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História Nossa Trilha Sonora - Segurança


Escrita por: nicolydndr

Notas do Autor


Música de hoje a mesma que a do última cap porque continuamos no mesmo dia glorioso para Limantha.


Sit Next To Me - Foster The People

Capítulo 20 - Segurança


So come over here and sit next to me

We can see where things go naturally

Just say the word and I'll part the sea

Just come over here and sit next to me, ooh

 

-Namorada?

-É, namorada. É surdo além de inconveniente?

Meu corpo estava fervendo. Não aquele calor confortável de felicidade ou aquele calor bom de tesão, era fervendo de raiva. Era o sentimento de raiva e a necessidade de destruir alguma coisa que crescia dentro de mim. E a cada segundo que eu passava lá, mais eu queria enterrar minha mão na cabeça dele e menos meu lado racional tinha voz pra me impedir de dizer isso.

-Lica, menos. Relaxa. - MB disse com uma risada nervosa, agora a brincadeira não tinha mais tanta graça não é mesmo?

Tanto ele quanto Felipe tentaram me puxar pela mão enquanto indigente só me encarava com um olhar de descrença. A aula havia parado e Samantha suada com um uniforme bonito não era mais o foco da atenção, minha falta de compostura era - nada como mais um dia normal no colégio, é o que minha mãe diria.

-Deixa ela. Vamos ver se ela fica assim…

-Deixa de ser rídiculo, meu. - Felipe disse tentando empurrar ele para longe dessa vez. - Você não vai cair na porrada com a menina, né?

-Ninguém vai cair na porrada como ninguém. - Samantha disse puxando a minha mão. O menino se aproximou novamente prestes a dizer mais alguma coisa que me daria no nervos, mas Samantha o interrompeu. - Eu aproveitaria a oportunidade de sair antes que todos nós entremos em problemas. - Ela se colocou entre mim e ele, eu perdi contato visual com o menino tendo os olhos da Samantha na minha frente e seu corpo muito perto do meu. - Lica, vamos sair daqui?

-Mas ele… - Eu comecei com um tom de voz agitado, acenando cegamente para o menino sendo empurrado por MB e Felipe para longe.

-Amor - ela repetiu e apesar da sua calma e eu conseguia sentir a força no seu tom. - Vamos sair daqui?

Eu respirei fundo desistindo de qualquer confusão que fosse possível. A voz dela me chamou para a razão e eu percebi que não havia sequer uma boa razão para que eu me enfiasse em uma briga com um menino que eu nem sabia quem era. Samantha tomou minha mão e o pequeno mar de pessoas se abriu para que a gente saísse da quadra.

Nós ouvimos os murmúrios, alguns mais claros que os outros, mas todos evidentemente sobre nós. Se eu gritando aquilo para toda a escola não era suficiente, talvez Samantha me chamando de amor fosse.

-Tá melhor? Menos louca? - Ela perguntou quando nos sentamos do outro lado da propriedade. Eu assenti sem dizer nada, como se ela fosse uma mãe me colocando de castigo. - Você é impossível, Heloísa.

-Do jeito que você fala parece que eu fiz algo horrível e olha que eu nem matei ele.

-Eu ter certeza que você seria capaz já te coloca na categoria “impossível”. - Ela disse me fazendo rir.

-Como você consegue lidar com as coisas assim? Tão na paz?

Ela deu de ombros sorrindo. Provavelmente ninguém nunca havia lhe perguntado isso, mas era verdade. Ela não era a pessoa mais santa do mundo e talvez a maior parte dos problemas em que ela se envolvia eram arquitetados por ela mesma, mas mesmo nas situações mais estranhas e inconvenientes, ela simplesmente sorria e arrumava um jeito de arrumar a confusão antes que ela sequer começasse. Ela sempre escolhia que fosse assim.

-Eu não gosto de ver as pessoas brigando.

-Você definitivamente escolheu a pessoa errada. - Eu disse aos risos.

-Ah, mas eu não te escolhi, Lica. - Ela retrucou rindo.

-Você não sonharia com alguém tão perfeito, certo?

-Vamos dizer que sim. - Ela disse revirando os olhos com uma risada enquanto se aproximava de mim. Eu abracei a sua cintura e a dispar do suor em nós duas, nós colamos nossos corpos para um beijo. Provavelmente aquilo encerrava todas as discussões ao redor sobre nós duas. Pensar nisso me fez eu me lembrar que estávamos no colégio e a ela também. - A gente não pode se beijar aqui.

-Não. - Eu disse dando um passo pra trás com um sorriso.

-Heloísa Gutierrez, seu pai quer falar com você.

Eu me virei, encontrando uma das secretárias do colégio no corredor atrás de nós. Eu respirei fundo com um sorriso incrédula, se ele já sabia era porque havia um sério espião entre nós na turma.

-E o Conselheiro deseja falar com você, Samantha Lambertini.

-Acho que conseguíssemos a atenção que merecemos como casal do ano. - Samantha disse ao passar por mim com um sorriso afetado.

Eu não queria colocar a Samantha em problemas, mas não sabia como aquilo teria a ver comigo. Meu pai com certeza faria questão de chamar nós duas e colocar os olhos de desprezo na nora dele para me deixar pior ainda.

 

Eu fazia visitas frequentes a sala do meu pai. Não saía de nenhuma delas do mesmo jeito que entrava, a não ser que eu tivesse entrado com muita raiva e nomes ruins prestes a sair da minha boca. Mas não era esse o caso dessa vez, eu não estava em posição de guerra. Eu nem sequer sabia o que iríamos discutir daquela vez.

Meu pai havia me deixado em paz durante todas as férias depois do fiasco no seu jantar de bebê ou o que quer aquilo fosse. Eu estava disposta a vender minha alma para que ele continuasse assim.

-Pai. - Eu disse passando pela porta.

-Entre, filha. Sente-se.

Eu me mexi em câmera lenta em direção a cadeira em frente a sua mesa. Aquele tom de voz calmo era incomum, assim como o fato de que ele não colou um olhar furioso contra o meu desde que passou pela porta. Eu instantaneamente soube que ele não sabia sobre o beijo ou qualquer coisa do tipo. Ele não sabia de nada.

-É um recado rápido. Fiquei esperando o horário da sua aula de educação física porque não queria atrapalhar as outras aulas. - Eu vi a oportunidade de problematizar e gritar que Educação Física era importante, mas deixei passar com um sorriso no rosto. Eu estava adorando a paz de saber que eu e Samantha não seríamos a pausa daquela conversa. - Você, eu e a Malu vamos para a casa da sua vó, nesse final de semana.

-Isso é uma sentença afirmativa. - Eu disse lentamente. - E não uma pergunta, certo? - Ele assentiu e eu apenas dei de ombros. Eu não iria discutir com ele naquele momento, não sobre aquilo. Eu adorava a minha vó e acima de tudo, ela odiava a Malu. - Você sabe que a vovó…

-Eu sei que a sua vó não gosta da minha companheira. Mas ela sempre gostou da ideia de ter netos, ela ama você e ama a Clara também. Ela vai gostar da notícia…

-Mas não da Malu. - Eu repeti tentando conter um sorriso.

-Lica…

-Relaxa. - Eu disse me levantando. - Eu não tenho problema nenhum com isso. É por isso que eu estou indo, inclusive.

Ele ficou em silêncio balançando a cabeça e por um segundo eu jurei conseguir ver um sorriso no seu rosto.

-Lica - ele me chamou novamente a altura da porta. - Não se esquece que as inscrições vão abrir, que tudo esteja pronto.

Eu apenas assenti antes de sair da sala. Era aquela a cereja do bolo, não era? Ele não estava se referindo ao ENEM diretamente, mas também era uma pressão relacionada ao meu futuro. A escola de artes de cidade abriria em breve e eu precisava montar meu portfólio, ele não sabia no que aquilo havia resultado da última vez, então, para ele era muito legal a ideia de tentar novamente e somente isso. Mas eu nem queria pensar sobre aquilo no momento, nem minha mãe tocava naquele assunto comigo e se ele soubesse que era muito mais fácil sentir raiva dele do que da minha mãe, ele também não faria. Mas ele não sabia.

Ele não sabia de nada que havia acontecido e ele não sabia de nada que estava acontecendo como de costume.


 

Eu passei a tarde no galpão trabalhando em algumas coisas. Era um descarrego da conversa com meu pai, um descarrego da situação que havia acontecido na escola e também uma preparação para a conversa com a minha mãe.

Os Lagostins ensaiaram quase que a tarde toda e eu tive uma visão privilegiada. Quando eles acabaram, Samantha ainda ficou por lá e conversou com Guto e depois com Gabriel por algum tempo. Eu estava de longe e não podia ter certeza, mas senti que havia algo errado com ela e aquilo atrapalhou um pouco a minha concentração, então, eu resolvi ir falar com ela.

Tirei meu avental extremamente sujo e fui buscar uns sucos na lanchonete para nós duas. Estava fazendo um calor imenso e por mais legal que o galpão fosse, ele não era o lugar mais fresco do mundo, nem de longe.

-Oi, bebê.

-Oi, bebê. - Ela disse com um sorriso.

Realmente tinha algo errado.

Tinha algo escrito naquele sorriso e era quase um pedido de socorro. Era a Samantha, você precisa se esforçar muito para enxergar a tristeza se ela tiver alguma dentro dela, ela simplesmente parecia feliz e animada o tempo todo e realmente muito calma. Mas eu sabia quando tinha algo errado ainda assim e fazia o meu melhor para contornar essas situações.

-Oi, Lica. - Gabriel disse terminando de fechar uma das capas da bateria. Eu assenti em resposta. - Bom, a gente conversa depois, Sam? Muito obrigado pela ajuda.

-Sempre que precisar. - Ela disse com uma piscadela e um sorriso. - Eu te ligo depois.

-Okay. Tchau, casal.

Ele saiu daquela área do galpão e eu e Samantha nos entreolhamos, revirando os olhos logo em seguida. Ambas simplesmente odiávamos quando as pessoas paravam de tratar pessoas em um relacionamento como um indivíduo e começavam a chamá-las de casal a todo momento em que estivessem juntas. Essa sincronia de pensamentos nos rendeu um momento de risada.

-Eu trouxe suco pra você. Vi você aí a tarde toda e achei que fosse gostar. - Eu disse lhe entregando o copo.

-O melhor da casa. - Ela disse tomando um gole. - Me mal acostumando mais uma vez. Ela se sentou no sofá e eu me sentei na mesa que ficava entre o mesmo e outras duas poltronas acabadas, ficando de frente pra ela. - Muito obrigado.

-De nada.

-Então quer dizer que você andou me assistindo a tarde toda?

-Sim. - Eu admiti tomando um gole do meu suco. - Sempre gostei muito de ver você tocando baixo. Não posso negar que Os Lagostins tem uma composição muito bonita. - Eu disse dando de ombros.

-Espero que você esteja focada em apenas uma parte dessa composição. - Ela brincou empurrando minhas pernas com seu pé levemente.

-É, estou. Felizmente sim. E pela primeira vez não é platônico!

-Toda vez que você cita essa história de você ter tido um crush em mim e não me contado, eu fico revoltada. - Ela diz rindo e eu apenas dou de ombros. - Mas você já pode dizer que cumpriu uma meta de vida, você foi notada pelo crush e inclusive namora com ele.

-Realmente. Eu fico muito feliz. Um brinde á isso. - Eu disse erguendo meu copo e ela tocou o seu com um sorriso. - Mas e você? - Eu tomei coragem para perguntar. - Por que você não está feliz?

O sorriso dela sumiu enquanto ela encarava o copo em suas mãos. Aquela era uma das piores imagens que eu poderia ter, me doía enormemente ver ela triste. Doía quando era por uma dor física como ontem, mas agora que era visivelmente algo que havia acontecido nas últimas horas, eu sabia menos ainda o que fazer e isso era bem pior.

-Foi a conversa com o Bóris?

-Não, não. - Ela disse balançando a cabeça. - E eu não conversei com o Bóris. Foi com o outro conselheiro, meu pai não gosta do Bóris. E foi ele quem pediu para que conversassem comigo?

-Faculdade? - Eu perguntei já imaginando todo o circo.

-Uhum. - Ela disse tomando um gole de suco e forçando um sorriso. - O conselheiro foi bem sútil, mas tava lá, sabe? Eu odeio o peso que estão colocando nessa parte da minha vida, principalmente porque eu sei que não tem 100% de chance de eu conseguir. E o pior de tudo é que ele agiu como o meu pai. E até compreensível…

-Eu discordo plenamente, mesmo não tendo total certeza do que você está falando. - Eu disse deixando meu copo de lado e me sentando ao seu lado no sofá. - Seu pai foi extremamente idiota com você, Sam…

-Mas eu não sou uma Ellen, né Lica. - Ela disse me encarando e eu jurei pode ver seus olhos marejados. Eu me recusaria a deixar Samantha chorar por aquilo, odiava aquela história toda tanto quanto ela. - Eu não sou um gênio, eu não sou maravilhosa em matemática nem física, nem qualquer coisa…

-Samantha, por favor, né?

-Eu tô falando sério, Lica. - Ela disse se afastando de mim. - Eu consegui chegar até o terceiro ano e isso já deve ser fascinante. Eu não estou dizendo que eu sou burra eu só tô dizendo que eu não posso ser o gênio que eu não fui esse tempo todos nos próximos seis meses. Porque eu não vou…

Tinha urgência na voz dela, pânico. Eu sabia exatamente qual era a sensação e eu sabia perfeitamente onde aquela situação poderia colocá-la e eu não queria que nenhum mal acontecesse para ela. Eu queria fazer ela parar de pensar naquelas coisas, queria garantir que quando ela pensasse sobre aquilo de novo ela sentisse algo bom e se acalmasse mais rápido. Eu queria que ela não sonhasse em fazer o que eu fiz.

-Pior do que dizer que você é burra é dizer que você não vai conseguir. E é isso que você está fazendo. - Eu disse colocando a mão sobre o seu rosto. - E ninguém tem certeza de nada, só que seu pai e aparentemente o conselheiro da escola (que deve ter sido contratado pela Malu) que você não tem capacidade ou vontade e é aí que eles se enganam. E é por isso que vai ser muito mais legal quando você passar. - Eu disse com um sorriso. - Você não é a Ellen mesmo, cada um é cada um, mas eu posso te garantir que a Ellen também está pirando completamente para o ENEM.

-Sério? Por que o ENEM devia ter medo da Ellen…

-Exato. - Eu disse com um sorriso a fazendo rir. - Tá todo mundo pirando e não tem nada de errado nisso. Só não desiste porque você tá com medo ou porque um homem disse que você não vai conseguir… Afinal, essa é a história de todos os ícones femininos que a gente tem até hoje.

Ela soltou uma risada forte e assentiu. Eu senti o conforto por ouvir uma risada sua. Senti meu corpo sendo abraçado pelo sucesso de fazer ela se sentir melhor mesmo que por um segundo.

Ela respirou fundo, beijando a palma da minha mão e abraçou o meu corpo. Eu abracei ela de volta, mas saber que ela estava sorrindo não era suficiente. Eu queria saber que ela estava bem. Eu queria sentir o sucesso fixo sem a dúvida quando eu me deitasse essa noite.

-Eu sinto que tem mais alguma coisa errada. - Eu disse. - Que foi? Me conta, vai. Eu fiz alguma coisa…?

Ela se afastou de mim, se sentando e segurando seu copo com as duas mãos.

    -Não, não. - Ela balançou o copo mais algumas vezes e deu uma respirada funda me encarando. Eu sabia o que ela iria dizer em seguida, era uma comunicação simples e eu aparentemente perdia muitas coisas implícitas mas aquela não era uma delas. - Mas não foi nada de errado…

    -Foi sim. Você tá se sentindo mal, então, foi. E eu não tô nem sentindo nada. O que é muito pior.

    -Okay. - Ela colocou o copo em cima da mesa na nossa frente e se afastou de mim se sentando de frente pra mim no sofá. - Não tem como eu explicar isso de uma maneira que não seja confusa, mas… Paciência. - Ela disse erguendo os ombros com um sorriso confuso. - Vamos lá. Sabe a conversa que a gente teve ontem? O que a gente conversou?

    -Que você se sentia confusa porque eu fazia coisas e dizia coisas meio incoerentes, eu sou bipolar…

    -Exato. Eu não quero voltar ao resto da conversa, não vou te obrigar a falar nada que você não queira. Nunca. E aí a gente dormiu juntas, e apesar do sentimento que eu tinha quando a gente dormiu, eu acordei tão bem. Em todos os sentidos de estar bem. - Ela disse com um sorriso largo. Eu não estava conseguindo sorrir por fora porque estava perdida em Samantha, como sempre tentando descobrir o que ela faria antes que ela mesma fizesse. Eu queria sentir que eu não estava atrás do que estava acontecendo entre a gente. - Quando a gente desceu pra tomar café, eu não queria deixar você se sentar a mesa porque você não precisava escutar ou passar pelo que eu passei naquela mesa no outro dia. Eu tava tentando te proteger. Você tem sua família e seus problemas, não precisa carregar os meus.

    “Aí a gente andou de ônibus. Eu fui pra escola de ônibus contigo. Não foi a melhor decisão da minha vida, eu admito e eu agradeço por não ter que fazer isso todo dia. Mas eu agradeço também porque eu tive que fazer isso com você. E aí quando a gente desceu do ônibus eu percebi que eu precisava parar de ser sua namorada. Que do portão do Grupo pra frente, eu precisava parar de segurar sua mão e cantar contigo. E eu não tinha tanto problema com isso porque era um acordo entre nós.

    “Você desviou da oportunidade de falar qualquer coisa durante a zuera na sala, deu corda pra uera no intervalo e de repente aquilo na educação física aconteceu. Você não viu a minha cara porque você estava com os olhos - e por pouco as mãos - na cara daquele ser humano, mas eu estava assustada. Porque mais uma vez você tomou uma decisão do nada e eu só tava lá, Lica…

    -Eu sei que pela lógica - Ela continuou desviando o olhar. - isso muda tudo. Você me assumir na escola é a certeza de que você quer ficar comigo, certo? Mas eu nem se eu senti isso, eu só senti que você estava com muita raiva e soltou aquilo por ciúme. Só por ciúme… - Ela havia terminado de falar e eu havia entendido e escutado. Não havia ido mais longe que ela ou chegado em conclusão nenhuma antes de ela terminar de falar. Não conseguia chegar em conclusão nenhuma agora que ela estava calada também. - Olha, desculpa… Isso não faz sentido algum…

    -É claro que faz, Samantha. Se você tá se sentindo assim é porque faz. - Eu disse rapidamente, voltando ao meu silêncio.

    A verdade é que aquela era a melhor análise do que aconteceu. E eu sabia completamente disso. Não é que eu não gostasse da ideia de assumir meu namoro com a Samantha, eu queria gritar aquilo aos sete ventos, mas não era o tempo todo que eu tinha coragem pra fazer isso. Como sempre, minha coragem foi feita por estar com raiva e com ciúme. Não era só ciúme e eu queria que ela tivesse certeza disso. A raiva que eu senti naquele momento não foi o causador de tudo, só foi o catalisador da minha coragem.

    Eu sou uma pessoa movida por coisas ruins aparentemente.

    -Lica, por favor, fala alguma coisa.

    -Eu não sei o que dizer, Sam…

    -Então, para de pensar. - Ela respirou fundo segurando a minha mão. - Todo mundo acha que porque você é explosiva e direta, você não pensa demais, mas é exatamente ao contrário. Para de pensar, falar o que vier na sua cabeça. Se não forem sentenças terminadas em um ponto de interrogação, elas tendem a ser a verdade. E é só isso que eu quero.

Eu queria matar a Samantha naquele momento. Queria matá-la por ser uma pessoa tão maravilhosa e paciente. Em nenhum dos momentos que ela havia passado hoje, ela sequer se exaltou. Para pedir para o indigente se afastar, ela teve calma, para me tirar da briga, ela teve calma. E naquele momento mesmo com um milhão de coisas rondando a sua cabeça e motivos para simplesmente se entristecer mais comigo, ela estava ali: plena.

-Desculpa, Sam. Nunca foi minha intenção fazer você se sentir insegura muito menos confusa… Toda vez que você diz essas coisas ou qualquer coisa pra mim eu me senti segura e abraçada e corajosa. Eu queria que você se sentisse assim também…

-Essa é sua oportunidade. Só para de pedir desculpas, por favor. - Ela disse com um sorriso.

-Okay. Boa dica. - Eu disse rindo fracamente enquanto brincava com seus dedos entrelaçados aos meus. - Talvez não faça sentido nada do que eu vá dizer, mas… Paciência. - Ela sorriu. - Eu também acordar com você, Samantha. Eu durmo bem quando eu tô contigo e você não mede o quanto isso é importante pra mim. E eu quero sentar na mesa com a sua família também… Eu tenho minhas tretas, minhas tretas até estão procriando e você tem as suas e eu quero lutar as duas.

“Eu quero que a minha família problemática e a sua virem uma só e que a gente em em guerra com elas e com todo mundo pra ficar juntas. Até mesmo com os meus infames extintos de fazer merda… Eu não assumi que a gente tá namorando só porque eu estava com raiva, mas eu admito que eu fui encorajada por isso. Foi uma das piores ocasiões pra fazer isso, não era essa a mensagem que eu queria pra quando isso acontecesse. Isso tudo faz parecer que eu estava marcando território e não é isso. Eu estava incomodada com o jeito que ele te tratou e nem de longe preocupada com o jeito que você responderia a investida dele…

-Você não é minha propriedade e sim minha namorada e nada me deixa mais que dizer isso no momento. Bem alto, inclusive e em todos os ambientes que eu passo o meu dia.

Ela tinha razão como sempre. Era só falar. Era só deixar sair. Deixar ser livre como o nosso sentimento era. Se eu dissesse algo errado, ela iria me perguntar, ela iria me ajudar e não me atacar. Era o meu modo de defesa que me impedia de falar porque as pessoas geralmente discordavam com tudo que eu dizia.

-Eu não consigo me expressar direito com palavras. Acho que é porque as pessoas não me entendem. - Eu disse.

-Mas eu sim. - Ela disse com um sorriso enorme. Ela me encarava com um olhar caloroso e um sorriso sensacional. E eu senti aquele misto de coragem e segurança e paz. A santa paz que Samantha me trazia. - E quando eu não te entender, eu vou me esforçar até que isso aconteça. É só falar okay? É só demonstrar. Só me deixar saber, entende?

-Okay. Eu vou fazer o meu melhor para estarmos na mesma página, plenas e seguras.

Ela sorriu colocando o meu rosto entre as suas mãos e me dando um beijo casto.

-E dormindo juntas. - Ela disse me fazendo rir.

-Toute la nuit.

-O que isso quer dizer? - Ela perguntou se afastando bruscamente. - Você tá me xingando em francês, é?

Eu ri a puxando de volta pelos braços, nos deixando próximas o suficiente para eu lhe beijar novamente.

-Significa “A noite toda”. - Eu esclareci ganhando um beijo de aprovação. -Toute la nuit?

-Toute la nuit.

 

Last call's around the corner

Feeling kinda tempted

And I'm pouring out the truth

Just fading out this talk is 'cause now all I want is you, I'm saying

 


Notas Finais


Pode pedir aula de francês nos coments, pode xingar, pode elogiar, eu só não quero comentários sobre a novela nos comentários hoje porque eu juro que eu vou chorar de raiva.

Queria fazer um negócio aqui, que fizeram comigo e eu pirei:
Eu gostaria de mandar um oizinho pra autora de Wonderwall e falar que a sua fic é muito maravilhosa e eu admito pra caramba ela. ACHO QUE TODO MUNDO LÊ WONDERWALL, MAS SE VOCÊ NÃO O FAZ, FAÇA-ME O FAVOR. Obrigada ^^


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