Viver com Taehyung era uma verdadeira gangorra, ele era meu melhor amigo e a única pessoa que eu sabia que podia confiar a qualquer momento, mas eu esquecia completamente disso toda vez que ele deixava os sapatos jogados pelo meio da sala e consequentemente eu tropeçava neles.
— É sério, qual é o seu problema em botar os sapatos num canto? — resmunguei, terminando de chutar tênis dele para o canto da sala e me sentando no sofá.
Já fazia uma semana em que eu estava vivendo aqui e apesar de tudo, foi a semana mais feliz da minha vida. Tive pequenos trabalhos como fotógrafo, mas alguns me pagaram bem mais que o esperado, foi tão gratificante que é claro que comemorei com pizza.
— Eu tenho problemas com sapatos, perdão. — respondeu sem me olhar, caçando algum filme na Netflix. — Cara, tem tanto filme aqui que eu não consigo escolher, meu deus!
Ri da fala dele.
— Só escolhe alguma coisa boa para a gente ver! De preferência uma comédia.
Ele continuou a caça pelo filme, enquanto eu observava a hora passar e ansiava pela minha pizza, ok, eu sei que não é nem um pouco saudável comer tanta pizza assim, mas meus dotes culinários são péssimos e Taehyung costuma queimar tudo que faz, então sempre acabamos nos rendendo a comidas prontas.
O interfone tocou, anunciando que provavelmente o entregador havia chegado.
— Deixa que eu atendo. — digo, atendendo. — Olá? Sim, foi aqui que pediu a pizza mesmo. Pode deixar subir, obrigado.
Caminhei em direção a porta depois de desligar para atendê-lo, enquanto o outro ainda se mantinha completamente indeciso de qual filme assistir.
Logo pude ver e sentir o cheiro da minha pizza, mas o que me chamou atenção mesmo foi o entregador.
Existe uma única coisa sobre mim que absolutamente ninguém sabe, eu sou gay. Desde meus doze anos quando eu assisti o Tobby Maguire como Homem-Aranha, mas tive completa certeza quando comecei a gostar de um coleguinha da minha classe e tive que engolir essa paixão a sete chaves.
A questão é, ninguém sabe disso, muito menos o Taehyung, não por medo de ser julgado - apesar de ter isso também -, mas por não me sentir pronto o suficiente pra dizer isso ao mundo.
Porém ao olhar o belo homem que estava vindo em minha direção com uma caixa de pizza na mão e um refrigerante na outra, eu só conseguia imaginar cenas implícitas de nós dois no sofá da sala.
— Senhor Jungkook? — ele me perguntou. Até a voz me deixou encantado.
— Sim! Mas é só Jungkook, sou muito novo para ser chamado de Senhor. — digo fazendo graça e fico feliz de que ao menos ele tenha forçado uma risada pra não me deixar tão na merda assim.
— Aqui está sua pizza e sua coca, fica num total de R$57. — assinto, colocando a mão no bolso e pegando o dinheiro para entregar a ele.
— Muito obrigado pelos seus serviços, você é maravilhoso. — só me dei conta do que falei quando o vi sorrir sem graça. — Quer dizer, maravilhoso porque trouxe a minha pizza, sabe? Porque eu sou totalmente apaixonado por pizza e tudo mais. — alguém cala a minha boca!!!! — Boa noite. — digo, pegando a pizza e o refrigerante e fechando a porta de casa sem dizer mais nada.
Eu não posso acreditar que sou tão ruim em flertar assim, além de ter me constrangido ainda constrangi o garoto que não tinha nada a ver com isso tudo. Coloquei as coisas na mesa e suspirei.
— Taehyung, a pizza chegou. — digo me sentando na cadeira pronto pra comer.
— Droga! Logo agora que eu tava finalmente decidindo qual filme assistir. — se sentou ao meu lado.
— Para de mentir, você não chegou a nenhuma conclusão!
— Mas eu estava perto, ok?
Rimos, enquanto saboreamos aquela maravilhosa refeição.
Olhei para Taehyung e me senti um pouco triste por não contar a ele quem realmente sou, por não deixar que ele me conhecesse por completo. Eu o amo, mais do que tudo, pois sei que ele jamais me largaria, sei também que ele também não irá me julgar pelo que sou já que o mesmo é em prol da comunidade LGBT, mas o meu medo me impede de tantas coisas..
— Eu amo a pizza desse lugar, ela é simplesmente maravilhosa! — Taehyung dizia de boca cheia.
— É, eu gostei também, podemos pedir lá mais vezes. — digo me lembrando do entregador bonito.
O moreno me olhou e por um momento eu tive medo de que ele pudesse ler mentes e soubesse que estava pensando no entregador.
— Já escolheu o filme? Eu tenho um casamento para fotografar amanhã cedo e não posso me atrasar.
— Casamento? Quem são os noivos? Eu posso ir também? Adoro comida de graça. — bati de leve no braço dele, rindo.
— Eu não tive como conhecer eles, foi a mãe do noivo quem me contatou e como eu fiquei ocupado esses dias, não pude ir ao encontro deles. — respondo. — E também não posso levar ninguém, ainda mais você que iria acabar com o buffet.
— Eu? — apontou para si mesmo, ofendido. — Jamais. De toda forma, traga alguns bem casados para mim? — pediu, apoiando o rosto na mão e abrindo um sorriso fofo.
Revirei os olhos, assentindo em seguida.
— Vou ver o que posso fazer por você, mas não espere nada de mim porque casamentos são cansativos e eu como muito depois de trabalhar.
Ele deu os ombros, antes de voltar a comer e nós engatamos um assunto sobre filmes, enquanto terminamos de comer.
…
Eu quase cheguei atrasado no salão onde aconteceria o casamento. Aparentemente o casal era meio reservado e não havia se casado na igreja, apenas no civil, porém decidiram comemorar a união como em todo casamento.
Os enfeites eram perfeitos, tudo em cores claras e que mesclava perfeitamente com o ambiente. O salão era “aberto” pois dentro dele havia uma parte com gramado com um chafariz, também enfeitado para a ocasião.
Se um um dia eu me casar, quero que seja dessa mesma forma.
— Com licença, eu sou o fotógrafo, poderia me dizer onde estão os noivos? — perguntei a mulher que aparentava ser a cerimonialista, ela então me pediu para que eu a seguisse.
Caminhamos pelo salão e eu aproveitei para tirar algumas fotos, até que chegamos a uma sala onde provavelmente os noivos teriam mais privacidade, ela bateu na porta e logo um homem, bastante elegante e bonito, abriu a porta.
— Sr. Jung, esse é o fotógrafo. — apontou para mim. — Se me derem licença, preciso me retirar para terminar de organizar o salão. — disse, se retirando.
— Olá, Jeon Jungkook, certo? — me estendeu a mão e eu a apertei. — Fico feliz que tenha conseguido vir fotografar meu casamento, ouvi coisas boas de você. — não pude evitar de sorrir com esse comentário. — Venha, quero te apresentar meu noivo.
Noivo?
Adentramos no local e eu pude ver um outro homem, mais baixo do que eu, com o cabelo tingido de um tipo de verde menta, vestindo um terno branco e mexendo no celular.
— Yoongi, nosso fotógrafo chegou. — ele me olhou, sorrindo e vindo me comprimentar.
— Olá, muito obrigado por conseguir nos agendar no seu dia de folga. — novamente houve um aperto de mão.
— Não tem problema, eu adoro fotografar casamentos. — sorri.
— Espero que não tenha problema por sermos… gays. — apontou para ele e para o marido. — Sinto muito por ter pedido a minha mãe que não contasse nada, é que muitos se recusaram apenas por sermos dois homens se casando.
— Não se preocupe! Eu não possuo nenhum tipo de preconceito. — afinal eu também sou gay.. — Vou adorar trabalhar para vocês.
Não pude acreditar na felicidade que ambos expressaram ao ouvir o que eu disse e ainda fui surpreendido com um abraço vindo do moreno.
— Hoseok, largue o menino, ele tem que trabalhar. — Yoongi disse, rindo.
— Mas ele é tão adorável, Yoongi, não podemos adotar ele? — o marido de cabelo menta negou com a cabeça e eu não pude deixar de achar fofo.
— Então, prontos para algumas sessões de fotos? — digo, levantando a minha câmera.
Tiramos algumas fotos, até que os convidados começassem a chegar e os noivos se retirarem para comprimenta-los. Enquanto isso observei as fotos que tirei, os dois eram um casal bonito e apaixonado, era incrível como combinavam perfeitamente um com o outro.
Será que um dia eu também terei alguém assim? Será que no meu casamento eu terei um sorriso tão grande quanto o deles? Torço para que sim.
Havia mais convidados que eu esperava, muitos deles me comprimentaram quando passaram por mim. Assim que a mãe de Yoongi me reconheceu fez questão de que eu me sentasse na mesma mesa que ela, pois de acordo com ela não queria que eu ficasse deslocado e eu não pude negar esse pedido.
Ao contrário dos outros fotógrafos que mal deixam os noivos se divertirem com os convidados, eu decidi dar um pouco liberdade para eles, mas é claro que tive de tirar fotos dos momentos mais descontraídos do casal.
Depois de comer um pouco e beber suco, decido dar continuidade ao meu trabalho. Tiramos fotos com o bolo, com os convidados e todos os clichês de fotos possíveis para um álbum de casamento, terminando a sessão com uma foto no chafariz.
— Sr. Hoseok, pode, por favor, colocar a mão na cintura do Sr. Yoongi. — peço, pois ambos estavam se divertindo com o fato de que o moreno segurava a bunda do marido e não a cintura.
Ele assentiu, ainda rindo, e fez o que pedi. Logo tirei a foto e posso afirmar com todas as certezas que essa havia sido a foto que eu mais gostei de tirar, pois ambos olhavam sorridentes para a mim e pareciam tão perfeitos.
— E aí, como ficamos? — Yoongi perguntou, se aproximando para ver. — Uau, ficou lindo.
— Sim, vocês dois são muito bonitos juntos. — digo, ficando envergonhado depois de dizer isso.
— Realmente contratamos o melhor fotógrafo. — Hoseok comentou. — Você conseguiu capturar o nosso amor com a câmera, isso é incrível.
— Eu.. espero que vocês sejam muito felizes com esse casamento. — falo, sem pensar.
Ambos sorriem para mim.
— Seremos.
O momento foi quebrado pelo toque do meu celular, pedi licença aos noivos e os liberei por uns 15 minutos, antes de tirarmos mais algumas fotos e esperar pelo momento de cortar bolo, para tirar mais fotos.
Era Taehyung que me ligava, então logo tratei de atender.
— Alô?
— Jungkook? Como tá o casamento? Os noivos são legais?
— Sim, eles são pessoas incríveis, fico feliz de estar trabalhando aqui. — olho para os noivos, que brincavam entre si.
— Você já terminou a sessão?
— Não, ainda não, falta tirar a foto cortando o bolo e depois eu posso ir pra casa. Por que? Aconteceu alguma coisa?
— Não sei, seu pai ligou aqui pra casa agora pouco e me disse que era algo importante.
Importante? O que será que houve?
— Eu vou terminar meu trabalho e irei passar na casa dele depois, caso ele ligue novamente avise-o disso, ok?
— Ok! Ah, e não esqueça do meu bem casado!
— Tá, Taehyung. — digo antes de desligar o telefone.
O que será de tão importante para o meu pai querer falar comigo tão depressa?
Afastei esses pensamentos da minha cabeça, por hora eu iria focar no meu trabalho.
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