Julieta estava na mansão em São Paulo, ajeitava as rosas em um vaso enquanto cantarolava feliz pois os médicos haviam dado a notícia de que Aurélio receberia alta do hospital no próximo dia. Enquanto sentia o perfume das flores, em sua mente lembrava dos beijos e carinhos de seu amado, em como ele mudou sua vida para melhor e que agora, embora estivesse com receio, se casaria com ele e viveria o resto de sua vida o seu grande amor. Essas lembranças fizeram com que a rainha do café sentisse até mesmo cheiro de seu botânico preferido, podia até mesmo ouvir a voz dele a chamando, mas ao sentir sua cintura sendo envolvida por fortes braços e um beijo ser instalado em seu pescoço, a morena nem precisou abrir os olhos pois teve certeza de que não estava delirando, nem tão pouco enganada a respeito de quem a acariciava.
— Cuidado, deixa que eu cuido dos espinhos.
— E se eu disser que por muito tempo eu só cultivei os espinhos — disse a morena se virando de frente para o loiro e acariciando seus cabelos.
— Você merece as rosas, fique somente com elas — respondeu o filho do Barão que logo depois partiu para um beijo quente e demorado.
— Mas você não iria receber alta do hospital amanhã ?
— Sim, mas como fui um menino bonzinho, tirando a parte que corri feito louco pelo hospital te procurando, eles resolveram me liberar hoje.
— Aquele dia você quase me matou de susto,mas estou aliviada em te ver bem e aqui comigo, mas deveria ter telefonado para Tião buscá-lo enquanto eu preparava algo especial para você.
— Eu é que estou feliz em estar de volta, e não se preocupe … você é tudo de especial que eu poderia ter agora … minha noiva — disse o botânico dando um selinho em sua amada.
— AURÉLIO ! — disse Angelina sorridente correndo em direção ao botânico.
— Oi princesa, vejo que está bem melhor e pelo estado de sua roupa anda se divertindo muito — a garota estava toda despenteada e com vestido sujo de terra — está parecendo uma porquinha.
— Meu Deus Angelina. Venha, vou te ajudar a se limpar antes do jantar — Disse Julieta.
Então as duas subiram as escadas enquanto Aurélio as observava com ternura.
Após a refeição, Aurélio e Julieta desfrutavam de um vinho enquanto Angelina brincava com sua boneca. Ambos já estavam prestes a se deitarem até que Camilo adentra nervoso na mansão.
— Dona Julieta, precisamos ter uma conversa.
— O que houve meu filho, acalme - se — A morena estava preocupada com o estado de seu primogênito e deu um sinal para que sua empregada afastasse Angelina daquele local.
— Já disse que não sou seu filho, deixei isso bem claro depois que fui embora dessa casa e da sua vida, e principalmente depois que descobri sobre o meu falso casamento. Não sei por que insiste em procurar Jane, como fez hoje, não entendo o interesse da rainha do café com a ralé.
— Não fala isso Camilo, eu já lhe pedi perdão e lhe peço de novo, não deixe o rancor te consumir meu filho … eu procurei Jane para pedir o seu perdão. Eu estou me tornando uma pessoa melhor — As lágrimas da mulher começaram a rolar e seu coração se despedaçar a cada vez que escutava aquelas palavras vindas de seu filho.
— Não vim aqui para escutar mais um teatrinho seu. Eu só vim deixar bem claro que não quero saber da senhora procurando minha esposa, já disse que não a quero mais em minha vida.
— Não fala isso Camilo
— Já deixei claro isso várias vezes, e não sei como a “mulher que nunca se esquece de nada” não se lembra disso. E não adianta chorar porque eu não acredito nessas suas lágrimas de croco…
— JÁ CHEGA CAMILO — disse o filho do barão ao segurar sua amada que aos poucos se desfalecia.
Aurélio subiu as escadas com Julieta em seus braços, deixando o filho dela sozinho na sala. O mesmo iria sair mas embora estivesse com raiva de sua mãe, vê-la assim por sua culpa lhe causava preocupação. Então resolveu esperar por notícias. Estava concentrado fitando o chão até que escutou um espirro vindo de trás de uma pilastra. E quando focou os olhos na direção, pode ver uma garotinha lhe observando com medo, e então se lembrou que ela estava junto com sua mãe quando ele chegou.
— Oi qual seu nome ?
— Angelina
— E o que você faz aqui Angelina?
— Julieta me trouxe para cá depois que me salvou.
— Minha mã… digo, Julieta te salvou ?
— Sim, eu morava com meu tio, que me batia e me maltratava, mas ai ela apareceu como um anjo em minha vida e me tirou de lá.
— Tem certeza de que estamos falando da mesma pessoa ?
— Claro que tenho… A culpa não é minha se você não sabe valorizar o amor de sua mãe — disse a garota tomando coragem e se colocando à frente do Príncipe do Café que lhe a encarava surpreso com a afronta.
— Você é só uma criança, não sabe do que está falando
— Eu posso até ser uma criança, mas tenho certeza de que o que você fez com a sua mãe foi muito ruim, e não se deve tratar uma mãe assim
— Quer saber ? Não vou ficar aqui discutindo com uma criança. Que nem ao menos sabe como é ter Julieta Bittencourt como mãe.
— Você tem razão… eu não sei como é ter Julieta como mãe, por que nem ao menos mãe eu tive, mas eu acho que todo mundo deveria honrar a mãe que tem — essas palavras fizeram com que Camilo que já estava na porta, parasse e refletisse por um instante, embora aquelas palavras fossem de uma criança, tudo aquilo talvez fosse verdade. Mas logo saiu sem se pronunciar.
No quarto da rainha do café, a mesma abriu os olhos aos poucos e pôde ver o semblante de preocupação do filho do barão.
— Onde está Camilo ? — perguntou a mulher ao se sentar na cama.
— Não sei, o deixei na sala depois que você desmaiou. Você está bem ? — o loiro acariciava as bochechas de sua amada.
— Sim, foi só um calor do momento… nossa e Angelina, onde está ? Será que ela viu alguma coisa ?
Desesperado o botânico saiu a procura da menina e logo depois a rainha do café o seguiu. Foram até a sala e se depararam com a pobre criança deitada no sofá chorando. Então mais que depressa agacharam preocupados com a mais nova.
— O que aconteceu minha pequena? Por quê está chorando ? — perguntou o filho do Barão
— Eu queria minha mãe — respondeu Angelina entre soluços.
— Não se preocupe minha flor, nós estamos aqui — a morena trocou olhares com seu noivo, sem saber o que fazer, entretanto achou uma solução rápida — Eu tive uma ideia. Você vai dormir comigo essa noite … o que acha ? Eu sei que não sou sua mãe mas… — Antes que Julieta pudesse terminar a fala, sentiu a mais nova pular em seus braços e abraçá-la.
De manhã, a rainha do café fechava a porta de seu quarto com cuidado para não acordar a garota que dormia profundamente em sua cama. Durante a noite ela ficou refletindo sobre o que aconteceu, então concluiu que precisava conversar com Aurélio assim que o dia clareasse. Deu três batidas na porta e adentrou assim que Aurélio permitiu. Ao entrar pode perceber que o loiro embora já estivesse arrumado, assim como ela, não pregou o olho a noite toda.
— Aurélio preciso falar com você.
— Que bom que veio aqui, eu também preciso ter uma conversa com você. E Angelina como está ?
— Ela está bem, agora mesmo está dormindo que nem uma pedra, mas é sobre ela mesmo que vim falar com você. Mas antes que eu me pronuncie, preciso saber o que quer comigo, está com a cara de que não dormiu muito bem essa noite.
— É… realmente passei a noite em claro, e é sobre aquela menininha que eu preciso conversar com você. Mas o que eu tenho para te falar não é uma coisa tão simples, pois logo voltaremos para o Vale e finalmente vou tê la como minha esposa, e precisamos fazer algo a respeito de Angelina, por isso prefiro que você fale primeiro.
— Bom, então está difícil para nós dois, porque também não sei como te explicar isso — a rainha do café envolveu as suas mãos nas de Aurélio, e com os olhos temerosos tomou uma decisão — Vamos fazer assim... vamos falar juntos, e depois independente do que for, vamos chegar a uma conclusão, o que acha ?
Após o botânico concordar, ambos fecharam os olhos e se pronunciaram.
— PODERÍAMOS ADOTAR ANGELINA — os noivos abriram os olhos surpresos, pois estavam com medo de que seu companheiro pensasse diferente sobre o assunto.
— Não sabe como estou feliz em saber que compartilha o mesmo desejo que o meu — disse Aurélio acariciando o rosto de Julieta — e mau posso esperar para contar a novidade a ela.
Após todos da casa acabarem o desjejum, Aurélio e Julieta chamaram Angelina para sentar junto a eles no sofá da sala pois precisavam conversar com a jovem.
— Angelina… eu e Aurélio estivemos pensando a seu respeito e…
— Vocês vão me mandar para um orfanato não é ? — falou a menina com os olhos marejados
— Não meu amor — a rainha do café pegou nas mãos da mais nova — você é muito especial para nós … e tudo que eu e Aurélio queremos é que você fique em nossas vidas para todo sempre. Mas precisamos lhe fazer uma pergunta… — a morena assentiu para o botânico para que ele acabasse de fazer a proposta e assim ele fez.
— Você aceita ser nossa filha ?
A mais nova parou por um momento sem acreditar no que estava ouvindo, nunca pensou que teria pais e que eles seriam justamente as duas pessoas mais especiais da sua vida.
— Sim, sim e sim — abraçou os novos pais e começou a pular de felicidade — ai meu Deus … eu vou ter um pai e uma mãe ? Não acredito… preciso contar isso para meus amigos — antes que os mais velhos pudessem dizer alguma coisa, a jovem saiu correndo para a rua.
— Confesso que estou surpresa, pois a alguns meses atrás eu tinha a convicção de que viveria o resto da vida sozinha e ainda mais depois da briga com Camilo, e olha eu aqui, noiva e com uma família grande — uma lágrima acabou escorrendo no rosto da mulher em meio aos sorrisos que a mesma esbanjava.
— Eu posso garantir que não estou surpreso, pois desde o momento que me apaixonei por você, imagino nós dois envelhecendo junto e ainda com uma família cheia de filhos e netos.
— Aurélio você está louco ? Nem anunciamos nosso noivado e você já pensa tão longe assim.
— Eu estou louco de amor por você minha doce Julieta. E já que tocou no assunto, poderíamos voltar ao Vale para anunciar o nosso noivado e apresentar Angelina à todos.
— Ótima ideia, mesmo que meu filho não esteja lá para compartilhar minha felicidade, eu fico grata em estar junto com você, e também, acho que eu e Camilo precisamos de um tempo longe um do outro — a morena envolveu os braços no pescoço de seu noivo e partiu para um beijo. Após a demonstração de afeto, a rainha do café parou por um instante e começou a gargalhar.
— O que foi ? — perguntou o botânico sem entender o motivo da risada.
— Acabei de me lembrar de uma coisa … seu pai vai ficar louco com a notícia de que realmente vamos nos casar e que adotamos uma criança.
Vale do Café
— O que ? Eu sabia que essa história de morar aqui estava mal contada. Por que não me mata de uma vez enfiando uma espada em meu peito… você é um traidor … como pode se juntar a essa rainha das cascavéis ? Achei que aquele dia no hospital você estivesse sobre efeito de remédios, mas vejo que tudo é verdade — disse o Barão de Ouro Verde, assim que seu filho afirmou que irá se casar com Julieta.
— Quem é esse ? — perguntou Angelina em sussurro enquanto puxava de leve a saia da rainha do café. Pois no dia do pedido de casamento, a jovem estava cansada e não se lembrava de quase nada.
— Esse é o pai de Aurélio — respondeu a mais velha.
— O que ? Ele é pai de Aurélio ? Mas ele não tem nada haver com o filho — dessa vez devido ao espanto, a garota acabou falando alto e Afrânio escutou.
— Como assim eu não me pareço com meu filho ? Não vê o sangue nobre escorrendo em nossas veias ?
— Me desculpe, mas é por que o senhor não é tão gentil quanto seu filho — Respondeu Angelina se escondendo atrás da rainha do café, enquanto todos tentavam segurar o riso.
— Aurelinho quem é essa menina abusada ?
— Bom ela é Angelina — disse o botânico pegando a garota em seu colo — e eu e Julieta resolvemos adotá-la.
— Mas era só o que me faltava … uma cria de aranha caranguejera e deu um traidor … agora sei por que é tão debochada. É o fim dos tempos… eu … titulado Barão por DOM PEDRO O PRIMEIRO tendo que aturar duas Julietas — Afrânio saiu resmungando pela casa enquanto todos riam.
— Não se preocupe Angelina, ele é rabugento e adora exagerar nas palavras, mas tenho certeza de que logo logo ele estará encantado com sua doçura — esclareceu o botânico.
Mais tarde, enquanto os noivos conversavam no escritório, Barão lia seu livro na sala até ser interrompido por sua mais nova neta.
— Oi futuro vovô — a menina sapeca, gostava de provocar o mais velho pois acreditava que por trás daquela marra toda havia um grande coração.
— Não sou seu avô.
— É sim. O senhor é pai de Aurélio, que vai ser meu pai assim que se casar com Julieta.
— Já disse que não aprovo esse casamento. Portanto não sou seu avô — emburrado, o homem enfiou o rosto em meio ao livro dando sinal de que não queria falar com mais ninguém.
A criança sentada no tapete, observava o idoso em sua cadeira de rodas e desenhava algo em uma folha. Ela se levantou e começou a analisar a cadeira com uma cara confusa.
— O que você tanto olha ? — questionou o mais velho curioso.
— Essa sua cadeira … é difícil de fazer. O senhor por acaso não fica em pé não ? — indagou a jovem voltando sua atenção ao desenho.
— Claro que não. Eu sou um velho acabado a beira da morte. Largado pelos…
— Consegui ! — disse a garota com um sorriso no rosto — sabia que essa é a primeira vez que desenho um avô.
— Se está se referindo a mim, eu já lhe disse que não sou nada seu.
— Está bem — a pequena revirava os olhos — Já que é assim vou desenhar outra coisa.
Passaram-se alguns minutos e a jovem acabou adormecendo sobre o sofá abraçada com algumas folhas de papel, e embora o Barão não admitisse que estava começando a sentir um afeto pela garota, ele se aproximou e com cuidado pegou os desenhos de Angelina. Ele se comoveu ao se ver representado naquele papel, enquanto em uma folha havia as caricaturas de Julieta, Aurélio, Ema, Camilo, ele e a garota. A outra continha somente a neta e o futuro avô. Após guardar a segunda folha em seu bolso, Afrânio se retirou refletindo. Talvez essa união de seu filho não fosse tão ruim assim.
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