História Noites de Luxúria - Uma Amante de Duas Caras

Quando realmente paro para refletir, tenho quase certeza que Tsukune muitas vezes não sabe o que faz. Sempre é perigoso para uma pessoa tomar decisões apenas com seu coração, mas sei que sou muito suspeita para dizer algo assim, eu estou fazendo o mesmo no fim das contas.

Não prestamos a mínima atenção às aulas, estamos de acordo no fato de que no momento elas não são interessantes. Ambas temos planos para a noite.

Eu principalmente.

Sinto as ondas de aversão e raiva direcionadas a mim, mas não é nada que eu já não tenha sentido, além do mais, não é só porque venho descobrindo meus sentimentos que vou me rebaixar ao ponto de me tornar uma boboca sentimental como ela. Sei o que está querendo fazer, e eu não tenho medo das “consequências” que ela tenta me fazer acreditar que serão reais.

Já ouvi muitas vezes a expressão “fazer o possível e o impossível em nome do amor”. Mas nunca parei para realmente pensar até onde vai o possível e onde começa o impossível nas atitudes de uma pessoa.

Certamente eu já devo ter cruzado os limites do que é considerado possível. Uma tentativa de se livrar de um lado seu pode ser considerado errado? Provavelmente sim e, no entanto, não havia qualquer culpa pesando no meu coração.

-Eu sei o que você quer. –Ela murmura de um modo quase inaudível-.

-Ótimo. –Digo rispidamente-. Assim poupo o esforço de ter que lhe explicar uma vez que você parece não entender como as coisas são de verdade.

Eu rio de sua tentativa de iniciar uma discussão em plena sala de aula, onde ela sentia segurança de que eu não poderia fazer nada demais para feri-la. Patético.

-Você não pode. –Seus pensamentos me atingem com uma força tão inesperada que sinto minha respiração tremer levemente-. Isso nunca será possível.

-Eu consegui uma vez. –Fecho os olhos, deixando que as lembranças inundem todo o meu ser. Sei que agora nossos pensamentos estão novamente conectados-. Consegui sim... E nada pode me impedir de conseguir novamente. Você sabe disso tão bem quanto eu. Você não tem como impedir.

Você não é real, e parece ter se esquecido disso, mas não se preocupe, eu farei questão de lembrá-la, porque quando tudo isso acabar, aquela que voltará ao mundo dos monstros não será você.

Já é hora do seu sonho de humana de verdade acabar, você é um monstro.

A violência volta a crescer dentro de mim como uma praga. Sinto cada parte de meu corpo ser tomada por um fogo ardente, um fogo diferente daquele tão prazeroso causado por Tsukune. Eu não me importo com o que vai acontecer daqui para frente. Apenas quero o que desejo, e isso simplesmente são tudo o que importa para mim agora. É questão de honra.

Alguns podem pensar que sou maldosa, mas não sou. Sou apenas realista, não vivemos em um conto de fadas.

Como ela ainda pode acreditar que realmente ainda há algo para ela? Como pode acreditar tão cegamente que ainda pode me vencer?

Sinto suas mãos apertarem com tanta força as bordas da mesa que doeu, doeu em mim, quase pude sentir a unha soltar-se da carne. Mas isso não importa agora, não importa porque estou me divertindo imensamente.

Por inúmeras vezes.

Vendo a violência, acelerando a minha mente.

Ninguém está te salvando.

Como você pode encontrar um paraíso neste inferno?

-Eu fui criada porque você nunca será aceita. –Ela sibila entre dentes, estamos presas dentro de nosso pequeno caos-. Eles sabiam que você seria vista como um monstro por todos, como você pode acreditar que poderá ter uma vida normal?

Não preciso me preocupar em rir discretamente.

-Você, mais do que todos deveria sentir o abismo que há entre nós agora. –Reviro os olhos, a maldade em meu olhar-. Você acha mesmo que eu preciso de uma vida normal? Não somos a mesma pessoa “Moka”. - Meu próprio nome, dividido por dois parece dançar em minha língua-. Você acredita que eu quero viver no mundo dos humanos, pobrezinha.

-Sim, eu acho. –Ela diz desafiadora-. Se não pode ter uma vida, o que você terá então?

Sinto o medo engolfá-la, porque ela viu a resposta antes mesmo que eu pudesse dizer. E não posso dizer o quanto de satisfação eu senti.

Nunca deixei de ser um monstro, nunca deixei de ser uma vampira, nunca deixei minha violência de lado. Nunca deixei de apreciar o sofrimento das pessoas que me desagradam.

-Nunca. –Foi sua ultima palavra antes de novamente colocar uma barreira entre nossos pensamentos, eu agradeci mentalmente por isso-.

Eu não quero ser parte desse seu pecado.

Eu não quero me perder em seu mundo.

Eu não estou jogando esse jogo.

Não se trata mais de uma questão de quem vai ganhar e quem vai perder, porque eu soube desde que isso começou que eu já ganhei. E não, eu não sou prepotente, estou apenas falando a verdade para quem quiser ouvi-la.

Se eu me arrependo do que foi feito ou do que ainda vai ser feito? Nem um pouco, afinal eu consegui o que desejava. Não há motivos para voltar atrás ou me arrepender.

Eu viverei entre os monstros, e isso já estava mais do que decidido.

Tenho pena dela por ter acredito que ter me apaixonado por Tsukune me fazia desejar viver entre os humanos com ele.

Não sinto mais a passagem do tempo, isso é relativo afinal de contas, eu sei que vou ter o que desejo, então tudo o que me resta é a paciência. Pergunto-me se um coração tão preso em ilusões pode sentir o fim iminente que se aproxima.

Em meu interior, sei que estou roubando a única coisa que a faz sentir-se viva e real, e sei que deveria me sentir mal por isso, mas é simplesmente impossível.

Não fui eu quem decidiu jogar, mas fui eu quem escolheu vencer...

Quando as sombras permanecem na luz do dia.

Nas asas da escuridão, ele voltará de novo?

Ele vai estar caído da graça, até o fim de todos os seus dias.

Sua ansiedade era palpável, e eu tentava me manter o mais longe possível dela. Meus limites estavam caindo pouco a pouco, e eu sei o que irá acontecer, e realmente pretendo evitar até onde eu puder.

Ainda estamos vestindo o uniforme da escola, nossa cabeça não consegue se concentrar nem mesmo em uma simples troca de roupa. Continuamos assim, andando, arrumando coisas que não precisam ser arrumadas, olhando o relógio de segundo em segundo na esperança de podermos acelerar o tempo.

Nunca vi alguém esperar tão ansiosamente pelo seu próprio fim. Mas não consigo mais sentir pena dessa pessoa (mesmo que em momento algum tenha sentido de fato), porque neste momento ela não é nada além de minha inimiga.

Nossos corações pulam juntos quando ouvimos uma batida suave na porta, e ela quase tropeça-nos próprios pés em sua pressa de atender.

-Tsukune! –Ela sorri, como se tê-lo ali pudesse afastar todas as suas preocupações. Dá um passo para o lado, permitindo que ele entre no quarto-.

A expectativa cresce dentro de mim, e pela primeira vez, não sei o que realmente esperar de Tsukune, isso está além do que eu posso imaginar.

Tenho a impressão de que irei me divertir muito.

-Tsukune. –Ela abre um sorriso inocente, como se não estivesse tão louca de desejo quanto eu estou agora, minha única ansiedade é que essa máscara de falsidade caia de uma vez-.

-Moka. –Ele abre os braços, e ela corre para eles como uma criança corre para o abraço de seu pai-.

Seus braços rodeiam a cintura dela com firmeza e sinto minha pele se arrepiar com o contato. Sinto seus/meus dedos puxarem os fios macios de seu cabelo, seu perfume nos embriagando a ambas. Fecho os olhos e deixo que meu corpo trema de êxtase.

-Moka. –Ele sussurra, sinto minha própria luxuria em sua voz rouca-. Moka. –Suas mãos sobem até as costas e então voltam para a cintura segurando com firmeza-.

-Tsukune. Eu te amo. –Ela sussurra baixinho, próxima ao ouvido dele, as mãos enroscadas naqueles fios macios-.

-Moka, eu e você sabemos o que está acontecendo aqui. –Ele avança alguns passos, fazendo-a recuar até os dois caírem sobre a cama, ambos sentindo um desejo intenso-. Você sabe a verdade não sabe?

-Tsukune... Tsukune, Tsukune por quê? –Sua voz não é nada além de um gemido estrangulado e sofrido-. Nós éramos tão felizes antes. –Sinto suas poucas lágrimas e um pequeno e cruel sorriso cruza meus lábios-. Eu combinava muito mais com você.

Eu sou a humana que você poderia apresentar aos seus pais.

-Tsukune. –Algumas lágrimas ameaçam transbordar-. Eu poderia viver com você no mundo dos humanos, você queria tanto voltar quando nos conhecemos, você queria ter uma namorada para apresentar aos seus pais.

Eu era tão perfeita para você.

-Moka, eu realmente não preciso repetir o que foi dito. –Ele se apoia sobre os cotovelos, mirando o rosto dela com ternura, sei que Tsukune nunca deixará de ser gentil, e eu realmente o admiro por isso-. A escolha já foi feita.

-Tsukune! –Suas mãos agarram e torce o tecido de sua camisa, as lágrimas agora caem sem parar-. Até o fim. Quero que isso dure até o fim. Quero aproveitar até o fim. –Ela sorri em meio a sua enchente de lágrimas, e quando eu percebo estou sorrindo também-.

-Até o fim. –Tsukune sussurra baixinho, seus lábios roçando os dela com ternura e amor, um amor totalmente diferente do nosso-. Iremos viver intensamente até o fim. –Suas mãos começam a abrir habilidosamente nossa blusa-.

-E quando tudo tiver que acabar para mim... –Sua voz falha apenas com esse pensamento-. Então vocês terão tudo o que realmente desejam, ela poderá fazê-lo imortal, e eu vou continuar viva Tsukune, continuarei viva em algum lugar sentindo você.

Sua alma não está abandonada.

Você está andando sozinho do paraíso para o inferno.

Agora que você sabe você caminha nessa loucura.

-Você viverá dentro de mim. –Me escuto dizer-. Como uma subsistência, você sabia que tudo um dia teria fim para ti, contudo você escolheu amar, e esse é o preço que você deverá pagar.

Ela faz que sim ligeiramente com a cabeça. Ainda sinto o ódio em seus sentimentos, ódio de mim por ter vencido, ódio de si por ter perdido.

Mas também sinto sua gratidão. Gratidão, pois ainda assim lhe darei a única coisa que ela realmente deseja no momento.

Uma ilusão.

Seus poderes crescem.

Suas correntes foram quebradas.

Você já sofreu por tanto tempo.

Você nunca vai mudar.

Dar-lhe-ei a ilusão de ter ganhado. Pelo menos durante algum tempo, tudo o que é meu será dela. E quando o fim chegar, quando for a minha vez, ainda assim a manterei viva para sempre dentro de mim, dentro de nós.

A humana não mais irá existir neste mundo, mas viverá para sempre dentro de mim, vivendo, sentindo, sofrendo e amando.

Quando o dia chegar, deixaremos de ser uma amante de duas caras no fim das contas, dois anos passarão voando no fim das contas. A escola termina, e com ela terminará a vida dela como alguém real. Não será nada além de uma fantasia.

-Moka, eu te amo tanto. –Tsukune sussurra, e então ouvimos apenas o estalo do rosário sendo removido-.

Meu lindo humano aprendeu muito bem no fim das contas...