História Noivo em Fuga - Casar?

Não era só meu pressentimento que me dizia que havia algo de errado, era também o clima que habitava aquela mansão na qual eu cresci. Passei por nosso mordomo, comprimentando-o e seguindo para a sala do meu pai, me deparando com minha mãe em pé ao lado de meu pai, que estava sentado.

— Olá, pai, mãe. — digo.

— Por favor, filho, sente-se. — engulo o seco, sentando na cadeira em frente a mesa dele.

— Aconteceu alguma coisa? Algum parente morreu? — pergunto, preocupado.

— Filho, nós dois temos algo muito importante para lhe falar. — minha mãe disse, sua cara não era nenhum um pouco boa.

Apertei minha própria mão de nervosismo, não estava gostando nem um pouco do tom de voz que ela usará, era como se um funeral fosse ser anunciado a qualquer momento.

— Filho, você sabe muito bem que eu queria que você seguisse meus passos, que se tornasse um homem de negócios como eu. — concordo com a cabeça, afinal, meu pai nunca escondeu esse desejo dele.

— Achei que já havíamos chegado à conclusão de que eu poderia seguir meu caminho, conversamos sobre isso. — digo, sem entender o rumo dessa conversa.

— O problema é que.. as coisas mudaram.

— O que? Como assim mudaram?

— Estamos fazendo isso para o seu bem, querido. — minha mãe se intrometeu.

Eu não estava gostando nem um pouco do rumo dessa conversa.

— Eu conversei com alguns dos meu sócios a uns meses, foram longas horas de reunião, mas no fim chegamos a uma conclusão. — prendi a respiração. — Você terá que se casar com a filha de um de meus sócios, para manter a empresa em nosso sangue e obter mais lucros.

— Você só pode estar brincando. — isso precisava ser uma brincadeira.

— Infelizmente é verdade. — meu mundo estava caindo bem diante dos meus olhos.

— Você já se divertiu bastante tentando viver essa vidinha como fotógrafo como sempre sonhou. — ele revirou os olhos. — Mas não posso dispersar meu único filho deixando que siga uma profissão tão inferior como essa.

— Você disse que eu podia seguir meu sonho. — a essa altura meus olhos já estavam embaçados pelas lágrimas que queriam cair.

— Olha, eu atendi o pedido de sua mãe para deixar que você tivesse seus momentos de liberdade e mesmo contra a minha vontade, eu deixei que você tivesse seus dias de alegria.

Olhei para minha mãe, que evitava olhar para mim.

— Você sabia, mãe? — ela assentiu. — Você sabia e mesmo assim permitiu isso? Vendeu meu futuro por causa dessa porcaria de empresa?! — me altero.

— Me desculpe.. — ela murmurou.

— Como vocês podem? Que tipo de pais são esses que nem sequer pensam em seu próprio filho? — pergunto, as lágrimas já corriam livremente e minha voz se eleva. — Vocês sabem o quanto eu amo meu trabalho! E mesmo assim.. Mesmo assim foram capazes de me trair da pior forma possível.

— Isso tudo é para o seu bem! — meu pai disse, firme.

— Não, não é! — me levanto. — Isso é porque você é um egoísta que só pensa em si mesmo ou em dinheiro! É sempre dinheiro, não é? Cada vez mais e mais, sem se importar com quantas pessoas você pisa nesse processo. — eu já não me preocupava se estava gritando com meus pais.

— Abaixe esse tom de voz comigo, garoto! Sou seu pai, você me deve respeito.

— Por que eu deveria respeitar alguém que nem sequer faz o mesmo comigo?

— Filho, por favor. — minha mãe pediu.

— Eu não aceito isso! Eu não vou me casar, eu me recuso a fazer parte dessa vida infeliz que você tem! — aponto para ele.

— Você irá fazer isso, sim! Ou acha que vai ter chance de viver tirando fotos quando eu impedir que as pessoas o contratem? — olhei assustado, meu pai, meu próprio pai, estava me ameaçando.

— Isso é uma ameaça?

— Entenda como quiser. — se levantou, indo em direção para fora da casa. — Você irá se casar com Hyunjin, querendo ou não.

E me deixou naquela sala fria, minha mãe tentou tocar em mim, porém pedi para que ela me deixasse sozinho. Assim que me vi sozinho, não segurei mais as lágrimas, eu chorava copiosamente, sem me importar no quão alto eram meus soluços.

Eu não podia aceitar isso, eu não podia deixar que meu futuro fosse roubado de mim dessa forma. Peguei minhas coisas e corri para fora desse lugar que um dia foi meu lar, agora tudo que eu queria era ir para minha casa, meu verdadeiro lar.

Peguei o primeiro táxi de volta para casa, eu só queria minha cama e minhas coisas, só queria viver no meu quarto para sempre sem me preocupar com o mundo fora dele.

Assim que cheguei fui correndo para meu apartamento, abrindo a porta desesperadamente e fechando-a com força logo em seguida, me jogando no chão pronto para chorar de novo.

— Jungkook? É você? — ouço a voz de Taehyung de outro cômodo, ele logo veio em minha direção e se desesperou quando viu meu estado. — Kookie? O que houve? Por que você tá chorando? Te assaltaram? — perguntava desperado.

— Eles mentiram pra mim, Tae… Eles nunca me deram liberdade. — dizia, abraçando ele forte.

— Eles quem? De quem você tá falando?

— Meus pais… — agarro a camisa dele. — Eles fizeram um acordo, Tae, eu vou ter que me casar..

— Que merda! Seus pais são realmente escrotos.

— Eu vou ter que me casar.. abandonar meu trabalho para me casar com alguém que eu não amo e nem conheço.

— Bom, amor pode ser construído com o passar do tempo, mas o trabalho? Você não pode deixar de fazer isso, você é ótimo no que faz.

Me afastei dele, olhando bem diante dos seus olhos. Eu precisava ser honesto, precisava soltar essa parte que eu havia aprisionado dentro de mim a muito tempo.

— Eu não posso amá-la com o tempo, Taehyung, porque eu sou gay.

Os olhos dele se arregalaram. Me senti aliviado, mas ao mesmo tempo me senti tão frágil diante dele. Era a primeira vez que eu dizia sobre isso à alguém, que eu me abria verdadeiramente para ele.

— Você…? Por que você nunca me contou?

— Eu tive medo. — limpei meu rosto com a mão. — De que você me odiasse por isso, ou que sentisse nojo. Você é meu melhor amigo e meu único amigo, eu não saberia lidar se você me deixasse.

Taehyung me abraçou novamente.

— Eu nunca te deixaria, Kookie. Você é meu melhor amigo, somos parceiros pra sempre. — novamente eu estava chorando. — Eu te amo, você é meu irmãozinho e eu não vou te deixar nunca.

— Mas agora a gente nunca mais vai se ver. — rio sem vontade. — Vou viver enfiado num terno e dentro de um escritório, como meu pai sempre sonhou.

— Tem que haver uma outra forma de sair dessa, não é possível que vai acabar com um final ruim desses.

— Não tem jeito, eu vou me casar, Tae. — dou meio sorriso, completamente desanimado. — Eu vou para o meu quarto.. eu preciso de um pouco de paz.

Ele concorda e eu me levanto, indo em direção ao meu quarto. Jogo minha bolsa na cama, quase me esquecendo que dentro dela havia uma câmera extremamente cara e me jogo também.

Era um misto de sentimentos dentro de mim, a maior parte dele é o sentimento de traição, principalmente vindo da minha mãe, que era alguém que até então eu deveria confiar.

Meu sonho era me casar com um homem que eu estaria apaixonado, ter fotos tiradas que deixavam claro o quanto nos amávamos, assim como havia acontecido no casamento de Yoongi e Hoseok. Aparentemente isso continuará sendo um sonho na minha vida, um sonho que tanto almejei.

Vou viver uma vida de mentira, casado com uma mulher e comandando uma empresa que nem sequer queria fazer parte e provavelmente daqui a alguns anos serei cobrado por herdeiros, terei que dar netos aos meus pais, perderei a alegria de viver e pensarei nesse momento, onde eu decidi colocar minha homossexualidade guardada a sete chaves.

É como aquelas partes tristes dos filmes, porém dessa vez eu não vejo alguma forma de haver um final feliz.

Os dias a partir de hoje seriam um verdadeiro inferno, não me vejo nem mais trabalhando com o que amo. Peguei minha câmera, observando as fotos tiradas no casamento de hoje. Respirei fundo, ao menos fico feliz que meu último trabalho tenha sido algo tão lindo quanto esse casamento, farei de tudo para que essas fotos estejam no melhor álbum já feito.

Me levantei colocando a câmera em cima da mesa onde estava meu notebook e depois voltei novamente para a cama.

Abracei meu travesseiro, desejando por uma saída daquele inferno. De tão cansado que eu estava mentalmente, não demorou para que o sono me atingisse e então cai em um sono profundo.