Completei uma semana inteira de serviço e quando meu turno acabou na sexta-feira, estava extremamente exausta. Trabalhar em hospital é como todos falam, corrido e cheio de serviço. Mas estava feliz, acima de tudo, afinal era disso que eu gostava.
Mas tudo podia ficar mais complicado se todas as vezes que eu chegar em casa, pronta descansar, minhas amigas me intimarem a sair com elas. Eu poderia ter dito não, mas quem disse que Ino aceita uma negativa como resposta? Como não estava a fim de ouvir suas reclamações, me atazanando os ouvidos, achei mais fácil aceitar e ir. Teria bebida, e eu poderia ficar sentada o tempo inteiro. Me convenci de que o fim de semana estava apenas começando. Estaria de folga amanhã e no domingo também. Poderia dormir o dia inteiro, que felicidade!
E cá estou eu, sentada ao lado de Konan, observando o movimento pela praça. Era perto da república, um espaço amplo, a céu aberto, por onde as pessoas transitava pelo meio enquanto outros se acomodavam nos bancos de concreto, disposto em vários pontos do local. Nas bordas, em volta da praça, havia diversos bares e lanchonetes, o que respondia à questão de o lugar ser tão frequentado.
Era aconchegante e fresco, nos bares havia as melhores bebidas, e é aqui que pode se encontrar a maioria dos alunos da universidade. Realmente, olhando em volta, reconheci muitos rostos, pessoas que conheço da minha turma ou que simplesmente cruzo diariamente no campus.
— E aí, seu namorado vem? — perguntei à Konan. Só sobramos eu e ela, sendo que Ino sumiu com algum peguete- isso porque ela terminou o namoro recentemente-, e Hinata foi ficar com o namorado. Eu tinha uma boa visão dela e de Naruto, que estavam do outro lado da praça, rodeados pelo grupinho de amigos do loiro.
Sasuke estava no meio da turma. Não o via com frequência no campus, o prédio onde ele estuda é longe do meu, mas sua presença aqui nessa praça é quase constante. Hoje não foi diferente.
Lá estava ele, como sempre rodeado de garotas, e uma em específico estava o abraçando pela cintura. Entortei a boca com desgosto. Era a Karin. A ruiva insistente que não larga do pé de Sasuke. Eu a conhecia bem, afinal já faz muito tempo que ela vem tentando reconquistar Sasuke para voltar a namorá-lo. Mal sabe ela que aquilo nem foi um relacionamento sério, pois Sasuke continuava saindo comigo. Aliás, ela sabe sim, por isso me odeia.
Como se fosse minha culpa que Sasuke não consegue assumir nenhum compromisso sério. Acredite em mim, ninguém sofre mais que eu por causa disso.
Mas eu entendia a raiva dela. Pelos olhares que trocava com Sasuke desde minha chegada, percebi que hoje seria igual aos outros dias. Como sempre. Ele estava com ela agora, mas iria embora comigo.
Desviei os olhos de volta para Konan, que bebia uma cerveja de latinha e suspirava ao lembrar do namorado.
— Ele vem assim que sair do trabalho. — explicou.
O namorado de Konan era mais velho e já estava formado. Tinha seu próprio apartamento, o qual minha amiga de cabelo roxo está louca para se mudar, mas não pode, devido ser longe da universidade. Mas ela já está no último semestre de Ciências Contábeis, e quando terminasse, mais nada a seguraria na república. Sentirei muito sua falta, mas vou ficar feliz por ela finalmente poder se juntar ao namorado.
Bebi um gole da minha própria cerveja.
— Konan — balbuciei e ela fixou seus olhos de mel em mim. Fitei o chão. — Como é... hnn...namorar alguém que você tanto gosta?
Ela franziu a testa por alguns segundos antes de sorrir e suspirar. Ergueu o rosto e olhou para as estrelas no céu aberto.
— Bom... No começo é tudo de bom. A sensação de ter conquistado ele e a ideia de tê-lo só para mim... Era tudo muito novo, me pegava ansiosa a todo momento, porque era o período em que acontecia “as primeiras vezes”. O primeiro encontro, primeiro beijo, — seu tom de voz abaixou e seu rosto corou. — A primeira vez fazendo amor. Eu era tão feliz que achava que poderia explodir de alegria a qualquer momento.
Eu ouvia com atenção, bebericando vez ou outra a cerveja enquanto guardava suas palavras.
— Depois de um tempo, a paixão ameniza. A tendência é ficar chato, mas se o relacionamento não é apenas baseado em paixão, as coisas podem ser diferentes. Sabe, para começar um relacionamento é preciso que exista três coisas entre os dois: atração, afeição e companheirismo. Se faltar um dos três, quando as faíscas de paixão se extinguirem, a relação cairá na monotonia. Um namoro assim não dura por muito tempo. E Sakura, sabe por que é preciso dessas três coisas para começar um namoro perfeito?
— Acho que sei. — Balancei a cabeça, lentamente é pensativa. — São os três ingredientes precisos para, depois, transformar a paixão em amor.
Konan assentiu, sorrindo.
— Exato. Saky, atualmente eu não estou tão alegre quanto estava quando conheci o Yahiko. Eu estou...plena. Temos nossos altos e baixos. E a resposta para sua pergunta, de como é namorar com o Yahiko, é como me sentir viva. Completa.
— Entendo. — Murmurei, sorrindo com os olhos marejados de tão comovida e ciumenta. Era inevitável sentir certa inveja, porém Konan é merecedora de tamanha felicidade.
Olhei novamente para o grupo do outro lado. Sasuke bebia em copo plástico transparente o que parecia ser whisky e estava olhando emburrado para a ruiva grudada dele. Meus olhos se distraíram com outra cabeleira ruiva, um garoto que acabava de chegar próximo ao grupo, e meu coração disparou por um momento. Por segundos de insanidade eu pensei que era Sasori. Deve ser a bebida começando a fazer efeito. A cor vermelho nos fios do recém chegado- que reconheci que era o Gaara, um dos melhores amigos de Naruto- é bem mais intensa e escura, puxada para o vinho. Enquanto meu paciente possuía um tom de ruivo mais claro, quase rosado.
Eu estava muito errada ao pensar que Sasori estaria ali, ele não tem muita coisa a ver com Gaara. Mas a semelhança da cor de cabelo me lembrou o garoto lindo que estava internado em um hospital há bairros de distância dali. Consequentemente, meu rosto esquentou ao lembrar da última vez que o vi.
O acontecimento de ontem vem me atormentando bastante. Me peguei lembrando do momento, constrangida e... levemente com tesão. Se estivéssemos em outra situação, com ele saudável e não sendo meu paciente, eu o acabaria atacando, me sentindo extremamente confiante por excitá-lo com apenas um toque.
Mas a realidade é vergonhosa. Não sei como poderei encará-lo da mesma forma que antes.
Tive sorte que hoje não vi pois ele estava fazendo terapia com a médica. Terei mais dois dias para me recuperar, mesmo assim, acho que nem todo tempo do mundo pode me acostumar me sentir confortável ao lado dele novamente.
— Ei, Sakura, sai do mundo da lua. — Meus pensamentos foram interrompidos por Ino, que balançava os braços para chamar minha atenção.
— Você voltou, porca. Já cansou do peguete?
— Ah, aquele lá foi só um aquecimento. — Zombou, sentando-se do meu outro lado, deixando-me no meio entre ela e Konan. Ino ergueu uma garrafa de vidro, quase metendo o objeto na minha cara. — Olha o que consegui! Esse é dos bons.
Afastei o rosto para ler o rótulo. Era uma garrafa de Matirni de cereja, o líquido dentro do vidro era levemente avermelhado.
— Você comprou? — Konan perguntou.
Ino riu com desdém.
— Obvio que não, o cara que me deu de presente.
— Nossa. — Murmurei. Ficava admirada com Ino, ela sabia influenciar um cara com arte de mestre.
— Vamos beber.
Abriu a garrafa e despejou o líquido em um copo descartável que ela trouxera.
— Vê se é bom. — Estendeu para mim.
Peguei o copo e levei aos lábios, um pouco hesitante. Quando um pingo do líquido entrou em contato com minha língua, senti o gosto doce levemente misturado com o álcool.
— Hmm. É bom.
Virei o copo.
♦
Quando Sasuke me puxou para longe, horas depois, eu estava embriagada. Ele nos levou até o meio das árvores, onde estava escuro e deserto. Minha cabeça girou quando fui prensada contra um dos troncos. Eu ri.
— Ai, isso doí, Sassukiii. — falei, com voz manhosa.
Ele ergueu uma sobrancelha por um instante mas logo me beijou. Sua boca tomou a minha com fome, de jeito que eu mal estava conseguindo acompanhar. Quando seus lábios foram para meu pescoço, eu ri novamente.
— Faz cocegas. — Meu riso o incomodou, uma vez que ele parou o que estava fazendo e me olhou. Na pouco luz que vinha da lua, seu olhar analisou meu rosto corado, olhos vermelhos e sonolentos.
— Você está muito bêbada. — Ele resmungou como se isso fosse crime.
Admito que não era minha intenção me embriagar dessa maneira, mas aquele maldito martini tinha um teor de álcool maior do que o gosto doce disfarçou. Percebi isso quando, depois de três copos, eu já estava sentindo uma profunda dormência. Depois que "sequei" a garrafa, meu estado estava muito pior.
Deve ser por isso que Sasuke estava me fitando tão bravo. Eu não estava bêbada. Eu estava muito bêbada.
— Que droga, Sakura. — Esbravejou, se afastando e me dando as costas. Colocou as mãos na cintura e olhou para cima, parecia que estava pensando.
Aproveitei para abraçá-lo por trás e afundar a cabeça entre suas omoplatas. Respirei fundo seu cheiro. Fiquei na ponta dos pés para minha boca ficar na altura de sua nuca e depositei um beijinho de leve ali, depois lambi sua pele com a ponta da língua. Ele estremeceu.
— Para. — Usou suas mãos para afastar as minhas de seu quadril. Se virou para mim, com expressão nada agradável.
— Estragou a noite, parabéns. — Resmungou. —Vem. — Segurou meu braço com firmeza e começou a andar.
Não consegui prestar muita atenção em nada depois disso. Só lembro fragmentos da cena dele me arrastando entre as pessoas, depois estávamos em seu carro e ele dirigia com o semblante fechado. Me perguntei se ele estava me levando para minha casa, o que era a opção mais óbvia, uma vez que ele mesmo disso que estraguei nossa noite e provavelmente não vai querer tentar nada comigo assim nesse estado.
Porém, quando percebi, ele já estava me tirando do carro e reconheci o prédio de seu apartamento. Entramos e depois de tanta movimentação, senti meu estomago embrulhar. Corri para banheiro e vomitei.
Descarreguei todo o líquido e todo alimento que continha em meu estomago. Em determinado momento, acho que escutei Sasuke entrando no banheiro e praguejando bastante. Meus cabelos foram segurados enquanto colocava as tripas para fora.
Quando acabei, Sasuke me colocou de pé e começou a tirar minha roupa. Seu toque não tinha intenções sexuais, mesmo assim senti uma leve excitação.
Ele me deu um banho e depois enfiou meu corpo em uma de suas camisas de manga cumprida. Sasuke resmungou durante todo o tempo, o rosto mais emburrado que o normal. Passou tão rápido que quando vi, já estava aconchegada em sua cama, me encolhendo embaixo do cobertor quentinho.
Mas antes que pudesse me entregar ao sono que queria tomar conta de mim, Sasuke me fez sentar de forma brusca.
— Bebê tudo. — Falou, empurrando em minha boca o gargalho de uma garrafa. Sem opção, tomei toda a água, quase me afogando no processo.
Voltei a deitar depois que ele se afastou para deixar a garrafinha em cima do criado-mudo. Agora era eu quem estava irritada e de cara amarrada, os olhos fechados mas a testa ainda franzida.
Senti ele se mexer ao meu lado na cama e ouvi seu suspiro cansado.
— Sasuke...— sussurrei. Ele não disse nada, mas sabia que estava me escutando. — Por que me trouxe aqui?
Segundos, minutos. A resposta não veio.
— Responde. — Abri os olhos e o encarei. Sasuke estava deitado com uma mão atrás da cabeça, o olhar grudado no teto. — Por que não me levou para minha casa?
Ele continuou em silêncio, me ignorando completamente. Bufei, virando para outro lado. Ainda sentia um pouco de tontura e ao fechar as pálpebras, a sensação de estar girando me apossou. O sono, que já estava próximo, viria forte e profundo.
Após um longo tempo, tive a impressão de ouvir um resmungo.
— Se eu soubesse que ia dar tanto trabalho...— foi baixo, mas não o suficiente para eu não entender. Não pude compreender o resto da fala pois a inconsciência já se fazia presente.
Sonhei que sentia mãos suaves acariciando meus cabelos, me acalmando e zelando meu sono. Me senti tão bem que desejei ter mais sonhos como esse.
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