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História Nothing break like a heart - Há muitos e muitos dias


Escrita por: opiaceo

Notas do Autor


Boa madrugada para todos.
Espero que estejam bem e felizes. Acho que perceberam meu pequeno fascínio por postar os capítulos de madrugada. Espero que gostem desse capítulo mais intimista e nostálgico. O início é bom para entender o presente do Eren e da Mikasa.
Gostaria de agradecer pelos comentários no capítulo anterior, vocês me ajudam a conhecer mais sobre os personagens todos os dias. Todos os dias eles se tornam mais ricos na minha mente, graças a vocês. Muito obrigada!
Boa leitura. Abraços!

Capítulo 8 - Há muitos e muitos dias


Lembro do dia em que a conheci. 

Há alguns anos eu era um garoto franzino e brigão, todos os dias brigava com alguém. Inúmeros motivos me moviam. Quando cheguei a adolescência, não me recordava de nem um deles. Cresci hipócrita ou com uma memória fraca? Eu briguei. Briguei todos os dias. Um menino encrenqueiro se torna um adolescente mais encrenqueiro ainda, nunca traí este aspecto da minha personalidade. Apenas esqueci do que me motivava. Era para ajudar um colega em apuros ou pelo prazer? O prazer e a adrenalina? A satisfação e a conquista? Ou a humildade e o altruísmo? O respeito e a amizade? Nunca refleti, profundamente, sobre isso. 

Eu estava discutindo com Jean Kirstein quando uma menininha entrou na sala. O olhar melancólico e o cabelo bagunçado conquistaram meu fascínio. Menininhas sempre vão à escola com o cabelo arrumado. Penteados elaborados. Laços coloridos. Presilhas brilhantes. Tiaras de princesa. Mas Mikasa Ackerman não tinha o que elas tinham: uma mãe presente. 

Um segundo depois, Jean estava conversando com a menininha. Então, constatei que não fui o único fisgado por àquela beleza oriental. Mikasa parecia envergonhada. Todos olhavam para ela e comentavam sobre ela. Jean a convidou para sentar perto dele e, felizmente, eu me sentava perto de Jean. Passei a aula inteirinha a observando. Observando seu lenço laranja, principalmente. Mikasa era a única pessoa que conheci – ao longo dos meus quarenta anos – apaixonada por tudo o que cobrisse seu pescoço. Sendo sincero, nunca entendi o motivo. Ou se havia um motivo. Também nunca quis investigar a fundo. Algumas coisas devem ser assim: misteriosas. Preservar o mistério preserva a beleza. 

Alguns dias depois, Mikasa chegou à escola com um rabo de cavalo desalinhado e uma presilha frouxa. Ela não tinha uma mãe presente. Ela tinha Levi, um irmão dedicado e obstinado. Dia após dia, seus penteados melhoravam. Dia após dia, sua melancolia diminuía. Mas, dia após dia, meu coração acelerava mais e mais. Sempre fui uma vítima do Efeito Ackerman. Nunca conversamos até que briguei com alguns garotos mais velhos. Eu brigava e, na maioria das vezes, não me garantia. Mas nunca fugia. Eu estava prestes a levar mais um soco quando o garoto foi derrubado, com apenas um chute. Rapidamente, Mikasa os surrou. Eles saíram correndo. Nós nos encaramos. Suas bochechas estavam tão vermelhas quanto as minhas. Algo presente em nossa longa amizade foram as bochechas vermelhas. Sempre estávamos com as malditas bochechas vermelhas!

– Você está bem, Eren? – ela sussurrou envergonhada. Sua boca estava parcialmente coberta pelo cachecol colorido.  Eu sorria porque ela sabia meu nome. 

– Sim! – respondi animado – Você é incrível! Acabou com eles rapidinho! 

– Me-meu irmão me ensinou. 

– Seu irmão deve ser tão incrível quanto você! 

– Se quiser, eu posso te ensinar o que eu sei – propôs insegura. Ela sempre tentou me agradar, desde o primeiro dia. 

– É claro que eu quero!

Se eu sei brigar e me defender é graças a Mikasa Ackerman. 

Depois daquele dia nos tornamos bons amigos e, quando viramos vizinhos, também nos tornamos bons amigos de Armin. 

Em um outono rigoroso, Mikasa estava sentada nos degraus da varanda cantarolando. Os cabelos negros rebelando-se com o vento. Era de manhã. A cantoria disfarçava as lágrimas grossas. Ninguém estava na rua, exceto uma menininha esperando os pais voltarem de viagem. Eles estavam atrasados, muito atrasados. Eu me aproximei e sentei ao seu lado, Mikasa abraçava o próprio corpo. Ela cantava "La vie en rose". Levi nos observava através da janela enquanto varria o chão, ele sabia que os pais não viriam. 

Mikasa estava com o pescoço nu. Estava tão ansiosa com a chegada dos pais que esqueceu de utilizar algo que o cobrisse. Meu pescoço estava quentinho. Eu usava um cachecol vermelho de lã. Mas, de modo impulsivo, o tirei e enrolei em seu pescoço. A peça ficou torta e a ponta enroscada em sua orelha. 

– Agora você vai ficar quentinha! – eu disse envergonhado e segurei suas mãos geladas. As esfregando para esquentá-las. 

Nossos olhares não se cruzaram. Contudo, sabíamos que estávamos com os olhos esbugalhados, as bochechas coradas e os corações acelerados. Naquele dia, em uma manhã fria, nossos corações ficaram intrinsecamente conectados

– Eu vou esperar com você, Mikasa. Vou esperar até que eles cheguem – eu disse esperançoso, mas eles não chegaram. Mikasa havia parado de chorar e aquilo valeu a manhã, a tarde e a noite que passamos sentados na varanda esperando seus pais chegarem. O cachecol vermelho abandonou seu pescoço anos depois, por minha culpa. Porque eu o destruí. Eu destruí tudo. Minha divina decadência. 



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