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História Notre destin - The first crack


Escrita por: tatah_mirac

Notas do Autor


Olá, meus amores!

Conforme prometido, capítulo no domingo. Até eu terminar de formatar, já é domingo! 😅

Só uma bobeira: eu estou passandooo mallll de rir com o fandom surtando com o "vem cá" do Fabrício na dublagem brasileira do Especial NY! 😂😂😂😂
Tô quase colocando um "vem cá" do nosso Adrien aqui pra Marinette, mais pra frente, claro... 😂

Então, nem vou falar muito do capítulo não... Segurem o coração aí porque, pelo título (a primeira rachadura), vocês já imaginam a 'situação' desse muro que está cada vez mais estreito entre os dois, né?

Beijos e boa leitura!

Capítulo 33 - The first crack


Fanfic / Fanfiction Notre destin - The first crack

Nathalie permanecia sentada na poltrona, com o tablet em mãos. Massageava as têmporas para aliviar aquela dor de cabeça quase que insuportável. Gabriel, de fato, levou adiante aquele plano absurdo que poderia colocar inúmeros inocentes em perigo se Ladybug ou Cat Noir não aparecessem em Xangai.

Viu a chamada de vídeo do homem e atendeu, contemplando a face dele já transformado em Hawk Moth.

– Nathalie, me mande a confirmação. Ele acabou de aparecer. – o vilão pediu.

– Sim senhor... me dê alguns minutos.

A secretária respirou fundo.

Subiu as escadas, passando pelo corredor e abriu lentamente a porta. O quarto de Adrien estava todo escuro. Ela só pôde notar a silhueta do garoto sob os lençóis, e os cabelos loiros que pendiam sobre o travesseiro, iluminados pela luz externa. Dessa vez, não se aproximou mais, visto que, na última vez, havia se arriscado e o acordou.

Desceu as escadas novamente, sentindo um alívio no peito.

Enviou a mensagem.

Fique tranquilo, senhor. Ele está dormindo.

🐞

Yeji abria as asas e voava soltando suas flechas, com seu arco, contra aquela criatura que, até então, era desconhecida para ela. Depois de vê-lo se anunciar como vilão de Paris, buscou nas lembranças que tinha sobre as lutas que assistira da heroína que era sua inspiração. Eles sempre iam em busca de um objeto, algo que carregava a mágica e mantinha aquele ser de pé.

Esse seria um primeiro passo.

A criatura possuía uma espécie de caixa que parecia um flash de câmera fotográfica, como se fosse a cabeça, acoplada à própria câmera redonda abaixo dela. Seus pés eram vários tripés de metal que sustentavam o aparelho.

Bem bizarro, ela pensava.

Ele pegava as pessoas com aqueles inúmeros pés ágeis, mirava bem e, assim, transformava-as em fotografias. A garota pensava em como controlar aquela coisa gigante no meio das pessoas.

De súbito, sentiu alguém pousar ao seu lado. Quando se virou, encontrou o novo amigo que havia feito há algumas semanas.

– Cat Noir? Mas... você não estava em Paris? – ela dizia enquanto a criatura tentava, a todo custo, pegá-los.

– Estava, mas... digamos que hoje o Astrocat teve que entrar em ação, passarinha... – ele disse sorrindo de canto.

– Tô vendo – ela riu enquanto ele a puxava para longe a fim de se desviarem de mais um golpe dos enormes pés de metal – e então, você que está acostumado com esses vilões sinistros, o que a gente faz? Tem que achar a tal borboleta lá, né?

– Olha só... quem fez o dever de casa! – ele riu.

O monstro começava a mostrar uma sombra arroxeada ao redor dos olhos, e o gatuno já entendera que Hawk Moth iria se pronunciar.

– Cat Noir, vejo que atendeu o meu chamado. Eu não estou pra brincadeiras. Entregue esses Miraculous, ou eu não vou desistir até que todos os cidadãos de Xangai sejam eternizados em lindas fotos. – ameaçou e completou – afinal de contas, você não é nada sem a Ladybug mesmo! Entregue-se! – a criatura riu sarcástica.

– O que ele disse? – a garota perguntou, pois ele havia falado em Francês, dessa vez.

Apesar de Hawk Moth também saber bem o idioma Chinês.

– A mesma ladainha de sempre! Eu não vou entregar nada, Hawk Moth. Desista. Já está ficando feio pra você... – o herói provocou e viu os diversos tripés da criatura se movimentarem flexíveis na direção deles.

Yeji e Cat Noir conseguiram desviar e tiveram a ideia de atraí-lo para longe daquele lugar, pois onde estavam havia diversas construções, o que daria mais chances de atingir as pessoas. A garota abriu as asas novamente e levou-os até o estádio de esportes.

Assim, os dois foram seguidos pelo vilão.

Ao chegar lá, eles continuaram em combate, e até conseguiram achar o objeto akumatizado, que era justamente uma corda, pendurada entre a câmera e os tripés.

Cat Noir esticou o bastão para saltar em cima do akumatizado, enquanto Yeji o distraía, voando em volta dele, e lançando agora o poder especial de suas garras, as quais causavam uma dor excruciante na criatura. Quando ele ficou atordoado, o herói conseguiu destruir a corda e o akuma se soltou.

– Yeji, alguém foi atingido por esses flashes? – o felino perguntou com medo de saber a resposta.

– Sim, várias pessoas... E agora que a borboleta saiu, você a destrói e elas voltam ao normal, certo? – a menina perguntava com os olhos fitos na expressão pálida do garoto.

Ele respirou fundo, não dera tempo de chegar sem que aquele estrago já tivesse sido considerável.

Sentiu-se impotente.

As palavras de Hawk Moth ressoaram em sua mente: o que era ele ali sem Ladybug?

– Cat Noir, que cara é essa? Por que esse pânico de repente? Sabe que não pode esconder essas coisas de mim...

– Se eu destruir o akuma, essas pessoas não voltam mais ao normal. – ele disse, engolindo em seco, olhando para a expressão perplexa da amiga.

– O quê?! – ela gritou – Cat Noir, mas... como? Essas pessoas vão... – a menina colocou as mãos na boca pelo pavor.

– Yeji – ele a olhou nos olhos, segurando-a pelos ombros – eu e a Ladybug fomos escolhidos pra lutar juntos em Paris por um motivo. Ela tem o poder da Criação, é só ela quem restaura qualquer estrago que o akumatizado possa causar. Além disso, se eu não destruir o akuma com meu poder, em breve essas borboletas podem se multiplicar, fazendo um exército dessa coisa...

A garota começou a andar de um lado para o outro, indignada.

– Meu Deus, Cat Noir! Mas como que você me aparece aqui sem ela? Se você veio de Paris, tinha que ter trazido ela com você. Essas pessoas vão perder a vida pra sempre por causa disso...  – a garota dizia, andando sem parar, com os pensamentos desordenados.

Porém, quando viu os olhos marejados do felino, arrependeu-se de tê-lo confrontado na mesma hora ao perceber seus sentimentos.

Sentiu aquela dor profunda dele, o conflito, medo...

Ele estava com medo de encarar Ladybug depois daqueles meses todos em que a deixou sozinha, com a responsabilidade de guardiã nas mãos, e ainda tendo que encarar um Hawk Moth mais forte, com poderes evoluídos. Ele sabia que ela tinha os outros heróis, mas os dois sempre foram a dupla imbatível. Se ele sentia sua falta todos os dias, imagine ela, com todos aqueles desafios pela frente. E agora ela saberia onde ele esteve aquele tempo todo. Até mesmo que tinha feito uma nova amiga.

O que ela iria pensar?

– Me desculpe, felino, eu...

– Não, você tem razão. Eu sou um covarde – ele disse e suspirou pesado com o semblante fechado – eu preciso acabar com isso, deveria ter chamado ela desde o início.

Cat Noir pegou o comunicador, buscou a joaninha na lista de contatos. Ao olhar sua foto, sentiu um aperto no coração.

Ele tinha que enfrentar esse medo...

– Vai lá, você consegue. – a heroína apoiou a mão em seu ombro – estamos juntos nessa, felino. – ela sorriu e ele apenas assentiu.

A chamada foi feita, porém Ladybug não respondia.

Não sabia o que iria fazer agora.

🐞

Ladybug, Viperion, Pegasus e Ryuko estavam reunidos no esconderijo secreto dos heróis, e acabavam de recarregar suas transformações. Alimentaram seus kwamis um a um, na tal sala da transformação.

Os quatro sentaram-se em volta da mesa retangular, e Ladybug iniciaria as explicações sobre a missão, agora com mais detalhes.

– Muito bem... Sejam bem-vindos à equipe, Ryuko e Pegasus. Sei que vocês não usam os Miraculous como portadores oficiais mas, a partir de hoje, considerem esse convite feito. Nos últimos tempos, com o que temos enfrentado, precisamos de toda a ajuda possível – disse e os dois a olharam com a expressão de surpresa.

– Ladybug, pode contar comigo. Será uma honra – Pegasus respondeu.

– Ah, Ladybug, eu... não sei se posso fazer isso agora porque ainda vou precisar ficar fora do país durante alguns meses, então... – Ryuko disse e Ladybug a interrompeu.

– Eu sei da sua situação, Ryuko. Não se preocupe. Aceite, se assim quiser, claro. De qualquer forma, você é a escolhida. – sorriu e a outra agradeceu com um gesto de reverência, típico da sua cultura japonesa.

– Obrigada, Ladybug. Sendo assim, pode contar comigo.

A heroína respirou fundo, olhando os parceiros em volta mesa, e iniciou de fato as explicações breves.

– Então vamos ao plano. – ela apontou para a imagem congelada do vídeo na tela do pequeno tablet – o vilão joga flashes nas pessoas transformando-as em fotos. Certamente é o Hawk Moth, pois a Mayura foi quem soltou o sentimonstro hoje aqui em Paris.

– Bem que eu achei estranho ser tão fácil... só um sentimonstro. – Viperion lembrou.

– É verdade. – Ladybug respondeu – agora sabemos que o ataque de hoje não foi pela bondade do coração dele, para nos aliviar.

– Mas sim pra despistar vocês e soltar um akuma em Xangai. – Pegasus completou surpreso.

– Sim, mas... uma coisa que eu ainda não entendi, Ladybug. Por que Xangai? – Ryuko questionou – e o Cat Noir, não vai conosco?

Ladybug engoliu em seco, e todos viram a mudança no semblante da joaninha. Viperion achou aquela pergunta, no mínimo, estranha, pois todos os noticiários deixaram evidente que o felino não aparecia em Paris há meses.

– Cat Noir se afastou de Paris há alguns meses, Ryuko. – a heroína vermelha respondeu – você não esteve aqui pra ver as notícias, eu sei... Ele não tem lutado mais ao nosso lado – disse e a outra a olhou espantada – nós tivemos informações de que ele foi visto junto de uma outra heroína na semana passada, em Xangai.

– Então... – a japonesa fez uma pausa pensativa – ele tá... – ela ia dizer, mas o herói-cobra pegou em uma das suas mãos com o olhar suplicante para que parasse, e ela logo entendeu.

Ele percebia, por todos esses meses de convivência nas batalhas, que era um assunto delicado ainda para Ladybug.

– Sim, ele está morando lá, pelo que parece. Eu também não sabia. Quando ele foi, não disse para onde, nem porque precisava. – ela suspirou – simplesmente foi. E agora o Hawk Moth descobriu, de alguma forma.

– Bom, então qual será o plano, Ladybug? – Viperion disse a fim de espantar aqueles pensamentos dela.

Os três discutiram as estratégias brevemente que poderiam usar contra o akumatizado, com as informações que reuniram através do vídeo. Ladybug pediu para que Ryuko ficasse atenta às palavras do vilão e da tal heroína local, pois era provável que eles falassem chinês. Apesar de ter descendência por parte de sua mãe, não sabia a língua tão bem quanto a amiga que estudou e viveu lá durante esses meses.

– Você fala chinês? Que chique... – Viperion perguntou à Ryuko, enquanto eles se preparavam para pegar a localização exata do akuma no mapa.

– Ah, que isso... – sorriu – bom, apesar de ser japonesa, eu estudei toda a vida o chinês. E até vivi lá um tempo... – ela tampou a mão com a boca e ele riu.

– Tudo bem... Não é como se você estivesse revelando a sua identidade assim. Afinal, muitas garotas japonesas estudam chinês a vida toda e já viveram na China. – ele sorriu, ironizando.

Ela olhou-o, riu, e aquelas palavras, aquele tipo de brincadeira lhe soou bem familiar. Para ele, estava quase que claro a identidade dela civil. Japonesa, que não esteve em Paris pelos últimos meses, e não estará ainda por algum tempo, fala chinês fluente. Porém, como ele sabia que Ladybug prezava pelas identidades secretas dos heróis, não levantaria suspeita nenhuma. Discrição, além da serenidade em lidar com as coisas, era uma das principais qualidades de Viperion.

– Você tem razão. – ela respondeu simplesmente sorrindo e desviando depois o olhar para os outros que se preparavam.

Ladybug abriu o mapa em seu ioiô para localizar exatamente onde em Xangai estaria o akuma.

Ficou boquiaberta com o que viu.

– Pessoal... – ela chamou-os com as mãos sobre o rosto – isso, não é nada bom.

Os outros olharam assustados para o ioiô que ela mostrava sobre a mesa, com o desenho do mapa, e imediatamente esperavam uma resposta da joaninha sobre o que poderia estar acontecendo.

Ela já até conseguia imaginar uma, porém, pouco provável, se ele não estivesse lá... De fato, teria que controlar ainda mais sua ansiedade naquela missão.

🐞

Cat Noir e Yeji estavam cercados por, pelo menos, cinco criaturas iguais àquelas, no meio daquele estádio. Por não ter destruído o akuma, eles se multiplicaram. E era bem provável que o akumatizado tivesse voltado a ter sentimentos negativos, visto que ele se despediu deles ainda muito irritado.

– Felino, você não conseguiu falar com ela mesmo? – Yeji perguntou nervosa, olhando para as criaturas que os cercavam.

– Infelizmente não, passarinha... – ele a olhou apreensivo.

Na mente da garota, lhe vinha um turbilhão de pensamentos. Assim que os monstros ameaçaram se aproximar, ela não pensou duas vezes e se lançou sobre o gatuno a fim de voarem dali.

Porém, já era tarde demais.

Ela havia sido pega por um dos pés de metal rapidamente.

– Falta de aviso não foi, Cat Noir – a criatura se pronunciou e ele pôde ver o semblante com um meio sorriso da amiga presa pelos tripés metálicos.

– Fique calmo, felino. Eu confio em você... – ela gritou, sorrindo leve ainda e logo foi atingida pelo flash.

– Não! – Cat Noir soltou um grito sôfrego, vendo a foto cair à sua frente, lentamente, no gramado daquele estádio.

Ele pegou o papel em suas mãos.

Nela, estavam duas garotas, sorrindo, felizes...

As duas civis.

Provavelmente uma delas seria a sua amiga. Uma dor aguda lhe transpassou o peito, seus olhos se turvaram pelas lágrimas.

Sentiu-se derrotado.

– Vamos, Cat Noir... agora você está sozinho. Desista. Entregue o Miraculous! – uma das criaturas dizia ainda encarando-o.

O felino colocou a foto no bolso, cerrou os punhos, sentiu que aquela raiva estava toda prestes a explodir.

Era, tantas perdas, tantas...

O que fazer quando não se tem mais nada a perder?

A pergunta ecoava em seus pensamentos...

– Você quer o meu Miraculous? – ele gritou furioso – então vem pegar!

As criaturas imediatamente avançaram e ele tentava se desviar de todos os golpes dos tripés das cinco criaturas. Rebatia-as com seu bastão, ágil, retirando forças de onde nem mais tinha, porém elas eram muitas. Uma delas pegou-o pela cintura e lançou-o com muita força, longe. A única coisa que ele pôde sentir foram suas costas e cabeça se chocando fortemente contra um mastro que havia no estádio e imediatamente ele caiu sobre o gramado.

Ouviu um grito agudo de longe.

Tentava mexer-se, mas cada músculo do seu corpo lhe doía. A cabeça latejava e a visão estava mais turva...

Ele apenas ouvia de longe uma movimentação. Ainda que quisesse lutar, a derrota pesava sobre ele e fazia a sua dor física aumentar ainda mais. Poderia imaginar o semblante de decepção da sua joaninha diante de si naquele momento.

🐞

Ladybug e os heróis passaram pelo portal feito por Pegasus e chegaram a uma espécie de estádio onde viram algumas das criaturas.

Elas estavam em círculo.

Os heróis conseguiam ver de longe.

A joaninha piscou algumas vezes para entender que uma delas segurava alguém em meio aos vários tripés e depois viu-o ser lançado longe, com força.

Seu coração, se fosse possível, teria parado naquele mesmo instante ao perceber quem era. A heroína soltou um grito agudo e correu até onde ele havia caído.

Pegasus e Ryuko ficaram paralisados.

Não sabiam nem por onde começar ao ver a líder deles fragilizada daquela forma.

As criaturas se aproximavam deles agora.

Viperion respirou fundo e já sabia o que tinha que fazer. Era hora de tomar as rédeas.

– Vamos! – ele disse – o que estão esperando? Temos que achar o objeto akumatizado.

Os dois apenas assentiram e partiram pra cima dos cinco vilões. Um deles já recuava para a direção onde estavam Ladybug e Cat Noir.

– Pegasus – Viperion chamou-o, olhando naquela direção – você já sabe o que fazer.

– Deixa comigo – o herói portador do Miraculous do Cavalo imediatamente abriu uma fenda bem na direção deles que fez o monstro retornar para onde estava antes, a fim de proteger os dois heróis.

Enquanto isso, Ladybug ajoelhou-se ao lado do parceiro. Com as mãos, trêmulas, tocou o rosto ensanguentado do herói. Por mais que devesse conter as suas lágrimas, tudo o que estava sentindo era demasiadamente intenso ao vê-lo naquele estado.

– Ladybug – ele murmurou com um meio sorriso ao fitar o rosto da heroína vermelha – me desculpe por ser uma decepção pra você. – tossiu – Me deixe aqui, e vá salvar aquelas pessoas. Eu não sou nada mesmo sem você... – ele começava a perder os sentidos.

– Cat Noir?!

Ele a ouvia cada vez mais longe.

– Cat Noir?! – ela o chamava dando batidinhas no rosto, sentindo a visão turva pelas lágrimas – fala comigo, por favor... – colocou os dedos sobre o pescoço dele, afastando a gola do macacão.

O coração ainda pulsava.

Respirou aliviada.

– Eu nunca vou esquecer daquelas palavras, gatinho... – ela soluçou – não importa o que você tenha feito, ou por quais motivos, eu confio em você... – ela dizia quase em um murmúrio embalado pelas lágrimas, com a cabeça apoiada nos ombros dele.

Ladybug respirou fundo, limpando as lágrimas nos olhos. Ajeitou a cabeça dele calmamente naquela grama. Fitou sua equipe que lutava incansavelmente contra as cinco criaturas.

Agora era o momento em que precisaria chamar sua razão. O dever de heroína e restauradora de todos aqueles estragos estava em suas mãos. Inclusive da vida de seu parceiro, seu amor secreto. E era esse amor que teria que alimentar sua força naquele momento. Olhou mais uma vez para ele e lançou o talismã.

– Um alicate de jardinagem? – sorriu, ao imaginar que o felino, provavelmente, iria fazer uma piada sobre como seus talismãs eram malucos.

🐞

– Ladybug – Viperion chamou-a ainda lutando com as criaturas de vários pés que agora se tornavam cada vez mais ágeis – o akuma está naquela corda, no pescoço daquele ali.

– Como vocês descobriram? – ela perguntou.

– Digamos que ele subestimou a nossa capacidade de ter uma poliglota no grupo – o herói-cobra olhou de soslaio para a heroína-dragão, que lutava incansavelmente com sua espada contra as criaturas.

– Ótimo. Porque agora eu sei como usar meu talismã...

A heroína olhou bem para a cena, encaixando rapidamente todo o plano em sua mente. Pediu para que Pegasus fizesse um portal e levasse os monstros que eram seguidores a poucos metros dali, a fim de isolar o principal que estava com o objeto que deveria ser destruído.

E ele assim o fez.

A criatura ainda atirou alguns flashes, e acabou atingindo Ladybug, bem como Ryuko e Pegasus. A luta estava cansativa para o herói-cobra, que teve de usar várias vezes a segunda chance.

– Ladybug, pra esquerda... – ele gritou quando a criatura iria mirá-la mais uma vez, e ela apenas lhe sorriu depois, entendendo que aquela já seria uma nova chance.

Logo Ryuko conseguiu utilizar seu poder de dragão de vento, derrubando a criatura principal isolada para que a joaninha pulasse sobre ela e cortasse a corda com o alicate. Nesse mesmo momento, várias borboletas negras se juntaram no meio do estádio.

– Ladybug – a grande formação de borboletas com a aparência de Hawk Moth se formou sobre eles – você não cumpriu sua promessa desde a última vez em que nos vimos assim* – riu sarcástico.

Ela lembrou-se daquele início de tudo.

O primeiro vilão, Coração de Pedra. Naquele primeiro dia, quando ela não acreditou que poderia ser uma heroína, foi quando seu parceiro a inspirou por sua coragem. Mesmo sem ter ideia de como fazer aquilo, assim como ela, ele mostrou sua bravura acima de qualquer medo. Não tinha dúvidas mais sobre o porquê de amar tanto aquele felino.

Mal sabia ela que, desde aquele instante, há mais de um ano atrás, o coração dele se tornou cativo aos encantos da heroína, sem se importar com quem estivesse por trás daquela máscara.

– Eu posso não ter cumprido ainda, Hawk Moth – Ladybug gritou – mas vejo que você também não cumpriu a sua. Não se engane... Seja onde for, nós não descansaremos enquanto não encontrarmos você!

Ela lançou o ioiô ferozmente, purificando todas aquelas borboletas que se debatiam e eram capturadas pelos seus toques, enquanto os outros heróis olhavam fascinados para aquilo. Abriu-o e uma chuva de borboletas brancas cobriu o estádio. Pegou o Miraculous em suas mãos, olhou na direção do gatinho, com um único pensamento: volta pra mim agora...

– Miraculous, Ladybug!

E novamente todos eles assistiram àquele espetáculo formado pelas joaninhas restauradoras. O poder da Criação em ação era algo encantador. Ladybug sorriu e os três agora correram para perto do herói gato, notando Yeji ao seu lado ainda meio atordoada, sem saber o que aconteceu.

Ryuko prestou assistência ao homem que acordava da akumatização, explicando-lhe tudo na língua dele, na tentativa de que ele ficasse mais calmo dessa vez.

Yeji, por sua vez, olhava para eles ainda meio sem acreditar. Principalmente para Ladybug, sua fonte de inspiração enquanto heroína, ali bem na sua frente. Ryuko se aproximou depois da garota, deu-lhe as mãos e ela se levantou. Começaram a conversar, enquanto a heroína dragão traduzia as informações para Viperion e Pegasus; e lhe contava o que tinha acontecido com Cat Noir. A joaninha se aproximou do gatuno, que ainda permanecia desacordado deitado sobre a grama.

Ajoelhou-se mais uma vez.

Acorda, gatinho...

– Vamos dar um tempo pra eles... – Viperion sinalizou e eles acompanharam-no.

De longe, Yeji os observava.

Não pôde evitar a curiosidade e aguçou seus sentidos para ver o que se passava no coração de seu mais novo amigo e da heroína vermelha. Viu-o levantar-se pelas mãos de Ladybug. No coração da joaninha, ela enxergava um misto de sensações: mágoa, medo, alívio, ciúmes?

E... amor!

Ah, as cores daquele sentimento eram inconfundíveis!

Sim, a grande heroína de Paris, aquela que salvava os dias, amava aquele felino abusado, Yeji constatava isso. Mesmo que ele dissesse amar outra pessoa, poderia ver os contornos daquele sentimento avassalador ainda soterrados dentro do coração de Cat Noir.

Ele deveria estar dividido, de fato. Mas Yeji não compreendia o porquê.

Lembrou-se daquela primeira noite em que ele confessara que gostava de outra. Mas aquilo que via ali, manifestado em sua frente, era algo único, que pouquíssimas vezes ela, como heroína, havia percebido entre as pessoas.

– Yeji? – Ryuko chamou-a, pois ela parecia estar em transe olhando para os dois de a uma certa distância – você já está se sentindo bem? – ela apoiou as mãos nos ombros da menina, encarando-a preocupada.

– Ah, sim... – colocou as mãos no rosto, ainda um pouco pasma – esses dois... Eu quase nunca vi algo assim...

Ryko sorriu, olhando-os também, de longe.

🐞

Cat Noir sentou-se na grama, ainda um pouco atordoado, mas sentia-se já bem melhor daquele choque. Olhou para cima e fitou o rosto dela.

Piscou algumas vezes sem acreditar.

– Eu não estava sonhando? – ele sorriu, dando uma das mãos a Ladybug para levantar-se.

– Não... – ela respondeu simplesmente.

Yeji se aproximou depois de um tempo, sorrindo para os dois e ele não pôde evitar de formar um sorriso no rosto de alívio ao ver sua amiga ali sã e salva.

– Ladybug – a menina a abraçou – eu sou tão sua fã... você é tão linda! Com todo o respeito, é claro... – olhou para o amigo, que soltou uma risada fraca.

Ladybug ficou olhando-a sem entender uma palavra do que ela dissera. Definitivamente seu chinês havia enferrujado de vez. Olhou para o parceiro como se quisesse lhe dizer.

Que raios ela tá dizendo?

– Ela é sua fã, Ladybug... – ele apoiou as mãos nos ombros da heroína faisão.

– Olha, não precisa ficar com ciúmes do felino aqui porque... se eu fosse escolher alguém para... você sabe, né? Certamente seria você – a garota sorriu novamente e agora era Cat Noir quem passava as mãos pela nuca nervoso.

Ryuko soltou uma risada.

Era tão bom entender toda aquela cena hilária.

– Ela disse pra você não ficar com ciúme do Cat Noir, Ladybug. Porque, se ela tivesse que dar em cima de alguém, com certeza seria de você! – Ryuko respondeu direta, fazendo a joaninha arregalar os olhos.

– Eu fico... lisonjeada, mas... – Ladybug arrastou a voz, pasma ainda.

Todos começaram a rir dela, enquanto Cat Noir apenas meneava a cabeça ainda meio sem graça, porém admirando aquele desconcerto de sua parceira.

– Bom, acho que vocês dois devem ter alguma coisinha a dizer, né? – Yeji apoiou as mãos nos ombros dos dois – por favor, felino, resolva-se... – a garota olhou para ele de canto, e ele sentiu seu rosto esquentar.

Sabia que a amiga tinha aqueles benditos sentidos aguçados.

🐞

Enquanto os outros heróis agora iam em busca de um lugar discreto para refazer a transformação, Ladybug e Cat Noir encostaram-se no muro da arquibancada, de costas um para o outro. Ela também precisaria alimentar Tikki, por ter usado o Talismã.

Cat Noir aproveitou e fez o mesmo.

Enquanto isso, eles conversaram um pouco ainda, através daquele pequeno muro, que os separava.

– Ladybug... Apenas diga alguma coisa pra mim... qualquer coisa. – ele disse sentindo um aperto no coração, com medo da reprovação de sua parceira.

O que ela estaria pensando sobre o fato de ele estar ali, e tê-la deixado com vagas explicações durante todos aqueles meses? Era a grande pergunta que rondava seus pensamentos.

Marinette respirou fundo, receosa.

O que poderia dizer ou perguntar?

E se fosse realmente algo da sua vida pessoal?

– Cat Noir, me diga, apenas uma única razão para você ter se mudado de país e agora estar lutando ao lado de outra heroína... Você sabe o que a gente tem enfrentado em Paris? Se sim, então, por favor, eu mereço apenas um único motivo. – ela dizia incisivamente, porém com o coração apertado.

Ouviu-o suspirar pesado.

– Tudo bem...  você tem razão. Acho que agora eu posso te contar tudo... – ele fez uma pausa, pensando bem nas próximas palavras, enquanto ela apenas ouvia-o, apreensiva apoiada com as costas no muro – eu tive que fazer essa escolha, de vir para cá durante alguns meses por questões da minha vida civil sim...

Marinette apertou os olhos e os lábios, tentando conter o nó que se formava em sua garganta ao ouvir essas palavras dele.

Será que foi simplesmente por isso?

Se ele não tivesse aparecido ali naquele dia, a sua suspeita sobre Adrien ainda poderia estar de pé depois dessa.

Ele continuou:

– E... eu poderia escolher sim não estar aqui. Mas... – ele hesitava – no último momento, quando eu iria finalmente ficar em Paris há alguns meses, a Bunnix me procurou.

Ela arregalou os olhos, olhando para Tikki em suas mãos, que apenas fazia uma expressão enigmática.

– A Bunnix? Por que não me contou isso, Cat Noir?

– Porque... a – ele respirou fundo, hesitou em revelar o nome da sua paixão – uma pessoa não poderia saber disso, de modo algum, Mylady. Alguém... especial pra mim.

– Entendo... – respondeu com a voz entrecortada pela ansiedade.

Será que era ela?

Mas o que a Bunnix tinha a ver com isso?

As perguntas incessantes vinham em sua mente, ainda que com receio.

– Bem, eu... me envolvi com... uma civil, como você e Paris toda soube pelos jornais... – ele disse timidamente ainda pensando no beijo que sua parceira o dera naquela noite – errei em me relacionar com ela sem ser na minha forma civil também... – suspirou – e... ela não poderia saber muito sobre esses motivos do meu afastamento de Paris porque... Ela até poderia desconfiar da minha identidade.

Vários alarmes soaram na mente de Marinette.

Como assim desconfiaria de sua identidade?

Ela já o conhecia?

– E, além disso, ela precisava tocar a vida pra frente, sem mim, ou... – ele suspirou já deixando as lágrimas escorrerem quentes pelo rosto – algo terrível poderia acontecer. A Bunnix me mostrou, Ladybug... Eu vi um futuro em que você e eu perdemos para o Hawk Moth. Em que foram descobertas as nossas identidades, todos os portadores de Miraculous eram controlados por ele... – ele limpava o rosto, enquanto Marinette sentia seu corpo tremer dos pés à cabeça pelo nervoso – eu não sei o porquê, a Bunnix não pôde me explicar. Mas a simples escolha de não fazer essa viagem durante alguns meses faria com que acontecesse isso tudo. E eu... – ele suspirou – não aguentaria viver com uma escolha egoísta, colocando ela em perigo e também... você, Mylady.

Marinette não conseguia mais digerir todas aquelas sensações que lhe acometiam.

Era tudo tão intenso.

Sua respiração estava descompassada.

Ela colocava as mãos na boca a fim de conter os soluços, que vinham seguidos das lágrimas.

Aquilo tudo parecia irreal.

Jamais imaginaria que seu parceiro, seu amor, estava passando por tudo aquilo.

Ele estava, também, com o peso do mundo em seus ombros.

Uma mudança tão drástica, tudo puramente por ela... pelo seu amor, para protegê-la.

Como heroína e como civil.

As lágrimas vinham cada vez mais fortes, ainda que ela tentasse se conter, respirando fundo.

– Mylady... tem mais uma coisa que, talvez, você não saiba... Uma certa noite, quando você não estava em Paris, ela foi sequestrada pelo Hawk Moth, com a ajuda da Lila Rossi... Isso tudo por minha causa, porque ele descobriu que estávamos nos encontrando. – dessa vez, sua voz falhou, pelos soluços que queriam vir à tona.

Ela apenas apoiou a cabeça nos joelhos, inundando a calça que usava.

Foi mesmo por ela...

Cerrou os olhos ao lembrar dos horrores daquela noite. Ainda tinha pesadelos com aquilo tudo. Eram muito vivas as lembranças.

– Naquela noite – ele continuou, recompondo-se – eu tive que agir sozinho... consegui bolar um plano, com a ajuda do Viperion, da Queen Bee... E... a abelhinha pode até ter também percebido quão importante era ela pra mim porque eu simplesmente – Cat Noir dizia sentindo os olhos encherem de lágrimas novamente – desabei naquele corredor de hospital, Ladybug... Ela foi torturada, machucada por minha causa. Eu nunca vou me perdoar por isso. – sua última frase saiu como um sussurro pela voz que falhava em meio ao choro descontrolado.

Ouvir aquelas palavras dele a fez lembrar daquele segredo sobre o qual Queen Bee mencionara, que seria o grande motivo de seu afastamento. Recordou-se daquela noite e do pesadelo que tivera no hospital.

Não importa o que eu diga, o que eu faça tentando proteger você... guarde sempre aquelas palavras...  

E assim o gatinho escapava de seus braços...

Era isso.

Ele a deixou, mas nunca por não amá-la mais, e sim justamente o contrário: por amá-la demais.

Se ele ficasse, certamente não deixariam de se encontrar, e Hawk Moth continuaria investigando até chegar à identidade dela, de algum modo, claro.

Todo aquele emaranhado de sentimentos tornava-se tão cristalino agora aos olhos de Marinette...

Eles refizeram as transformações e se encontraram novamente, frente a frente. Agora ela o encarava, depois de todos aqueles meses, aqueles mesmos olhos verdes brilhantes marejados que havia lhe transmitido todo e qualquer tipo de sentimento extasiante.

Seu coração saltava dentro do peito.

Ela mal sabia que o de seu parceiro não estava muito diferente.

– Ladybug – chamou-a, olhando aqueles olhos azuis marejados pelo choro, tanto quanto os verdes dele – por que você me beijou naquela noite?

A heroína ficou em silêncio.

De fato, naquele dia, ela havia ultrapassado os limites daquele muro que os separava.

Ele já não era mais tão seguro como antes...

– Eu... – disse com a voz arrastada, carregada pelo peso daquele segredo – ainda não posso te dizer, gatinho. Me perdoe...

O que aquilo queria dizer? – ele se perguntava, ansioso.

Mesmo com a dúvida, apenas abraçou-a, acariciando os fios azulados entre seus dedos.

– Tudo bem... – respondeu simplesmente, com o coração acelerado no peito.

Ela me ama?

 Os questionamentos incessantes vinham em sua mente.

Havia um nó impossível de se desfazer em sua garganta. De fato, ele ainda a amava, e faria de tudo para protegê-la, mesmo estando apaixonado por sua forma civil. Nenhum dos dois entendia isso, mas os corações sabiam.

– Em breve eu poderei estar de volta, Mylady... Confie em mim – ele disse, fazendo-a apertar mais o abraço em volta dele, em meio aos soluços de ambos.

🐞

Gabriel entrou no avião, furioso, mas com um alívio no peito: Cat Noir não era seu próprio filho. Ele apareceu logo ao lado da heroína faisão e bem antes de Ladybug e dos outros heróis, enquanto seu filho estava em Paris, assim ele pensava.

Imaginou o tamanho do poder daqueles Miraculous que os transportara, até mesmo a outro país, em segundos. A ânsia de colocar as mãos, não apenas nos brincos e anel dos dois principais heróis, aumentou. Agora Ladybug era a guardiã, e ele sabia disso. Bastava descobrir quem era a garota petulante por trás do disfarce.

– Senhor – Nathalie apareceu na tela do tablet – veja pelo lado bom, as suspeitas que mais temíamos foram descartadas. Ele não é o Cat Noir...

O homem apenas suspirou profundamente.

Enquanto isso, mal sabia ele que havia uma escuta abaixo de sua mesa no escritório, onde Nathalie estava. Havia alguém, de fato, mais esperto que ele, disposto a fazer qualquer coisa para desmascará-lo.

🐞

A azulada pousou sobre a varanda de sua casa, desligou sua transformação.

Exausta.

Sentia cada músculo do seu corpo doer. Desceu pelo alçapão, alimentou sua kwami.

– Tikki... – a menina disse cabisbaixa, afundada na espreguiçadeira.

Sentia que nem havia mais lágrimas a serem derramadas depois de tantas coisas que lhe foram reveladas.

A pequena apenas observava Marinette atentamente. Sabia que ela precisava desabafar.

– Eu achei por um momento que ele pudesse ser o Adrien, Tikki – a menina sorriu – olha que loucura?

– E como você se sentiria se fosse, Marinette? – a kwami perguntou, sondando já o que estaria por vir.

– Eu... nossa! Acho que ia surtar! – riu fraco – Primeiro, porque os dois são tão diferentes em algumas coisas... E eu ainda o rejeitei como Ladybug! – ela levou as mãos à testa – E também, não ia fazer sentido, sabe? Porque eu sempre o amei e, por que ele se aproximaria de mim, da Marinette, como herói, sendo que ele é da minha sala? Mas depois que ele apareceu lá naquele estádio, eu tirei isso de cabeça. – ela concluiu suspirando, mas ainda com uma sombra de dúvida no olhar – só tem uma coisa que ele disse que me intrigou muito, Tikki – a pequena apenas observava-a – ele disse que eu não poderia saber de nada daquilo quando ele partiu, porque desconfiaria da identidade dele... Se ele for alguém que eu conheço, que tenha viajado por algum motivo pesso- – ela mesma se interrompeu, colocando as mãos na boca e olhando a kwami à sua frente – Tikki!

A pequena viu nos olhos de Marinette o exato momento em que as peças começavam a se encaixar e ficou nervosa...

Já tinha chegado o momento?

– Ninguém que eu conheço, além do Adrien, viajou por motivos pessoais, ainda na mesma época, pro mesmo lugar! – ela colocou as mãos no rosto – Mas... não faz sentido isso porque... como ele apareceria lá, Tikki? Se ele está aqui... E eu tenho o Miraculous do Cavalo... Como Tikki? Existiria outro jeito? Não, né, Tikki? – ela questionava nervosa.

A pequena barriga de Tikki gelou.

Sua expressão tornou-se perplexa por ver sua portadora descobrindo tão rápido aquilo tudo.

– Na verdade... – Tikki respondeu, apenas pensando, apreensiva, mas não poderia mentir – Marinette, só teria dois jeitos dele chegar lá com rapidez, se realmente estivesse aqui em Paris: ou pelo Miraculous do Cavalo, ou com a evolução de poderes que faz vocês voarem.

A menina arregalou os olhos.

A evolução de poderes...

– Marinette... – a pequena a chamou.

E se ele tinha usado isso?

– Marinette...

E se ele fosse o Adrien?!

– Tikki, então ele... pode sim ser o Adrien! – passou as mãos pelos cabelos, levantando-se, e andando de um lado a outro no quarto – meu Deus, Tikki... Mas eu não posso descobrir a identidade dele. Não, não é o Adrien... Me diz, Tikki. Me diz que não é o Adrien – a menina dizia nervosa, com o coração acelerado, olhando para a kwami.

– Calma, Marinette...

– Mas, calma?! Se for ele, eu não posso saber... eu não posso... – ela se jogou na espreguiçadeira, afundando a cabeça nas almofadas.

– Não é bem assim, Marinette... – a pequena suspirou, planou para perto dela.

Seu coração palpitava.

Aquilo era demais!

O modelo, amor da sua vida toda, que ela teimava em não conseguir arrancar do seu coração era, também, o parceiro de batalhas por quem ela se apaixonou, pela segunda vez? Havia tido todo o tipo de intimidade com ele e ele estava... tão perto, aquele tempo todo!

Seu peito subia e descia muito rápido...

De sua boca, não saíam mais palavras.

Ela estava em choque.

– Marinette, presta bem atenção em mim... – a pequena colocou-se em frente aos olhos azuis estáticos – já está acontecendo, mas você precisa ficar calma.

– Acontecendo o que, Tikki?! – a menina perguntou com os olhos marejados.

– As desconfianças sobre as identidades. Isso era pra acontecer... Eu vou te contar tudo, mas você precisa ficar calma e esperar as respostas e confirmações que precisa pra descobrir quem é o Cat Noir.

– Mas... como assim, Tikki? O Mestre Fu... – a kwami a interrompeu.

– Marinette, me escuta. Você vai descobrir quem é o Cat Noir, seja o Adrien ou qualquer outro. Antes de vocês enfrentarem o Hawk Moth, precisam se revelar – disse e viu os olhos arregalados da portadora.

– Mas...

– Ele nunca contou isso para vocês porque faz parte de uma profecia, Marinette. Uma que ele confiou apenas a mim e ao Plagg antes de perder a memória, pois você é a guardiã sim, mas também é a Ladybug. E não é aconselhável que você soubesse disso antes de acontecer, pois poderia alterar o curso dos acontecimentos.

Marinette ouvia atentamente a kwami.

– Tikki, mas... se nós descobrirmos as identidades antes de derrotar o Hawk Moth, não pode ser perigoso? Ele pode nos ameaçar.

A vermelhinha respirou fundo.

Nem ela compreendia bem essa parte, mas era assim que deveria acontecer. Plagg, por sua vez, já começava a imaginar os motivos disso, diante das últimas suspeitas, mas ela ainda não sabia.

– Marinette, eu sinceramente não sei o porquê dessa ordem. Mas é assim. No momento certo, você vai saber. Assim que as identidades forem reveladas, eu e Plagg nos reuniremos com vocês e entregaremos tudo.

A azulada passava as mãos pelos olhos, apreensiva...

Quanto mais poderia aguentar?

– Marinette... – a pequena começou a falar – tem muitas outras coisas que envolvem essa profecia, que você ainda vai saber, no tempo certo. – a kwami sorriu – confie em mim, vai dar tudo certo.

A menina suspirou, apertando os olhos, emocionada.

– Obrigada, Tikki... mas... o que eu faço agora? – ela perguntou ainda perplexa, fitando um ponto fixo no chão do quarto.

– Apenas espere... Não precisa fazer nada, Marinette... Na hora certa, você vai ter a confirmação de que precisa – sorriu.

A azulada afundou-se novamente em suas almofadas, soltando um grunhido.

Como aquilo iria consumi-la dali pra frente!

Ela não tinha certeza se queria mesmo que Adrien fosse Cat Noir. Eles eram tão... diferentes? Porém ela também se considerava assim, como Ladybug. Não conseguia mais descartar aquela possibilidade tão evidente aos seus olhos.

Lembrou-se das palavras dele na carta:

É por te amar tanto, que te deixo ir...

Lamento não ter me aproximado de você em minha forma civil...

Mas se era o Adrien, por que não se aproximar, se ela sempre o amara?

As coisas se tornavam mais claras, e mais confusas ao mesmo tempo.

Sim, isso era possível na mente dela, ainda que ela se surpreendesse com isso.

– Marinette – a pequena disse e planou bem na frente dos olhos da portadora – olha, eu só quero te dar um conselho: que você tome cuidado pra não machucar quem não merece...

– Como assim, Tikki? – a menina pensou um pouco e logo continuou, compreendendo – o Luka...

– Sim. Ele está muito apaixonado por você, Marinette... E ele tem um coração muito puro. Você realmente acha que pode retribuir isso e esquecer o Cat Noir ou o Adrien?

A menina engoliu em seco.

No fundo, tinha certeza que não, mas era difícil admitir isso a si mesma. Ainda mais depois daquele dia, diante da certeza sobre os motivos do afastamento do felino e tendo quase que evidente aos seus olhos a identidade dele.

– Acho que não, Tikki... – aquela verdade, dita em voz alta, foi como um soco no estômago – eu me sinto muito bem com ele, gosto dele sim, mas...

– Não é a mesma coisa – a kwami completou e Marinette apenas confirmou com a cabeça.

As duas então, exaustas, resolveram se preparar para descansar, não que a mestiça tivesse esperanças de pregar os olhos naquela noite...

Marinette se dirigiu ao banheiro, ligou a água morna, retirou todas as peças de roupa e se afundou naquela banheira. Seus pensamentos logo foram tomados pelos últimos acontecimentos.

Ela não poderia saber muito sobre esses motivos do meu afastamento de Paris porque... Ela também desconfiaria da minha identidade.

As palavras dele ainda ressoavam em sua mente. Sentiu um aperto no peito por ter guardado tanta mágoa daquele abandono, daquelas palavras na carta que a diziam para seguir em frente, como se isso fosse possível! Lembrou-se do semblante de tristeza de Adrien mais cedo, dos olhares que ele lançava a ela...

Ele estava mesmo... apaixonado?

A outra garota, seria eu? – Marinette pensava.

Ao mesmo tempo, o peso da culpa lhe atingia por ter aceitado o namoro com Luka. Ele não merecia estar no meio de tudo isso, Tikki tinha razão. Até então, ela se sentiu tão bem ao lado dele... Mas agora não saberia nem como olhá-lo, nem como agir perto dele, pois tudo aquilo que pensava estar superando durante aqueles meses, havia vindo à tona, invadindo-a, sem pedir licença. Começava a compreender melhor aqueles sentimentos por ter visto Adrien e sua amiga no Bistrô.

Aquela inquietação constante...

Sua mente daria ainda muitas voltas e voltas nessas dúvidas, durante aquela noite.

Enquanto isso, Tikki estava já se acomodando sobre a espreguiçadeira. A pequena estava, de fato, com muito sono. Mas ouviu uma voz bem conhecida e logo levantou-se, planou até a porta do alçapão.

– Plagg? – ela murmurou – o que está fazendo aqui a essa hora?

O pequeno não fez nenhuma piada. Fitou-a com os olhos sérios e disse:

– Precisamos conversar, Tikki...

A vermelhinha ficou apreensiva por enxergar naqueles olhos verdes brilhantes a sombra da preocupação. Eles se entendiam como ninguém. Aliás, quase como Adrien e Marinette. Os dois subiram até a varanda, a fim de conversarem melhor.

– E então, o que houve? Está tudo bem com o Cat Noir? – a pequena perguntou.

– Sim, é que... – ele engoliu em seco escolhendo as palavras – infelizmente eu acho que tenho uma pista sobre o Hawk Moth e a Mayura...

Tikki arregalou os olhos, uma lágrima se formou no canto deles. Ela não conseguiu dizer nada. Era mesmo a profecia se cumprindo. As identidades iriam ser reveladas a qualquer instante. E Marinette já tinha quase certeza de quem era o felino.

– Mas... por que infelizmente, Plagg? – ela perguntou com a voz arrastada e viu o pavor nos olhos dele – Plagg, anda, me fala... porque você tá com essa cara?

– É que... lembra daquela suspeita em aberto do Mestre Fu? – ele olhou-a e, aos poucos, enxergou a compreensão nos grandes olhos azuis saltados – acho que pode mesmo ser ele, Tikki...

A kwami ficou alguns segundos pensando, absorvendo aquilo.

– Mas... você tem certeza? – questionou preocupada.

– Bom, com o que eu vi ontem, tem grandes chances. A Nathalie entrou no quarto dele e eu acho que ela estava tentando roubar o anel... – ele franziu o cenho.

– Plagg, você não pode deixá-lo sozinho. Tem que tomar muito cuidado.

– Eu sei... nem consegui dormir hoje, docinho... – suspirou.

– Precisamos de mais provas. Mas vocês vão voltar agora pra Xangai, então ele vai ficar seguro durante um tempo. E depois... – ela fitou o gato tristemente e continuou. – Plagg, então talvez seja por isso que a profecia foi entregue dessa forma. Eles precisam conhecer as identidades antes de enfrentar o... – Plagg a interrompeu, completando.

– Mal verdadeiro. Eu pensei a mesma coisa, docinho...

– Sim, e se esse mal é o próprio pai dele... não tem como mesmo eles passarem por isso sem se revelarem. – a kwami colocou as mãos na boca.

– É docinho... depois que nós voltarmos de vez a Paris, temos que mexer os pauzinhos pra agilizar essa revelação deles. A Ladybug deve descobrir primeiro, pois é ela quem deve dar o último passo. – Plagg disse, suspirando, já pensando em como seria aquele confronto.

Depois de tudo o que Adrien havia sofrido, ainda havia aquela forte possibilidade de ter o seu próprio pai como vilão que assolava os dias na cidade de Paris. Aquele que colocava a vida de várias pessoas em risco, desde o próprio filho até pessoas queridas a ele.

– Ela já está desconfiada, Plagg...

O pequeno gato negro olhou-a, surpreso.

– Mas... como assim? Ela entendeu que ele foi embora ao mesmo tempo que o – as bolhas saíram da boca do kwami.

– Também... e, pela conversa deles hoje. Ela perguntou se tinha outro jeito de chegar tão rápido lá... A única pergunta que ela poderia fazer, e eu não pude mentir, Plagg... – suspirou – vocês usaram a evolução de poderes, não foi?

– Sim, docinho – ele a olhou de canto – eu sou muito esperto, né?

– Plagg! Eu tô falando de coisa séria e você me vem... – ela bufou.

– Calma, docinho... mas isso já estava na hora de acontecer, né? Eu não aguento mais essa lamentação toda do Cat Noir!

– É, e agora a Ladybug vai ficar tensa todos esses meses, até conseguir confirmar se ele é ou não o Cat Noir... é melhor mesmo que ela nem descubra agora. – Tikki ponderou.

– Hum, tudo bem... mas quando a gente voltar, eu posso dar uma forcinha, né? – ele deu um risinho.

– Plagg, cuidado! Nós não podemos revelar, você sabe as regras.

– Fica tranquila, docinho. Deixa comigo – ele deu uma piscadela - além do mais, a jornalista lá já está desconfiada...

A kwami arregalou os olhos mais uma vez.

– A Alya?

– Sim... Mas ela não vai falar nada, a Trixx me garantiu que vai tirar isso da cabeça dela... – ele respondeu.

– É... não sei. A Alya é muito esperta. Não é à toa também que foi escolhida para o Miraculous da Raposa. Mas ela também é muito fiel. Vamos confiar nisso...

A kwami vermelhinha ficou pensando alguns momentos, absorvendo aquilo tudo e depois continuou:

– Plagg, eu nem vou contar pra Ladybug ainda essas suspeitas que você teve... porque, se ela descobrir, agora que eles estão separados, vai ficar ainda mais fragilizada. Sem ter certeza de quem é o Cat Noir, vai ser pior.

– Você tá certa, docinho... Como sempre – ele sorriu para ela, que ficou imediatamente sem graça – Cat Noir também não está diferente. Ele tá realmente sofrendo muito por ela. Mas aquele garoto é duro na queda. Não foi à toa que foi escolhido.

A kwami sorriu.

Sentiu mais uma vez falta de Mestre Fu.

Ainda que Marinette fosse uma Ladybug e Guardiã brilhante, mesmo ainda em treinamento com os ensinamentos deixados por ele, a pequena guardava ainda boas lembranças e tinha admiração por aquela sabedoria dele e, acima de tudo, pela escolha perfeita daqueles dois portadores de Miraculous.


Notas Finais


* Episódio Coração de Pedra, lembram? Foi só uma inspiração nele mesmo, mas de modo diferente do que aconteceu lá.

Marinette surtando em 5... 4... 3... 2...😅

E não é que a Nathalie caiu na pegadinha do malandro do Adrien? Até cabelo loiro pra disfarçar o bonequinho tem. 😂😂

Quem será que está vigiando o Gabriel? Mando um doce pelo correio para quem descobrir. 🤔🤔


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