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História NO SEIO DA ROCHA, NASCE UMA ROSA - O AMANHECER DE UMA DESVENTURA


Escrita por: JohnKayA

Capítulo 1 - O AMANHECER DE UMA DESVENTURA


Fanfic / Fanfiction NO SEIO DA ROCHA, NASCE UMA ROSA - O AMANHECER DE UMA DESVENTURA

 

A guerra contra Voldemort havia terminado há 7 meses, uma semana e três dias.

 

 Apenas o número de assentos vazios no salão principal de Hogwarts revelava a ocorrência de uma carnificina na escola. As paredes, teto e móveis do Castelo estavam magicamente consertados, sem uma única rachadura para contar a história das inúmeras explosões que haviam tomado o céu escuro da Inglaterra, iluminando tudo com seus braços fantasmagóricos. 

Melhor do que antes, pensou Harry, sentado no seu lugar habitual no centro da grande mesa da Grifinória. A ironia da coisa, ponderou consigo mesmo, é que o indício mais gritante da guerra nas dependências do castelo era seu perfeito estado de conservação. Onde costumava imperar a existência de teias de aranha e rachaduras, agora havia apenas a superfície lisa e perfeitamente limpa de um lugar sobre o qual fora atirada uma quantidade de magia que faria inveja mesmo ao prédio sede do Ministério da Magia.

Olhando ao redor, reparou no comportamento tranquilo de seus colegas. A banalidade das conversas acerca dos testes escolares voltava a ser o assunto preferido dos alunos. Rony balbuciava alguma coisa sobre o campeonato mundial de Quadribol, com a boca aberta cheia de ovos e salsicha. Hermione revirava os olhos para o namorado, observando o olhar taciturno de Harry com o canto dos olhos. Neville, alguns assentos adiante, choramingava suas notas em Defesa contra as artes das trevas.

Nada como um dia atrás do outro, concluiu Harry, assistindo a tudo com certa perplexidade. A facilidade com que seus amigos voltavam à rotina lhe chocava.

Talvez fosse esse o problema do garoto. O seu padrão de normalidade destoava de tudo o que podia ser dito dos amigos. Passara dezoito anos de sua vida fugindo de um bruxo das trevas que queria matá-lo. Seu mais íntimo confidente era o diretor de sua escola, o qual agora restava enterrado nos jardins desse mesmo castelo em que vivia. Morto pelas mãos de Snape, um aliado das forças que lutaram contra Voldemort. Hoje também morto, após sacrificar tudo para garantir que  Harry tivesse uma chance de se sair vitorioso contra o pior mago da História conhecida.

Como eu poderia ser normal após tudo isso?, pensou. Enquanto tomava uma golada de suco de abóbora, percebia o quão bizarra era sua vida. Não era à toa que observava tudo em busca de sinais de perigo, nem que acordava à noite sempre que o menor ruído era ouvido. Os padrões de normalidade do salvador do mundo mágico envolviam estar preparado para uma tentativa de assassinato a qualquer momento, sem nunca relaxar.

Ou essa era a desculpa que dava para si mesmo.

O fato era que mesmo após finalizada a guerra, ainda se pegava espionando seu maior arqui-inimigo vivo. Draco Malfoy. O garoto parecia muito afetado pela derrota. Há meses não fazia seus comentários ríspidos sobre os colegas, nem tampouco praticava os insultos reiterados que atirava contra todos. Até mesmo sua postura havia mudado: onde outrora se via um rapaz altivo, de postura ereta e nariz, figurativa e literalmente, de pé; hoje restava um sujeito… Normal. Parecia relaxado, embora também cabisbaixo.

Harry estreitou os olhos em desconfiança, observando atentamente enquanto o loiro sussurrava algo no ouvido de Theodore Nott. O que quer que Draco tivesse dito fez um sorriso zombeteiro surgir no rosto do outro mago, que sussurrou algo em resposta. Essas cobras de plantão, claramente não querem deixar a guerra para trás, se eu pudes---

— Harry. Harry. Harry! - exclamou Hermione, arrancando o garoto de seu monólogo interno. - Está tudo bem com você?

O rapaz ergueu as sobrancelhas de confusão, voltando-se para a amiga. — É claro. Por que eu não estaria? - rebateu, entre algumas goladas de suco de abóbora.

— Estamos aqui sentados há dez minutos, Harry. E reparei que você nem tocou a comida. Apenas bebeu quase meio litro de suco de abóbora! - declarou a garota. Seus amigos costumavam subestimar as habilidades de observação da garota. Só porque Ron lhe importunara por cinco minutos descrevendo um único lance de quadribol, não queria dizer que ela não conseguia prestar atenção no outro amigo enquanto ouvia.

— Eu estou cansado, é só. Noite mal dormida - Explicou, ciente de que era o eufemismo do ano.

Não dormia bem desde o fatídico dia em que foi levado por Hagrid a Hogwarts, onde foi prontamente informado de que um bruxo das trevas havia matado seus pais.

— Você continua obcecado com aquele furão albino. - Interveio Ron, referindo-se a Draco - Mas pode relaxar. Ele anda inofensivo feito um… bom, feito uma criatura inofensiva.

Hermione ergueu uma sobrancelha elegante diante da falta de criatividade do namorado.

— Ron tem razão Harry. Acabou. Estamos seguros.- disse, estendendo um braço para segurar as mãos de Harry - Talvez você deva parar de se preocupar tanto - Finalizou olhando nos olhos do amigo com uma expressão reconfortante no rosto.

Harry sabia que os amigos estavam certos. Assentiu com a cabeça de leve, prometendo para si mesmo que tentaria se adaptar melhor à sua nova vida em tempos de paz.

Dando uma garfada generosa nos ovos mexidos, sorriu para os amigos. Ao sentir o sabor familiar da comida de Hogwarts, decidiu que o trio finalmente ficaria bem. Passariam o resto da vida se preocupando com trabalho e brigas sem sentido em família. Nada de bruxos genocidas nem arqui-inimigos criados aos onze anos.

— Que tal treinarmos Quadribol essa tarde, Ron? Estamos ficando enferrujados - sugeriu, de repente se dando conta do quanto sentia falta de voar - Podemos pedir ao-- Interrompeu a si mesmo ao observar uma comoção repentina que se formava na mesa de Sonserina. Vários alunos se amontoavam ao redor de um ponto quase à cabeceira de mesa. Onde geralmente se sentava…

Malfoy. Típico, pensou, já se erguendo do seu assento para observar a origem da confusão. Caminhou a passos largos em direção à mesa, ouvindo o eco estridente de suas passadas firmes logo ser acompanhado por mais dois pares de passos, que ecoavam logo atrás de si. Ron e Hermione, como nos velhos tempos.

Chegando à parte frontal do salão, onde se concentrava a multidão, ficou surpreso com a imagem se formando diante de si.

Pansy Parkinson parecia desesperada. Um corpo coberto de robes pretos e verde-dourado se estendia sobre seu colo. O bruxo mal podia ser identificado, devido ao rosto virado para baixo, mas a cabeça cheia de madeixas platinadas não deixava dúvidas. Malfoy. 

O corpo inconsciente do loiro estava esparramado sobre a amiga, que tentava a todo custo sacudí-lo de leve, chamando pelo seu nome. 

—  Dray, ei, fale comigo - repetia ela, sem resposta. 

Nott, ao seu lado, parecia finalmente ter superado o choque do acontecido e resolvido ajudar. Puxou o amigo pelos ombros, inclinando seu rosto para cima com surpreendente delicadeza. A imagem do rosto do amigo lhe chocou. Uma palidez doentia tomava conta de suas feições, com uma camada fina de suor frio resplandecendo na testa do bruxo desacordado. O cenho franzido revelava o desconforto que estava sentindo, acompanhado pelo nítido tremor de seu corpo. Estava longe de ser a aparência régia que o rapaz geralmente tentava projetar.

Harry sentiu Hermione se espremer ao seu lado para se prostrar à frente da cena, tendo superado o estupor do choque antes do amigos. - Precisamos levá-lo para a enfermaria, depressa! - declarou a garota, dirigindo-se a ninguém em particular.

Percebendo que ninguém parecia recuperado o suficiente, Harry tomou a frente, fazendo menção de erguer o corpo de Draco. Pansy não parecia disposta a cooperar com o rival do amigo, no entanto, tendo puxado o rapaz com mais força para si, num gesto protetor. 

Harry se compadeceu diante da cena, explicando para a colega: - Só vou levá-lo até a enfermaria - ao terminar, estendeu novamente os braços na direção do rapaz, mais uma vez sendo impedido pela moça - Vamos lá: você me conhece, Pansy. Sabe que eu não faria nada contra um colega. Mesmo Malfoy. - disse, olhando nos olhos da garota para mostrar a sinceridade de suas palavras.

Dessa vez, Pansy não resistiu, embora tenha declarado com certo rancor:

— Não foi isso o que pareceu da última vez em que quase o matou.

Lembranças assustadoras de Draco com os robes empapados de sangue na região do tórax tomaram a mente de Harry. O SectumSempra. Aquilo foi um acidente, quis dizer o bruxo, mas se impediu de fazê-lo. Era verdade. Harry tinha quase matado Draco no sexto ano, mas também o tinha salvado inúmeras outras vezes. O que continuaria fazendo sempre que possível, prometeu a si mesmo, tomando o colega nos braços.

O corpo de Draco era chocantemente leve, para um rapaz que era meia cabeça mais alto que Harry. Ao constatar isso, um misterioso instinto protetor tomou o garoto, que tratou de não pensar muito profundamente sobre isso.

Foi apenas quando deixou o salão de Hogwarts, com seu maior arqui-inimigo nos braços e seus melhores amigos caminhando logo atrás de si que percebeu o silêncio opressor que tinha tomado o salão antes dominado pelo cochicho de alunos curiosos.

Isso vai lhes dar algo sobre o que falar, pensou o rapaz, desanimado, observando o cabelo platinado de Draco ondulando ao vento. 

Ao alcançar os pés da grande escadaria de Hogwarts, Harry resolveu apertar os passos, para despistar o grupo de curiosos que caminhava atrás de si. A dança inconstante das escadas seria útil em tirar os colegas de seu rastro. Apenas Hermione, Ron e Pansy, conseguiriam acompanhar o rapaz, posto que caminhavam logo à sua frente, liderando a procissão esquisita que se formara em direção à enfermaria.

Os pés apressados de Harry deslizaram perigosamente contra o mármore liso dos degraus. Chegou a deslizar alguns centímetros no topo do segundo lance das escadas, que se moveram para a esquerda de maneira repentina. Por pouco conseguiu evitar uma queda, sua e de sua infeliz carga. Quase tinha esquecido do colega em seus braços, notou, percebendo o quanto a cabeça do rapaz movia ao sabor de seus movimentos, como uma marionete cujas cordas tivessem sido cortadas.

— Ufa, despistamos eles - declarou Ron, enxugando o suor que brotara na sua testa com a barra da  manga de seus robes. Um desavisado poderia acabar achando que o bruxo tinha feito mais do que caminhar escada acima. A afirmação recebeu um balançar de cabeça descrente de seu melhor amigo, que cogitava passar o colega em seus braços para Ron, para lhe ensinar o que realmente é extenuação física.

Mais uma vez, por razões que não ousava admitir sequer para si mesmo, Harry sentiu uma pontada de desconforto ao cogitar fazer tal coisa. Até porque, pensou, sua maior recompensa seria o silêncio deixado pela ausência da manada de bisbilhoteiros que os perseguira.

 — Depressa, Potter. Não temos o ano inteiro - Pansy exclamou, com uma cutucada que o arrancou de seus devaneios.

Harry resolveu não dignificar a provocação da garota com uma resposta, porque já podia avistar as grandes portas da enfermaria de Pomfrey, logo ao fim do corredor. Entre duas grandes armaduras de ferro coroadas por uma cabeça de touro, as portas de castanheira esculpida pareciam a luz no fim do túnel. Literalmente, reparou Harry, ao reparar na luz intensa de velas que escapava através do vão entre a porta e as paredes de pedra do castelo.

Hermione foi a primeira a alcançar as portas, que escancarou para permitir a entrada do amigo.

Ao atravessar o batente da porta, Harry reparou imediatamente no vazio da enfermaria. A fileira de camas de metal cobertas por colchões de pena de ganso e linho estavam impecavelmente organizadas. Não haviam frascos de poções espalhadas pelas mesas de cabeceira, tampouco alunos azarados se recuperando de ossos quebrados pelos cantos. Ao longo do salão comprido da enfermaria, uma única ocupante solitária estava presente, sentada sobre uma poltrona onde parecia estar tricotando um minúsculo suéter bordô.

Madame Pomfrey relaxava ao lado dos grandes vitrais da sala, praticando o hobby que adotara nesses tempos de paz. Estava quase terminando as mangas do suéter que tricotara para seu elfo ajudante, Gordofredo, quando foi sobressaltada pela entrada repentina de um grupo de alunos.

— O que foi desta vez, Sr Potter? - interrogou a enfermeira, sem conseguir esconder o desânimo na voz.

— Madame, não foi culpa dele. Dray--- Draco apenas desmaiou de repente. Tem algo realmente errado com ele - uma gargalhada escapou de Ron no fundo, acompanhada de um “já sabemos” murmurado - … Ele não dorme, não come, nem estuda direito, Madame! Alguém, o enfeitiçou, tenho certeza!

A voz embargada da garota foi suficiente para calar a boca de Ron, cujo rosto foi tomado por um rubor que rivalizava o de seus cabelos. 

O desespero na voz de Pansy também pareceu atingir Pomfrey, que não tardou em se erguer de sua poltrona, gesticulando para que Harry deixasse Draco num dos leitos logo à entrada da enfermeira. O desarranjo de seus cachos escarlate revelava o quão imprevista havia sido a visita dos alunos, assim como o estado abarrotado de seus robes vermelhos.

Apesar da surpresa, Pomfrey não tardou em adotar sua postura profissional. Começou estendendo uma mão delicada para sentir a temperatura da testa do garoto. Em seguida, descansou dois dedos sobre seu pulso, analisando rigorosamente a força e estabilidade de seus sinais vitais. Por fim, ergueu as pálpebras do aluno, analisando suas pupilas dilatadas, antes de erguer o corpo e declarar:

— Parece que precisaremos executar um feitiço diagnóstico. Mas, enquanto isso, vocês devem retornar às aulas, sim, meus queridos? - completou, com um sorriso amável.

Fez um gesto circular com a varinha para direcionar uma série de frascos coloridos para a mesa de cabeceira de Draco, ao mesmo tempo em que arrebanhava os alunos para fora da enfermaria. Nenhum deles parecia particularmente feliz em ser retirado da sala antes de ouvir o desfecho da trama, murmurando baixinho enquanto eram expulsos.

— Vamos lá, crianças! - respondeu a enfermeira - Prometo mantê-los informados da recuperação do Sr Malfoy aqui. - finalizou antes de fechar a porta atrás dos garotos.

Ninguém quis comentar o fato de que os consolos de Pomfrey não eram direcionados à Pansy, mas a Harry.



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