História No Honey - Andréa

Era um dia chuvoso, o que era de certa forma raro. E eu estava com minhas 2 colegas de quarto sentada no meio da sala, esperando a luz voltar enquanto só tínhamos apenas uma vela. 
 Bom, agora que você já tem o cenário na cabeça. Deixa eu me apresentar. Eu sou Andréa De Los Santos, estudo na Faculdade Santa Luz Para Amantes de Artes, lá eu estudo Arte Realista, pois quero me tornar uma tatuadora algum dia. Ao meu lado está Ster Fernandes, ela estuda na mesma faculdade que eu, junto com Lukas nossa terceira colega de quarto. Ster estuda música e Lukas estuda animação. Na nossa faculdade tudo que é tipo de arte tem lá: dança, teatro, música, desenhos, literatura. É uma bagunça que só na minha opinião. 

Nesse momento, estamos rindo de uma coisa aleatória que Ster falou. Normalmente é sempre assim, pois qualquer merda que sai da boca de Ster fica engraçado e tudo só melhora com a cara de "WTF" que ela faz.

- Mano, do que caralhos vocês estão rindo????!!! Eu não disse porra nenhuma. - Ela falando isso só aumentou as nossas gargalhadas. Ster é sempre assim, mesmo tendo um jeito mais sério e ser até uma puta barraqueira, ela nunca perde chance pra nos fazer rir. - Ah, toma no cu. - 

Isso me faz lembrar de quando nos conhecemos, ou quase. Eu já conhecia elas, só pela fama de malucas que elas tinham na escola. Diferente de Ster, a Lukas sempre foi mais amigável e gentil, mas ela nunca estava de foras nas maluquises também. Como o dia que Ster invadiu a sala de aula por sei lá qual motivo.
Isso aconteceu bem antes de eu conhecer elas realmente, eu fazia aulas de traços junto com Lukas. 

[...]

Era uma terça-feira, estava na aula de traços. Estava desenhando dragões em meu caderno, e eu não conseguia prestar atenção na aula, afinal estava mais preocupada o que fazer enquanto não tinha um lugar pra ficar, naquela época eu tinha acabado de sair da minha casa em Rio de Fevereiro, e vim para aqui São José.
Logo depois de um tempo desenhando, todos na sala simplesmente pararam o que estavam fazendo no exato momento que começaram a ouvir gritaria nos corredores, como xingamentos e algumas pessoas gritando de susto. Derrepente a porta da sala de traços foi arrobada por uma garota que até então era desconhecida por mim.

- Viada! Lançou um novo álbum do Siaméz! - Ela grita enquanto aponta pro seu notebook. Ela era meio alta só um pouco mais alta que eu, usava uma blusa que estampava uma banda e tinha a imagem de um gato nela e em cima escrito "Siaméz" sua calça era folgada e um tênis azul claro, em seu rosto estampava um sorriso enorme como se estivesse falando da coisa que mais amava no mundo, seus olhos demostravam que não dormia a um tempo e eram escuros como seus cabelos, a parte de cima do seu cabelo era amarrada e a de baixo era solto. Em suas costas haviam uma case que tinha o formato de um violão. - E é incrível! Como todas as músicas deles! - Eu olhei ao redor para ver com quem a garota estava a falar, e encontrei ela olhando para uma outra garota baixa e meio gordinha, com um cabelo black power com as pontas levemente loiras, usava um moletom com uma mascará de gato com a mesmas palavras "Siaméz" escritas, ela estampava um sorriso acolhedor para a outra, tinha a sua face levemente avermelhada provavelmente por causa dos olhos curiosos dos alunos dava pra perceber graças a pele suavemente branca da garota, diferente da outra que tinha uma pele mais parda. Olhei para o lado para a garota que dividia a mesa comigo, Yurin, e perguntei mentalmente pra ela quem eram essas malucas, ela compreendeu silenciosamente e começou a apresentar as garotas, primeiramente apontando para a que estava em pé gritando como uma doida:

- Aquela é Ster Fernandes, aluna de música do 2° andar, melhor amiga de Lukas Dreem e irmã adotada de Júnior Fernandes. - Yurin falou e logo apontou para a garota mais baixa. - Lukas Dreem, melhor aluna da área de animação, melhor amiga de Ster Fernandes e divide um apê com ela perto do centro. Elas estão quase sempre juntas, como chiclete quando gruda no cabelo. - E logo ela se calou, deixando eu presenciar o papo das outras duas.

- Você tem que ver o novo solo da Barbara Willians em Summer Nights! - Ster continuou a falar em poucos fôlegos, nem parecia que correu uma maratona pra chegar aqui, ela esperava a resposta da outra garota, mas logo a professora atrapalhou o bom papo delas. 

- Sra. Fernandes?. - Falou a professora tentando chamar a atenção da outra. - Estamos no meio da aula. Então, se poder.. - Ela fez uma pausa. - sair. Eu agradeceria. -

- Ah, Professora Martinez! Um prazer rever a senhora. Claro que eu saio, só... - Deu uma pausa enquanto ia pra perto da melhor amiga, pegando o braço dela e puxando pra fora da sala. - Só vou pegar ela emprestado rapidinho. - E assim, elas sumiram pelo corredor. 
Depois desse incidente, elas não voltaram pra sala naquele dia. Mas graças aquilo que me fez ir até o site da faculdade no Facegram e pesquisar o perfil delas, e assim acabei descobrindo que elas precisavam de uma terceira colega de apartamento.

[...]

Naquele dia eu me senti uma desesperada, e aliviada. Bom, uma desesperada aliviada, pelo simples fato de que, por um lado eu estava aliviada por ter um possível lugar para morar e não ter que procurar mais, por outro, ser tão desesperada ao ponto de ter que ir até o covil das duas malucas que tem fama de quem assisti School of Rock e serem delas a minha provável única opção. Que Deus me ajude.
Nem foi tão ruim assim, se não, nem estaria orando com elas até agora. No começo foi muito difícil, elas são realmente amantes da música, então eram raros os finais de semanas onde eu tinha paz, sem falar nas jogatinas de madrugada. Hoje em dia não é mais assim, aprendi a amar as músicas delas e elas as minhas, sem falar nas madrugadas jogando Super Mariano Kart. Descobri sobre os trabalhos delas. Lukas trabalha em Telemarketing, sabe aquelas pessoas filhas da puta que nunca querem acabar logo com a bosta do seu plano na TV? Pois é, ela é uma delas. Nem adianta reclamar, ela ama isso. 
Ster não trabalha em porque não quer, o mínimo que faz é sair por aí entregando pizza de vez em quando, limpando um estúdio de música de um amigo dela ou até mesmo tocando seu violão na rua. 
Já eu trabalho em uma cafeteria aqui perto, não porque eu quero, é apenas pra ajudar um pouco as garotas a pagar as contas. O pessoal de lá é realmente educado, sem falar na Lukas, que tem uma queda por uma das minhas colegas de trabalho. Ah, não falei, né? Quase todo mundo aqui gosta de boceta, menos Ster, que por algum motivo não gosta de falar sobre isso. Mas ela claramente gosta de garotas, só não admite.

- No que tanto pensa? - Consegui ouvi a voz de Lukas me chamando. 

- Ahn?.

- Ela perguntou no que tanto pensa, Surda. - A maldita da Fernandes abriu a boca na conversa que nem foi chamada.

- Cala a boca, Fernandes. 

- Pelo amor de Deus, não briguem. - Lukas logo colocou as mãos na frente das duas tentando impedir que qualquer discussão prosseguir-se. Essa é outra coisa que acontece com frequência, Ster nunca aqueta a porra do fogo, somos quase como cão e gato. Mas eu não iria brigar com a Fernandes, até porque seria muito idiota da minha parte, então apenas fiquei quieta e logo a Ster se aqueto. - Mas sério, no que está pensando?. -

- Ah, lembranças, sabe? Coisas sobre como eu cheguei na Faculdade, como conheci vocês. Essas coisas. - 

- Tipo aquela vez que tentamos invocar o capeta com o Google Translate e a luz caiu? - Ster comentou o que só me fez soltar uma risada baixa ao lembrar do dia. 

- Você ficou toda cagada no dia, haha. - Naquele dia, a Luka não estava com a gente, então eu e Ster decidimos brincar com o Google Translate até o onde começaram a aparecer frases bizarras, como: "Você precisar fazer aquilo", "eles nunca iram entender", "Você consegue fazer aquilo". Enfim, bizarro. 

- Claro, você não ficaria cagada de medo, se aparecesse palavras sem sentido e de repente a luz caísse?. -

- Claro... - Fiz uma pausa. - Que não, né, caralho?. -

- Pera, vocês tentaram invocar o demônio?. - Nesse momento, eu e Ster nos entre olhamos e logo começamos a rir.

- Não, não. Ollha, o demônio veio até a gente. - Disse Ster ainda rindo um pouco. 

- Se eu souber que o anti-cristo está morando aqui, eu boto você e a Andréa pra exorcizar. 

- Relaxa, quem iria querer exorcizar isso? Aqui já é a casa do capeta, só com a Andréa e eu aqui. - 

- Hehe, finalmente reconhecimento. - Disse por mim mesma. Não é como-se me chamar de demônio seja uma mentira, eu gosto ué. 

- Vocês são tão estranhas. - Lukas finaliza. 

- E você ama a gente de qualquer jeito, Piranha. 

- Ué, qual a necessidade de chamar ela de Piranha? Mó desnecessário. 

- Você não entenderia. - Isso é outra coisa que me faz odiar a Ster com todo meu ser. Ela fala algo e simplesmente não completa a bosta da frase, se não vai completar simplesmente não fala, porra! Ódio do caralho. 

Tem muitas coisas que já me fizeram pensar em sair daqui, como o fato das músicas altas todas as manhãs. Sim, sei que já disse que me acostumei mas não foi bem assim.

[...]

Era uma manhã tranquila comparada com as outra, eu tinha me mudado já  alguns dias. Eu estava dormindo tranquilamente. Bom, eu pensava que estava tudo tranquilo, até ouvir o som de piano grave ao fundo, acompanhado com uma batida de bateria e finalmente um coral de 3 vozes acompanhados por uma guitarra. Eu pensei que pudesse ignorar, mas não quando ouvi uma voz grave acompanhada de uma voz fina. Aquilo sem sombra de dúvidas, era uma perfeita combinação.

Levantei da cama, realmente precisava saber de quem eram as vozes. Graças a aproximação passei a prestar mais atenção na letra, e foi assim que consegui perceber o quanto os instrumentos se encaixavam perfeitamente.

"Each and every day

Hidding from the sunshine"

Meu inglês nunca foi muito bom, então eu não consegui entender. Mas continuei andando até sair do quarto.

"Wandering in the shade

No too old, not too young"

Dessa vez, eu conseguia escutar mais um baixo do que um guitarra. 

"Every night again 

dancing with in the moonlight

Somewhere far away

I can hear your call..."

Fui andando pelo corredor até chegar a sala, enquanto as vozes se cessaram e assim que cheguei na sala pude ver o que estava acontecendo. Ster estava tocando um teclado enquanto cantava com uma voz mais grave mudando de tom para tom, com um microfone na sua frente e Lukas estava com um baixo em mãos tocando alguns acordes extras, atrás delas havia uma caixa de som, provavelmente da onde estava saindo o sons de bateria e launchpad.

"(I'm) Out of my head

of my heart and my mind"

Derrepente a voz de Ster ficou mais grave e mudou de tom pra tom junto com a da Luka, me senti no chinelo vendo aquelas duas cantando. Quem olha de longe nem imagina que elas cantam desse jeito.

[...]

Aquele foi o primeiro dia que vi as duas cantando, na minha cabeça não pensava que as duas tinham tanto talento. As vezes eu toco com elas, toco ukulele mesmo não tendo tanto talento quanto elas e até divertido. 

Com o tempo aprendi a adorar viver com elas, não acho mais que seria a mesma sem essas duas retardadas na minha vida, que nesse momento estão lutando pra ver quem coloca mais salgadinhos na boca.

Começo a rir da cara de idiota delas e logo elas olham pra mim confusas. 

- Vou mostrar quem consegue colocar mais salgadinhos na boca. - Começo a brincar junto com elas, o que torna tudo mais divertido entre nós.

É, serão longos anos pela frente.