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História Noir - Imagine Yuta - XXXIII - o mito da caverna


Escrita por: SadisticSade

Capítulo 33 - XXXIII - o mito da caverna


Mas ninguém respondeu do outro lado da linha por alguns segundos, até que puderam ouvir a risada de outra pessoa, distorcida por algum tipo de programa… E uma pergunta que foi capaz de trazer calafrios a ambos, que ouviam a tudo no viva-voz: — Olá, Marte. Acho que com Minerva fora do caminho, podemos finalmente ter um embate direto, não é?

— ...Filho da puta! O que você fez com o Doyoung? Cadê ele? — Yuta gritou com a pessoa do outro lado da linha — O que você quer, hein? É dinheiro? Isso não é problema para mim, só fala seu preço e pronto.

— Dinheiro não me interessa… O que eu quero é poder, mudança. — a outra figura disse, calmamente, o que em muito contrastava com a raiva do japonês e o medo absoluto que Soojung sentia, seus dedos trêmulos tentando escrever uma mensagem para o irmão, na esperança de que ele conseguisse dar um jeito nessa situação. Tudo que ela mais queria era que Johnny atendesse e dissesse que tudo ia ficar bem, que iam conseguir salvá-lo, porque a essa altura, ela sentia que não iria conseguir segurar as lágrimas de desespero e terror por muito mais tempo.

— Onde ele está? — a pergunta era quase uma ameaça.

— Vamos ver se você vai conseguir encontrá-lo antes do tempo acabar… Para isso, faça como Orfeu, e vá até Hades. — dito isso, a ligação foi encerrada subitamente, e os dois ficaram em choque, pensando no que fazer a seguir, e em como encontrar uma pessoa em uma cidade de milhões de habitantes, sem pista alguma.

(...)

Mas a verdade é que havia uma pista, sim.

Johnny dirigia feito um louco pela cidade, com Yuta e Soojung no carro, os três no comando dessa operação de resgate. — Ele falou em Orfeu, não é? Como Orfeu, vá até Hades… O reino dos mortos, então obviamente estamos falando de um cemitério, e deve ser o Cemitério Nacional de Seul, o mais famoso do país, só pode ser! — Soojung tentava explicar seu raciocínio, atropelando suas próprias palavras pela ansiedade. O carro acelerava pela avenida de pista larga, vazia pelo horário, e nem mesmo se importavam com multas ou em serem parados pela polícia pela direção extremamente perigosa: o importante era chegar lá e salvá-lo.

— Não podemos arriscar, e se for outro cemitério? — Yuta sugeriu, sentado no banco da frente e observando com muita atenção tudo que se passava na calçada, tentando encontrar alguma pista que lhes fosse relevante, mas sem sucesso.

— Eu tenho homens em todos os cemitérios da cidade, nós vamos encontrá-lo, eu sei. — Johnny respondeu sem tirar os olhos da direção, com uma segurança que nem mesmo ele sabia que tinha. Que os mafiosos estavam por toda a cidade, isso era verdade, mas se iriam encontrar Doyoung, e bem… Isso era algo que não podia garantir.

O carro se aproximava do distrito de Dongjak, e consequentemente do cemitério. A medida em que se aproximavam, a ansiedade crescia, e Johnny percebeu que eram os primeiros da máfia a chegarem ali, porque seu carro era o único estacionado. Eram eles por eles: viu Yuta discretamente ajustar uma pistola na cintura, e agradeceu por pelo menos um deles estar armado, por maiores que fossem as chances de que tudo pudesse dar errado; em um segundo, a sorte poderia virar por completo e se meterem em uma confusão sem saída em menos tempo do que levaria para destravar uma arma e puxar o gatilho; ele tremia só de pensar nisso.

Pulando o muro, os três entraram no cemitério, que estava completamente escuro a essa hora da noite. O frio do inverno congelava até os ossos, com o vento gélido que ricocheteava nos galhos das árvores nuas, assobiando como uma melodia macabra. Na versão mais conhecida, escrita pelo poeta romano Virgílio, Orfeu perde sua amada Eurídice no dia do casamento, picada por uma cobra, e sua tristeza comove até mesmo os deuses, que autorizam que ele vá até Hades e busque-a, sob a condição de que não possa olhar para trás até que ambos estejam fora do submundo — condição esta que ele descumpre ao olhar para trás assim que sai, mas quando Eurídice ainda estava dentro de Hades, perdendo-a assim para sempre —, tornando-se assim um trágico herói, vítima do amor; mas a versão original grega era muito mais sombria… A versão de Eurídice apresentada a ele por Hades e Perséfone era apenas uma sombra, como no mito da caverna de Platão, que desaparece à luz da realidade, o preço a se pagar pela covardia de quem não está disposto a morrer por amor e se juntar à verdadeira amada no reino dos mortos.

Apenas esperavam que o maldito sequestrador estivesse seguindo a versão romana.

Ao longe, Yuta foi o primeiro a avistar alguma coisa fora do lugar, perto de um túmulo: — O que é aquilo? — ele falou, em um sussurro, apontando para o local. A escuridão os encobria, mas o silêncio de toda a região, em respeito à alma dos mortos, ainda poderia entregá-los.

Soojung foi a primeira a correr, sem se preocupar com mais nada. Em outras circunstâncias, ela teria sido cautelosa e se aproximado com cuidado e racionalidade, mas era difícil pensar dessa maneira quando a cabeça de uma pessoa querida está em risco, e mais difícil ainda correr quando sua visão está embaçada pelas lágrimas. Entretanto, mesmo entre as lágrimas insistentes que seus olhos derramavam a despeito de sua tentativa de manter a compostura, ela soube que aquele era Doyoung, desacordado e amarrado em um túmulo. — É ele, por favor, eu…! — ela gritou, tentando alertá-los.

Um tiro irrompeu a quietude da noite em definitivo, passando de raspão pela jovem, a bala alojando-se em um túmulo muito perto de onde a cabeça de Seo Soojung estivera há segundos. Tentando localizar onde o atirador provavelmente estava, Johnny correu atrás dele sem pensar duas vezes, enquanto o japonês ajudava a garota a desamarrar o advogado e tentar levá-lo dali para a segurança, mas ambos perceberam rapidamente que o que ele precisava era de um hospital: a medida em que as cordas eram removidas, as manchas carmesim se revelavam sobre a camisa branca que Doyoung usava, e sua palidez intensa, acentuada ainda mais pela luz da lua, refletia os ferimentos a facada que ele sofrera, o sangue agora tingindo as mãos de Soojung e Yuta, que tentavam estancá-lo antes que a ambulância chegasse.


Notas Finais


Doyoung entre a vida e a morte, será?


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