1. Spirit Fanfics >
  2. Nosso Amor >
  3. Memórias

História Nosso Amor - Memórias


Escrita por: ElizabethEliane

Notas do Autor


Bom dia leitores, me desculpem pela demora mais uma vez.
Agradeço pelo imenso carinho de vocês e todas as mensagens queridas.
Me perdoem por qualquer erro de portugues ou concordância, vou revisar com mais calma mais tarde.
Espero que gostem e continuem acompanhando! Sem vocês eu não teria chegado tão longe!

AVISO: CONTEÚDO SENSÍVEL A ENJOO

Capítulo 48 - Memórias


Fanfic / Fanfiction Nosso Amor - Memórias

Ao ouvir um alto barulho vindo do andar de baixo, Jurema se apressou e desceu os degraus em busca do que havia acontecido. Quando finalmente passou pelo portal que levava a cozinha, se assustou com a tragedia que via diante de si.

O frango que Dona Anastácia disse que prepararia para o jantar estava no chão, lotado de vidro em todos os lados, para piorar a patroa parecia estar em outro mundo; encontrou-a debruçada sobre a mesa, uma das mãos estava na barriga e a outra estava com o punho fechado sobre o móvel.

- Dona Anastácia o que houve? – pergunta preocupada ao ver a patroa parada por uma eternidade no meio daquela bagunça.

- Jurema!? – perguntou sem entender ao sentir a dor diminuir um pouco. Ao notar seu olhar assustado, olhou para os lados e viu o frango no chão e o vidro quebrado brilhar no peito do pé.

- A senhora está bem? – perguntou preocupada enquanto se aproximava com cuidado e viu os cacos nos pés da senhora.

- Estou, eu apenas me descuidei... – disse olhando para baixo ao sentir os olhos encherem de lagrimas, estava envergonhada pela bagunça que causou. – Eu limpo isto, você já pode...

Mas antes que pudesse terminar a frase e dispensar a garota, sentiu o corpo se contorcer mais uma vez, e sem perceber um gemido de dor escapou de seus lábios.

Jurema olhou aflita para senhora e lembrou-se das instruções precisas que recebeu do patrão.

“Ahhh, antes que eu me esqueça, Anastácia não gosta de incomodar. Sei que não faz parte de seu serviço, você não está sendo paga para ser enfermeira..., mas se qualquer coisa acontecer, você pode telefonar para mim na escola. Por esses dias ficarei mais lá do que cá, precisamos averiguar tudo antes do ano letivo começar.

- Sim senhor. Avisarei imediatamente.”

- A senhora não está nada bem. – disse ao chegar na patroa. – Eu vou ligar para o Sr. Pancrácio.

Anastácia ouviu em pânico as palavras da jovem, tudo que ela menos queria era parecer uma tola aos olhos do marido... uma mulher que não sabia nem cozinhar um frango e além do mais, estava gerando gastos desnecessários, quebrando os objetos da casa.

- NÃO! – disse um pouco alto e vendo a moça se virar imediatamente. – Não há necessidade querida, é apenas um mal estar, apenas isso. – terminou calmamente tentando endireitar o corpo e ficar ao menos digna para uma conversa decente.

- Mas senhora!? Não consegue ficar em pé, esta curvada de dor... – tentou persuadir a jovem ao ficar preocupada com a mulher na sua frente.

- Eu lhe peço... por favor. – suplicou olhando profundamente em seus olhos. – É apenas um mal estar, logo estarei bem. Tenho certeza!

Jurema a observa com cuidado, e sente que não será a capaz de lhe dizer não, mesmo estando preocupada com a mulher mais velha.

- Apenas com uma condição... – disse firmemente.

- Prossiga.

- A senhora irá se deitar imediatamente!

- Só por um momento... ainda tenho que preparar o jantar e...

- Não senhora! – falou vendo o olhar surpreso da patroa. – A madame irá se deitar e eu avisarei quando estiver tudo pronto.

- Você não é paga para isso Jurema. – falou o obvio.

- Não me custa nada ajudar. – respondeu com um sorriso.

Anastácia olhou para jovem e arqueou as sobrancelhas antes de responder.

- Já que você insiste... – revirou os olhos. – Há... antes que eu me esqueça, me perdoe pela bagunça.

- Não se preocupe com isso. Precisa de ajuda para subir. – perguntou ao dar a mão para patroa e tirá-la do meio dos cacos.

- Não, muito obrigada.

- Fique aqui só um segundo, vou buscar um pano e outro par de sapatos para senhora. – terminou a deixando sozinha na cozinha.

Anastácia estava tão atordoada que havia se esquecido completamente dos vidros sobre seu pé.

“Ao menos não está sangrando” – pensou aliviada enquanto se sentava na cadeira próxima a mesa.

- Vamos lá! – falou Jurema aparecendo com dois panos na porta e um sapato de salto baixo.

Com Anastácia sentada, a jovem a ajudou a tirar qualquer vestígio de vidro com cuidado: colocou um dos tecidos no chão para que ela pudesse tirar o calçado e apoiar os pés em um lugar confortável. Depois com o outro tecido, bateu delicadamente em cima, tirando o vidro e o fazendo cair no tecido no chão. Quando viu que não restava mais nada, tirou o tecido de baixo de seus pés e aproximou os sapatos novos para que calçasse.

- Muito obrigada querida. – falou Anastácia tocada por seu gesto.

- Não há de que! – respondeu e deu a mão para mulher se levantar.

Anastácia obedeceu como foi lhe pedido e subiu os degraus com certa dificuldade até alcançar o quarto. A dor não havia parado ainda, mas ela não deixaria a jovem saber de jeito algum.

Sentido as mãos suarem frio, tirou o vestido do corpo e deitou-se apenas de combinação. Um frio enorme percorreu-lhe a espinha e foi logo para baixo das cobertas.

“Oh céus... o que será que está acontecendo comigo?” – pensou preocupada e enviou uma oração aos céus antes de finalmente adormecer.

 

///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

 

Jurema subiu os degraus da casa exausta, não estava mais de uniforme, mas achou melhor verificar a senhora antes de partir.

- Dona Anastácia. – bateu na porta.

Como não obteve resposta, abriu a com cuidado e espiou o que estava acontecendo.

A patroa dormia calmamente com o cobertor até o topo no pescoço. Aproximou-se com cuidado e notou uma gota de suor escore-lhe pelo rosto.

“Ao menos não está com febre.” – concluiu ao colocar as costas da mão sobre sua testa.

Agindo institivamente, não percebeu que um gesto tão gentil assim poderia ser capaz de incomodar a mulher, ao menos um pouco. Ao ver os olhos da patroa se abrirem, ficou completamente envergonhada por estar tão perto, praticamente invadindo seu espaço pessoal.

- Senhora... eu... – falou se afastando e pulando quase que instantaneamente para longe dela.

Anastácia sorriu com o estado da moça, mas não prolongaria seu sofrimento por muito tempo.

- Fique calma Jurema... está tudo bem! – disse lhe dando um sorriso afirmativo.

- Eu apenas vim...

- Eu sei o que você veio fazer, e fico muitíssimo grata pelos seus cuidados. Mais uma vez peço desculpas pelo transtorno que lhe causei hoje à tarde.

- Sem mais desculpas senhora, por favor. – disse erguendo a mão para pará-la.

- Pois bem... quanto lhe devo por tudo? – perguntou se levantando um pouco da cama com dificuldade.

- Apenas o que combinamos madame! Não a ajudei visando um lucro futuro, e sim porque era o certo.

- Meu Deus... você parece um certo filosofo que conheço falando assim. – falou Anastácia sorrindo se lembrando com alegria do marido.

Jurema lhe retribuiu o sorriso e ficou feliz por ter ouvido isso, embora trabalhasse a pouco tempo com a família, nos raros momentos que via o casal junto, já que Pan-Pan-Pancrácio estava ocupado com a escola, ela podia ver com clareza que os dois se amavam. O que mais a fascinava era como poderiam dizer tantas coisas apenas com o olhar, parecia que uma áurea magica entrelaçava os dois, os tornando um só.

- Bom, já deixei tudo pronto! Deixei um novo frango no forno, a senhora pode tirá-lo em trinta minutos, está apenas acabando de dourar. Ah... e antes que eu me esqueça, preparei uma sopa para senhora.

Ao ouvir falar da sopa, o estômago de Anastácia fez um barulho enorme a deixando completamente envergonhada.

- Vou lhe buscar um prato e já volto. – falou sorrindo e saiu para tentar diminuir o constrangimento entre as duas.

Em poucos minutos Jurema subiu com a sopa quentinha em uma bandeja de prata. Anastácia sentiu o cheiro gostoso antes mesmo de vê-la.

Jurema observou a senhora sentar-se na cama com certa dificuldade, mas ao menos parecia menos pálida do que antes.

- Aqui esta madame. – disse ao colocar a bandeja no colo da patroa.

Ela não era muito de cozinhar para família, como Anastácia disse, era paga para apenas limpar a casa; mas ficou feliz ao ver que a senhora gostou da comida.

Anastácia não sabia o quanto estava faminta até começar a comer. Realmente, eles haviam escolhido a moça certa para sua casa.

- Você não vai embora querida? – falou enquanto comia. – Errrrr.... me desculpe, eu não quis soar rude foi... – gaguejou Anastácia ao pensar nas próprias palavras.

- Vou sim madame. – falou sorrindo. – A senhora precisa de algo mais?

- Não muito obrigada querida, você já fez o bastante. – respondeu Anastácia extremamente agradecida.

- Então, desejo-lhe melhoras senhora. – falou a jovem e deixou a porta do quarto aberta para que a patroa se lembrasse do frango.

 

Anastácia terminou de comer toda sopa e sentiu-se até um pouco mais forte depois de alimentar-se bem. As dores pareciam que haviam cessado, como ela disse, era apenas um mal estar.

Colocou o vestido novamente e arrumou os fios que saíram do coque quando estava dormindo. Logo Pancrácio e Pirulito estariam em casa e ela queria estar perfeitamente apresentável para eles.

Conforme descia as escadas, podia sentir o delicioso cheiro do frango assando. Não sabia que temperos Jurema havia usado, mas o cheiro estava divino.

Quando chegou na cozinha, a encontrou em perfeita ordem; nem parecia que ela havia feito uma bagunça logo cedo. Espiou o frango pelo vidro do forno e lhe parecia muito apetitoso, mas em questão de segundos, essa cremosidade transformou-se em repulsa, e ela sentiu o estômago revirar novamente.

Endireitou-se correndo e foi em direção ao único banheiro que havia no andar de baixo. Não tendo tempo para mais nada, sentiu a repulsa crescer e fechou forte os lábios antes de despejar tudo na pia.

Podia sentir o gosto amargo e azedo escorrer pelos lábios, o estômago estava se contorcendo novamente e sentia-o apertar cada vez que jogava mais alimento para fora. Após vomitar no mínimo três vezes, não sabia o que seu estômago tentava expulsar de si com apenas uma refeição, sentia-se fraca e desconsolada. Olhou para a pia de cerâmica e ficou completamente desgostosa com a bagunça que fizera. No desespero em alcançar a pia, seu corpo havia jorrado tão forte que um pouco de seu alimento caiu para fora, fazendo uma bagunça desagradável no banheiro. Sentiu o braço tremer de nervoso e os olhos apertarem querendo chorar.

Abriu a torneira e observou a água levar toda essa bagunça embora consigo, após a pia parecer limpa, pegou um pouco de água com as mãos e levou aos lábios, torcendo tirar esse gosto horrível da boca.

Aproveitou e passou uma água pelo rosto e nuca, sentia o corpo suar frio por algum motivo, talvez o nervoso de ter vomitado depois de tantos anos.

Jogou a água que estava na boca fora e ainda foi capaz de sentir o amargor do estômago nos lábios. Olhou atentamente para o espelho a sua frente e pela primeira vez em anos parou para reparar em como as rugas em volta dos olhos haviam aumentado significativamente com o tempo, sempre se se sentiu tão jovem e cheia de vida, mas a idade há havia alcançado.

Olhando o cabelo bagunçado na frente do rosto, devido a água que havia jogado, lembrou-se de sua mãe, sua pobre mãe.

Ao lembrar-se de como mamãe estava tão fraca e pálida antes de morrer, não aguentou e pôs-se a chorar sentada no vaso.

 

“– Mamãe, mamãe... olhe o que eu achei! – chamou a jovem Anastácia ao entrar com as mãos fechadas bem firme sobre o corpo.

- O que será que minha filha travessa trouxe para casa dessa vez? – falou animada brincando com a menina.

Anastácia parou em frente a mãe que bordava no sofá de casa e abriu as mãozinhas com cuidado.

A Baronesa colocou o bastidor e a agulha ao lado, e surpreendeu-se com o que viu. Entre as pequenas mãos da filha, havia um pequeno filhote de passarinhos, parecia ter apenas dias de vida, e estava bastante assustado.

- Onde você encontrou este pobre coitado Anastácia? – perguntou a senhora aproximando-se do bichinho para vê-lo com mais atenção.

- Achei caído na arvore, perto da cerca dos bois.

- Você sabe que a mamãe passarinho esta preocupada com o bichano, certo? – perguntou atentamente a filha.

- Ele não tem mamãe.... fiquei o dia todo no mesmo lugar, e quando vi que ninguém vinha busca-lo, trouxe para casa.

- E você pretende ficar com ele aqui dentro? – perguntou surpresa.

- Ahhh, deixa! Por favor! – suplicou com um sorriso enquanto acariciava o bichinho. – Veja, ele parece tão sozinho, se ficar lá fora vai morrer de fome.

- Pois bem Anastácia, eu concordo com isso. Mas me prometa que ele irá para fora assim que se recuperar. Sabe que seu pai não gosta de animais em casa.

- Eu sei mamãe...muito obrigada. – agradeceu antes de virar e ir em direção a porta.

- Onde pensa que vai mocinha? – perguntou se levantando atras da filha.

- Eu vou cuidar dele mamãe! Ele será meu filhinho. – falou feliz.

- E você sabe como cuidar de um filhinho?

- Bem é só....... – gesticulou tentando lembrar-se de algo.

- Como eu suspeite. Venha comigo querida.

Anastácia se apressa e acompanha a mãe até a cozinha. Observa com atenção a linda mulher de cabelos negros procurar algo na geladeira.

- Quase pronto Anastácia... – diz após soltar algumas uvas do pequeno cacho. – Só mais uma coisa... sente aqui por favor.

Anastácia obedece a mãe e se senta na cadeira confortavelmente. A mãe volta no minuto seguinte com uma caixa de sapatos na mão; abre uma gaveta da lavanderia e forra a caixa com tecidos para a filha.

- Pois bem, coloque o passarinho aqui. – ordena após depositar a caixa na mesa.

- Mas ele irá fugir mamãe!

- Não irá querida. Olhe só para o pobre coitado, está sozinho, assustado e faminto... Coloque-o na caixa. Confie em mim. – diz amorosamente.

Anastácia obedece e logo que solta o pequenino, ele vai para o canto ficar todo encolhido.

- Awnn ele está com medo. – falou a pequena Anastácia com os lábios trêmulos querendo chorar.

- Que isso pequena, sem choro ouviu mocinha. Você é uma Goytacazes ou se esqueceu. – falou seriamente. – Agora onde está meu sorriso?

Anastácia forçou os lábios apenas para agradar a mãe e segurar as lágrimas.

- Agora preste bem atenção. O passarinho não irá comer agora, mesmo com fome, está muito assustado para se movimentar. Mas creio logo, logo irá comer.

- EU QUERO VER! – gritou sem perceber. – Opa! Eu quero ver mamãe, por favor! – implorou segurando a mão da mulher.

- Então fique quietinha esperando-o se acostumar com você. Assim que pegar confiança, tenho certeza que sairá de lá.

- Está certo, ficarei bem quietinha! – disse animada.

- Muito bem querida... vou terminar de bordar aquela toalha antes de jantarmos. – disse dando um beijo nos cabelos da filha.

Anastácia sentiu o toque da mãe, mas estava encantada demais com o animal para se quer mexer-se. Debruçou-se sobre a mesa e olhou atentamente a ave, esperando que não demorasse muito para confiar nela.

 

Após um bom tempo esperando, com os olhos quase fechando de sono, ouviu um pequeno “Piu-piu” nos ouvidos.

Abriu os olhos com sono e olhou o pequeno pássaro puxar a casquinha da uva com o bico.

Estava maravilhada com a cena diante de si, nunca tinha feito isso e muito menos se imaginou cuidando de um animalzinho.

- Preciso contar imediatamente a mamãe que o passarinho está comendo. – falou a si mesma.

Com um salto, correu até a sala de visitas e não encontrou a mãe bordando.

“Acho que mamãe foi descansar” – pensou subindo as escadas até o quarto dos pais.

Abriu a porta e nada de encontrar a mãe lá dentro. Fechou a porta em silêncio e estava prestes a descer as escadas quando ouviu um barulho ao longe. Vinha da porta no fundo do corredor, um banheiro para os hospedes que dormissem com eles.

Conforme chegava mais perto, o barulho aumentava ainda mais, como se algum líquido estivesse sendo jogado para fora. Parou ao lado da porta e ouviu alguém respirar pesadamente, como se precisasse de ajuda.

Espiou pela porta entreaberta e viu a mãe se olhar no espelho com o rosto suado. Seu semblante que sempre era tão feliz e amável, parecia cansado e assustado.

Antes de pensar o suficiente e resolver deixar a mãe em paz, descobriu de onde vinha o som esquisito que escutava.

Sua mãe, a Baronesa de Goytacazes, acabara de vomitar até as tripas na pequena pia de porcelana do banheiro.

A pequena Anastácia olhou assustada a cena diante de si, nunca imaginou ver a mãe tão fraca e vulnerável assim. Quando estava prestes a abrir a porta, ouviu a mãe se engasgar e tossir interminavelmente no lenço que segurava nas mãos.

Depois de alguns segundos desesperadores, Neuza finalmente terminou de tossir. Sentindo o peito arfar de dor, tirou o lenço da boca e se assustou ao ver uma mancha de sangue na delicada seda indiana.

Nem teve tempo de processar o que estava acontecendo, quando sentiu a filha abraçar-lhe fortemente as pernas.

- Mamãe não morra, por favor... por favor mamãe, não morra.... – falava Anastácia desesperada em lágrimas.

Neuza respirou profundamente e após o choque, abraçou a filha o mais forte que pode.

- Que isso meu anjo? Não chore meu amor por favor... – falava a baronesa sentindo as lágrimas lhe arderem nos olhos. – Onde está a menininha forte da mamãe?

Anastácia não era capaz de entender a mãe, olhou de relance algo vermelho em seus lábios e sentiu o coraçãozinho acelerar a abraçando mais forte, enquanto enterrava o rosto em sua saia.

- Está tudo bem meu amor, é apenas um mal-estar. – dizia enquanto abria a torneira e dava fim a cena horrível abaixo de si. Molhou a outra ponta do lenço na água corrente e passou na lateral dos lábios coberta de sangue.

Anastácia olhou para cima e podia jurar que viu a mão da mãe tremer enquanto limpava a boca com o lenço.

Neuza se sentiu sendo observada e olhou para filha com carinho.

- Fique tranquila meu anjo, está tudo bem com sua mãe. – disse lhe dando um sorriso antes de se abaixar e abraçar a pequena. - Você não confia em mim Anastácia?

- Confio mamãe... mas.... – falou com os lábios trêmulos.

- Então me diga, o que estava fazendo aqui em cima? – perguntou novamente em pé.

Anastácia ficou nervosa com a pergunta da mãe, por que será que ela havia realmente subido?

- Bem... é que.... há sim, lembrei! – falou animada. – O passarinho mamãe, o passarinho comeu!

- Que bom meu amor! – respondeu feliz. – Eu não falei para você que ele comeria? – perguntou vendo a filha sorrir.

- Falou sim mamãe. – disse feliz. – Venha ver mamãe! Venha ver! – chamava animada, puxando a mão da senhora.

- Já vou, minha querida. Eu preciso usar a toalete, mas pode descer na minha frente. – disse colocando a filha para fora gentilmente. – A encontro em um segundo.

Anastácia sorriu e desceu as escadas feliz, logo sua mãe estaria com ela”

 

“Aquele dia foi maravilhoso!” – pensou Anastácia enquanto se levantava. “Se eu soubesse na época que mamãe estava passando mal, nunca teria guardado nosso pequeno segredo.” -  Ainda lhe doía pensar que a mãe morrera meses após seu casamento. - “A doença foi silenciosa e matou-a aos poucos.”

 

“É normal a noiva entrar na igreja e só ter olhos para o noivo, o amor de sua vida; isso para noivas apaixonadas.

Para um casamento arranjado, sentia apenas medo do noivo quanto mais se aproximava do altar, e um ódio avassalador ao olhar para o pai.

Chorava de ódio e tristeza ao lembrar-se do filho perdido, não lagrimas de felicidade como todos esperavam de uma jovem prestes a conhecer a vida por completo.

Olhou para a mãe ao lado e podia ver como ela lutava para ficar firme e estável ao lado do Barão. A maquiagem era capaz de esconder a palidez de sua pele, mas as roupas haviam sido apertadas pela terceira vez em apenas um ano.

Como se estivessem conectadas, a mãe olhou nos olhos da filha e deu-lhe um sorriso tranquilizador, dizendo que tudo ficaria bem.”

 

“Talvez se ela tivesse contado a alguém o que vira no banheiro quando criança, sua mãe tivesse sobrevivido para ver o neto perdido.” – pensou sentindo os olhos marejarem novamente, sabia que precisava sair dali, ficar remoendo o passado estava apenas lhe fazendo mal.

Foi até a sala e pegou um biscoito do pote, tentando se acalmar. Tentava se concentrar na textura e no sabor quando finalmente algo lhe ocorreu: E se ela estivesse doente como a mãe tivera?

Já fazia um bom tempo que suas dores estavam aumentando. A dor de cabeça que sentiu após retornar para o Brasil, praticamente a acompanhava todos os dias, era raro quando não precisava tomar um pó ou chá para acalmar-lhe os nervos. Tontura, cansaço, falta de apetite, fatores que observou com clareza na mãe. E agora esses enjoos e vômitos.

Vomito esse que a fez arrepiar ao se lembrar do gosto amargo nos lábios.

“Deve ser tudo ilusão da minha cabeça” – pensou nervosa enquanto caminhava de um lado para o outro na casa. – Mas e se for? – pensou com o coração na mão.

Caminhou até a janela da frente e nem sinal de Pancrácio. Averiguaria por si mesma.

Pegou a agenda que ficava ao lado do telefone e discou o número.

 

Tuuuuu, Tuuuuuu, Tuuuuuuu

- Consultório do Doutor Lauro, Rebeca, boa tarde! – disse a jovem do outro lado do gancho.

- Boa tarde Rebeca, eu gostaria de falar com o Dr. Lauro por favor.

- Sinto muito madame, mas o doutro já encerrou o expediente.

- Tão cedo... – falou Anastácia com a voz tremula. – Eu tinha um assunto realmente sério para tratar com ele... – disse sentindo a força esvair-se pelo corpo.

Rebeca escuta preocupada a voz da senhora. De onde está, pode ver com clareza Lauro guardar o estetoscópio e retirar o jaleco do corpo.

- Qual o nome da senhora por favor?

- Anastácia... Anastácia Sampaio Martino. – fala esperançosa do outro lado da linha.

- Um segundo madame. – diz e deixa o telefone na mesa.

- Doutor. – fala Rebeca ao bater na porta.

- Ah Rebeca, tudo bem? Algum paciente desmarcou amanhã? – pergunta colocando o paletó e pegando o chapéu na mão.

- Não é isso doutro... uma senhora na linha, precisa falar com o senhor. – disse sem jeito.

- Uma senhora agora? – disse olhando para o relógio ao se lembrar do compromisso com Emma.

- Ela parecia muito preocupada. – disse a jovem sem querer forçar o patrão.

- Como ela se chama?

- Anastácia Sampaio Martino.

- Ah Dona Anastácia. – diz se lembrando da amiga de Emma. – Pode transferir a ligação por favor.

- Sim doutor, farei agora mesmo. – falou aliviada e fechou a porta da sala.

“Creio que Emma não se importará se eu atrasar um pouco por atende uma amiga” – pensou ao se sentar na cadeira e colocar o chapéu sobre a mesa.

BIP

- Boa tarde, Dr. Lauro falando.

- Dr, que prazer falar com o senhor. – falou Anastácia colocando a mão no peito aliviada.

- O que devo o prazer da sua ligação?

- Bem sempre que alguém liga atras de um médico, não é sempre um prazer não é mesmo. – sorriu nervosa tentando brincar com a situação.

- Desculpe minha indelicadeza. – falou arrependido. – É algo com seu marido, ou seu filho? Sei como homens tem relutância em ir ao médico se cuidar.

- Não doutor, os dois estão perfeitamente bem. – disse sorrindo para si mesma. – Acho que o problema sou eu... – acrescentou com a voz fraca.

- A senhora está passando mal agora? – perguntou preocupado.

- Não, não! Agora eu estou bem! – falou tranquilizando o homem. – Mas creio que eu possa estar doente... o senhor é a primeira pessoa para quem eu conto isso...

- Não se preocupe, eu serei completamente discreto com seu caso. – acrescentou rapidamente confirmando um contrato de médico e paciente.

- Foi por isso que liguei para o senhor, sabia que poderia contar com sua descrição doutor. – responde agradecida.

- Bem, hoje a senhora passou mal novamente... ou acha que seu caso é grave?

- Eu passei mal sim doutor, e infelizmente creio que seja algo grave. – falou com a voz tremula.

- Fique calma Dona Anastácia, tudo se resolverá em um zaz-tras. – falou tentando aliviar o clima.

- Creio que sim doutor. – respondeu fungando do outro lado da linha.

- Já que a senhora diz ser grave, consegue vir aqui amanhã as... dez horas? – falou após checar sua agenda.

- Amanhã? – pergunta surpresa.

- Como a senhora presente que possa ser grave, quanto mais rápido agirmos, será melhor. – diz calmamente.

- Tudo bem doutro, darei um jeito de estar aí este horário amanhã.

- Agradeço sua confiança Dona Anastácia. Se a senhora se sentir cansada, não hesite em se deitar, e beba bastante água, precisamos da senhora o mais disposta possível amanhã. – instruiu a senhora.

- Sim, sim, muito obrigada Doutor Lauro! Até amanhã, e obrigada. – disse colocando o telefone no gancho.

- Doutor Lauro? – questiona Pancrácio atras de si.


Notas Finais


Espero que tenham gostado e continuem acompanhado.
O motivo da minha ausensia foram dois: muito cansaço, e fiquei de DP (vou ter que fazer novamente) em uma matéria da faculdade, algo que me deixou muito triste, já chorei e já passou, vida que segue kkkk.
Quem ai esta ansioso para os capitulos seguintes?
Adoro ler o comentário de vocês!

Fiquem bem e tentarei postar outro no final de semana! ;)


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...