História No Ordinary Love - ... eu luto contra ele... - Parte 2 de 3

No dia seguinte...

Barbie’s POV

A noite cai e minha mãe me faz um simples pedido:

-Filha, busca refrigerante?

Assenti e fui num barzinho da esquina mas o mesmo estava fechado. Tive então que andar até encontrar um bar um pouco maior e então logo entrei e comprei o que tinha pra comprar. Aproveitei e comprei uns chicletes com o troco. Subitamente saio e vejo uma menina loira, de relance, no meio da rua. Só posso estar imaginando coisas... ando mais um pouco até que eu possa ver o rosto da menina e a afeição era de Malena. Espera, Malena?!

Um carro vinha à não sei quantos quilômetros por hora mas ele vinha muito rápido.

-Malena! – berrei e a garota abriu os olhos e logo virou o rosto para mim. Li seus lábios, “me perdoe” e o carro estava quase em cima dela. Num súbito movimento, me joguei em cima da garota, lançando-a para a calçada do outro lado. A sacola com o refrigerante e chicletes fora pelos ares. Tentei escapar mas o carro passou rápido demais e sinto minha perna latejar e o sangue escorrer pra fora. Busquei por não olhar para a minha perna pois sei o estrago que tinha ali. Senti ser puxada pelo braço e logo apago.

...

-Ela... me salvar... – ouço vozes cortando. Tentei identificar e era... acho que... Malena e... a minha mãe...

Abro os olhos vagarosamente e identifico onde estou. Quarto de hospital, minha mãe e Malena ao meu lado, remédio sendo injetado diretamente na minha veia, perna endurecida.

-Você acordou... – Malena tem seus olhos marejados e começa a soluçar – me perdoa...

-O que aconteceu...? – indago, massageando as têmporas, tentando organizar meus pensamentos.

-Você ia sacrificar sua vida pela a de Malena... mas só sua perna foi pega. Então Malena te carregou até em casa e... desabou a chorar. Disse que era culpa dela, que iria se suicidar pois você não era mais sua namorada... mas você chegou a tempo. Você vai entrar numa cirurgia daqui uma hora. Seu osso tá todo fodido.

-Malena... – meus olhos se resumem em: lágrimas. A loira se achegou em meu rosto e eu roubei-lhe um beijo – eu te amo. Nunca mais faça isso. Eu estava errada em terminar com você e não foi agora que eu percebi isso. Você samba em qualquer menino que eu ousa ficar mas eu prometo que eu nunca mais vou ficar com nenhum. Eu sou sua e você é minha... – ela me abraça e eu tento memorizar mais uma vez o seu cheiro.

-Nunca mais me deixe! Por favor... você sabe como é... meus medos... – suplica e eu concordo. – sabe, eu amo você demais e se eu te perder, mais uma vez, eu mesma me perco.

-Meninas – um homem de jaleco entra na sala segurando uma prancheta – a senhorita Melocoteia vai entrar na cirurgia.

Minha mãe me dá um beijo na testa e minha namorada (fomos reconciliadas e eu nem tô sabendo) me dá mais um beijo.

...

Pac’s POV

Convenci Batista de que ele deveria me contar quem roubou as provas e olha só: são cinco da manhã, eu e ele tentando invadir a casa dos Linnykers com um pen-drive que contém as imagens da câmera que alegam quem teria feito aquilo. E é claro que foi o idiota do Vilhena. Nosso plano é assim: mostramos o vídeo para o senhor Linnyker e então tentamos convencer ele a buscar a justiça, tirar o Mike da suspensão e tudo mais.

Mike’s POV

Tenho rejeitado tudo. Comida, água, atenção de alguém, conversas. Me excluí do mundo. Talvez assim eu evite que ele acabe comigo. Sinto como se estivesse morrendo, meu corpo inteiro arde em febre e sinto dores. Estou doente, determino eu. Dor de cabeça é o que não me falta, dor nas pernas, braços, olhos, pescoços. Tenho passado as noites em branco. As memórias ficam me perseguindo, pensamentos, raciocínios vêm à tona. Eu tento parar mas eu sinto que preciso encontrar a razão de tudo isso. O que está acontecendo comigo?

Pac’s POV

Entramos e encontramos o pai do Mike usando roupão na cozinha. O relógio marca cinco e vinte e cinco.

-Senhor Linnyker... – Batista chamou, baixo mas o cara se assustou como se estivesse vendo filme de terror com jumpscare.

-Que diabos?! Como vocês entraram!?

-Porta dos fundos... mas isso não é assunto pra agora, senta nessa cadeira agora! – ordenou, desbloqueando a tela de seu celular e conectando um cabo que liga o pen-drive à uma entrada USB. Logo as imagens da câmera da escola são apresentadas e o pai do Mike se surpreende.

-Então... não foi o meu filho quem fez tudo aquilo? – questionou, boquiaberto.

-Não, senhor. Nem o Pac. – Batista replicou.

-Então nesse caso eu poderei tirar meu filho da suspensão e talvez tirá-lo do castigo?

-Você vai tirá-lo do castigo – afirmei, com firmeza. O homem concordou e correu para o quarto de Mike, no piso superior. Fomos atrás, olhei para o relógio e vi que marcavam quase seis da manhã. Mike já estava acordado, com certeza.

Descerrada, alguns segundos o rosto aflito de Mike veio à tona e seus olhos se surpreenderam ao encontrar os meus. Logo correu para abraçar... o Batista. Os dois ficaram ali por um minutinho mas que pra mim, pareceu uma hora, um dia. Eu estou com saudades, porra. Quando se separaram do abraço, Batista apontou discretamente pra mim e o garoto se virou em minha direção. Hesitei mas sabe aquelas cenas em que um anjinho aparece no ombro direito de um personagem e um diabinho aparece no esquerdo? Então, no caso, os dois gritavam: “ABRAÇA ELE, CACETE”. Mas eu fiquei estático. O menino se aproximou e percebi então que era minha deixa. Puxei-o para um beijo longo e calmo. Ele colocou as mãos em meu pescoço e eu em sua cintura, corações acelerados e sorrisos ao prolongar do beijo, como na primeira vez. Nunca me senti tão apegado à uma pessoa como ele. E nem no físico, eu pressionava-o contra o meu corpo que estava um pouco trêmulo e sinto um sabor salgado de lágrimas invadirem o beijo e nos separei pausadamente, encostando nossas testas, corando suavemente.

-Mike, me perdoa... eu não sou nada sem você, eu preciso de você como nunca precisei de alguém antes. Eu nunca gostei da Maria e fingir foi a pior coisa. Achei que estava começando a gostar dela mas era atuação. Eu prometo nunca mais te deixar, eu amo você, eu amo você, eu amo você! – sussurrei.

O senhor Linnyker forçou uma tossida e então olhamos para ele.

-Jovem, o que eu vi agora foi inexplicável. Achei que naquele dia que você veio me pedir permissão pra ficar com o meu filho, era uma brincadeira. Mas agora vejo que você veio até minha casa um pouco antes de eu ir trabalhar e fazer todo esse alvoroço apenas pra provar que meu filho não é o culpado. Meu amigo... você ama o meu menino Mike?

-Sim! Sim, com todas as minhas forças.

-Filho, você ama esse garoto, Pac?

-Sim, papai. Amo com todo o meu coração quebrado de desenho animado.

-Então... o que me resta é... deixar vocês dois ficarem juntos. Se vocês se amam, não posso eu interferi-los. Vocês podem sim, namorar.

Meu coração acelera, abraço Mike com todas as minhas forças e vejo Batista comemorar, logo Mika, que acabou de acordar, se junta à festa.

A fanfarra se dissipa e Mike vai pra dentro do banheiro. Ele estava fedido, sério. Mas eu amo ele e agora posso chamá-lo de namorado. Eu posso chamá-lo de namorado! Será que... eu guardei  o que eu comprei? Acho que sim... mas ficou em casa. Droga. Mas tudo bem, posso me acalmar um pouco agora.

...

Perdemos três aulas com o pai do Mike resolvendo o problema com o Vilhena. Estávamos eu, Mike, o pai do Mike, Vilhena, Fodones (professor de Geografia), Carla e o ilustre Gutin, que quase nunca aparece nas espreitas da escola. O caso era sério pra ele estar ali. Bem, roubo, enganação, mentira em uma única tacada é loucura. Nem sei mas que demoramos três aulas ali, demoramos. São praticamente três horas ali dentro, estava tentando absorver as palavras de Gutin e Carla mas não dava com o meu namorado ali, mordendo os lábios, fazendo gestos com as mãos, arqueando a cabeça pra trás... ele estava me deixando louco. Eu agarraria ele ali mesmo mas eu preciso me controlar um pouco. Mas pelo menos agora eu não preciso mais fingir namorar com ele quando vou na casa dele pra fazer um trabalho... a sensação é ótima e eu me sinto tão bem... sentimentos inexplicáveis.

JV’s POV

Tenho conversado muito com o Rezende nessas últimas semanas, tenho deixado muito os sentimentos à flor da pele; eu amo ele e pelo jeito que ele me olha, sinto que ele sente o mesmo. Mas hoje eu preciso ter a prova concreta de seus sentimentos. É hoje que eu me encorajo e pergunto.

O sinal bate e então fomos para o intervalo. Nenhum sinal de Pac, Mike nem Vilhena. Fiquei sabendo que eles estavam tretando na diretoria. Meus pensamentos bagunçados foram cessados pela mão macia e quente de Rezende, que me puxou até o jardim. Sorri e o mesmo correspondeu com aqueles dentinhos tortos cobertos pelo aparelho metálico com toques azuis. Ele é lindo, gostoso, cara de cocoto. Já o vi de cueca várias vezes por ser o melhor amigo dele e olha, foi sempre muito difícil esconder certos volumes na calça.

-Jotinha, eu não aguento mais – suspirou alto.

-Não aguenta mais o que, Rezende?

-Eu não consigo mais esconder o que eu sinto – oh meu Deus. Sensação de arrepio percorre pelos meus músculos e meu corpo fica rígido. – eu não estou mais ligando para o que os outros vão dizer ou pensar de mim, se vão achar esquisitice, eu quero mais é que se foda. Jotinha, eu estou apaixonado por você. Você é tão bonito, amoroso, sexy, fofo... você me deixa eufórico e excitado. Eu amo você, Jotinha.

Nada falo, apenas ajo subitamente ao entrelaçar nossos dedos e o puxar para um beijo caloroso e intenso. Ele passava as mãos em meus cabelos e eu em sua nuca. Eu nunca me senti tão bem antes, me sinto livre, me sinto calmo.

-Eu também amo você, Rezende. – respondo, colocando minha cabeça sobre seus ombros.

-Olha, foda-se o Wolff, Pac, Edu e todos do nosso grupo. Eu quero namorar com você, Jotinha. Eu amo você demais pra te deixar nas mãos de qualquer uma – propôs, colocando seu maxilar sobre minha cabeça deitada em seus ombros, como um sinal de proteção. Isso é real?

-Eu também, Rezende. Eu também.

-Namorados?

-Namorados.

...

-Parece que os únicos héteros dessa sala serão eu, Edu, Wii, Kaike, Kroni, Cronos, Val, Salada, Nofaxu, Springles, Stux e Jabuti... – Wolff disse, enquanto o professor não chegava na sala.

-Ei, me tira dessa lista! – Wii berrou. – eu tenho o meu crush, ok, viado?

-Não me chama de viado! – respondeu, fazendo pose. Meu Deus, aquilo estava acontecendo mesmo? Olhei para Rezende e comecei a rir.

-Me tira dessa lista aí também – Jabuti gritou – se você não sabe, eu to com o Tutux já faz ME-SES!

-Adoro cacetinho – Stux murmurou, fazendo um joinha.

Mike, Pac e Vilhena chegaram mas logo Vilhena foi embora, com as coisas arrumadas. Acho que alguém levou suspensão. Wii se levantou de seu lugar e foi correndo atrás do garoto, sabe lá Deus o que ele quer. Ah, eu disse que o Mike e o Pac estavam de mãos dadas?

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARGH! – Maria gemeu berrando. “Calasabok, noujenta” é a minha cara.

Wii’s POV

Não posso deixar ele sair assim sem que eu me despeça. Eu preciso disso, nesse momento! Corro até ele e o viro, o mesmo me olha sem rumo e ergue as sobrancelhas. Num lesto gesto, selo nossos lábios, colando seu corpo malhado ao meu. Desde que o vi fazendo natação na nona série quis fazer isso. Seus braços grandões me envolvem e eu me sinto amparado.

-Porque fez isso? – perguntou, lentamente após separar nossos lábios.

-Por que eu te amo. Mesmo que você seja um panaca, eu te amo.

Seus olhos marejam e a diretora Carla o puxa, agora ele estará “expulso” da escola por trinta dias. Mas pelo menos fiz o que precisava fazer antes que algo pior acontecesse.