História Nossa Relação - Os retratos de Sakura Haruno

Sakura

Logo na segunda-feira, no dia seguinte, sabendo que não teria aula pela manhã por conta do ponto facultativo, Sasori veio me buscar em casa.

Minhas amigas ficaram olhando pela janela enquanto eu caminhava até o veículo com um enorme sozinho ansioso e envergonhado, e elas gritavam como retardadas, fazendo meu rosto corar com constrangimento.

Entrei no carro de Sasori com um sorriso amarelo, tentando ignorar as malucas das minhas amigas. O ruivo sorriu divertido e logo se aproximou para me dar um beijo, um na ponta do nariz e outro nos lábios, como ele sempre costuma fazer, e como sempre, sinto meu coração aquecido com ternura. Estava usando um cardigan sem magas por cima de uma camisa social azul clara, as mangas dobradas nos antebraços.

— Você tem umas amigas bem interessantes. — ele disse, lançando um olhar irônico em direção a janela da casa, onde uma Ino empolgada berrava uma despedida, Konan acenava com entusiasmo, e Hinata sorria, um pouco mais contida.

Desviei o olhar sentindo o rosto ferver.

— Juro que não conheço essas loucas.

Sasori riu e deu partida no carro. Com a velocidade do conversível, eles voaram pelas ruas, e em pouco tempo chegamos na galeria. Era localizada em uma avenida bem movimentada, cheia de comércios e como agora estava claro com a luz do dia, eu consegui analisar melhor a fachada. Era uma construção antiquada, com estruturas arcaica e tinha uma beleza antiga com cores marrons e bege combinando, parecia uma mansão de dois andares do século XIX.

Eu me encantei completamente. Exalava um ar poético e artístico, e aposto que era essa a finalidade quando construíram, porque combinou perfeitamente para abrir uma galeria de artes. De todos os estabelecimentos que tinha naquele rua, a galeria de era que a mais chamava a atenção.

Isso me deixava intimidada, ainda mais quando entramos e eu pude relembrar o luxo que era por dentro. Pensar que Sasori era dono de tudo isso me dava uma pitada de desconforto em comparação com minha própria condição social. Mas evitei pensar nisso, me esquivando desses pensamentos que eu sei que me deixariam deprimida se eu me atentasse demais sobre o assunto.

Sasori e eu caminhávamos pelo corredor repleto de quadros magníficos grudados nas paredes, nossas mãos entrelaçadas enquanto conversávamos.

—Você e Gaara parecem que não se dão muito bem. — aleguei, após tomar coragem para finalmente tocar no assunto, mesmo com receio de parecer curiosa demais e intrometida.

Sasori revirou os olhos e suspirou.

— Não foi só impressão sua. — ele olhou para mim com o canto dos olhos. — Ele realmente não vai com minha cara.

Isso eu tinha percebido. O modo como Gaara olhava para ele toda vez que Sasori falava, durante o almoço na casa de Chiyo, era um olhar de desprezo e raiva contida. Parecia que ia muito além dos santos dos dois não se baterem.

— Por que será que ele não gosta de você? — questionei realmente confusa, porque não sabia como alguém podia odiar uma pessoa como Sasori, não achava concebível a ideia de que qualquer outra pessoa vislumbrasse Sasori com outros olhos, porque segundo meu ponto de vista, ele era um ser-humano maravilhoso.

Sasori desviou o olhar e deu de ombros, a expressão levemente neutra.

— Não sei. Eu acho que...

Ele deixou a frase no ar, como se não tivesse coragem de falar e seu rosto enrubesceu.

— Acha o quê..?— perguntei com a curiosidade atiçada.

— Er..sei lá...— deu de ombros novamente de forma nervosa. — Eu não sou convencido e nem gosto de me gabar, mas sempre desconfiei que ele tem inveja de mim.

Sasori virou o rosto, como se estivesse envergonhado por ter admitido o que realmente pensava. Não que eu tenha achada a ideia absurda, muito pelo contrário, fazia muito sentido e era uma boa explicação para a cara emburrada de Gaara todo vez que fitava o primo. Eu não duvido que seja recalque.

Ouvimos passos se aproximarem, o barulho de saltas batendo no chão indicavam que alguém estava preste a virar no corredor. Quando uma mulher bonita e elegante com vestido longo preto, dobrou a curva do corredor, eu logo a reconheci.

Ela abriu um enorme sorriso quando nos deparamos no meio do corredor, seus olhos ficaram fixos em Sasori por um longo instante, antes de seu o olhar cravar em mim, e tive a leve impressão que ela me mediu de cima abaixo rapidamente.

— Bom dia. — falou com voz melodiosa.

—Bom dia, Matsuri. — Sasori respondeu. Ele olhou para mim e abriu um sorriso que para mim parecia radiante. — Essa é a Sakura. — me apresentou, e eu ergui o canto dos lábios suavemente e acenei como cumprimentou. — E Sakura, essa é Matsuri. Ela me ajuda na administração da galeria.

Eu me lembrava dela, quando eu vim em uma das exposição. Era ela quem estava recebendo os convidados na entrada, mais além disso, o que eu lembrava perfeitamente era ela tentando expulsar eu e Ino quando a galeria estava prestes a fechar. Ela ia nos escorraçar para rua se Sasori não tivesse chegado na hora e impedido.

Matsuri sorriu para mim com simpatia dessa vez, e fez uma leve reverência como comprimento.

— Prazer em te conhecer, o Sasori fala muito de você. — ela disse fazendo as têmporas do ruivo corarem de vergonha. Que fofinho, tive vontade de esmaga-lo com um abraço de urso.

— É sério? — olhei para ele com sorriso zombeteiro.

—Sim, pergunte para qualquer pessoa que trabalhe aqui, e eles dirão a mesma coisa. — Matsuri completou. Sasori lançou um olhar zangado para ela.

— Sua traíra. — resmungou, mas logo os dois caíram na risada.

— Bom, eu vou resolver algumas coisas. Vejo você depois. — ela disse e logo passou por nós. — Tchau, Sakura, foi um prazer. — esbravejou antes se afastar.

— Até logo. — repliquei.

Sasori e eu prosseguimos caminho até o ateliê dele.

Chegando lá, mais um vez fiquei deslumbrada com o espaço. A luz do sol de primavera entrava pelas janelas e iluminava o enorme cômodo. Com latas de tintas, pincéis de todos os tamanhos, quadros e marionetes para todo lado, mas o mais surpreendente, é que parecia que havia alguns espelhos pois me deparei com minha imagem refletida em toda canto. Meu coração errou algumas batidas e eu perdi o folego ao ver diversos retratos meu.

Olhei em volta, boquiaberta, passando os olhos por cada pintura. Havia retratos que eu estava sorrindo abertamente, e em outros eu estava serena. Havia um que meu rosto estava parcialmente virado e meus cabelos esvoaçavam. Eu gostei de um que mostrava meu corpo inteiro, eu estava de costas com um vestido longo branco e meu cabelos iam até até o chão. Muitos quadros eram todo em preto e branco, ele coloriu apenas a cor dos meus cabelos rosados, que se sobressaiam ainda mais com o fundo todo branco.

Sasori se aproximou, rodeando meu ombros com o braço.

— Eu quis destacar o que eu mais gosto em você. — falou perto do meu ouvido. Passei as mãos em meus cabelos. Meus olhos marejaram e eu não consegui controlar as lágrimas que rolaram.

— São lindos demais, Sasori. — sussurrei quase sem forças de tão abalada que eu estava. Não havia mais nada para ser dito, eu estava sem palavras.

— Que bom que gostou. Não estão muito bons porque, você sabe, não é minha especialidade. — ele disse, seu tom baixo e suave. Virou meu corpo para delicadamente, levantou meu queixo para erguer meu rosto e fita-lo. — É uma homenagem para você. — murmurou, levou sua mão ao meu rosto e limpou minhas lágrimas com doçura. — Você merece.

Me joguei em seus braços, abraçando seus ombros o mais forte quanto consegui. Logo senti seus braços me rodearem e me apertarem com a mesma intensidade.

— São maravilhosos. Obrigada. — falei, a voz tremula de emoção, afundando a cabeça em seu pescoço enquanto chorava e sorria. Senti suas mãos acariciando meus cabelos e um beijo foi depositado no topo da minha cabeça.

— Sou eu que preciso agradecer.

Levantei o rosto prensei minha boca contra a sua, seu lábios macios me alucinavam e o suspirou que deixou escapar fez meu corpo vibrar. Sasori segurou minha nuca e ergueu meu rosto ainda mais, para aprofundar o beijo, nossas bocas se encaixaram melhor e sua língua invadiu meu interior.

Quando eu já estava a beira da excitação, Sasori interrompeu o beijo e se afastou com um sorriso travesso.

— Ainda falta um para te mostrar. — disse e segurou minha mão, fazendo-me segui-lo para o outro lado do cômodo. Contornamos a mesa que havia no meio e caminhamos até o fundo, perto das janelas que iam do chão até o teto. Paramos em frente a um cavalete coberto por um pano branco, e eu, confusa, olhei confusa.

— Eu comecei ontem por isso só deu tempo de fazer os esboços. — ele disse. Lançou um olhar cauteloso para mim antes de puxar o pano e revelar o quadro.

Minha boca se escancarou em um perfeito “O” e aposto que meu rosto ficou mais vermelho que o cabelo dele.

No quadro branco havia leves esboços com tinta preta de uma cama enorme, e sob a mesma, a silhueta de um corpo nu que provavelmente é o meu. Estava deitada de costas, os braços jogados para cima, as pernas dobradas, os cabelos espalhados pelo travesseiro. Mas o que mais chamou minha atenção-, além do formato dos meus seios médios,- foi o desenho do colar em meu pescoço.

Olhei para Sasori ainda boquiaberta e o mesmo sorria levemente tímido.

— Achei que você tinha o direito de saber. Tem algum problema?

Após me recuperar da surpresa e do choque, meus ombros relaxaram e forcei um sorriso. Não era tão ruim assim. Apesar da vergonha, eu estava lisonjeada pela forma como Sasori admirou meu corpo e estava me sentindo muito mais confiante.

— Claro que não. Desde que ninguém mais veja, além de você.

Sasori engasgou e fechou o semblante.

— É óbvio que eu também não quero que mais ninguém veja. Principalmente, outro cara. — disparou e arregalou os olhos por um instante. — Não que eu seja possessivo, ou algo do tipo. É porque eu respeito você.

Segurei o riso e assenti.

— Eu entendo, Sasori. — aleguei, mas no fundo eu estava desconfiada.

Ele deu um sorriso e nervoso e voltou a olhar para o quadro inacabado.

— Foi uma noite muito boa. — falou com tom mais baixo. Não pude deixar de concordar com ele. — Eu nunca vou esquecer.

Meu peito se inflou de ternura.

— Eu também.

Sasori desviou os olhos para mim, seu olhar intenso deixou meus pelos eriçados. Logo estávamos nos agarrando, devorando a boca um do outro com urgência, suas mãos explorando meu corpo com ansiedade.

Andamos pelo cômodo sem quebrar o beijo. Sasori me prensou contra a mesa. Sem preocupação alguma, jogou no chão os materiais que estavam sob ela, em seguida ergueu meu corpo, fazendo-me sentar sobre a madeira fica e logo se encaixou entre minhas pernas.

A excitação incendiava nossos corpo, e me fez lembrar uma situação muito parecida com a de agora, quando estávamos nessa mesma sala, onde rolou nosso primeiro beijo, e quase fomos além disso se não tivéssemos sido interrompidos.

Bem. Hoje ninguém irá nos atrapalhar.

♦ 

Após sairmos, nos deparamos com Deidara saindo do seu próprio atêlie, que ficava no mesmo corredor que o de Sasori. O loiro olhou para nós com um gritante sorriso cheio de malicia, como se ele tivesse advinhado o que estávamos fazendo agora pouco.

E acho que o tom ruborizado em meu rosto me entregava totalmente.

— E aí. Parece que vocês andaram bastante ocupados.— ele disse com tom sarcástico. Resisti a vontade de esconder o rosto no peito de Sasori, que estava ao meu lado, abraçando meus ombros.

— E você parece bem desocupado para querer cuidar da vida dos outros. — o ruivo rebateu, apesar de estar de bom humor e a fala não ter saído tão rude quanto deveria.

Depois dessa, Deidara apenas riu. Então Sasori e eu começamos a andar.

— Onde estão indo? — perguntou quando passamos por ele, comprovando que era realmente um curioso e intrometido.

— Almoçar. — Sasori respondeu sem olhar na direção do amigo.

—Eu vou junto!

Fiquei indignada, principalmente porque Sasori deixou ele vir junto, mesmo que ele tenha me explicado que Deidara não ia nos deixar em paz se ele não cedesse.

Fiquei irritada no inicio, ainda mais porque Deidara não parava de tagarelar, lançando indiretas e piadas obscenas que me constrangiam. Ele reclamou porque Sasori mandou ele ir no banco de trás do carro e acusou o ruivo de ter trocado o melhor amigo por uma garota. Ele resmungava dizendo que logo logo Sasori iria passar mais tempo comigo e ia se esquecer dele, e ameaçou se vingar caso isso acontecesse.

Depois que chegamos ao restaurante, eu estava achando mais divertido que irritante. Deidara era muito engraçado, e ficava pior ainda quando se juntava com Sasori, que era outro palhacinho.

Por causa dos dois, eu não tive tempo de me sentir tão desconfortável por estar em um restaurante tão chique, que foi para onde Sasori nos levou. A comida era sofisticada e tinha uns nomes que eu sequer conhecia. Não que eu tenha comentado isso com Sasori pois nada no mundo seria mais vergonhoso. Ele e Deidara pareciam tão acostumados com toda essa elegância e agiam normalmente, então fingi que estava tudo ok.

Após o almoço, Sasori me levou até o hospital. Apesar de ser feriado, a área de saúde não para então eu tinha ir trabalhar. Sasori me deixou no hospital e prometeu que viria me buscar, mesmo que eu tenha dito que não precisava. De qualquer maneira, fiquei animada com a ideia de vê-lo de novo.

Ao chegar no andar em que trabalho, rapidamente fui me trocar. Vesti o uniforme e prendi os cabelos em rabo de cavalo. De repente, a porta do vestiário se abriu e Tenten adentrou no local. Forçou um sorriso em minha direção como comprimento.

— Oi, como você tá? — perguntei.

— Bem, e você? — a morena respondeu sem muita animação.

— To legal.

Eu queria dizer que estava muito feliz e que tudo estava mais que bem, mas seria errado, pois eu não queria passar a impressão que estava esfregando minha alegria na sua cara.

Acontece que Tenten não anda muito alegre ultimamente. Eu não sei se tem algo a ver com ela ter perdido o desafio. Com “Perdido”, quero dizer que ela não conseguiu se declarar para o Hyuuga, não conseguiu demonstrar nem o mínimo interesse, e faz um tempo que ele recebeu alta e desde então ela nunca mais o viu.

Eu fico triste por ela, porque mesmo com pouco tempo de convivência, Tenten se tornou umas de minhas melhores amigas e eu me importava muito com ela. Me colocando em seu lugar, talvez também me sentiria mal se não tivesse tentado falar com Sasori, se tivesse deixado ele partir. Quantos momentos bons eu perderia se não tivesse corrido atrás dele, até o saguão do hospital, naquele dia.

E eu quero que minha amiga seja tão feliz quanto eu, por isso, eu tinha um plano.

— Ei, quer sair comigo sábado? É aniversário de uma amiga minha e vai ter o maior festão. — perguntei como quem não quer nada, apenas um convite sem segundas intenções. Mas na verdade havia muito mais por trás.

Não que eu esteja mentindo. É verdade que será aniversário da Hinata e seu namorado, Naruto, estava planejando fazer uma grande festa na casa dele. O que eu não estava dizendo era que Neji Hyuuga com certeza estaria lá, já que era primo de Hinata e pelo que eu sabia, os dois eram bem próximos. Como irmãos, até. Eu omiti minhas verdadeiras intenções para Tenten, até porque se ela souber que o encontrará o Hyuuga lá, talvez não tivesse coragem de ir. Então era melhor fazer surpresa.

Demorou muito para eu conseguir convence-la a aceitar. Ela era teimosa e preguiçosa, não gostava muito de sair, preferia ficar em casa, assim como eu. Mas eu aleguei que era uma ocasião especial, que era muito importante para mim que ela conhecesse minhas amigas, e foi na base dessa chantagem emocional que consegui fazer ela prometer que iria comigo.

Trabalhei feliz, empolgada com meu plano e alegre por ter ficado com Sasori hoje.

O tempo passou tão rápido que eu mal vi. Logo estava dando o horário do fim do meu turno. Quando recebi uma mensagem de Sasori informando que ele estava me esperando lá em baixo, me apressei para trocar de roupa e retocar de leve a maquiagem.

Em poucos minutos, eu já estava passando pelas portas duplas do hospital e olhava ao redor, procurando-o. A calçada estava movimentada, com pessoas andando pra lá e pra cá, alguns de mãos dadas com os namorado(a), outros conversando em seus celulares, andando apressadamente.

No fim da calçada, perto da rua, avistei uma cabeleira ruiva e percebi que era Sasori. Sorri enquanto avançava em sua direção, e já estava ansiosa pelo beijo que ele me daria assim que o alcançasse. Quase desanimei quando vi Deidara ao seu lado, mas logo me senti contente por ele ter vindo também.

Estranhei quando percebi que o semblante dos dois estava fechado,e em Sasori, uma veia de irritação saltava em sua testa e seus olhos brilhavam com... ódio. Eu nunca tinha visto essa expressão em seu rosto e me perguntei o que será que o deixara assim.

Foi então que percebi a presença de outra pessoa, mais ao lado, em frente a Sasori, e então meu coração parou de bater quando vi quem estava do outro lado de Sasori. Arregalei os olhos e prendi a respiração. Tudo parou ao meu redor e ainda senti meu estômago em chamas.

— Mas o que... — sussurrei. Minha voz falhou completamente mas meus pensamentos estavam acelerados e em alerta.

Mas o que Sasuke está fazendo aqui?