História Nobody sees - Clace (HIATUS) - Sarry is real

Clary entrou diretamente na sala de matemática, tomando um susto ao ver o loiro no último lugar em uma das bancadas de duplas.

-- D-D-Desculpa. - Ela gaguejou. - Não sabia que estava ocupado...

-- Pode ficar aqui. - Ele empurrou a cadeira ao seu lado. - Tô só tentando fazer a lição de matemática. Da nova matéria.

Clary assentiu.

-- E-E-Eu preciso falar com você.

Jace arqueou as sombrancelhas.

-- Sobre?

Clary engoliu em seco, tremendo e ficando cada vez mais nervosa.

-- S-Sua mãe.

A ruiva viu a expressão calma do colega se fechar. Clary estava tão tensa quanto a corda de um violão.

-- O que tem ela? - Ele praticamente rosnou.

Clary fechou os olhos, falando tudo rapidamente antes que perdesse a coragem e saísse correndo.

-- A minha mãe é psiquiatra e eu perguntei para ela se poderia consultar a sua de graça e ela disse que sim então eu vim perguntar você se no domingo ela fica livre para minha mãe ir fazer a consulta. - Ela respirou fundo, recuperando o fôlego.

Logo decidiu se arriscar, abrindo um dos olhos. Jace piscou duas vezes, parecia perplexo. Então ele levantou, indo rapidamente até ela. O coração de Clary teve o ritmo descompassado quando Jace a abraçou. Ela apenas conseguiu ficar congelada, como se com um movimento ela fosse desintegrar.

-- Obrigado. - Ele sussurrou, claramente emocionado. - Muito obrigado.

- N-N-N-Nã-Nao f-foi nad-da. - A voz dela subiu uma oitava. Clary quis sumir oor estar parecendo uma pateta.

Ele se afastou dela, tinha um sorriso no rosto. Ele era bem mais bonito quando sorria. Ao pensar nisso, corou ainda mais.

-- Você está vermelha. - Ele riu.

Clary se sentiu ainda mais envergonhada, desviando o olhar e fitando o chão.

-- Eu não estou rindo de você. - Jace segurou o queixo dela. - Você fica fofa.

Clary se engasgou com a saliva. Ela nunca foi próxima de ninguém. Ninguém tocava seu rosto, ou a chamava de "fofa". Ela já ouviu comentários dos amigos de Jace. "Estranha", "esquisita", "vara de bambu", "anã magrela" e "ruivinha desnutrida". Já os apelidinhos das meninas era ainda pior.

-- Você entendeu a lição? - Perguntou ele, se afastando.

-- A lição! - Clary exclamou e arregalou os olhos.

Jace riu.

-- Se quiser me acompanhar... - Ele acenou para o lugar que estava há pouco.

Clary enrubesceu, riu baixinho e assentiu.

📰✏📰

Depois de várias risadas e erros, o sinal tocou. O local sendo invadido por uma enchurrada de alunos. Clary percebeu os olhares que lançavam para eles. Jace parecia não se importar.

-- Estão olhando para nós. - Sussurrou ela.

-- Bobagem. - Ele fez uma careta. - É normal.

-- Não para mim. - Ganiu Clary, Jace apenas riu.

-- Bom dia, bom dia! - Disse o professor fechando a porta com um estrondo.

Um coro de resposta ecoou na sala. Clary suspirou e enterrou a cabeça no livro, Jace sorriu para a ação, dando uma risadinha logo depois. Era impressionante como àquela garota o fazia rir com uma facilidade ridícula.

-- Vou dar uma folha de exercícios para cada dupla. Resolvam e me entreguem no fim da aula. - O professor sentou em sua mesa, pegando o celular e segurando um copo de café.

-- Ele é um pau no cú. - Jace sussurrou e revirou os olhos.

Clary concordou e agradeceu a Cal, que passou entregando as folhas.

-- É para respondermos perguntas pessoais. - Clary fez uma careta. - "Como você dorme?". Quem pergunta isso?!

O loiro riu novamente e deu de ombros.

-- Eu durmo apenas de calça, ou short.

Clary corou e gaguejou ao imaginar Jace deitado em sua cama sem camisa.

-- E você? - Perguntou ele, fazendo-a sair do transe.

-- Hã... eu... é...

-- Ei, Herondale. - Zac se virou, junto com Paul. - Por que está fazendo dupla com a estranha?

Clary se encolheu, sentindo os olhos marejarem. Ela baixou a cabeça, catando suas coisas.

-- Com quem apostou que iria pegar a ruivinha desnutrida? - Perguntou Paul dessa vez. Clary engoliu em seco.

-- Eu não apostei nada com ninguém. - Jace franziu o cenho. - Deixem-a em paz.

Clary sentiu o nó na garganta apertar, ela precisava sair dali. Não queria chorar na frente deles. Seria humilhante demais.

-- Aposto que ela te pagou um boquete. - Zac riu.

-- E você enfiou os dedos nela depois? - Paul atalhou, dando outra gargalhada.

-- Eu vou enfiar a porra desse papel no seu... - Jace se assustou com Clary se levantando de repente com suas coisas, saindo dali com a cabeça baixa. - Clary? Clary!

A sala toda olhava para ela, mas a ruiva não se importou. Precisava sair dali, precisava ficar sozinha, precisava de suas lâminas para não entrar em coma depressiva pelo estado que se encontrava. Se existia um fundo do poço, Clary poderia jurar que estava abaixo dele, cada vez cavando mais fundo. Ela ouviu ao longe a voz do professor e de Jace a chamando de volta, mas ela apenas correu e correu. Até achar o banheiro feminino mais próximo.

Ao entrar, se trancou na última cabine, se atrapalhando para abrir a mochila, tentando achar aquele inferno da lâmina de apontador que ela havia tirado. A ruiva se odiou por deixar as boas em casa. Aquela ali só fazia um arranhãozinho. Mas era o suficiente para abrir seus cortes do dia anterior, fazê-los doer, arder e sangrar. Assim a angústia e o peso em seu peito seriam aliviados, pelo menos um pouco.

Ao pegar a pequena lâmina, Clary arregaçou apenas uma manga, sentindo um soluço subir ao ver o braço. Eram milhares de cortes. Pequenos, grandes, horrorosos e delicados. Sem pensar duas vezes, inclinou a ponta mais afiada da lâmina em uma das casquinhas que havia se formado, tirando-a e rasgando ainda mais a pele. Mordeu os lábios ao ver o sangue escorrer, reprimindo os soluços e deixando as lágrimas escorrerem silenciosas.

Ela encostou a cabeça na parede, de olhos fechados, sentindo o sangue descer em gotas pelo pulso, alcançando a palma caída e pingando no chão. Sem se importar com a sujeira que teria que limpar depois, apenas respirou fundo, esperando a angústia deixar sua alma - que fossem apenas por alguns segundos.

Mas isso não aconteceu. O peso apenas aumentou, fazendo Clary cochilar pelo cansaço da noite estressante em claro.

📰👓📰

Simon estava pensando na matéria do próximo jornal enquanto a aula chegava ao fim. Ele precisava do material pronto no domingo, e não fazia idéia sobre quem escrever, quem mais poderia ajudar... sem deixar tão óbvio. Pensou seriamente, e resolveu ver o que tinha arquivado e... Clary! Havia esquecido do esboço que havia feito. Seria ótimo fazer sua melhor amiga parar de se cortar. E era isso que ele planejava fazer. Quanto antes, melhor seria.

-- Lewis! - O professor praticamente berrou.

O moreno tomou um susto, a sala toda o encarava - inclusive Isabelle Lightwood, a garota mais bonita de toda escola. A respiração dele falhou e Simon se atrapalhou ao responder, tendo aqueles olhos de um castanho profundo voltados para ele, a boca com o batom vermelho em um sorrisinho.

-- S-Sim? - Ajeitou os óculos, as mãos atrapalhadas e trêmulas.

-- Consegue dizer qual foi o principal motivo da Primeira Guerra Mundial? E por quê o socialismo na Revolução Russa nasceu disso?

-- Hã... é... p-porque...

A sala toda virou um estardalhaço em segundos, deixando Simon sem escolha a não ser se calar. Ninguém o ouviria se não berrasse. O professor tentava acalmar os alunos, puramente em vão. Até que Isabelle gritou.

-- CALEM A BOCA! - A sala ficou em silêncio com a garota dos lábios vermelhos. Ela voltou a se sentar, olhando para Simon. - Por favor Simon, continue.

Simon corou e sorriu sem graça para a garota.

-- O-Obrigado.

Ela apenas anuiu, e fez um gesto para continuar.

-- Ah, sim. - Ele olhou para o professor. - A Rússia foi dizimada durante a Primeira Guerra Mundial. E o motivo da guerra foi basicamente economia.

O professor moveu a cabeça, assentindo e voltando para o lugar.

-- Relembrando essa matéria, vamos revê-la um pouco no terceiro ano. Página 78.

Isabelle se moveu de lugar, pegando suas coisas e sentando ao lado de Simon. Ele congelou, sentindo olhares nos dois.

-- Pode me ajudar? - Sussurrou Isabelle para ele, abrindo o livro. - Sou péssima em história.

-- C-Claro. - Simon fechou o que tinha sobre Clary, abrindo o livro e erguendo as sombrancelhas ao ver os exercícios. - Não vai dar tempo de fazer isso em... - Ele olhou o relógio no pulso. - 1 minuto.

Isabelle assentiu e bufou.

-- Pode fazer comigo no intervalo? Eu preciso dessas notas de lição de casa.

Simon perguntou a Deus naquele momento o que estava acontecendo, e agradeceu a chance.

-- Posso... posso sim.

Ela sorriu, beijando a bochecha dele assim que o sinal tocou. Pegou suas coisas e se foi.

Simon sorriu para si próprio, pegando as coisas e indo se encontrar com Clary, até que verificou sua mensagem não lida.

Clary: Ei, eu fui embora. Dor de cabeça. Beijo.

Simon suspirou, sabendo que havia muito mais que uma dor de cabeça na história. Mas achando melhor deixar sua amiga um pouco sozinha. Ela falava que a deixava melhor, e ele não tinha outra opção a não ser acreditar.

Simon: Tudo bem. Melhoras.

📰👓📰

Clary estava atravessando o campus para ir embora, quando ouviu seu nome ser gritado. Ela se virou, se encolhendo ao ver Jace empurrando Paul e Zac na direção dela. Quando eles chegaram mais perto, Clary pôde ver o olho roxo de Zac e o nariz sangrando de Paul.

Ela piscou duad vezes, e engoliu em seco, os dois garotos pareciam ainda mais assustados que ela.

-- Anda! - Jace falou alto, fazendo Coary dar um pulinho pelo susto. - Se desculpem! - Gritou.

-- D-Desculpa, Clary. - Os dois gaguejaram em coro.

Jace cruzou os braços, e ergueu as sombrancelhas loiras para os dois. Sua expressão de autoridade assustaria até o próprio pai de Clary, pensou a garota com o coração à mil.

-- Você ouviu? Eu não. - Jace pareceu falar com ela, de forma retórica. - Eu disse para se desculparem, porra! Olhando para ela!

Zac e Paul pareciam contrariados, mas pareciam estar com muito mais medo, também.

-- Desculpa, Clary. - Zac praticamente cuspiu, olhando para ela.

-- É. - Paul engoliu em seco. - Foi mal.

Jace pareceu pensar um pouco, depois olhando para Clary.

-- Você aceita a desculpa deles? - Perguntou, um tom muito mais aveludado do quê falara com os meninos.

Clary assentiu, hesitante, trocando olhares entre Clary e os dois meninos.

-- Hum, que bom. Porque eu não. - E socou Paul no rosto. Clary pulou para trás, ouvindo o xingamento do menino para Jace. Zac ficou estático. - Peça desculpas direito.

-- Desculpa, Clary. - Paul parecia a beira das lágrimas. - Desculpa.

Clary assentiu vagarosamente, se abraçando.

-- Muito bem. - Jace respirou fundo. - Sumam.

Dito e feito. Zac e Paul saíram correndo de forma desesperada, como se quissessem mesmo sumir.

Clary deixou escapar uma risada. Jace abriu um sorriso pequeno para ela, descruzando os braços.

-- N-Não precisava fazer isso. - Disse ela baixinho.

Ele deu de ombros.

-- Eles ofenderam você. Te magoaram. - Ele baixouos olhos, depois os voltou para Clary. - É o mínimo que eu posso fazer.

A ruiva prendeu a respiração, sabendo o porquê dele ter feito isso.

-- Não precisa fazer isso por causa... da sua mãe. Sobre ela, quero dizer. Não precisa me... me proteger por causa disso. - Ela se encolheu, se abraçando com mais força. - Nada vai mudar.

Jace soltou os ombros, deixando a posição cair de relaxada para desanimada.

-- Eu só estou fazendo o que é certo.

-- Nunca fez isso antes. - Atacou ela, se surpreendendo pelo próprio tom ríspido.

Jace piscou várias vezes antes de responder.

-- Eu não sabia que eles te incomodavam. - Respondeu o loiro. - Se soubesse, teria feito antes.

-- Você nunca soube que eu existia. - Ela sentiu lágrimas inundando seus olhos. - Ninguém nunca soube. E eu não preciso da sua proteção.

Ela se virou para ir embora, sentindo as lágrimas quentes molhando o rosto.

-- Clary! Espera! - Jace tentou, segurando o pulso dela.

Clary gemeu de dor e o afastou bruscamente. Ele se assustou. Clary engoliu em seco, ainda de costas para ele.

-- Obrigada por isso.

E então ela se foi.

📰✏📰

Jace não conseguia parar de pensar na reação de Clary. Era fora tão doce... e depois... tão... arisca. Jace não chegava perto de entender como a cabeça da ruiva funcionava, só sabia que era confusa.

-- Algum de vocês sabe da Clary? - Perguntou ele, interrompendo a conversa de Alec e Magnus, e o estudo de Isabelle e Simon, o qual a garota havia trazido a mesa deles.

-- Ela foi embora. - Simon disse com pesar.

-- Eu sei. - Jace engoliu em seco. - Mas você sabe porquê ela é tão...

-- Estranha? - Alec sugeriu.

Jace socou Alec no ombro, o moreno grunhiu e levou a mão ao lugar machucado.

-- Não chame Clary assim. Ela tem os motivos dela, só não sei quais. - Jace desviou o olhar para Simon, que prestava atenção na conversa dos dois, assim como Magnus e Isabelle. - Você sabe?

-- Não sei se eu poderia contar para você. - Simon engoliu em seco. - Não é como se eu pudesse sair contando. São coisas muito pessoais.

-- Ela vai me ajudar, e muito. - Jace insistiu. - Eu queria ajudar ela também. De alguma forma.

-- Jace Herondale apaixonado?! Essa é nova. - Jordan se sentou ao lado do loiro, trazendo consigo um bando de garotas intrometidas. Jace percebeu faíscas nos olhares trocados entre Izzy e Lydia.

-- Ainda mais pela estranha. - Disse uma das meninas loiras.

-- Eu já bati em duas pessoas hoje. - Jace fuzilou a loira com o olhar. - Eu não bateria numa garota, claro. Mas eu sei que Izzy não se importaria.

A morena deu um sorrisinho irônico, estralando os dedos.

-- Ameaçar e não fazer nada. - Lydia disse retoricamente, empurrando Jordan e se sentando praticamente no colo de Jace. - Pegou isso da Isabelle, lindo?

Izzy levantou, batendo as mãos no tampo da mesa, chamando ainda mais atenção.

-- Eu vou bater nessa vadia.

-- Eu não bateria em alguém da mesma espécie que você, Isabelle. - Disse Jordan, com uma risada seca. Jace e Alec queimaram o menino vivo com o olhar.

-- Eu vou matar esse desgraçado. - Alec foi se levantar, mas foi segurado por Magnus, que sussurrou que não valia a pena.

-- As vezes matar um imbecil é mais meu estilo. - Isabelle andou calmamente até Jordan, dando a volta na mesa. - E depois enfiar o silicone da loira burra no cérebro dela para ver se encorpa. - Atacou Isabelle, olhando para uma Lydia ruborizada e enfurecida.

O refeitório todo começou a murmurar, e alguns a filmar.

-- Você vai se arrepender, Isabelle Prostituta Lightwood. - Lydia respondeu.

A morena olhou para o chão, quando suas íris escuras cruzaram com as azuis de Lydia, ela sorriu maliciosamente.

-- Esqueceu do "Vazia" e "Arrancadora de Apliques". - Disse enquanto enfiava a mão pela nuca de Lydia, dando um puxão. A loira gritou de dor, e viu o aplique aos pedaços no chão.

Jace riu, não se anguentou.

-- Pelo menos a minha namorada não é esquisitona. - Jordan rebateu.

Jace endureceu o olhar e a postura, se levantando e encarando Jordan no fundo dos olhos.

-- Chame Clary de esquisita mais uma vez para ver onde o graveto que você chama de pau vai parar. - Rebateu o loiro, vendo Jordan engolir em seco.

-- Eles não valem a pena. - Magnus bufou, se levantando e levando Alec junto. - Vamos.

Izzy pegou Simon pelo braço, junto com suas coisas, saindo dali.

-- A Isabelle também está com um namoradinho novo?! - Gritou Lydia.

-- Enfia o seu aplique loiro na sua bunda e vai cagar creme barato de hidratação! - Respondeu a morena, gritando com ódio, andando atrás do irmão e do melhor amigo.

Jace foi o último, pegando a mochila e saindo dali calmamente, pisando no aplique loiro de Lydia. E estremeceu ao lembrar que tinha ficado com a loira no primeiro ano. O que foi quase um namoro.

Até que um dos perfis que ele seguia no twitter postou alguma coisa. Ele seguiu os amigos, os quais entraram na sala de geografia e por ali ficaram. Jace se acodomou, pegando o celular e verificando a nova publicação de um dos seus perfis favortos. A pessia tinha a foto de perfil de um gatinho e o nome como "@Sarry_is_real" parecia que era sobre um jogo ou algo assim.

"@Sarry_is_real: A diferença entre o inferno e a escola é que na escola tem ar-condicionado."

E aquela foi a primeira publicação do perfil que ele retweetou.