma travessura; simplesmente o sorriso de uma criança feliz. Um sorriso que tinha certeza que Sakura não teve durante sua infância, e se esse sorriso fosse mais frequente talvez a ideia de morar consigo não fosse tão ruim, mas pena que essa era uma doce ilusão.