História Nós Descobrimos - Contos de Fadas e a Minha Garotinha

Quando eu era pequena eu costumava acreditar em contos de fadas.

Eu acreditava em dragões cospidores de fogo.

Em bruxas de narizes pontudos.

Em fadas madrinhas com varinhas mágicas.

Em tapetes voadores.

Em gigantes com ovos de ouro.

Em cavaleiros destemidos.

E em maldições quebradas com um beijo de amor verdadeiro.

Mas eu cresci.

E então os contos que tanto sonhava, as fadas que eu tanto admirava, já não eram mais tão reais.

Agora eu acreditava no que eu via,.

E o que eu via não agradava nem um pouco a minha pequenina versão.

Eu descobri que o mundo era cruel.

Ele sempre foi. Mas eu era muito nova para entender.

Eu descobri que a menininha alegre e inocente que habitava em mim,

Era frágil demais para andar por aí desprotegida.

Ela precisava de uma armadura.

Mas eu percebi tarde de mais.

Quando me dei conta ela já havia ido,

Já havia me deixado.

Mas não a culpo.

Se eu pudesse também teria ido.

É perigoso demais ficar perto das pessoas do mundo real.

Elas são más.

Como as bruxas que eu me lembrava, mas piores.

Essas te transformariam em sapos ou bullys de chá.

Mas as do mundo real, eram ainda mais cruéis.

Elas te machucam de dentro para fora, fazem seu coração doer e muitas vezes não ganham nada além de diversão com isso.

Uma diversão sádica eu diria.

Então, garotinha, se você estiver aí em algum lugar, lendo isto,

Saiba que eu te perdôo por ter partido.

Sei que isso te machucou também.

Você amava quando nós brincavámos com os contos de fadas, escrevendo o nosso próprio.

Eu também amava.

Mas infelizmente o Peter Pan não veio me buscar.

E então eu cresci.

E quando se cresce, você já não consegue mais esquecer o que foi descoberto.

Eu queria que você voltasse, mas sei que sua casa já não é mais confortável para você.

O cantinho da minha mente em que costumava te achar, que era sempre claro e bonito, se tornou escuro e assustador.

Você não gostaria dele.

Sei que tentaria ilumina-lo de novo,

Mas as trevas são difíceis de ir em bora.

Elas gostaram de mim também.

Decidiram que iriam morar em mim agora,

E eu já não tinha forças para recusa-las moradia.

Mas tudo bem, eu estou me acostumando com elas.

Não fique chateada.

Nunca irei me esquecer de você.

Nossas memórias juntas estão guardadas em meu coração.

Que mesmo rodeado de trevas e escuridão tem um pontinho de luz, onde você guardava as fotografias.

Elas continuam lá.

Gosto de vê-las e lembrar de você de vez em quando.

São minhas lembranças mais puras e bonitas.

Eu ainda tenho um pedacinho de você por perto.

Nos quadros nas paredes,

Nos desenhos em minhas gavetas,

Nas músicas em minha mente

E nos sorrisos em meu coração.

Mas eu me tornei sombria de mais para que você volte, ficaria com medo e frio.

Então fique onde está.

Ainda posso te encontrar nos contos de fadas.

Se eu ainda acredito neles?

Sim. Acredito. E não. Não acredito.

Por um lado, se eles existem por que as pessoas do mundo real não os enxergam?

Mas por outro,

Se eu acredito no mundo real por que não acreditaria neles?

A minha conclusão é:

Eu apenas acho que os contos de fadas são iluminados de mais para as trevas das pessoas grandes.

Mas tudo bem.

Eu sempre vou ter aquele cantinho do meu coração, onde eu vejo os contos de fadas e ainda sou pequena o bastante para acreditar neles.