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História Nothing Really Matters, Anyway The Wind Blows - (Scorose) - Ao Lado do Caminho


Escrita por: SrtaSchreave17

Notas do Autor


Gente, o cap está enfim pronto. Desde já peço desculpas pelo atraso e pelos erros de portugues. To usando a internet de uma alma caridosa para postar isso, então se eu não responder a comentario vcs já sabem. E desculpem pelos eventuais erros gramaticais, revisei isso correndo.

Espero que gostem. A música que dá nome ao título é Al lado del camino do Fito Paez.

Boa Leitura!

Capítulo 42 - Ao Lado do Caminho


O importante não é o chegada. É o caminho. Estar pronto para o caminho.

 

SC ORPIUS

Me gusta estar a un lado del camino

Fumando el humo mientras todo pasa

Me gusta abrir los ojos y estar vivo

Tener que vérmelas con la resaca

Entonces navegar se hace preciso

En barcos que se estrellen en la nada

Vivir atormentado de sentido

Creo que ésta, sí, es la parte mas pesada

 

Corri como um louco. Hogsmead nunca me pareceu tão longe de Hogwarts naquela noite. O vento gélido parecia quase cortar minhas bochechas. A gravata apertado ao redor do meu pescoço começava a incomodar. Afrouxei-a com um puxão e continuei a correr. Depois do que pareceu ser muito tempo alcancei a via principal de Hogsmead e pus-me a correr ainda mais rápido, ou pelo menos o que me era possível por conta da fadiga.

Quando vi o logotipo da Gemialidades Weasley brilhar ao longe, não soube dizer se aquilo me deixava feliz ou preocupado. De acordo com aquele bilhete Rose estava lá dentro. A pergunta era: ela estava bem? E a resposta era o que mais me preocupava.

Me adiantei até porta e minhas mãos praticamente voaram até a maçaneta, mas aquilo foi em vão. Estava trancada. Puxei a varinha do meio das minhas vestes e apontei para a fechadura.

- Alohomora. – pronunciei o feitiço, mas nada aconteceu.

Os Weasley não usariam um feitiço simples para trancar o lugar.

- Droga! – soquei a porta com raiva. Olhei em volta, mas a rua estava deserta. Estavam todos em suas casas a uma hora daquelas. Ninguém poderia me ajudar.

- Rose! – gritei para dentro da loja, mas não obtive resposta.

Chamei o nome delas mais algumas vezes, bati na porta, na janela, mas ninguém me respondeu.

 Passei a mãos no cabelo já nervoso.

- O que eu vou fazer? – gritei olhando para cima.

Por sorte, ou o que quer que seja, avistei uma janela aberta no terceiro andar. As meninas provavelmente haviam esquecida aberta. Olhei para os lados. Não vinha ninguém.

- Bem... – sussurrei para mim mesmo. – Não vai ser como se eu tivesse invadindo. Considerando que a loja é da família da minha namorada e ela pode estar em perigo lá dentro.

Apoiei o pé na parece da vitrine e me preparei para dar impulso. Agarrei –me à madeira da fachada como se minha vida dependesse daquilo, e de fato dependia, e comecei a escalar.

- Nas árvores do jardim da minha casa isso era mais fácil. – senti gotículas de suor se formarem na minha testa.

Cheguei ao nível do segundo andar e tive que me segurar no letreiro. E infelizmente acabei quebrando uma parte do W do Weasley. Teria que me explicar com meu sogro depois. Mas o importante era Rose. Terminei de escalar e com um último impulso escorreguei para dentro do cômodo.

Me permiti respirar por alguns segundos antes de me levantar. Olhei ao redor tirando a poeira das vestes. Tudo estava escuro então acendi a luz da varinha e comecei a caminhar.

- Rose? Você está aí? – perguntei. – Amor? Sou eu Scorpius.

Nenhuma resposta.

- Certo. – suspirei. Fui em direção às escadas cautelosamente, mas não encontrei nada. Olhei nos cômodos do andar, mas estavam todos vazios. Concluí que ela não estava ali. Eu sabia que, pelo bilhete, se Rose estivesse ali, ela estaria no porão. Mas eu tinha que verificar tudo.

Fui para o segundo andar decidido a fazer uma pequena ronda. Não achei nada nas salas nem nos banheiros. Decidi olha no escritório do Sr. Weasley por garantia. Não havia ninguém lá também, mas uma coisa chamou minha atenção.

Acabei pisando nela por acidente. Me abaixei e usei a luz da varinha para verificar o objeto. Era um pequeno frasco cor de prata. Já havia visto um daqueles em algum lugar. Eu sabia que eram usados para carregar poções de emergência ou uma bebida mais forte. Aquele frasco parecia estar pela metade. Desenrosquei a tampa e levei ao nariz para sentir o cheiro.

Eu reconheceria aquela poção em qualquer lugar. Foi a poção que eu e Rose preparamos juntos no inicio do ano. A que nos rendeu o vidrinho de Sorte Líquida que estava no fundo do meu malão no dormitório da Sonserina.

- Poção do Morto-Vivo.

Agora sim fiquei preocupado. Ninguém que estivera nesse prédio hoje gostaria de tomar aquela poção. Todos queriam estar bem dispostos para o baile. E isso me levou a concluir que tinha algo muito errado.

Com o frasco na mão pus-me a correr escada abaixo em direção ao primeiro andar. Desci dois degraus de cada vez e quando dei por mim estava dentro da loja. Iluminei os cantos apenas por segurança e me dirigi diretamente a passagem que levava ao porão.

Abri a porta e desci as escadas como um louco.

- Rose? Rose? Você está aí? Amor! Rose? – eu gritava enquanto pulava os degraus.

Quando pus os pés no porão e meus olhos enxergaram a cena a minha frente meu coração parou: Amarrada a uma cadeira e aparentemente inconsciente estava Rose Weasley. O rosto estava caído sobre o peito num ângulo aparentemente desconfortável. Os cabelos ruivos formavam uma cortina na frente do rosto.

- Rose. – corri para ela e me abaixei à sua frente segurando seu rosto. – Amor? Rose... Acorda. Por favor. – dei batidinhas de leve em seu rosto. – Ah, por Merlin... – olhei desesperado para ela. A primeira coisa que fiz foi verificar sua respiração: Lenta e pesada. Ela provavelmente tomara da poção do Morto-Vivo. Apontei minha varinha para as cordas – Relaxo! – elas se alargaram e o corpo inerte de Rose caiu pesadamente sobre mim. Apoiei-a com o ombro e a tirei das cordas. Sentei-me no chão e apoiei-a em meus braços.

- Rose, acorda. Por favor, amor. Vamos! – tentei reanimá-la sacudindo-a um pouco, mas no fundo eu sabia que não iria adiantar pois  a poção do morto vivo era algo muito forte. Toquei seu rosto e percebi que sua pele estava um pouco gelada. Ela usava um roupão felpudo, os pés estavam descalços. Ajeitei-a no meu colo e me preparei para tirá-la dali.  – Você deve estar aqui há tempos. – olhei para o rosto dela enquanto a endireitava em meus braços. – Não sei como ficou em sem ar.

Me preparei para erguê-la do chão, com certa dificuldade confesso, mas no fim consegui ficar de pé com ela em meus braços. Pus-me a subir a escada com ela no colo. Não era uma tarefa fácil, mas eu estava empenhado. Cheguei ao estoque da loja arfando e me xinguei por ser tão burro.

- Você é um bruxo Scorpius, haja como um. – falei para mim mesmo. Coloquei Rose gentilmente eu uma cadeira que estava ali e puxei a varinha do bolso. – Mobilicorpus.

O corpo inerte de Rose pôs se a levitar e eu a conduzi com o máximo de cuidado que pude ao interior da loja. Subi as escadas e a levei ao escritório do Sr. Weasley. Repousei-a no sofá e me sentei ao seu lado. Ela ainda estava gelada então eu tirei meu casaco e a cobri com ele.

- Quem fez isso com você amor? – beijei sua testa e comecei a verificar se ela estava bem. percebi que seus braços tinham marcas vermelhas. Provavelmente por causas das cordas. Ela continuava dormindo profundamente, mas no geral estava bem. – Certo. – me levantei e passei as mãos pelos cabelos tentando pensar. Eu precisava fazer alguma coisa. – Vou fazer uma poção. Com certeza tem algo aqui.

Me dirigi aos armários que ficavam atrás de uma mesa de mogno. Saí abrindo portas a procura de ingredientes e um caldeirão. Depois de algum tempo achei o que eu precisava numa parte mais baixa do armário. Por sorte tinha um estoque considerável de ingredientes que me possibilitavam fazer a Poção Wiggenweld.

Conjurei chamas flutuantes e consegui fazer com que o caldeirão parasse sobre elas para que eu fizesse a poção. Trabalhei o mais rápido que pude para a poção ficar pronta o quanto antes. Enquanto eu fazia, Rose resmungou alguma coisa em seu sono profundo e se mexeu um pouco. Não me permiti parar para ir até lá, afinal era sinal que o sono já não estava tão pesado assim e a poção que eu preparava poderia ser capaz de acordá-la.

Assim que ficou pronto pus o liquido num copo e levei até Rose.

- Vamos lá, Rose. Tem que dar certo. – coloquei-a sentado com a cabeça apoiada em meu ombro.

Segurei seu rosto o mais gentilmente possível, não queria que ela se machucasse. Como ela estava dormindo eu tive que forçá-la a abrir a boca para que ela tomasse a poção. Um pouco da poção escorreu pelo canto da boca dela, mas achei que ele havia conseguindo engolir uma quantidade razoável. Mas como não houve reação preferi dar mais um pouco.

Ela bebeu a quantidade que eu havia posto no copo e eu esperei.

- Rose? – passei a mão pelo rosto dela. – Vamos lá, amor. Acorda. Por favor. Vamos, acorda. – eu sussurrava em seu ouvido e torcia para que ela acordasse. – Vamos, Rose. Por favor, por favor...

Não sei quanto tempo fiquei daquele jeito. Só torcia para que ela ficasse bem. Eu fiquei repetindo que ela acordasse por um bom tempo. As palavras já não faziam o mínimo sentido e eu já estava ficando com medo de algo pior acontecer.

Mas então eu ouvi, mais baixo que um sussurro.

- Scorpius? – Rose Weasley olhou para mim.

***

ROSE

En tiempos donde nadie escucha a nadie

En tiempos donde todos contra todos

En tiempos egístas y mezquinos

En tiempos donde siempre estamos solos

Habrá que declararse incompetente

En todas las materias de mercado

Habrá que declararse un inocente

O habrá que ser abyecto y desalmado

Yo ya no pertenezco a ningún istmo

Me considero vivo y enterrado

Yo puse las canciones en tu walkman

El tiempo a mi me puso en otro lado

Tendré que hacer lo que es y no debido

Tendré que hacer el bien y hacer el daño

No olvides que el perdón es lo divino

Y errar a veces suele ser humano

 

Eu me sentia sonolenta e fraca sem a mínima vontade de fazer nada. Mas quando olhei para Scorpius senti meus olhos arderem e fiquei com uma imensa vontade de chorar. As coisas que haviam acontecido há, sabe-se lá há quanto tempo, voltaram a minha mente.

- Hey, está tudo bem. – Senti os braços de Scorpius ao redor de mim e me permiti chorar, enterrando meu rosto contra seu peito.

- F-foi horrível. – foi tudo o que consegui dizer antes de começar a soluçar e a tremer.

Fiquei chorando em conseguir dizer nada. Scorpius me abraçava, acariciava meu cabelo e me dizia coisas. Eu ouvia tudo, mas só conseguia chorar. Não sei quanto tempo fiquei daquele jeito, mas Scorpius provavelmente já estava ficando preocupado.

- Rose, por favor, se acalme. – falou – Me conte o que aconteceu. Amor, olha pra mim. – ele pediu segurando meu rosto e conseguindo me fazer tirar a cara de seu peito.

Solucei um pouco enquanto tentava me acalmar. Tentei respirar fundo e consegui me estabilizar um pouco. Scorpius viu que eu havia me acalmado e perguntou:

- Quem fez isso Rose? Quem fez isso com você? – perguntou.

Suspirei e tremi um pouco antes de dizer.

- Kiera. – falei.

- O que? – ele me olhou surpreso. – Ela não se atreveu...

- E ela não estava sozinha. – contei deixando escapar uma lágrima. – Kennedy estava com ela.

- Aqueles filhos de uma...– ele se segurou ao me ver chorar. – Desculpe. – beijou minha testa. – Me conta. O que houve?

Entre soluços e alguns goles de água consegui contar a história. Falei tudo. Desde a hora em que desci para trocar de vestido até a hora em que apaguei completamente. Falei sobre a poção do sono e o momento em que Kiera arrancou fios do meu cabelo para usar na Poção Polissuco. Scorpius ficou horrorizado.

- A Kiera? Aquela... Argh! Era ela? Eu não acredito! Ela me beijou! Mas que desgraçada, filha da... Argh! – socou o apoio do sofá onde estávamos sentados. – Eu sabia que havia algo errada! Como ela pode? – ela disse entre dentes. – Infelizes. Eu vou matá-los. – cerrou os punhos. – Mas... – ele olhou confuso para mim. – Como você me mandou aquele bilhete se estava amarrada e desacordada aqui no porão?

- Eu não mandei bilhete nenhum. – falei me aconchegando de volta em seus braços.

- Mas... Alguém me mandou um bilhete. Estava assinado por você e era a sua letra. Me mandava vir até aqui. Como sabiam que você estava aqui? – ele fez diversas indagações, mas eu não sabia responder nenhuma.

Dei de ombros.

- A única coisa que eu sei é que perdemos nosso baile. – lamentei. A coisa que eu mais havia sonhado nas últimas semanas fora por água abaixo. – E a Kiera dançou com você. – funguei.

- Ela não dançou comigo. – contou. – Assim que eu recebi o bilhete de... sabe-se lá quem... Vim correndo pra cá. Disse ao Alvo para enrolar a McGonagall na dança dos campeões e saí. Eu não dancei com ela. – ele me garantiu.

- Mesmo? – perguntei.

- Sim. – ele assentiu.

- Mas ela te beijou. – falei sentindo meus olhos arderem ao imaginar a cena.

- Rose... – ele tocou meu rosto. – Desde o momento em que a vi no castelo eu soube que havia algo de errado. E eu não gostei nada de saber que foi ela quem me beijou.

Suspirei. Ele tinha razão.

- Desculpe. – falei baixinho.

Ele abriu os braços e eu o abracei com força.

- Não tem que se desculpar. Eu deveria ter sido um pouco mais atento.

- Não foi por sua causa. – falei. – Só uma pessoa tem culpa nisso. E é a Kiera. – eu estava sentindo muita raiva. Muita raiva mesmo. Nunca havia me sentido assim. – Ela estragou tudo! – me sentei e olhei para Scorpius. Sentia meus olhos queimarem para chorar. – Por culpa dela fiquei presa naquele porão! Não usei o meu vestido! Não fui ao baile com você! Por que é que toda vez que estamos bem vem alguém e estraga tudo? – gritei. – Será que não dá para ficarmos em paz por um dia?

Não sabia porque estava gritando. Só sabia que estava com muita raiva. Estava cheia de não poder viver minha vida em paz, com raiva por ter sempre alguém pra estragar tudo!

Scorpius suspirou, mas não disse nada. Apenas abriu os braços e eu os aceitei chorando. Mas não por medo ou tristeza. Eu chorei de raiva. Eu nunca havia chorado por raiva.

- Eu não quero deixar isso assim! – falei firmemente olhando para ele. – Eu cansei, Scorpius. Cansei de ser idiota e de ver todo mundo me passando para trás. Não quero deixar isso como está. Eles não vão sair impunes.

- Não se preocupe. – ele falou sério – Eles não sabem com quem se meteram. E eles vão pagar. Eu prometo.

Eu o abracei, mas dessa vez sem chorar. Ficamos em silêncio por um bom tempo. Eu quase poderia ouvir o cérebro de Scorpius trabalhando. E eu sabia exatamente em que, pois o meu próprio estava assim. Eu só queria pensar em uma maneira de me vingar.

Quando eu estava prestes a perguntar se ele tinha algo em mente ouvimos um barulho vindo do térreo. Scorpius olhou para mim alerta.

- Ouviu isso? – perguntou já se levantando com a varinha em punho.

- Você acha que são eles? Que podem ter voltado? – perguntei.

- Não sei. Mas se forem, ótimo. Vou poder me vingar mais rápido. – ele falou indo em direção a porta. – Onde está sua varinha? – falou quando ouvimos outro ruído lá embaixo.

- Na gaveta da mesa. – apontei a mesa do meu pai. – Deixei aqui para poder me arrumar, hoje mais cedo.

- Pegue-a e venha atrás de mim. – ele abriu a porta e eu obedeci.

Scorpius saiu do cômodo em direção ao hall do segundo andar.

- Eu ouvi barulho lá em cima... – ouvimos uma voz masculina dizer baixinho.

Scorpius se aproximou da escada devagar.

- Nada no porão! – outra voz disse, dessa vez um pouco mais alto.

- Será que dá para vocês falarem baixo, mas que droga! – alguém reclamou.

- Lá para cima vamos! – ouvimos passos se aproximando pelas escadas.

- Vá devagar pode haver...

- Expelliarmus! – Scorpius foi mais rápido.

- Protego! – a pessoa gritou tão rápido quanto ele. – Malfoy!

O rosto de Hugo surgiu por de trás de um feitiço escudo.

- Hugo... – suspirei aliviada, embora no fundo desejasse ver a o rosto gordo de Kennedy ou Kiera para usar uma azaração ferreteante.

- Pai! Eles estão aqui! – Hugo gritou por cima do ombro e em seguida retirou o feitiço escudo, para logo após correr até mim. – Você está bem? Ficamos preocupados! O que aconteceu?

- Calma... – falei enquanto ele me abraçava - Vou explicar. Deixe a mamãe e o papai...

- Rose! – minha mãe apareceu.

- Mãe... – me adiantei em abraçá-la. Ela me apertou com força e me encheu de beijos.

- Ah, meu amor. Que bom que está bem. Ficamos tão preocupados. – ele disse ainda me abraçando.

Por cima do ombro dela vi meu pai se aproximar. A expressão preocupada se dissolveu automaticamente ao me ver. Ele se juntou a minha mãe no abraço e me beijou o alto da cabeça.

- Princesa... – afagou meus cabelos. – Está tudo bem. O papai chegou.

Eles me abraçaram por um tempo e depois de verificarem que não estava faltando nenhum pedacinho do meu corpo deram atenção a Scorpius.

- Você está bem? – meu pai perguntou.

- Sim senhor. – ele respondeu. – Quer dizer, mais ou menos.

- O que foi que houve? Me contem. Quero ouvir tudo. – meu pai pediu.

- Vamos lá para dentro. – minha mãe sugeriu apontando o escritório.

Alvo, Sophie, Lily e Tio Harry apareceram e se juntaram a nós. Meus pais se sentaram ao redor de mim e Scorpius ficou em pé em um canto. Papai trouxe algumas cervejas amanteigadas que foram distribuídas entre nós.

- Podem começar a contar agora. – mamãe disse depois que fomos servidos.

- Bem, senhora Weasley... – Scorpius começou a contar. – Eu estava no baile e pouco antes da dança Rose foi ao banheiro, ela estava demorando e eu fui atrás dela, Sophie também, mas não a encontramos. Depois disso recebi um bilhete que supostamente era dela me pedindo que viesse até aqui. Dizia que ela estaria no porão e que precisava de mim. Eu acreditei porque analisei a caligrafia e vi que era dela. Eu conheço bem a letra da Rose. Então larguei tudo no baile e vim até aqui.

“Quando cheguei aqui encontrei... – ele andou até a mesa e pegou um frasco prateado. – isto. – balançou o objeto no ar.

- O que é? – Harry indagou curioso.

- Veja o senhor mesmo. – ele lhe entregou o frasco e Harry levou até o nariz.

- Poção do Morto Vivo. – constatou imediatamente.

- Exato. – ele explicou. – Estava caído aqui no chão. Fui até...

- Espera. – meu pai o interrompeu. – Como entrou aqui?

- Escalei a fachada. – Scorpius explicou.

- Seu projeto de doninha!  Então foi você estragou o meu letreiro! – Rony reclamou.

Hermione lhe lançou um olhar mortífero.

- Cale-se, Ronald. Ele salvou a sua filha.

Mesmo em momentos como aquele meu pai não perdia a oportunidade de implicar, nem que fosse um pouquinho, com Scorpius.

Rony deu de ombros, como se fosse difícil admitir a ideia de que estava errado.

- Como eu ia dizendo, fui até o porão e encontrei a Rose amarrada e completamente desacordada. A trouxe aqui para cima e preparei a Wiggenweld. Só assim consegui acordá-la. Ela me contou o que havia acontecido e bem... Vocês chegaram.

- E o que aconteceu Rose? – meu pai me olhou preocupado. – Como você veio para aqui amor? Quem fez isso com você?

Suspirei.

- Foi antes do baile, pai. – contei. – Na hora em que desci para pôr o vestido aqui em baixo. – apontei a sala. – Mas quando cheguei, a sala não estava vazia. – todos me olharam apreensivos esperando que eu contasse quem havia feito aquilo. – Kiera. – olhei para Sophie, que imediatamente levou as mãos ao rosto expressando surpresa. – E ela não estava sozinha. Kennedy McCloskey estava com ela.

- Não acredito... – Alvo levou as mãos aos cabelos. – Aquele desgraçado.

Assenti.

- Ele me segurou enquanto ela arrancou fios do meu cabelo, pra poção polissuco. E depois me apagaram. – resumi a história.

- Calma aí! Poção polissuco? Ela se passou por você? – Lily disse espantada.

- Pois é. - Assenti.

- Mas ninguém percebeu...

- Infelizmente. – Scorpius comentou.

Concordei com a cabeça.

- Rose ela dançou com o Scorpius no seu lugar! – ela falou indignada. – E , sejamos francos, lindamente! Que fingida!

- Lily! – exclamei indignada. – Já não basta saber que ela dançou com o meu namorado no meu vestido, você ainda diz que ela estava linda.

- Desculpa prima, mas é verdade. Não dava para desconfiar que não era você. Cá entre nós, ela fingiu muito bem.

- Não seja boba Lily. Eu não dancei com ninguém. – Scorpius olhou para ela como se fosse louca. – Saí do baile antes da Dança dos Campeões.

- Claro que não, Scorpius! Está louco? Todo mundo viu vocês dançando! – Alvo exclamou.

- Eu não dancei com ninguém! – Scorpius falou visivelmente irritado – Qual é o problema de vocês? Viram miragens? Alvo você viu! Eu saí correndo quando recebi o bilhete.

- Sim, mas alguns minutos depois você voltou. E com a Rose. Achei que tivesse encontrado com ela a tempo da dança.

- Eu não encontrei ninguém. Vim direto para cá. E a Rose estava desacordada quando a encontrei.

- Ei, ei... Esperem. Tem alguma coisa errada aí. – Tio Harry levantou as mãos e todos nós olhamos para ele. – Rose – ele se dirigiu a mim – você disse que essa garota...

- Kiera. – falei.

- Sim. Kiera. Você disse que ela pegou fios do seu cabelo para uma poção polissuco. Scorpius disse que não dançou com você, mas todos nós aqui, que estávamos no baile, vimos vocês dançando. – ele levou as mãos ao queixo como se pensasse. – Ou alguém pegou um pedaço de você, Scorpius – ele olhou para Scorpius. – para usar na poção polissuco ou então... – tio Harry se calou e o olhar recaiu sobre minha mãe. – Hermione... – todos nós olhamos para ele. – Você resolveu aquele assunto dos objetos que foram apreendidos hoje?

Minha mãe se sobressaltou.

- Harry... Você não acha que eles usaram...

Harry deu uma risada sarcástica.

- Nós usamos. Por que não eles?  Me diga você. – tio Harry olhou para ela.

- Você sabe que agora eles são muito raros, não é?

- É claro, mas... Não diga que você...

- Eu não poderia perder a oportunidade...

- Hermione... – Harry a olhou desconfiado.

- Dá para vocês explicarem! – Hugo falou nervoso com a conversa misteriosa deles.

Minha mãe suspirou e se levantou do sofá.

- Conte a eles, Harry. Eu já volto. – e desapareceu pela porta.

- O que está acontecendo? – meu pai olhou assustado para Harry. – Não vai me dizer que eles mexeram com aquilo?

- Pelo que parece... É uma teoria plausível. – Harry se sentou na poltrona.

- O que vocês aprontaram? – meu pai olhou de mim para Scorpius. – Está envolvendo minha filha nas suas sujeiras, rapaz?

- Eu? – Scorpius disse confuso. – Senhor, eu não faço a mínima ideia do que vocês estão falando. Na verdade eu não estou entendendo mais nada.

- Vamos esperar Hermione voltar. – tio Harry disse. – Se aconteceu o que eu estou pensando – seus olhos recaíram em mim. – Vocês já vão entender.

Olhei preocupada para Scorpius. Ele tinha a mesma expressão que eu: Confusão. Nós não estávamos entendendo nada. Tudo o que eu sabia era que aquela história tinha algo de errado e Kiera Le Vill tinha uma grande parcela de culpa naquilo. E eu só queria me vingar por ela ter estragado uma noite que deveria ser perfeita.

No es bueno hacerse de enemigos

Que no estén a la altura del conflicto

Que piensan que hacen una guerra

Y se hacen pis encima como chicos

Que rondan por siniestros ministerios

Haciendo la parodia del artista

Que todo lo que brilla en este mundo

Tan sólo les da caspa y les da envidia

 

***

HUGO

Yo era un pibe triste y encantado

De beatles, caña legui y maravillas

Los libros, las canciones y los pianos

El cine, las traiciones, los enigmas

Mi padre, la cerveza, las pastillas los misterios el whiskymalo

Los óleos, el amor, los escenarios

El hambre, el frío, el crimen, el dinero y mis 10 tías

Me hicieron este hombre enreverado

 

Eu já estava impaciente. E confuso. Pra piorar meu estômago começou a roncar. Me levantei do lado de Lily e fui até a mesa do meu pai. Eu sabia que ele costumava guardar alguns lanchinhos por ali como um bom Weasley que era.

Achei uma caixa em uma das gavetas que estava recheada de bombons.

- Hugo? – meu pai chamou. – O que está fazendo com isso?

Droga, ele havia em pego no flagra!

- Eu estou com fome. – falei.

- Larga essa caixa, não seja guloso. Esses chocolates estão recheado com a nova fórmula das vomitilias.

Larguei a caixa imediatamente dentro da gaveta.

- Essa foi por pouco. – suspirei aliviado olhando para a caixa. Mas ela tinha algo de familiar. Se parecia muito com a caixa que mais cedo Scorpius pedira que eu entregasse a Darwin. Quando eu estava prestes a perguntar a Scorpius sobre aquilo minha mãe voltou a sala. Corri para meu lugar ao braço da poltrona pois estava curioso demais para saber do tal mistério e a teoria que tio Harry elaborara.

- Bom, aqui está. – mamãe mostrou um cordão com um pingente que lembrava uma ampulheta.

- Mas isso é... – Rose apontou o objeto.

- Um Vira-Tempo. – Scorpius disse.

- Exato. – mamãe assentiu. –Quando vi isso hoje de manhã no meio dos objetos que o ministério recolheu de um ladrão em uma das inspeções, senti algo – ela levou as mãos ao peito – que me disse que eu deveria tê-lo comigo. É claro que é um item extremamente raro nos dias de hoje. São poucos os que ainda possuem. Pensei que seria útil. Mas não sabia que seria tão depressa.

- Isso explica muita coisa. – tio Harry cruzou os braços.

- Está dizendo que – olhei para Rose e Scorpius. – eles voltaram no tempo.

- Bem, teoricamente, ainda não voltaram. – minha mãe disse.

- Nós voltamos no tempo? – Scorpius repetiu minha pergunta apontando o vira-tempo na mão de Hermione.

- Provavelmente. – ela disse. – Você mesmo disse, Scorpius, que recebeu um bilhete com a letra do Rose. Que explicação melhor você me daria quanto a isso se a outra Rose, que era na verdade a Kiera, havia ido ao banheiro e Rose verdadeira estava aqui.

- Então... – Alvo disse como se estivesse se esforçando para entender. – A Rose e o Scorpius que nós vimos dançando no baile eram na verdade os dois que voltaram no tempo? É isso?

Rose e Scorpius se entreolharam.

- Então eu dancei com você? – ela disse a ele com os olhos brilhando. Provavelmente começaria a chorar como uma menininha.

- Acho que sim... – ele sorriu.

- Hermione, espere. – meu pai se manifestou. – Vai deixar mesmo que eles façam isso?

- Você quer estragar o baile da sua filha?

- Não.

- Pois então. Essa é a segunda chance deles! Pode parecer louco, mas eu não vou deixar a minha filha chorando porque não teve o baile que merecia!

Meu pai surpreendentemente assentiu e se levantou e por algum motivo abraçou minha mãe.

- De qualquer forma é uma segunda chance para mim também. Não se preocupe, não vou estragar tudo dessa vez. – colocou a mão no ombro dela num surpreendente sinal de apoio.

Minha mãe acariciou o rosto dele, parecia prestes a chorar, coisa que Rose já estava fazendo. Papai mandou que ela fosse trocar de roupa porque ainda estava usando aquele roupão e ela desapareceu para o terceiro andar. Meus pais e tio Harry começaram a conversar com Scorpius. Mas eu não estava prestando atenção neles, porque de repente, com a fala dos meus pais algo me ocorreu.

A imagem daquela caixa de doces que faziam vomitar que eu entreguei a Darwin não saia da minha mente. Nem aquela conversa no armário de vassouras.

“Presta atenção no que eu vou dizer, Weasley.” Ele dissera.  “Se você tiver uma segunda chance, qualquer que seja, a mais louca, não hesite. Vá atrás da Lily.”

Olhei para Lily que conversava emocionada com Sophie enquanto Alvo revirava os olhos. De repente tudo pareceu se iluminar na minha cabeça.

 É, claro! Estava tudo muito estranho!

Darwin parecia saber demais quando me falou que eu deveria ir atrás de Lily. E ele nunca deixaria o caminho livre para mim assim tão fácil. E Callun Hanksworth nunca mandaria entregar ao irmão doces que, agora eu sabia, estavam repletos de vomitílias. E o mais importante de tudo: tudo o que eu vi de Lily e Darwin juntos, tudo aquilo que tinha me feito sentir tantos ciúmes, eu estava tendo a chance de fazer com que fosse eu a estar no lugar dele. Que fosse eu a dançar com Lily. Que fosse eu a beijá-la.

- Eu vou. – falei pra mim mesmo e então olhei para a minha família. – Eu vou. – anunciei novamente, dessa vez para que todos ouvissem.

- Vai pra onde? – Lily perguntou.

- Com eles. Vou voltar no tempo com eles.

- Pronto. Voltei. – Rose anunciou aparecendo na porta já vestida. – Podemos ir.

Mas ninguém estava prestando atenção nela, todos olhavam para mim.

- O que está dizendo? – mamãe disse.

- Vou com eles. – falei.

- Hugo, mas... – minha mãe me olhou confusa. – Por que, filho? Você não teve o baile que queria?

- Não, mãe. Não tive. Eu preciso fazer isso. Acredite, sei o que estou fazendo. – fui até a mesa e peguei a caixa com vomitilias e me aproximei de Rose e Scorpius. – Vamos?

Meus pais se entreolharam.

- Se ele diz. – meu pai deu de ombros. – Já estamos mandando um filho para viajar no tempo, não é? Por que não dois?

Lily me olhava curiosa do lado de Alvo e Sophie. Sorri para ela.

- O que você vai aprontar, Hugo? – perguntou.

- Não se preocupe. – pisquei. – Vai valer a pena.

- Então vamos. – Scorpius falou decidido.

Minha mãe se aproximou com o vira-tempo.

- Lembrem-se: Vocês não podem ser vistos pelos seus eus do passado. Só interfiram naquilo que for realmente necessário. E tomem muito cuidado. – ela abriu o fecho do vira-tempo e a correntinha incrivelmente se alongou, passando por nossos pescoços. – Que horas são?

- Falta exatamente um minuto para as dez. – Scorpius informou.

- Excelente. – minha mãe se afastou deixando o pequeno relógio nas mãos de Rose. – Vocês devem estar aqui exatamente às dez horas.

- Certo. – assentimos.

- Para que horas, exatamente, vocês precisam ir?

Rose e Scorpius se entreolharam.  Claramente não sabiam por onde começar. Eu olhei para a caixa e de doces na minha mão e soube a resposta.

- Para a hora do almoço.

- Fomos almoçar por volta de uma hora da tarde. – Rose contou.

- Meio dia. – falei. – É o horário que eu preciso voltar.

- Dez voltas então. – minha mãe disse. – Serão o suficiente.

O pequeno relógio que papai mantinha na parede emitiu uma pequena badalada. Assim como o grande relógio de pedra que havia na rua principal de Hogsmead.

- Agora vão. – minha mãe agitou as mãos. – Dez voltas.

Rose girou a pequena ampulheta dez vezes enquanto Scorpius a ajudava a contar.  Tudo ficou escuro e pareceu girar ao nosso redor. Tive a sensação de estar sendo puxado para trás e vi borrões se mexendo ao meu lado. Então senti o chão sob meus pés e tudo voltou ao normal. Ou quase tudo.

Estávamos na mesma sala, contudo ela estava iluminada pela luz solar.

- Voltamos. – Scorpius disse. Ele tomou a liberdade de retirar a correntinha de nossos pescoços e guardar o vira-tempo no bolso da calça.

- Onde estávamos a essa hora? – Rose perguntou.

- São meio dia. – Scorpius consultou o relógio de pulos. Tínhamos vindo nos arrumar. Nós fomos cortar o cabelo e você fez as unhas. – apontou para Rose.

- Anda Alvo, não vai pegar bem se a gente se atrasar! O que a sua mãe vai pensar de mim! – ouvimos uma voz do lado de fora.

- Eu não vou correr muito, acabei de comer! – a outra pessoa, que eu sabia ser Alvo, respondeu.

- Alvo e Sophie. – Rose sussurrou. – Eles acabaram de chegar.

Scorpius foi para perto da porta e encostou o ouvido nela.

Ouvimos passos apressadas subindo as escadas para o terceiro andar.

- Vamos. – ele disse.

- Mas... Assim? – Rose indagou.

- Sim, temos que aproveitar enquanto eles estão lá em cima. Daqui a pouco Alvo, Hugo e eu desceremos. Eles não podem nos ver.

- Certo. – assenti.

Scorpius pôs a cabeça para fora e fez sinal para que os seguíssemos. Descemos as escadas rapidamente e sem fazer barulho. Atravessamos aquele mar de gente dentro da Gemialidades Weasley e nos dirigimos ao balcão.

- Esperem. – Rose nos puxou para um canto longe do balcão. - Marvin não vai ser um problema?  Temos de passar por ele. Ele vai estranhar se vocês passarem por ali duas vezes.

- Ele tem memória curta. – falei. – E se distrai fácil. É só fazermos... – olhei ao redor. Alguns alunos do primeiro ano estavam por ali.

- Hugo...

- Segura. – estendi a caixa para ela sem dar chance para Rose falar alguma coisa. – Ei, pirralhos. – me aproximei.– Dou um saco de vomitilias de graça para vocês se me fizerem um favor. O que acham? – Um dos garotos, que era da grifinória sorriu interessado.

- O que temos que fazer? – perguntou.

- Tá vendo aquele cara ali cheio de espinhas? – apontei Marvin discretamente e o menino assentiu. – Vai até lá e diga a ele que o Sr. Jordan está chamando na seção de produtos importados imediatamente. E que se ele demorar vai suspender o desconto na linha de Bruxa Maravilha.

- Certo. – o garoto assentiu e prontamente se dirigiu até Marvin. Cochichou algo para ele e apontou a seção de produtos importados, falou algo com uma expressão séria e que fez Marvin levar as mãos às bochechas cheias de espinha. Ele saiu do banquinho onde estava sentado e se dirigiu, pedindo licença entre as pessoas, para a seção que supostamente Lino Jordan estaria.  Enfiei a mão no pote de vomitilias ali perto e enchi as mãos dos outros meninos com o doce. – Obrigada pelos serviços. – informei ao garoto assim que voltou.

- De nada, Sr. Wealsey. Quando precisar... – piscou.

- Hugo, vamos. Estamos vindo. – Scorpius anunciou quando ouvimos um barulho na escada.

Nós passamos por trás do balcão e fomos para dentro do estoque.

- Vai Hugo! Vai rápido! – Rose me empurrou para dentro do estoque.

- Calma, tenho que ter cuidado com as caixas! – sussurrei. – Se eu derrubar vai fazer um barulho enorme e vão nos pegar!

Nos acomodamos atrás das caixas tentando fazer o máximo de silencio possível. Vi meu eu do passado passar e... Cara, foi uma sensação muito estranha!

- Já tá defendendo o cunhadinho é, Malfoy? – ouvimos a voz de Alvo bem perto.

- Vem Scorpius. – Rose o puxou para trás de uma pilha de caixas.

- Não enche Alvo... Mas o que? – A voz do Scorpius do passado... presente... ou seria passado? Ah que seja! A voz dele soou desconfiada.

Scorpius puxou um pedaço do traje a rigor que havia ficado a mostra por entre as caixas.

- Que houve? – ouvimos Alvo perguntar.

Eu e Rose nos entreolhamos.

- Você nos viu? – perguntei silenciosamente para Scorpius.

- Acho... Acho que não. – ele balançou a cabeça.

- Pensei ter visto alguém... Ali. Parecia que a pessoa estava se escondendo. Não deveríamos dar uma olhada? Porque, afinal, é a loja da sua família.

- Ah, não. A loja é segura. – Alvo, graças a Merlin, soou super despreocupado. – Provavelmente é algum casal se pegando.  Já aconteceu, é sério. O Sr. Jordan, o amigo dos meus pais que é o gerente aqui da loja, ele já pegou casais se beijando dentro do estoque. Provavelmente resultado das poções para euforia. – ouvimos Alvo explicar e escutamos calados o resto da conversa.

- Que loucura.

- Pois é... Espera pra ouvir as histórias. Tio George sempre tem umas ótimas para o natal. Mas agora vamos, eles devem estar esperando a gente.

Ouvimos passos e eles se aproximaram passando pelo balcão, por de trás das caixas vimos Scorpius e Alvo passarem em direção as escadas que levavam ao porão.

- Que bizarro... – Scorpius falou um tanto embasbacado.

- Põe bizarro nisso. – Rose concordou. – Tem... dois de você.

- É muito bizarro. – Scorpius disse.

- É... Bizarro. Já entendemos. – falei cortando o papo repetitivo deles. – E agora? O que faremos?

- Bem... Vamos pensar. – Rose disse – Nesse meio tempo vocês foram cortar o cabelo não é? E eu estou lá em cima fazendo as unhas. Aconteceu algo depois que devemos interferir.

Scorpius assumiu uma postura pensativa.

- Tem. – falei imediatamente porque eu sabia exatamente o que era. – Eu tenho que fazer uma coisa. – olhei para a caixa de doces com vomitilias na minha mão. – Mas vou precisar de você, Scorpius.

- Hugo... – Rose olhou para mim parecendo tentar desvendar um mistério. – Eu e Scorpius temos um bom motivo para termos voltado no tempo. E você? O que te fez voltar? Por que está aqui?

- Eu tenho direito de consertar umas coisas também, ok? – falei.

- Sim, é claro que tem. Mas o que exatamente?

- Não vou falar agora. – cruzei os braços. – Não tenho que te contar tudo.

- Hugo...

- Não Rose.

- Tem a ver com a Lily? – ela insistiu.

- Eu aposto que tem. - Scorpius sorriu. – Não viu como os dois estavam?  - implicou.

- Ah, que amor! Vocês se reconciliaram e você voltou no tempo por ela? – ela segurou minhas bochechas e apertou com força.

- Você Está viajando bastante hein! – reclamei.

- Conta Huguinho! Vai! Por favor! – insistiu.

- Ah, tá bom. Não foi uma reconciliação, mas nós voltamos a nos falar, ok? E eu voltei porque eu tinha que fazer... algumas coisa. Pra ter... – engoli em seco – algumas chance.

- Ai, vocês são tão fofinhos! – Rose me olhou como se eu fosse um bicho de pelúcia que ela estava com vontade de apertar.

- Dá um tempo, Rose. – revirei os olhos. – E se vocês puderem me ajudar, ótimo. Se não, não fiquem me enchendo.

- É claro que nós vamos te ajudar. Mas você também tem que ajudar a gente.

- É. – Scorpius concordou. – Temos que nos vingar da Kiera.

Assenti.

- Pode deixar... – esfreguei as mãos. – Eu não gostei nada do que ela fez com a minha irmã. E não quero que deixe barato. E aquele cara de bulldog também.

- Vamos nos vingar. – Scorpius disse decidido.

- Eles não esperam para ver. – falei. – Nunca mexa com um Weasley. – mexi as sobrancelhas.

- Escutem. – Rose disse de repente. – Tem alguém vindo.

O Hugo do passado passou a por nós a passos fortes e visivelmente irritado.

- Estressadinho. – Scorpius murmurou assim que eu desapareci.

- O Alvo é que é um chato. – falei. – Ele me irrita.

Scorpius revirou os olhos.

- Você só estava daquele jeito por conta da Lily.

- Que seja. – falei interrompendo-o. – Agora temos que ir. Temos que ir atrás de mim... Nossa isso soou estranho.

- Voltamos no tempo. Tudo é estranho. – Rose disse.

- Tá. Vou ver se a barra está limpa.

- Cuidado. – Rose sussurrou.

Me esgueirei por dentre algumas caixas e olhei para os lados para ver se alguém estava vindo. Não vi ninguém e me levantei já ia fazer sinal para que Rose e Scorpius me seguissem quando ouvi um barulho repentinos nas escadas.

Fiquei estagnado e levantei as mãos em reação.

- Hugo! - Meu pai surgiu. – Que bom que ainda está aqui. Por que está com as mãos para o alto? – indagou confuso.

- Ah... – gaguejei e abaixei as mãos. – Eu... Eu estava...

- Já sei. Estava procurando alguns doces. – sorriu. – Você sempre come mais quando está estressado não é? – esfregou meu cabelo e sorriu. Senti em seu hálito o forte cheiro de hidromel. – E como as mulheres nos deixam estressados...

Ele segurou meu ombro e me guiou até alguns caixotes velhos que estavam, talvez por sorte, longe de Rose e Scorpius.

- Sente-se. Vamos conversar. – falou forçando para que eu sentasse ao seu lado. – Está tudo bem? – ele perguntou.

- É... Acho que sim. Na medida do possível. – falei.

- As vezes é difícil? Não é? Principalmente com as garotas.

- É... bastante. – falei sentindo o rosto corar.

- Eu me lembro de como foi com a sua mãe. – ele olhou para o teto pensativo. – Demorou muito tempo para eu me dar conta de que estava sendo um idiota. As vezes nós somos um pouco idiotas, não é?

Apenas assenti e deixei que ele continuasse falando.

- Como está com a menina? A francesa. – perguntou.

- Eu não gosto dela.

- Mas você vão ao baile juntos.

- Mas não é dela que eu gosto. Iria com outra pessoa se pudesse.

- Isso também aconteceu comigo. No meu baile. No fundo eu sempre quis ir com a sua mãe. – olhou para mim. - Você deveria ir. Com a menina, eu digo. A que você gosta de verdade.

- Eu estou trabalhando nisso.

- Não está em cima da hora?

- Talvez, mas... Eu ganhei um pouco de tempo.

- Que ótimo. – ele sorriu. – Eu demorei tempo demais. Já era tarde quando percebi.

-E o que você fez? – tentei falar baixo. Não queria que Scorpius e Rose escutassem. – Digo, quando percebeu. Não ficou com medo?

- Um pouco. Mas eu arrisquei. Passei por cima da insegurança. Talvez uns goles de whisky de fogo tivessem ajudado na hora... – coçou o queixo – E teve um livro muito bom: Doze Maneiras Seguras de Encantar Bruxas.

Eu ri. Só o meu pai mesmo para ter um livro com um título daqueles.

- Eu te empresto quando chegarmos em casa.

- A mamãe sabe disso?

- Coloquei outra capa. – sussurrou no meu ouvido e riu.

- Ah, claro. Brilhante.

- É infalível! – falou com convicção. – Nem Scorpius Malfoy deve saber disso.

- Será? – falei um pouquinho alto.

- Não, ele não sabe. Ele nunca saberia o segredo de um charme como o meu. – ajeitou o palito.

- Então caímos de volta na hipótese de que ele enfeitiçou a Rose. – falei sugestivo para implicar com os dois.

- E falando nisso, fique de olho na sua irmãzinha.

- Eu estou de olho. Pode deixar. – pisquei. – O tempo inteiro.

- É assim que se fala.

- Agora tenho que ir. – falei tentando me livrar dele. – Tenho que resolver essas coisas. Você sabe, não é pai?

- Sei sim. – piscou. – Mas... – ele se aproximou do meu ouvido e sussurrou – Não vai me contar quem é?

- Desculpe, agora não posso. Não sei se estou pronto. Preciso ter certeza de umas coisas antes. – falei baixinho.

- Eu te entendo. – ele disse me surpreendendo. Achei que ele insistiria assim como Rose. – Só não desista dela. Vá até onde precisar. – ele se levantou e beijou minha cabeça.

- Obrigado pai. – falei vendo-o se afastar.

Ele acenou para mim e saiu assobiando.

- Precisou que voltássemos no tempo para você ter essa conversa com papai? – Rose me olhou de braços cruzados e ergueu as sobrancelhas.

- Não enche Rose. – me levantei. – É melhor irmos. Temos uma encomenda para entregar.

****

- Dá pra explicar o que você vai fazer? – Scorpius sussurrou enquanto nos abaixávamos atrás de uma lixeira em um beco de Hogsmead.

- Certo. Vou contar. – suspirei. – É o seguinte. – abri a caixa e mostrei a ele. – Esses doces estão repletos de vomitilias. É a nova fórmula do Tio George e ainda estão em fase de testes. Vou mandar eles para o Darwin.

- Hugo... Foi você quem fez isso com ele? – Rose me olhou horrorizada. – A Lily ficou péssima, sabia? Você estragou o baile dela...

- Não, Rose. Não. – balancei a cabeça sem conseguir segurar o sorriso.

- Por que está sorrindo? Isso não é nada legal sabia. Tudo bem que você queria ir com ela, mas daí estragar o baile dos dois. É claro que os meninos não ligam tanto quanto nós... Mas a Lily vai ficar bastante chateada se o Darwin não for.

- Mas ele apareceu no baile. – Scorpius disse.

- Que bom! – ela suspirou. – Eu já estava preocupada que outra garota da nossa família não conseguisse ter um baile no mínimo legal. Então o Boris conseguiu curá-lo não é? Mesmo com as vomitilias.

Sorri para ela.

- O que você aprontou? – ela me olhou desconfiada.

- Digamos que a Kiera não foi a única a brincar com a poção polissuco. – falei sugestivamente.

- Você não fez isso... Hugo...

- Olha lá. – a interrompi olhando para a rua. O Hugo do passado andava em direção a Casa de Chá de Madame Puddifoot – Eu vou entrar no Casa de Chá. Toma Scorpius. – empurrei a caixa para ele. – Vai até lá e diz pra mim que eu preciso entregar os doces pro Darwin. Diz que foi o Callun quem mandou.

- Mas eu? E se me virem? – ele franziu a testa.

- Vai logo. Você já fez isso antes.

- Nós devemos estar saindo da loja a essa hora Scorpius. Fomos ao Três Vassouras. Fica do outro lado. Não tem perigo. – Rose o incentivou.

- Ok. – ele suspirou e se levantou indo em direção ao Hugo do passado.

Eu e Rose ficamos observando de trás da lixeira.

- Hugo! – ouvimos Scorpius gritar.

Ele entregou o pacote ao Hugo do passado, que fez algumas objeções, mas no fim aceitou. Scorpius voltou correndo para a direção da onde estávamos e fingiu ir para o outro lado. Vimos o meu eu do passo entrar na Casa de Chá e depois Scorpius voltou para perto de nós.

- Pronto. – falou. – Tudo certo.

- E agora? – Rose perguntou. – O que fazemos?

- Bem... Acho que o nosso trabalho aqui acabou. Agora tudo o que teremos de fazer será dentro do castelo.

- Mas o que aconteceu depois? – Rose insistiu. – Quer dizer... Com vocês.

- Ah, você não vai querer ver. É pessoal demais. – falei sentindo as bochechas corarem.

Scorpius e Rose se entreolharam.

- Ah, nem temos nada de muito importante pra fazer. – Scorpius implicou – Temos tempo de sobra. – riu.

- Não! Vocês não tem que ver isso! Vamos embora.

- Não, nós vamos ficar aqui. Vai ser legal. – Rose concordou com ele. – Cinema para que? – riu.

Cruzei os braços e desviei o olhar deles, que iniciaram uma conversa entre sussurros.

Eu não queria que eles vissem o que ia acontecer. Era uma coisa muito especial. Um momento meu e da Lily. Não queria dividir com mais ninguém. Mas seria bem legal se apenas eu assistisse.

- Vocês estão vindo... – Rose cantarolou atrás de mim.

 Me inclinei por trás da lixeira para enxergar melhor.

 - Está bem, Hugo. Pode até ser. – a voz de lIly chegou aos nossos ouvidos. Ela enfiou as mãos no bolso do casaco com força – Mas quem me garante que você só aceitou vir aqui para implicar comigo e com o Darwin.

- Eu não impliquei com vocês! – o meu eu do passado se defendeu. – Na verdade foi você quem ficou o tempo todo na defensiva.

- Eu não estou na defensiva! – Lily apontou o dedo na minha cara.

- É melhor tomar cuidado... – Scorpius riu.

Olhei feio para ele.

Vi toda a discussão que tivemos se repetir a minha frente. E naquele momento percebi o quanto éramos idiotas e o quanto estava na cara que eu gostava dela.

- Hugo, escute: Você não tem motivos pra ter ciúmes do Darwin....

- Tenho Lily. Tenho sim.

- Não! Não tem, porque eu...

- Hugo! – Louise havia chegado.

- Com todo mundo é assim? Achei que era só conosco. – Scorpius falou pensativo.

- O que? – disse confuso.

- Alguém que sempre atrapalha, ele quis dizer. – Rose explicou sem tirar os olhos da cena que assistíamos. – Ela gosta de você. – falou como se concluísse. – E está com ciúmes da Louise.

- Como sabe disso? – falei sentindo minhas bochechas corarem.

- Ela fez a mesma expressão que você faz quando a vê com o Darwin.

- Mesmo?

Rose assentiu.

Observamos Lily sair batendo os pés indo em direção a rua principal.

- Acho que agora não temos mais nada a resolver aqui. – Scorpius falou.

Mas eu só conseguia pensar no que minha irmã havia dito: Ela gosta de você.

 

Si alguna vez me cruzas por la calle

Regálame tu beso y no te aflijas

Si ves que estoy pensando en otra cosa

No es nada malo, es que pasó una brisa

La brisa de la muerte enamorada

Que ronda como un ángel asesino

Mas no te asustes siempre se me pasa

Es solo la intuición de mi destino

***

 

Me gusta estar a un lado del camino

Fumando el humo mientras todo pasa

Me gusta regresarme del olvido

Para acordarme en sueños de mi casa

Del chico que jugaba a la pelota

Del 49585

Nadie nos prometió un jardín de rosas

Hablamos del peligro de estar vivo

 

SCORPIUS

- Grande dia hein? – apertei Rose contra mim. – O que está achando dessa viagem temporal?

- Bem, levando em consideração que estamos juntos, está tudo ótimo. Mas eu confesso que não vejo a hora de apertar o pescoço da Kiera. – sorriu parecendo realmente interessada em se vingar.

Estávamos sentados no meio de algumas árvores observando a nós mesmo brincando de guerra de bolas de neve.

- O que você vai fazer com ela? – Hugo perguntou depois de um tempo em silêncio.

- Estou pensando em algo. Precisa ser cruel. Alguma sugestão?

- Amarramos ela pelos pulsos e a arrastamos até a floresta proibida, então damos de comer aos lobisomens. – Hugo sugeriu.

- Eles ficariam com indigestão. – Rose falou irônica.

- Scorpius? – Hugo olhou para mim.

- Eu acho que – olhei para Rose – é você quem deve decidir.

Ela ficou pensativa. Por um momento achei que ela desistiria e viria com um discurso de que não se deve fazer mal a ninguém. Mas ela realmente me surpreendeu com a resposta.

- Eu quero que ela pague por toda maldade que fez comigo. Quero que as pessoas riam dela e vejam quem ela realmente é. – ela disse e eu pude perceber o rancor em sua voz.

E não era para menos.

- Humilhação em publico? – Hugo levantou a sobrancelha. – Melhor vingança. – sorriu.

Olhei para os dois.

- Tem certeza que o Alvo foi o primeiro da família de vocês a ir para a Sonserina.

- Pelo que se sabe... – Hugo deu ombros.

Ficamos em silencio novamente observando a Rose e o Scorpius do passado caírem rindo na neve.

- Até ali eu achava que estava tudo perfeito. – Rose sussurrou.

- E vai ficar. – beijei sua bochecha. – Foi para isso que viemos até aqui. E nada vai nos impedir. Nada, nem ninguém.

***

Seguimos nossos eus do passado até a Gemialidades Weasley até que entrássemos no prédio.

- A Kiera deve aparecer em qualquer momento. – Hugo disse. – Ou será que ela está dentro da loja?

- Não. Eu me lembro de ter visto o Kennedy em Hogsmead quando saí daqui. – falei. – Eles devem aparecer a qualquer momento.

Esperamos por mais alguns minutos e logo eles apareceram. Kiera e Kennedy. Como dois comparsas.

- Lá estão eles. – Rose olhou para os dois com raiva. – Vamos até lá... – ela fez menção de ir até lá, mas eu segurei o braço dela.

- Não Rose. – falei.

- Scorpius, eu posso impedir que eles me apaguem! – ela tentou argumentar.

- Não é a hora ainda. Você ouviu o que o Alvo, a Sophie e os seus pais disseram: Nós dançamos. O que a Kiera fizer agora não vai nos impedir de ter um ótimo baile. Porque já aconteceu. E temos um plano. Sabemos o que fazer. Além disso, se você for até lá desafiá-los vai chamar muita atenção. Se o seu eu do passado vier até aqui vai achar que ficou louca.

Ela suspirou e passou as mãos pelo rosto.

- Tudo bem. Você está mais do que certo. – suspirou – O que fazemos então?

- Já podemos ir para Hogwarts. Temos que preparar tudo. – falei decidido.

- Então vamos. – Hugo assentiu.

E nós deixamos Hogsmead para trás.

***

A primeira parte do plano envolvia um roubo.

- Não chega ser um roubo. – Hugo argumentou. – Só vamos pegar emprestado, não é? Podemos fazer mais depois. É temporário.

Estávamos na sala de poções do professor Horácio tentando surrupiar um pouco de poção polissuco.

- Acho que é o suficiente para duas horas. – Rose disse olhando para o frasco que trazia nas mãos.

- Tem certeza? – Hugo olhou apreensivo para ela. – Eu não posso me transformar no meio do Salão Principal.

- Tenho. Quer dizer, acho que tenho. – ela disse. – De qualquer jeito, segura isso aqui Hugo.

Hugo suspirou, mas aceitou o frasco.

- Agora você tem que pegar...

- Um pedaço do Darwin. – ele completou sem nenhum ânimo.

- Dizem que tem gosto de xixi de duende. – informei a ele.

- Argh! – Hugo olhou para o frasquinho nas próprias mãos com nojo. – Xixi de Darwin.

- Vamos logo! – os aprecei. – Antes que alguém apareça e nos pegue aqui em baixo.

Saímos pelo corredor das masmorras em direção a Ala Hospitalar.

- Vai você, Rose! Vai lá e arranca o cabelo dele, ok? – Hugo falou enquanto nos aproximávamos das portas de carvalho.

- Por que eu? – ela indagou.

- Ah, se alguém perguntar você pode dizer que veio ver o amigo da sua prima.

- Você poderia dizer a mesma coisa.

- Pode ir ou não? – ela disse irritado.

- Está bem, eu vou. – ela revirou os olhos.

Abriu a porta e entrou na enfermaria devagar. Ficamos esperando ao lado de fora.

- Caramba! – Hugo olhou para mim e levou as mãos à cabeça.

- O que foi agora?

- Ainda estamos de traje a rigor. Não posso aparecer no baile, quer dizer, o Darwin não pode aparecer no baile com a mesma roupa que o Hugo.

- E o meu traje a rigor está todo sujo. – olhei para mim mesmo. – Espero que um feitiço de reparo dê jeito.

- Acha que podemos mudar algo no meu. Pelo menos para a minha mãe não perceber. Ela me mataria se soubesse que eu tomei poção polissuco para ficar no lugar de outra pessoa.

- Alguns feitiços de transfiguração podem dar um jeito. Rose é ótima nisso. – falei. – Relaxa.

- Ufa... – ele suspirou aliviado.

Ouvimos um barulho e a porta se abriu devagar. Rose saiu da ala hospital com um sorriso no rosto.

- Conseguiu? – Hugo indagou.

- Sim. – ela entregou a ele um frasquinho com uma mecha loira dentro. - Foi fácil. – informou.

- Perfeito. – sorri. – Primeira fase, completa.

***

Decidimos esperar na sala precisa até a hora do baile. E aproveitamos para repassar o plano.

- Não se esqueça, Hugo. – Rose disse enquanto tocava as vestes do irmão com a varinha fazendo a gravata preta mudar para carmim. – Assim que sairmos dê um jeito de sair da pista de dança também. Você vai ter alguns minutos para se despedir da Lily, depois deve falar com o Hugo do passado e ir o mais rápido possível para os jardins encontrar conosco.

- Certo. – ele assentiu.

- Acho que está bom. – Rose se afastou e o observou de longe.

- Acho que não parecem as mesmas vestes. – falou olhando para o colete roxo.

- Com certeza não. – Rose concordou.

- E as suas Scor? – ela se virou para mim.

- Dei um jeito com o reparo e usei um feitiço aspirador para tirar a lama da calça. – informei. – Acho que estão boas para uso. – mostrei a palitó.

- Ótimo. – ela sorriu. – Eu só tenho que conseguir o meu vestido de volta agora.

- E você vai. Pode acreditar. – a abracei.

***

No vine a divertir a tu familia

Mientras el mundo se cae a pedazos

Me gusta estar al lado del camino

Me gusta sentirte a mi lado

ROSE

Hugo havia acabado de sair para se encontrar com Lily, agora com a aparência de Darwin. Ele quase vomitara ao tomar a poção polissuco, mas a possibilidade de estar com Lily no baile era animadora demais e passava por cima de qualquer coisa com gosto de xixi de duende.

Seguimos atrás dele até o segundo andar e nos escondemos atrás de algumas armaduras e estátuas.

- Acho melhor irmos para o banheiro. – Scorpius disse. – A Kiera não se demorou muito lá embaixo. Ela viu a Violet passando e logo foi atrás dela. – informou.

- Tudo bem. – assenti.

Fomos para o banheiro feminino, mas Scorpius parou na porta.

- Que foi?

- Não vou entrar. E se houver alguma garota? Não quero desrespeitar ninguém. – ele ajeitou a gravata de uma maneira charmosa.  À propósito, ele ficava ótimo naquele traje a rigor.

- O baile acabou de começar. – falei. – As garotas não vão vir aqui tão cedo. Só a Kiera mesmo e é porque ela está tramando.

- Certo, mas dê uma olhada por garantia.

Revirei os olhos e entrei no banheiro.

Verifiquei os boxes, mas, como eu havia dito, estava tudo vazio.

- Vazio. – informei da porta. – Entra logo.

Ele veio atrás de mim e nós entramos.

- Quando elas entrarem...- ele começou a dizer, mas eu o interrompi.

- Pegamos elas. Eu sei. Agora entra aí. – o empurrei para dentro do box.

- Cuidado Rose, essa garota é uma víbora.

- Eu sei. – assenti. – Mas vou acabar com ela mesmo assim.

- Já te falei que amo quando você está irritada. – ele me roubou um beijo rápido e sorriu. Fechei a porta do box em seguida e fui me esconder no box ao lado.

Subi em cima da privada para que meus pés não ficassem a mostra e esperei.

Confesso que meu coração acelerou um pouquinho quando ouvi minha própria voz ao lado de fora.

- Então deu tudo certo! –  a voz de Violet exclamou animada.

- Certíssimo. – uma voz, que se parecia muito com a minha, falou.

- Ah, e ele nem desconfiou? – Violet vibrou.

- Nem um pouco. Só perguntou sobre o anel estúpido deles, mas eu falei que havia esquecido. Ele pareceu ficar um pouco chateado, mas não disse mais nada.

- Mas o que importa é que vocês vão poder dançar...

- Tem certeza disso? – abri a porta e encarei as duas.

Naquele momento eu não sabia qual delas estava mais pálida: Violet ou a criatura apossada da minha imagem.

- Surpresa ao me ver? – perguntei.

- O que você... Você não estava... Argh! Aquela poção do morto vivo não funcionou! – ela bateu o pé.

- Não queridinha, funcionou muito bem. Nesse aspecto você não foi tão idiota. Mas... – eu ri – chegou mesmo a acreditar que o meu namorado não me conheceria?

Kiera bufou.

- É claro que não conheceu. Ele está lá embaixo e nem desconfiou...

- Você acha? – Scorpius apareceu e ela ficou mais pálida ainda. – Você nunca vai conseguir tomar o lugar dela. – falou extremamente sério. – Pare de se humilhar, você está fazendo o papel do ridículo... Eu não já deixei bem claro que não quero nada com você?

- Claro que você deixou, amor. – falei parando ao lado dele. – Mas há pessoas – me aproximei dela – que são idiotas demais para entender.

Kiera fez um movimento para sacar a varinha, mas eu já estava preparada.

- Expelliarmus! – a desarmei.

- Sua ruiva nojen...

- Incarcerous! – lancei o feitiço contra ela. Cordas saíram da ponta da varinha e prenderam o corpo de Kiera. Ela se debateu e estava prestes a gritar, mas lhe lancei o feitiço da língua presa. Kiera, ao ver que estava impossibilitada de falar, arregalou os olhos e começou a se debater mais ainda.

Senti meu coração bater rapidamente. Minha vontade naquele momento era usar a Maldição Cruciatus nela. Meu peito subia e descia, cheguei a apontar a varinha em direção a sua cabeça.

- Não. – Scorpius colocou a mão em meu ombro e falou próximo ao meu ouvido. – Vamos levá-la lá para cima. E seguir com o plano. Fica calma, ok?

Respirei fundo e assenti. Tínhamos que seguir o plano. Mesmo que eu quisesse a vingança eu não poderia me precipitar. Havia ficado tão nervosa que havia me esquecido completamente de Violet. Por sorte me virei para ela no momento em que estava prestes pegar a varinha para me lançar um feitiço. Revidei imediatamente lançando-lhe um Expeliarmus.

- Você não pode fazer isso! – Violet protestou.

- E vocês podem? – indaguei - Aposto que estava com a Kiera nesse plano todo, não é?

- Eu... Nós... Eu não fiz nada! – choramingou.

Scorpius revirou os olhos.

- Vamos ter que dar um jeito nela também. – falou.

Kiera soltou um ruído abafado, como um protesto.

- O que vocês vão fazer conosco?

- Nada muito pior do que vocês fizeram. – Scorpius apontou a varinha para ela. – Estuperfaça.

Violet deslizou inconsciente da parede em que estava encostada para o chão.

- Vou colocá-la no armário de vassouras aqui do lado. – Scorpius informou enquanto começava a arrastas uma Violet inconsciente pelos pulsos. – Aquele frasco de poção do sono está no meu bolso. Vai ser útil.

Ele desapareceu com Violet e eu me voltei para Kiera.

- Parece que o jogo virou, não foi? – ela me olhou com raiva. – Nunca vai conseguir o que quer Kiera. O Scorpius me ama. Cada coisa dessas que você fez comigo só serviu para descontar os poucos pontos que você tinha com ele. E, parabéns, você acabou de zerar o placar. De agora em diante você vai aprender a nunca mais mexer comigo ou com o meu namorado. – falei firmemente.

Scorpius voltou ao banheiro.

- Vamos. – falamos. – Temos que ir agora.

Assenti.

Ele apontou a varinha para Kiera e disse:

- Mobilicorpus! – o corpo dela começou a levitar e ele a conduziu com a varinha. – Vai na frente e vê se há alguém vindo.

Verifiquei o corredor, que estava vazio, e fiz sinal para que ele me seguisse. Tivemos que usar um caminho um pouco mais longo passando por algumas passagens secretas e corredores internos, pois tinha mais chance de estarem vazios. Tivemos que parar algumas vezes porque um aluno ou outro passou por nós, mas conseguimos chegar ao sétimo andar sem sermos vistos.

- Vamos deixá-la na sala mais distante. – Scorpius disse. Subimos as escadas correndo e entramos em uma sala abarrotada de cadeiras velhas. Colocamos Kiera no chão. – Vamos pegar o vestido.

- Vamos ter que tirar as cordas para poder tirar.

- Mais poção do sono então. – ele disse.

- Não. – falei decidida. – Seria fácil demais. Ela nem iria sofrer. – ergui a varinha e Kiera me olhou de testa franzida como se duvidasse que eu pudesse fazer aquilo. Mas, pelo que pareceu ser surpresa da parte dela, eu criei coragem e estuporei. – Estuperfaça. – o jato de luz vermelha fez com que Kiera ficasse inconsciente e seu corpo tombou para o lado. – Relaxo. – as cordas se soltaram. – Me ajude a tirar o vestido dela. – falei.

- Ham... – ele coçou a cabeça. – Ela vai ficar  apenas com as roupas íntimas?

- Tem uma espécie de vestido de setim por baixo para que o vestido fique mais confortável no corpo. – expliquei.

- Ah, certo. – ele assentiu e começou a me ajudar.

Tiramos o vestido dela e a deixamos em um canto. Scorpius insistiu que déssemos a poção do morto vivo para garantir que ela não nos incomodasse durante o baile. Então nós demos a poção a ela.

- Dê bastante. – falei. – Para garantir que ela perca a hora amanhã e tenha que passar o natal aqui.

- Você está me saindo uma ótima estrategista. – falou quando terminou de dar a poção a ela.

- Agora vamos. – ele pegou minha mão enquanto segurava meus sapatos em outra e eu ajeitei o vestido nos braços. – Você precisa se arrumar.

Corremos de volta ao corredor principal e fomos em direção a sala precisa. Mas no meio do caminho ouvimos alguns passos e vozes infantis. Nos escondemos atrás da parede para que não nos vissem.

- Acho que são alunos do primeiro ano. Fora da cama, provavelmente. – Scorpius disse aos sussurros.

- Deixa eu ver. – falei. Me virei lentamente tentando espiar o corredor ao lado sem ser vista.

Havia um grupo de quatro garotos bem pequenos. Reconheci todos como sendo primeiranistas da Grifinória. Entre eles estava o primo de Scorpius, Linus.

- O Linus está ali. – informei a ele.

- O Linus? Ei, espera... – ele pareceu lembrar-se de algo. – Foi ele, Rose. Ele quem me deu o bilhete.

- O que dizia que eu estava no porão? – perguntei.

- Sim. – ele assentiu. – Você deve ter pedido a ele que me desse o bilhete. Você precisa ir até lá.

- Tudo bem. – assenti. – Segura aqui. – dei o vestido a ele e fui para o corredor onde as crianças estavam. – Olá meninos. – falei. Eles se sobressaltaram ao me ver.

- Rose! – Linus olhou para mim assustado. - O que está fazendo aqui?

- Eu é que pergunto. Vocês não deveriam estar na cama? – eles trocaram olhares desconfiados, mas não me responderam. – Bem, eu não vou contar nada a McGongall, mas precisam que me façam um favor.

- Que favor? – Linus perguntou me olhando desconfiado.

- Leve um bilhete para o Scorpius. – falei.

- Fácil demais. É só isso?

- Sim. Eu só preciso que você me arranje papel e uma pena.

- Tenho uma pena e um bloco de bolso aqui. – um dos meninos se pronunciou.

- O Matt quer ser jornalista. – Linus explicou. – Anda sempre com isso.

- Obrigada. – falei pegando o bloquinho e a pena. Rabisquei um bilhete simples e assinei. – Scorpius vai estar no corredor do segundo andar. Próximo aos banheiros. Vá depressa. Ele precisa receber isso o quanto antes. É muito importante, Linus. – expliquei entregando o bilhete.

- Sim, Rose. Nós vamos entregar.

- Obrigada. E pode deixar que eu não vou dizer nada a ninguém.

- Valeu. – ele piscou para mim e cutucou os colegas em seguida. – Vamos lá. – eles puseram-se a correr e eu os observei desaparecerem no corredor.

Scorpius saiu de seu esconderijo e veio até mim.

- Excelente. Agora precisamos ir. – falou e eu concordei com a cabeça.

Começamos a andar bem rápido em direção à sala precisa, mas parei de repente quando passamos por uma armadura bem polida que meu permitiu ver meu reflexo.

- O meu cabelo está horrível. – falei olhando para imagem refletida no metal– Não acredito! Passamos por tudo isso para eu ser derrubada por um penteador ruim!

- Rose... – ele começou.

- Não venha dizer que eu estou ótima porque eu não estou. – o interrompi.

Ele simplesmente abaixou a cabeça, o que mostrava que eu estava certa.

Mas então, como que uma resposta vinda dos céus, surgiu, sabe-se da onde, Victoire.

- Rose! Scorpius! Ah, Merlin! Achei os dois Teddy! – gritou por cima do ombro.

Teddy veio correndo até ela e os dois vieram ao nosso encontro. Os cabelos de Teddy assumindo um tom avermelhado.

- Onde vocês estavam! Está todo mundo procurando vo...

- O que houve com o seu cabelo Rose Weasley! – ela me olhou parecendo escandalizada. – Por que está sem vestido? E por que os dois estão aqui em cima quando deveriam estar no baile?

- Olha, Vic são muitas perguntas e nós não podemos responder todos. Será que você apenas pode me ajudar? – olhei para ela em busca de ajuda. – Veja como estou! Preciso me arrumar!

Victoire suspirou.

- É claro, Rose. Seja lá o que for que tenha acontecido, vocês não podem perder o baile. –pegou minha mão e arrancou os sapatos das mãos de Scorpius. – Venha. – e me puxou para dentro de um dos banheiros.

Em um dos boxes lutei para, dentro daquele espaço super apertado, conseguir colocar o vestido. Mas no fim tive sucesso.

Quando saí, Victoire estava com um verdadeiro acervo de produtos de beleza sobre a pia.

- De onde veio tudo isso.

- Feitiço indetectável de extensão. – ela mostrou uma bolsa de festa. – Uma mulher precisa estar armada. – piscou. – Agora venha até aqui.

Ela fez uma maquiagem realmente incrível em muito pouco tempo. Victoire tinha um verdadeiro dom quando o assuntou era moda. Ela fez um penteado simples, mas ao mesmo tempo elegante. Calcei os sapatos enquanto ela espirrava uma lufada de perfume em mim.

- Não sei como você conseguiu sair de uma produção de uma tarde inteira em cinco minutos. – suspirou. – Mas acho que isso dá para o gasto. – sorriu satisfeita olhando para mim. – Apenas vá até lá arrase.

- Obrigada, Vic. – eu a abracei. – Prometo que depois conto tudo.

- Eu realmente vou querer ouvir.

Saí do banheiro e encontrei Scorpius conversando com Teddy. Ele, literalmente, me olhou de boca aberta ao me ver.

- Uau... – suspirou.

- Agora sim. – sorri.

- Te vendo assim... – ele sorriu – eu tenho que admitir. Você não estava tão apresentável e nem tão linda como agora.

- Graças a Victoire. – sorri para minha prima que vinha saindo do banheiro.

- É, eu sei. Eu sou boa. – deu de ombros e piscou. – Agora acho melhor vocês irem, senão a McGonagall vai dar um ataque.

- Ah, isso seria terrível. – Scorpius disse. – Vamos? – estendeu o braço para mim e eu aceitei.

- Vocês não vem? – me virei para Teddy e Victoire.

Teddy ia abrir a boca para dizer algo, mas Victoire respondeu primeiro.

- Vamos daqui a pouco. – piscou. – Precisamos fazer algo antes.

- Precisamos? – ele olhou para a esposa com uma expressão confusa.

Victoire assentiu e Teddy apenas sorriu.

Nos despedimos dos dois e finalmente seguimos nosso caminho para o baile.

- Enfim. – Scorpius suspirou após virarmos um corredor que dava acesso a grande escadaria.

- Enfim. – suspirei também.

- Eu já disse que você está linda? – levantou uma sobrancelha.

- Acho que você apenas supôs. – pisquei.

- Pois então, você está linda. – sorriu. – E deslumbrante. E magnífica. E fantástica. E...

Parei de repente e o surpreendi com um beijo.

- Entendi. – sorri para ele. – E você também está tudo isso e mais um pouco.

- Eu te amo, sabia? – me olhou com ternura.

- Eu desconfiei. Tem que ser muito louco para viajar no tempo só para eu ter um baile legal. – ri.

- Para nós termos um baile legal. Mais que legal. – estendeu o braço para mim. – É melhor nos apressarmos, para que não desistam de nos deixarem dançar.

- E a McGonagall surte.

- O que seria terrível. – ele completou com um sorriso.

Terminamos de descer as escadas e quando nos aproximávamos do Salão Principal me lembrei de um detalhe muito importante.

- O Klaus te disse? – sussurrei em seu ouvido

- O que? – ele me olhou preocupado

- As roupas, Scorpius. Sobre as roupas.

- Ah, sim.  – ele pareceu lembrar-se – Ele me explicou tudo. Pode deixar, eu darei o sinal. – piscou.

- Excelente. – pisquei de volta.

Nos aproximávamos do térreo. Eu já podia ver as pessoas próximas as grandes portas de carvalho do Salão Principal. Ajeitei meu vestido com medo de que ele houvesse sido danificado de alguma maneira por Kiera.

- Meu vestido está bom? – sussurrei rapidamente para ele.

- Está brincando? Está incrível. – sorriu.

- Não... Quer dizer. Será que ele não rasgou ou ficou muito amassado quando tiramos da... você sabe.

- Não Rose, está perfeito. Esqueça ela. É o nosso momento e vai dar tudo certo. – Ele beijou minha testa. – Pronta? – perguntou parando no último lance de escadas.

Suspirei olhando para as pessoas lá em baixo.

- Pronta.

Algumas pessoas se viraram em nossa direção. Senti Scorpius soltar da minha mão e ajeitar a gravata pela última vez. Mas suas mãos logo voltaram às minhas e levaram meus dados aos seus lábios. As pessoas olhavam para nós e exclamavam alguns Oh! num tom surpreso. E eu até poderia jurar que vi um flash. O lugar estava cheio de jornalistas e nós havíamos acabado de nos tornar o centro das atenções.

Vi Hugo, o do passado, parado com Louise a um canto e sorri para eles.

McGonagall logo veio ao nosso encontro.

- Sr. Malfoy, Srta. Weasley! Ate que enfim. – ela exclamou nos ver. – Vamos, vamos! Em formação. O baile vai começar.

- Certo diretora. – Scorpius assentiu.

- Onde é que vocês estavam? Por que demoraram tanto? – perguntou irritada.

- Tivemos alguns problemas pessoais. – Scorpius explicou.

- Tudo bem. Depois conversamos. Agora vão logo. Todos já esperamos tempo demais por vocês.

Ela mandou que alguns alunos que ainda estavam no hall de entrada se dirigissem ao interior do Salão Principal, pois o baile daria início. Scorpius e eu nos posicionamos próximos aos outros campeões. Margot Chanteloube e Aldo Rouveron estavam juntos. Ele dirigiram um olhar curioso a nós, mas depois começaram a cochichar entre si. Lyuben Petrovich estava com a monitora da sonserina que era do nosso ano, Harriet White. Havia rondando um boato que eles estivessem juntos nos últimos dias no Salão Comunal, mas até então não se sabia se era verdade, pois com a eminência do baile muitos comentários, a maior parte deles, palpites, foram espalhados numa tentativa de adivinhar qual seria o par de cada aluno. Aquele comentário, pelo menos, era real.

Nos posicionamos em fila atrás dos campeões de Beauxbatons e Durmstrang, respectivamente. Ouvimos os primeiros acordes de uma música começar a tocar e eu apertei o braço de Scorpius, nervosa.

- É agora. – suspirei.

- Está nervosa? – ele perguntou.

As portas de carvalho se abriram e o primeiro casal começou a caminhar, logo teríamos que acompanhá-los.

- Talvez... Um pouco... Quem sabe.

- Não se preocupe. – ele beijou minha testa. – Eu vou estar do seu lado.

Scorpius começou a andar me levando com ele. Se ele não houvesse me puxado eu acho não moveria um músculo. Ele caminhou com confiança, assumindo uma postura decidida como se já fosse o vitorioso do Torneio Tribruxo. A cabeça sempre levantada e um sorriso orgulhoso nos lábios. Resolvi que seria melhor se eu o acompanhasse com a mesma postura, aquilo transmitiria mais confiança aos outros e a mim mesma.

Todos olhavam para nós. Uns apontavam, outros cochichavam, outros pareciam encantados com meu vestido, mas todos olhavam para nós. Nos posicionamos no centro do que parecia ser uma enorme pista de dança feita de gelo. Achei que os meus sapatos escorregariam, mas o chão parecia ter sido enfeitiçado, pois era bem firme e não derrapava.

A pequena marcha que anunciou nossa entrada parou. Houve alguns segundos de silêncio e o maestro bateu a pequena baqueta três vezes e som alastrou-se por todo o Salão. Scorpius posicionou uma mão em minha cintura e a mão livre buscou a minha levando-a ao alto.

Quando longos e lentos acordes começaram a tocar Scorpius se moveu para o lado me conduzindo. Seus pés pareciam saber exatamente o que fazer. Ele provavelmente já fizera aquilo muitas vezes. Tentei me concentrar em não pisar nos meus próprios pés, mas Scorpius sorria para mim com tanta alegria que ficou bem difícil.

Os olhos dele encontravam os meus e me prendiam de uma maneira que parecíamos estar ligados por uma corrente que era regida por uma força maior. Giramos e dançamos, dando passos para lá e para cá. Os professores começavam a se juntar a nós na pista de dança, funcionários do ministério, entre eles meus pais e meus tios, e em seguida os alunos. Mas eu não prestava atenção neles. Scorpius prendia toda a minha concentração.

- Está pronta? – ele perguntou durando um giro.

Assenti levemente.

Levei meus dedos à nuca dele e pressionando-os levemente sobre o tecido do colarinho. Senti uma pequena esfera, tal como Klaus havia dito. Ao mesmo tempo senti os dedos de Scorpius deslizarem para a base da minha coluna.

- Em três... – ele falou bem baixinho. – Dois. – ele se preparou para me girar. – Um... Agora!

Apertei a pequena esfera com força e senti-a se romper. Meus dedos começaram a formigar e foram invadidos por uma sensação gelada, porém suportável. Parecia que as roupas de Scorpius emanavam frio. Só então me dei conta de que a mesma sensação se espalhava pelas minhas costas. Apenas a expressão de Scorpius fez com que eu me desse conta do que estava acontecendo.

Ele continuava dançando e sorria maravilhado para mim. Senti os olhares de todos sendo dirigidos a nós. Se eles tinham motivos para olhar antes, agora eles haviam triplicado.

A sensação gelada que eu sentia não era coisa da minha cabeça. As nossas roupas estavam literalmente congelando. As nossas vestes pareciam estar sendo cobertas por uma fina camada de gelo que se alastrava rapidamente pelo tecido, passando-o de negras como obsidiana para brancas como a neve.

Giramos uma última vez e a transformação se completou. Apenas quando a música parou e eu vi que Scorpius olhava para mim foi que me dei conta de que eu mesma estava estupefata. Nada poderia expressar a minha felicidade naquele momento. O caminho que havíamos percorrido até ali, a viajem no tempo, tudo havia valido a pena. E faria tudo de novo por uma dança como aquela.

E o olhar de Scorpius para mim fazia tudo valer mais a pena. E quando ele me beijou, céus, eu me senti nas nuvens. Todo o que eu sentia por ele, a minha felicidade e o meu contentamento com tudo que estava acontecendo naquele baile parecia fluir através daquele beijo.

Ouvi um som começar a crescer ao nosso redor. Depois de um tempo percebi que eram palmas. Eu e Scorpius nos separamos e sorrimos um para o outro, senti minhas bochechas corarem levemente. Ele pôs a mão em minha cintura e me manteve perto.

Outra música começou a tocar e os alunos continuaram dançando. Scorpius começou a me puxar para um canto mais afastado, mas foi um pouco difícil. Muitas pessoas nos pararam, a maioria professores e gente do ministério que estava envolvida no Torneio Tribruxo, todos dizendo que foi uma magia realmente belíssima e que nós formávamos um belo casal. Na maioria das vezes apenas agradecíamos sem prolongar a conversa, afinal, nosso tempo era curto e a ideia principal era que aproveitássemos um ao outro.

- Isso foi realmente.... incrível! – Scorpius exclamou quando enfim conseguimos ficar a sós. – Foi perfeito! E você estava... – ele levou as mãos a cabeça – Uau!

- Sim! – eu o abracei com força. – O Klaus realmente é incrível. Ele disse que as roupas tinham algo especial, mas não me contou o que era. Pra mim foi realmente surpreendente.

- Bem, temos que aproveitar esse baile. O que acha de mais uma dança? – ele estendeu a mão para mim.

- Eu ia adorar. – sorri.

Não fomos muito para o centro da pista de dança para não chamar tanta atenção, dançamos em um canto mais afastado, nos permitindo desfrutar apenas da companhia um do outro.

Uma música lenta tocava. Dançamos bem juntinhos enquanto conversávamos.

- Você imaginou que um dia estaria aqui? Comigo? – ele perguntou de repente no meio da dança.

Eu estava com o rosto apoiado no peito dele. Levantei a cabeça para responder.

- Não. Nunca passou pela minha cabeça. – sorri.

- Eu estava pensando. – ele disse. – Quando eu iria imaginar estar aqui com você? Eu te odiava! – riu.

- Mesmo? – perguntei fingindo estar magoada.

- Não, não. Talvez odiar seja uma palavra muito forte. – falou rapidamente. – Você era apenas uma irritante sabe-tudo para mim.

- E você era um loirinho nojento, metido e com “cara de doninha”, segundo meu pai. – contei.

- Que bom que os nossos conceitos mudaram. – ele riu.

- E agora? – levantei uma sobrancelha. – O que você acha de mim?

- Você ainda é uma sabe-tudo. Mas não tem nada de irritante. Pelo contrário... –aproximou o rosto do meu. - Acho que não sei mais viver sem você.  – ele sussurrou ao meu ouvido.

- Isso quer dizer que está valendo a pena. – acariciei seu cabelo.

- Muito. – ele disse.

- E o caminho todo que nós percorremos... Tudo o que fizemos para chegar até aqui... Foi duro... – suspirei.

- Ah, se foi... – ele riu.

- Sim. – sorri. – Mas, eu faria tudo de novo, já disse. Estar ao seu lado agora... Estar vivendo isso aqui... – olhei ao redor. – Só me faz perceber que eu amei percorrer esse caminho com você. E que também não te quero longe da minha vida.

- E eu não vou ficar longe. Acredite. – ele olhou nos meus olhos. O cinza brilhava intensamente. Quase que prateado. – Isso não está nos meus planos. A ideia é ficar cada vez mais perto.

Ele me beijou.

Aquele momento não poderia estar melhor.

***

Me gusta estar al lado del camino

Dormirte cada noche entre mis brazos

HUGO

Beber uma poção com gosto de xixi de duende não estava nos meus planos. Mas como era por ela eu fiz. O mais difícil, num primeiro momento, foi estar na forma de Darwin Hanksworth. Mas todo o meu descontentamento se foi como eu a vi. E, Merlin, como ela estava linda!

Quando eu a vi cruzar a porta do Salão Principal naquele vestido rosa bebê eu não pude deixar de sorrir. O Hugo, o do passado, também não. Mas ele murchou ao ver Lily se dirigir a mim.

- Darwin! Você está melhor? – ela me abraçou animada.

- Pois é... – concordei. Num primeiro momento achei estranho ver a voz de Darwin irromper da minha garganta, mas não dei muita atenção aquilo, pois se não Lily desconfiaria. – Você está linda. – falei olhando para o vestido dela.

- Obrigada. – ela juntou as mãos na frente da saia.

- Ahn... Vamos pra lá? – apontei um canto. – Aqui está muito cheio.

Estendi o braço para ela, que aceitou imediatamente. Nós caminhamos em direção ao um canto no interior do salão. Dali ainda era possível ter uma visão do hall, por isso o Hugo do passado não tirou os olhos de nós.

- Eu não sabia que o seu irmão viria com a Alexis. – Lily comentou. – Você disse que até ontem ele não tinha um par.

- Eu também não sabia. – falei olhando para Callun, do outro lado do salão. Ele estava acompanhado de Alexis, Sophie e Alvo.

- Ele parece contente com ela. – Lily disse.

- Pois é... – falei, porém acho que não consegui esconder minha falta de interesse no assunto.

- Você parece nervoso. Tem algo de errado? – seus olhos castanhos me encararam.

- Não... Nada. É só que... puxa... – olhei para o vestido dela. – Você está realmente deslumbrante e é difícil se concentrar em outra coisa. – sorri.

As bochechas de Lily coraram.

- Mas... – resolvi obter algumas informações. – Sabe o que também está me distraindo? – ela negou com a cabeça – O seu primo. – fiquei de frente para ela e de costas para as portas do salão. Lily olhou por cima do meu ombro. – Hugo. Ele não para de olhar para cá.

- Desculpe se ele está te incomodando, Darwin.

- Não, imagine. Eu só acho que ele se preocupa bastante com você. – falei.

- É... talvez. Sabe que... hoje... aconteceu algo engraçado.

Engoli em seco, apreensivo com o que ela diria.

- O que?

- Ele meio que disse que sente ciúmes de mim.

- Mesmo? – fingi surpresa – E o que você acha disso?

- Bem... – ela colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha – Eu não sei... Fiquei pensando naquilo que você me disse sobre ele.

- Aquilo o que? Eu... estou meio ruim da memória.

Ela se aproximou e disse baixinho:

- Sobre ele gostar de mim.

Darwin havia dito aquilo para ela? Ele realmente sabia que eu gostava dela?

- E o que você acha disso? – perguntei sentindo o coração acelerar – Acha que ele gosta mesmo de você?

- Não sei... –ela olhou para baixo e suspirou. – As vezes acho que sim. Daí tenho medo de saber a resposta. Porque se for um não, eu não quero falar uma besteira dessas para ele.

- Eu não acho que seja besteira. – soltei.

Lily olhou para mim.

- Tá, mas daí, caso seja verdade... Ele é meu primo! O que eu vou dizer para os meus pais? Tudo bem que era comum antigamente, mas as coisas estão mudando. Quase não vemos mais. É algo muito complicado, entende? – ela franziu a testa como se tivesse uma grande dúvida.

- Mas e você? O que você acha disso?

- Bem... – ela sorriu de uma maneira linda, como se estivesse sonhando. Ele ficava tão bonita quando sorria... – Ele é meu primo favorito. E meu melhor amigo... até brigarmos. Ele sempre me faz sentir bem e sei que é alguém em quem posso confiar. Mas eu tenho muitas dúvidas... Você entende não é? Eu que sente a mesma coisa em relação a Grace.

- Grace? – cocei a cabeça confuso.

- É, Darwin! Grace! – ela riu como se estivéssemos falando algo óbvio – A garota por quem você está escrevendo poemas na última página do livro de feitiços desde o último verão. A sua Grace... Ainda não consegue admitir que está apaixonado por ela?

- É... talvez. – sorri.

Quer dizer que Darwin tinha uma paixão secreta. E Lily sabendo disse ainda continuava com ele? Que horror!

- Você não fica mal... por conta da... Grace?

- Já disse que não. – ela sorriu, um sorriso verdadeiro. – E já falei que vou te ajudar a conquistá-la. A coisa dos ciúmes que combinamos está dando certo, já te disse! Ela não para de olhar pra você. Você não viu como ela ficou quando viu aquele coração com nossos nomes escritos? – Lily gargalhou. Eu a acompanhei para não parecer estranho.

Ela e Darwin estavam fingindo estar juntos? Era aquilo mesmo? E pra fazer ciúmes numa garota que ele estava a fim?! Eu fiquei com ciúme quando vi aquele tal coração. Eles não deveriam brincar daquele jeito com as pessoas.

- Eu acho que o Hugo também ficou com ciúmes com a história do coração. – falei.

- Mesmo? – ela me olhou surpresa.

- Sim. Eu o vi olhando para nós com uma expressão nada satisfeita depois de ver o desenho.

- Então ele está mesmo com ciúmes. – ela disse olhando por cima do meu ombro. Um sorrisinho brotava no canto de sua boca.

- Parece que sim. Você não havia percebido?

- Um pouco. – ela enrolou uma mecha de cabelo nos dedos de maneira pensativa. – Só é difícil de acreditar.

- Eu não acho. – falei. – Para mim ele sempre pareceu gostar de você mais do que um primo gosta de uma prima.

Lily apenas abaixou a cabeça. Eu queria entender o que se passava na cabeça dela, mas era difícil. Depois de alguns segundos de silêncio, quando eu não sabia o que dizer, ela comentou:

- Bem... – ela olhou para mim. – Não vamos falar mais disso, ok? Depois conversamos. – sorriu.

Ela mudou de assunto comentando como a festa estava linda e como as pessoas pareciam apreensivas para a dança dos campeões. O que me levou a pensar em que fim Rose e Scorpius haviam dado a Kiera.

Depois de algum tempo de conversa ouvimos uma pequena marcha e o Salão, agora quase todo cheio, se virou para as portas de carvalho, por onde os três campeões entraram com seus pares. Rose e Scorpius vinham mais atrás, sem duvida eram os que chamavam mais atenção.

- Eles estão lindos. – Lily sorriu em direção a prima.

Logo a valsa se iniciou e eles começaram a dançar. Os professores e os funcionários do ministério se juntaram e em seguida os alunos.

- Me daria a honra? – estiquei o braço para ela.

- Claro. – ela sorriu.

Fomos para a pista e começamos a dançar. Ambos não falávamos nada, o que me deixou com a sensação de não estar sendo eu mesmo e fiquei mal por não estar aproveitando aquele momento como Hugo. Eu deveria dizer a ela algumas coisas que o Hugo diria, não o Darwin.

- Eu gosto de estar com você Lily. – falei.

- Eu também. – ela sorriu.

- Você é uma ótima amiga.

- Obrigada.

- E dança bem.

- Eu já fui a alguns bailes no ministério. – piscou. Mas então sua expressão pareceu mudar. – Em todos eu dancei com o Hugo. – ela falou com um sorriso tímido.- Uau! – ela o rosto dela pareceu se iluminar e ela suspirou. – Olha isso... Eles estão tão lindos.

Me virei para o lado em que ela olhava. As vestes de Rose e Scorpius de alguma maneira estavam ficando brancas como a neve.

- Que incrível. – comentei.

- Você acha que um dia iremos amar alguém como... – ela apontou Rose com o queixo. – eles.

- Não sei. Essa é uma pergunta difícil. Mas... podemos ter um baile tão bom quanto. – fiz com que ela girasse.

- Já está sendo. – ela sorriu.

Voltamos a posição normal e demos mais alguns passos até que a música se encerrasse. Outra logo continuou a tocar e nós continuamos dançando.

- Queria dizer uma coisa. – falei.

- O que?

- É complicado.

- Descomplique, oras. – ela sorriu.

- Eu demorei muito tempo para entender. É um tanto complexo.

- Parece sério.

- E é.

- Então diga.

- Eu vou dizer. – assenti. Ficamos sem silencio por um momento, continuamos a dançar, mas ela esperava que eu contasse. – Há quanto tempo nos conhecemos mesmo?

- Ah, desde o primeiro ano.

- Parece muito mais tempo, não? Pra mim é quase que uma vida.

- Sim, parece. Acontece com as pessoas que amamos muito.

- Eu te amo muito. –falei olhando para ela.

- Darwin... – ela pareceu arfar.

- Parece confuso. Eu sei. Mas eu precisava dizer. Era uma coisa que eu estava guardando há tempos.

- Mesmo?

- Sim. Eu sei que é meio louco. Mas, um dia, prometo te explicar.

- Certo. – ela assentiu.

Eu a girei. E quando a trouxe de volta para a posição original ela parecia intrigada.

- Por que falou com tanto mistério. Eu também te amo muito, não precisava complicar tanto.

- É que as vezes nós temos atitudes idiotas quando as coisas poderiam ser bem mais simples.

- Sei bem como é. Mas você é realmente muito especial para mim.

- Eu sei, Lily. Eu sei.

Dançamos mais algumas músicas. Falávamos pouco. Estávamos aproveitando o momento mais do que tudo. Eu gostava da sensação de tê-la por perto, de ter minhas mãos em sua cintura, tê-la em meus braços.

Dos bailes do ministérios a que fomos nada se comparava àquilo. Naqueles bailes eu era muito criança para entender o significado de uma dança com ela. Por isso aquele momento era especial.

Mas como tudo que é bom acaba, enquanto dançávamos uma música lenta, vi Scorpius fazer sinal para mim.

Ele bateu no relógio, mostrou três dedos e depois apontou o teto. Ou seja, era quase hora de ir. Ele e Rose já iriam se posicionar ao lado de fora do castelo para sairmos.

- Ahn... Lily posso te pedir uma coisa. – falei.

- Claro. Se eu puder fazer. – ela olhou para mim.

Seus olhos castanhos brilhavam olhando para mim. Acho que eu nunca tinha olhado para eles tão de perto. Toquei sua bochecha com o polegar e a acariciei.

- É simples. – eu disse baixinho.

- Então peça...

- Me dê um beijo. – falei. – Nem Hugo nem Grace vão se importar. Acredite.

A resposta dela me surpreendeu, mesmo eu sabendo que ela pensava estar falando com Darwin.

- Eu daria mesmo que eles se importassem.

Senti as mãos delas, com unhas pintadas de rosa Pink, irem lentamente de encontro ao meu rosto. Seus lábios buscaram os meus com ternura. No momento em que a beijei, foi como um sonho realizado. Como se tivesse atingidos os objetivos de uma vida inteira.

Não pude deixar de sorrir. E sorri ainda mais ao ver que ela também sorria.

- Vem comigo... – peguei a mão dela – preciso te falar uma coisa.

***

- Aonde vamos? – ela perguntou enquanto íamos a um corredor vazio do segundo andar.

- Eu só queria ficar a sós. – falei baixinho após me certificar que meu eu do passado estava por perto.

Então uma armadura enfeitiçada começou a cantar uma canção natalina, o que indicava que eu estava ali.

- O que foi isso? – Lily disse. – Será que tem alguém ali?

- Ahn... Não provavelmente não. – falei tentando fazer com que ela não fosse até lá.

- Mas... Eu acho que ela não iria começar a cantar sozinha... – Lily começou a anda,r mas eu a segurei.

- Não, espera. – falei. – Deve ser um gato. Ou algum aluno do primeiro ano. Sabe como são. Sempre querendo participar de algo que não é para eles.

Lily suspirou.

- É, você tem razão.

Ela olhou para mim e eu peguei as suas mãos. Me aproximei dela colocando uma mecha de cabelo atrás de sua orelha e aproveitei para lhe roupar um beijo. Dessa vez um pouco mais longo que o primeiro.

Nos separamos e ela me encarou sorrindo, porém não pude retribuir.

- Preciso ir. – falei.

- Ir? Para onde? – Lily exclamou com um tom de surpresa.

- Não posso falar agora. Mas eu vou ter que te deixar...

- Mas Darwin... – a voz dela soou decepcionada. – E o nosso baile? Você vai me deixar... assim? Não chegamos nem a metade da festa.

- Não Lily, não é te deixar no baile. Quer dizer, também, mas... – suspirou - É mais complexo.

- Como assim? – ela falou devagar.

- Nós, Lily. Acho que... não daria certo. – falei. Eu tinha que garantir que depois daquilo Darwin e Lily não se dessem tão bem, se possível nem se falassem mais.

- O que? – ela falou no tom familiarmente irritado. – O que você está dizendo? Você acabou de me beijar! – eu sabia que a essa altura ela já estava a ponto de perder a cabeça.

- Eu sei, mas... É, complicado Lily. Vai ser melhor para você. Vai ver. – falei.

- Qual é o seu problema? – ela gritou.

- Desculpe. – falei. Eu realmente sentia porque eu sabia que iria fazê-la chorar

- Você está me dispensando? – ela tornou a gritar. Seus olhos brilharam com a eminência de algumas lágrimas, logo ela começaria a chorar – Assim? Sem mais nem menos... E tudo o que aconteceu hoje?

- Desculpe. Li...

- Você é louco? Você não pode me deixar assim!

Comecei a me afastar.

- Darwin! – chamou, mas eu já dava as costas a ela. – Darwin! – Eu já estava prestes a virar o corredor e ainda podia ouvir sua voz. – Não me deixe falando sozinha! Darwin!

- Depois você vai entender, Lily! Desculpe! Acredite, vai ser melhor pra você... – gritei pela última vez enquanto ouvia o choro de Lily finalmente irromper de sua garganta.

Corri como um louco até o armário de vassouras antes do meu eu do passado. Me escondi e mantive a porta entreaberta. Esperei em silêncio os barulhos de passos do Hugo do passado e quando finalmente o vi, puxei-o para dentro do armário.

- Mas que diabos... – ele exclamou surpreso.

- Quieto, Weasley! – o encarei já dentro do armário. Era uma sensação muito estranha olhar para mim mesmo.

- Darwin! – olhou surpreso para mim. – O que você fez com a minha...

- Presta atenção no que eu vou dizer, Weasley: - o interrompi pegando-o pelo colarinho e jogando contra a parede – Se você tiver uma segunda chance, qualquer que seja, a mais louca, não hesite. Vá atrás da Lily. – falei.

Ele me olhou surpreso por eu saber dos sentimentos que nutria por Lily.

- Do que você tá falando? Eu não tenho nada com a...

- Eu sei de tudo, Hugo. –sorri. – Só não demore muito, ok? Ela precisa de você. – aconselhei dando tapinhas em seu ombro.

- O quê em nome de Merlin você quer dizer com isso? – ele indagou. Mas eu já estava me afastando.

- Não demora. – falei para ele enquanto saia do armário de vassouras. Corri pelo corredor o mais rápido que pude para encontrar Rose e Scorpius.

Enquanto corria senti minha pele formigar um pouco e quando olhei para as minhas mãos percebi que elas já não estavam tão grandes quanto as de Darwin. O efeito da poção estava passando e eu estava voltando ao normal. Passei as mãos pelos cabelos a tempo de senti-los crescer para o comprimento original.

Quando cheguei ao local combinado com Rose e Scorpius vi minha irmã andando de um lado para o outro. Ela tinha o sobretudo do traje a rigor de Scorpius nos ombros.

- Rose! – gritei.

- Hugo! Graças aos céus! – ela me abraçou.

- Cadê o Scorpius? – perguntei.

- Ele foi para lá. – apontou o lado da Floresta Proibida - Disse que iria arranjar algo que nos levaria até Hogsmead mais rápido e...

Vimos uma sombra passar por nossas cabeças. Quando olhei para cima vi um testrálio negro enorme planando em nossa direção. Ele pousou com um baque e eu me surpreendi ao ver que Scorpius estava nele.

- Cheguei! – ele gritou montado no animal.

- Onde você arranjou isso? – perguntei.

- Na floresta. – ele explicou com um sorriso. – Vamos, temos quatro minutos!

Ajudei Rose a subir no bicho e depois me acomodei atrás dela, segurando em sua cintura.

Scorpius, de alguma maneira, fez com que o bicho começasse a voar.

- Malfoy! Você sabe controlar essa coisa? – perguntei.

- Não é difícil! Estou pegando o jeito!

- Ah, que ótimo.   – olhei para baixo e torci para que ele não nos fizesse cair. – Pelo menos, se eu morrer, eu já beijei a Lily!

- Você beijou a Lily?! – os dois perguntaram mesmo tempo.

- Sim! – gritei contra o vento.

- Uhu! O Hugo beijou a Lily!  – Scorpius gritou para o céu com animação, o problema foi que ele se soltou do Testrálio abrindo os braços e quase caiu.

- Scorpius! – Rose brigou com ele.

-

Foi mal! – ele pediu desculpas.

- Ele bebeu? – perguntei a Rose.

- Não. Ele só está feliz. – ela explicou.

Finalmente chegamos a Hogsmead e Scorpius não nos matou na aterrissagem.

- Valeu, amigão. – ele disse ao Testrálio enquanto descíamos.

 Ajudei Rose a sair e nós caminhamos para a Gemialidades Weasley. Chegamos a porta bem na hora em que a primeira badalada soou.

- A primeira badalada! – Rose disse desesperada. – Temos que entrar antes da última, que vai ser quando o relógio marcar dez horas.

- E quantas badaladas são ?– perguntei.

- Dez! – ela disse.

- Só? Isso aqui está pior que a Cinderela. Ela tinha doze. – reclamei.

- Cinde quem? – Scorpius olhou confuso para mim.

- Esquece. – balancei a cabeça enquanto abria a porta da loja. Corri para as escadas e subi dois degraus de cada vez. - Vem Rose! – gritei para ela, que subia com a ajuda de Scorpius.

- Espera, Hugo! Vai tentar correr com esses saltos!

- Já foram cinco badaladas! – alertei. Aquilo deu o incentivo que eles precisavam. Rose jogou os saltos para o lado no meio da escada e os dois começaram a correr.

Subimos o resto dos degraus e chegamos a porta do escritório juntos. Eu a empurrei bem a tempo de ver nossos eus do passado desaparecendo com o vira-tempo.

Nossos pais, tio Harry, Lily, Alvo e Sophie olhavam alarmados para nós.

- O que? Mas... Eles estavam ali! – Alvo disse confuso. – E agora estão aqui? Como é possível? Isso é muito louco!

- Não seja bobo... – falei ofegante e olhei para Rose e Scorpius – Ninguém está em dois lugares ao mesmo tempo.


Notas Finais


Acho que agora tudo se esclareceu! Espero que tenham gostado! Depois conversamos melhor! Comeeeeenteeeeeeeeeeem!!!!!!!!!!!

Beijos!

Mal feito feito


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