Nove Meses – Capítulo 16
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Kyungsoo estava preocupado. Enquanto o Park estava no banheiro, tentando relaxar através de um banho, algo conseguido após o Do muito insistir, Kyungsoo estava na cozinha, preparando um chá para acalmar a si e ao mais novo e uma sopa, pois sabia que ele estava com fome e precisava se alimentar bem, ainda mais em seu atual estado. Grávido. Park Chanyeol estava grávido, e para Kyungsoo, aquilo ainda era meio que inacreditável, muito embora não fosse algo tão surpreendente.
Dentre tantos pensamentos que lhe ocorriam naquele momento, o futuro do Park e da criança era o que menos preocupava Kyungsoo, pois ele sabia que Yifan honraria seus compromissos e, mais do que isso, mesmo que ele não quisesse assumir tal responsabilidade, o que não deveria nem ser cogitado nem na pior das hipóteses, YanTao não deixaria seu genro querido desamparado. O que preocupava mesmo Kyungsoo era o psicológico de Chanyeol, e nem tanto por estar gerando uma criança, mas o que ter sido colocado para fora de casa poderia trazer para ele e para o bebê. Apesar de não ter mais os seus, Kyungsoo se considerava extremamente sortudo, pois seus pais foram os melhores que ele poderia ter, e só de pensar neles, sentia aquela pontinha de saudade que apertava o coração e fazia seus olhos lacrimejarem.
Os desdobramentos da vida sempre são surpreendentes. Sempre trazendo um desafio a cada dia, a vida nos faz ver que determinadas situações, por mais diferentes que sejam, ainda têm suas semelhanças. Tendo a gestação de ambos como ponto comum, não é difícil perceber que as situações decorrentes foram completamente diferentes, mas, pontuando os acontecimentos, é notável que, após o choque inicial da descoberta, ambos precisaram deixar suas zonas de conforto, as circunstâncias foram totalmente diferentes, sim, mas, ainda assim, aquele ponto eles têm em comum. O segundo ponto em comum observado foi que, após o episódio traumático que precedeu a saída de sua casa, Kyungsoo se sentia perdido e seu ponto de apoio naquele momento foi Minseok. Já com Chanyeol, seu ponto de apoio, após a “saída” traumática de sua casa, seu ponto de apoio foi Kyungsoo.
Contudo, as semelhanças entre as trajetórias de Kyungsoo e Chanyeol terminavam naquele ponto, pois, as circunstâncias que nos permite imaginar o futuro de ambos eram completamente diferentes. Chanyeol tinha Yifan, que era seu namorado e certamente não o deixaria sozinho. Kyungsoo, em compensação, embora “tivesse” Jongin ali consigo, não tinha tanta certeza de que o moreno estaria presente nos momentos futuros como tinha certeza da participação do chinês junto à Chanyeol.
Era assustador olhar para a frente e não ver, sequer, um sinal de que, no final, tudo daria certo. A sensação do Do era a de estar num caminho completamente escuro, tendo em suas mãos apenas uma vela que não lhe permitia ver nada a sua frente, além do chão em que seus pés tocavam. Era um caminho árduo que precisaria trilhar, mas quando se tem um ser completamente dependente de si prestes a vir ao mundo, ter medo não era opção. Kyungsoo precisaria ser forte por seu filho... e ele seria.
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Kyungsoo estava tão concentrado em fazer a sopa que se assustou e deixou a colher cair quando ouviu o celular vibrar, sobre o micro-ondas. Riu de si mesmo, antes pegar o aparelho, e foi só naquele momento que lembrou de que deveria ter retornado a ligação do moreno.
- Desculpa! – exclamou antes que Jongin falasse qualquer coisa. – Desculpa, Jongin! É sério! Eu sei que era pra ter retornado, mas é que o Chanyeol chegou aqui e eu acabei esquecendo, desculpa! – em sua voz, o tom arrependido e chateado era nítido.
- Tudo bem... eu só liguei porque fiquei preocupado – Jongin contou. – Mas me diz, o que o Chanyeol queria uma hora dessas? Visita de última hora?
- Que nada – o grávido respirou audivelmente antes de sentar numa das cadeiras da cozinha. – Ele foi colocado pra fora de casa – estava tão cansado mentalmente que acabou não medindo as palavras.
- Hein?! Mas... como? – o moreno se assustou, não era pra menos.
- Eu já tinha te contado aquele lance de ele ser fértil, né?! – questionou ao que Jongin respondeu com um breve “unhum”. – Os pais dele descobriram que ele é fértil, só que tipo, o pior nem é isso.
- E tem algo pior que isso? – Jongin não conseguia conceber direito a ideia. Sempre achou absurdo demais os avós dele renegarem o filho por ser fértil, então não via algo pior do que isso.
- Tem! – Kyungsoo afirmou, e antes que o moreno questionasse o que, o Do respondeu. – Ele tá grávido do Yifan.
- Puta merda! – exclamou Jongin.
- Pois é... muita merda, meu filho, merda a granel! – exclamou, exasperado, e Jongin achou um pouco fofo seu estado, pois logo imaginou que estaria o Do fazendo bico.
- Mas como ele tá? – decidiu mudar o foco de seus pensamentos através daquela conversa.
- Ele tá tomando banho já tem uns trinta minutos – Kyungsoo respondeu. – Por falar nisso, vou até ver se ele tá consciente, sei lá... ele tá grávido, né?! Vai que.
- Então vai falar com ele, depois eu te mando uma mensagem, pode ser? – questionou na esperança que a resposta fosse afirmativa.
- Pode sim – era claro que Kyungsoo permitiria.
- Então até mais tarde – o moreno ditou calmamente. Queria dizer algo a mais, mas sabia que esse algo a mais não cabia no atual momento, então, apenas guardou para si.
- Até... – Kyungsoo falou antes de encerrar a ligação. – Poxa vida, Kim Jongin, porque você tá complicando tanto minha vida? – perguntou a si mesmo e sorriu ao sentir Taeoh mexer. – É só eu falar com seu appa que você acorda, não é? – sorriu, fazendo carinho no ventre crescido e logo o sorriso aumentou ao sentir o bebê mexer mais uma vez. – Você gosta quando falo com ele, não é? Isso é sinal de que você ama o appa Kim, certo? – Kyungsoo achava incrível como Taeoh sempre respondia aos seu estímulos e, principalmente, aos do moreno. – Posso te contar um segredo? Acho que também amo seu appa Kim... mas isso fica só entre a gente, sim?!
- Tá bem, hyung! – Chanyeol afirmou, fazendo Kyungsoo dar um pulo da cadeira, assustado. – Eu sou bom em guardar segredos – garantiu, ainda sério, mas gargalhou quando viu seu hyung de olhos arregalados e a respiração acelerada.
- Puta que pariu, Park Chanyeol, quer me matar do coração, desgraçado?! – ditou numa falsa revolta, avançando sobre o maior, que correu para longe.
- Você não teria coragem de bater em um rapaz grávido, hyung! – apelou. Geralmente essas chantagens não funcionavam, mas aquela surtiu efeito.
Kyungsoo até pensou em dar uma resposta atravessada e bem desaforada, mas ao ver o sorriso triste na face do maior, apenas se aproximou dele e o abraçou. O abraço foi prontamente retribuído e apertado até onde não poderia machucar ambos. Existe um pensamento onde fala que o abraço é o encontro de dois corações, mas ele vai muito além disso. O abraço é o ato de expressar, na medida certa, o sentimento de uma pessoa para com a outra. A tristeza e medo de Chanyeol eram expressos no abraço apertado que dava em Kyungsoo, que retribuía ao ato, não tão apertado, mas quente o suficiente pra fazer Chanyeol sentir que não estava sozinho, e prova maior foi que, em meio ao ato, Taeoh mexeu mais uma vez.
- Você também quer abraçar o Channie, meu amor? – Kyungsoo perguntou, todo bobo, olhando o próprio ventre. Mais do que depressa, tomou as mãos do maior e colocou sobre a barriga, fazendo-o rir ao sentir os movimentos do pequeno ser que crescia a pleno vapor.
- Ah, hyung! – Chanyeol exclamou e começou postou-se a chorar, porém, antes que Kyungsoo se assustasse, o choro foi explicado. – E-eu n-não consigo... p-parar – falou entre risos e lágrimas.
- Ah, Channie... bem-vindo ao mundo dos grávidos – Kyungsoo brincou. – Mas para de chorar senão eu choro também – pediu, antes de começar a chorar, claro.
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Depois de muito discutir sobre a capacidade de Junmyeon na cozinha ser inversamente proporcional ao seu talento para a advocacia, Yixing finalmente conseguiu terminar o jantar. O advogado bem que tentou ajudar da maneira que conseguiu, mas depois de se cortar ao tentar rosquear o copo do liquidificador à lâmina, desistiu por completo. Yixing reclamou, óbvio, mas bastou o Kim fazer bico e uma cara de triste que o chinês já estava, minutos depois, terminando de fazer um curativo no dedo alheio, colocando um band-aid.
- A propósito, Lay, hoje, quando saí do Fórum, encontrei reitor da Universidade Yonsei – ditou, atraindo a atenção do chinês para si. – E ele me fez uma proposta que me deixou balançado.
- Que proposta foi essa? – Yixing questionou, obviamente curioso.
- Ele quer que eu lecione lá – contou. Era costume do Kim sempre compartilhar o que acontecia consigo e sempre pedir conselhos na tomada de decisões, e Yixing sempre foi um bom conselheiro.
- Wow! Sério? – Yixing não disfarçou a surpresa com aquela proposta.
- Sim! – Junmyeon afirmou. – Segundo ele, estão precisando de um professor pra ficar no Núcleo de Práticas Jurídicas e dar aulas de Introdução ao Estudo de Direito.
- Junmyeon, essa é uma ótima oportunidade! – Yixing afirmou. – Sem contar que o salário deve ser ótimo, né? A Yonsei é a melhor Universidade privada do país, então o salário também deve ser o melhor – brincou.
- Oh se é – Junmyeon permitiu-se rir com a empolgação do chinês. Era tão bom vê-lo rir. Aquele brilho tão dele, aquelas covinhas... Yixing era precioso demais, o Kim sempre soube, só não soube a partir de que momento ele passou a tornar-se tão precioso assim. E também notou que tudo ficava melhor quando Yixing sorria. – Mas eu disse a ele que só aceitaria com uma condição.
- Hã? Como assim? – Yixing deixou a colher cair dentro da tigela para encarar o coreano com assombro. – Junmyeon... é uma oportunidade de emprego na Universidade Yonsei, só um louco recusaria! – exclamou, e viu o outro rir de si.
- Mas eu não recusei – o Kim se defendeu. – Eu apenas disse que só aceitaria com uma condição – salientou.
- E que condição seria essa? – Yixing questionou por fim. Esperava que realmente fosse uma proposta que valesse a pena fazer, porque uma oportunidade daquela era praticamente irrecusável.
- Que você vá trabalhar comigo, lá no núcleo de prática, como meu assistente – respondeu com um meio sorriso, mas que se tornou um sorriso completo e cheio de dentes quando viu Yixing arregalar os olhos e abrir a boca num “O” perfeito. – O que foi? Yixing... é uma oportunidade de emprego na Universidade Yonsei, só um louco recusaria! – repetiu as palavras do chinês, usando contra ele mesmo. – E sabe... não é querendo de pressionar nem nada, mas ele aceitou, porém, eu só vou se você for.
Se é que era possível aquilo acontecer, Yixing sentiu o coração falhar uma batida. Logo de cara, meio que travou. Como assim, Universidade Yonsei? E como assim, Junmyeon o queria ali, junto com ele? Dizer que os sentimentos que tinha pelo mais velho sumiram, era mentira; dizer que eles não ficaram mais fortes desde que passou a morar ali, também era mentira. Contudo, nada tirava da cabeça do chinês que todo aquele cuidado era por conta do bebê, mas o surpreendente é que, mesmo depois de não mais existir bebê, o cuidado não só continuou, como dobrou. Yixing obrigava-se, diariamente, a não criar esperanças em relação a Junmyeon e nem enxergar coisas onde não haviam.
Só que era difícil não imaginar coisas com Junmyeon fazendo tudo isso. O que queria dizer todo aquele cuidado? Os carinhos e sorrisos? Como interpretar o beijo que sentiu receber em sua testa na noite anterior? E os minutos que o Kim passou a olhá-lo, durante o “sono”. Qual a finalidade de Junmyeon com aquelas atitudes todas?
- Junmyeon... porque você tá fazendo isso comigo? – Yixing questionou num rompante de coragem. O medo de ser rejeitado era grande, e foi esse medo que trouxe lágrimas aos seus olhos, principalmente quando viu o mais velho franzir as sobrancelhas. – Porque fica me tratando assim? Porque... fica me fazendo gostar ainda mais de você? – questionou antes que as primeiras lágrimas caíssem. – Porque me faz ter a ilusão de que está se importando comigo e fazendo planos pra nós?
- Xing... – Junmyeon deixou a cadeira, se colocou ao lado do chinês e girou a cadeira até que ficasse de frente para si, então se abaixou. – Não chora, por favor! – pediu antes de tocar o rosco alheio com carinho e limpar as lágrimas com os polegares. – Eu... eu não queria te iludir – confessou. Calmamente, tocou os ombros do chinês e desceu suas mãos pelos braços até encontrar as semelhantes de Yixing e apertá-las um pouco. – Eu quero que tenha a certeza de que os planos que faço são pra nós – afirmou, porém, sem olhar para cima. Estava nervoso demais para poder encarar Yixing. – Eu sei que é tudo muito recente ainda... a minha separação, a... a perda do nosso bebê... – ao fim da frase, sentiu as lágrimas de Yixing caírem em suas mãos. – Mas... eu quero tentar, Xing – confessou por fim.
Não era questão de substituir, pois o lugar de Kyungsoo é apenas dele e ninguém tiraria, só que era preciso seguir em frente.
- Eu não quero que você pense que está sendo substituto do Kyungsoo – afirmou. – O lugar dele ninguém irá tomar, eu tenho uma história com ele e não vai ser a forma como ela terminou que vai apaga-la, mas eu preciso seguir em frente... preciso reescrever minha vida a partir de agora, só que eu não quero fazer isso sozinho... eu quero que você esteja comigo – confessou, e só então olhou pra o chinês. – E então... o que em diz?
A resposta de Yixing não poderia vir de forma melhor senão como um abraço. Um abraço caloroso, apertado e tão carregado de sentimentos que só um abraço como aquele poderia expressar. Os braços de Yixing circularam o pescoço de Junmyeon e seu rosto ficou escondido entre o pescoço e o ombro. As mãos de Junmyeon faziam um carinho nas costas do chinês e, vez ou outra, uma delas acarinhava a nuca alheia. Ao fim do abraço, Junmyeon fez algo que sentiu ser extremamente necessário naquele momento, beijou Yixing.
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- Puta que pariu! – Chanyeol exclamou assim que tirou o celular da bolsa.
- Olha a boca, garoto! – Kyungsoo reclamou, mas ao ver o espanto do maior, deixou a curiosidade falar mais algo. – O que aconteceu?
- Aconteceu que o Fan ligou pra mim vinte vezes e mandou umas cinquenta mensagens... e eu não vi – respondeu o maior, visivelmente preocupado.
- Vish! Ele deve tá podre de preocupação – o Do deduziu.
- Nem fala! Quando ele liga duas vezes e não atendo ele já pensa coisa, imagina agora?! – o Park contou, tentando imaginar como falaria com o maior, mas nem teve tempo de pensar, pois o celular voltou a tocar. – Ai, caralho! Ele tá ligando, o que eu faço? Puta merda, puta merda!
- Para de dizer palavrão e atende! – Kyungsoo mandou, e Chanyeol assim o fez.
- Oi, Fan – atendeu, tentando não transparecer seu estado.
- Park Chanyeol, pelos céus! – bradou o chinês do outro lado da linha, visivelmente atarantado. – Quer que eu morra do coração? – questionou por fim.
- Não, Fan – Chanyeol respondeu docemente. Intimamente, agradeceu quando Kyungsoo saiu da cozinha.
- Posso saber o que aconteceu pra você não ter me atendido nem respondido minhas mensagens? – Yifan voltou a questionar, já mais calmo.
- Eu briguei com meus pais – o mais novo odiava mentir para o namorado, mas não poderia contar toda a verdade. – Daí saí de casa pra clarear as ideias – explicou.
- E onde você tá agora? Tá na rua? Tá fazendo frio! – Yifan parecia desesperado. – Você tá no final da F3, não pode sair andando sem rumo, Chanyeol!
- Fan, eu tô na casa do hyung – Chanyeol falou, achando lindo o cuidado do maior para consigo. – Tá tudo bem, eu não tô com frio nem passando fome, ok?! Fique tranquilo.
- Tem certeza que tá tudo bem? – o Wu questionou, recebendo apenas um “unhum” como resposta. – Yeol... tem certeza que tá tudo bem mesmo? – podia sentir que algo estava errado, e teve a certeza quando ouviu o Park fungar. – Yeol... amor, porque tá chorando? Me conta, por favor, o que aconteceu! Se for preciso eu volto agora mesmo!
- É q-que... eu t-tô c-co-com s-saudades – tudo o que Chanyeol mais queria naquele momento era contar toda a verdade para Yifan, mas sabia que não poderia, e o que era pior, não sabia como ele reagiria. Poderia até ser egoísta de sua parte, esconder a gestação do maior, pelo menos por enquanto, mas não queria prejudicar os planos de seu namorado e nem do sogro. Aguentaria firme.
- Eu também tô com saudades, meu amor – Yifan afirmou, no tom mais doce e calmo que conseguiu. – Não tem ideia da saudade que tô de você – voltou a afirmar. – Mas espero não demorar tanto – contou. – Hoje mesmo já falamos com o advogado.
- E qual a razão pra vocês terem sido chamados praí? – já mais calmo, aparentemente, Chanyeol resolveu mudar o foco da conversa.
- Meu pai biológico apareceu – Yifan respondeu e respirou fundo.
- E aí, conheceu ele? – o mais novo questionou de volta.
- Vou conhecer amanhã, mas não em vida... ele morreu por conta de um tumor na coluna – a resposta foi curta e rápida, chocando o mais novo. – Por isso que mandaram chamar a gente, porque ele sabia que tinha um filho, no caso eu, mas que ele tinha se recusado a me registrar não sei por qual razão – fez uma curta pausa para respirar – Assim que descobriu a doença, ele tentou entrar em contato com a gente, só que ficou complicado, por que a gente não estava mais no país – contou. – Foi aí que ele entrou em contato com meu tio e ele mandou chamar a gente com urgência, porque ele queria me conhecer antes de morrer, só que não deu tempo... ele morreu um pouco antes de a gente desembarcar, o velório já tá acontecendo, o papai foi lá, mas eu só vou amanhã.
- Poxa, Fan... – Chanyeol não sabia o que falar. Sabia que Yifan podia demonstrar não querer saber quem era o outro pai, mas no fundo existia sim, aquele desejo. – Sinto muito... sério!
- É complicado, sabe... – o chinês confessou. – Porque tipo... eu só queria saber o motivo de ele não ter me procurado, entende?! Eu só queria saber o porquê de ele ter feito isso, só que agora... sei lá, eu não sei muito bem como me sento agora, é estranho uma hora você descobrir que “tem” um outro pai e, depois, saber que ele morreu antes mesmo de conhecer ele.
- Eu nem sei o que te dizer, Fan – Chanyeol confessou.
- Mas não precisa dizer nada, Yeol – Yifan tratou de confortar o namorado. – Só de saber que te tenho, já é muita coisa – confessou num meio sorriso.
- Eu te amo, tá?! – o Park ditou, todo manhoso.
- Também te amo, Yeol – falou de volta. – Acho que o pai tá chegando, amanhã, depois do enterro, eu falo contigo, tá?! Fica bem, hm?!
- Tá bem, Fan... até amanhã – Chanyeol se despediu e encerrou a ligação.
- E aí? – Kyungsoo questionou assim que voltou para a cozinha. – Já sabe o motivo da viagem?
- Hyung, sente que o negócio é pesado – recomendou, antes de sentar e contar tudo ao mais velho.
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- Baekhyun, é sério! Não é melhor ir pra o hospital? – Jongin sugeriu, visivelmente preocupado, já que o marido estava pálido. Tentou tocá-lo na testa, para ver se estava com febre, mas sua mão foi afastada com um tapa não muito fraco.
- Não precisa fingir que se importa, Jongin – Baekhyun ditou, rispidamente. – Esse teatro pode até funcionar com os outros, mas comigo não funciona.
- Não é teatro, eu realmente estou preocupado contigo, poxa! – e ele fava a verdade.
- Mentira! Mentiroso hipócrita do caralho! – Baekhyun exclamou, num quase grito. – Você não se importa! – acusou – Desde que arrumou um amante, você não se importa mais comigo.
- Eu já disse que o Kyungsoo não é meu amante! – exclamou, também raivoso.
- A quem você quer enganar, Kim Jongin? – o menor voltou a questionar, se levantando da cama. – A você mesmo? Tá mais do que na cara que ele é teu amante... pode até não ter sido no começo, mas agora eu sei que é! Mas eu vou te dizer uma coisa... se tá pensando que vou deixar isso barato, pode tirar o cavalinho da chuva – se aproximou do moreno e falou baixo. – Se aquele puto tá pensando que eu vou te entregar de mãos beijadas, ele tá muito enganado.
- Não chama ele disso! – Jongin repreendeu o marido. – Você não o conhece pra dizer essas coisas dele.
- Agora vai defender? – Baekhyun questionou com ironia. – Mas quer saber? Eu chamo ele do que eu quiser – afirmou. – Pra você ele pode ser qualquer coisa, mas pra mim, não passa de um puto sim! Um vagabundo da pior qualidade que existe!
- EU JÁ DISSE PRA NÃO FALAR ISSO DELE! – o Kim gritou por fim. Tentava se controlar ao máximo pra não deixar a raiva tomar conta, caso contrário, bateria no menor outra vez.
- E se eu continuar, vai fazer o que? – Baekhyun colocou as mãos na cintura e se aproximou do moreno, parando de frente a ele, numa pose desafiadora. – Vai me bater? Vamos lá... me bate – desafiou. – Me bate pra defender o putinho e o bastardo que ele carrega na barriga, vamos! Me bate se você for homem!
E sim! Jongin pensou em bater, até levantou a mão, mas num rompante de sabedoria, baixou a mão e deixou um riso pequeno crescer em seus lábios.
- Eu já saquei qual é o teu plano, Baekhyun – Jongin falou ao ver o olhar de dúvida do menor. – Se tá pensando que vai me provocar ao ponto de eu perder a cabeça e te bater pra poder me prejudicar depois, pode desistir... – avisou. – Pode desistir, porque eu não caio mais nas suas provocações – afirmou e saiu do quarto. E bastou fechar a porta para ouvir Baekhyun, aos gritos, começar a quebrar tudo lá dentro. Calmamente, pegou sua bolsa, as chaves e deixou o apartamento. Passaria mais uma noite no escritório.
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- Que barra, cara – Kyungsoo não escondeu sua tristeza ao saber do que tinha acontecido com Yifan. O Do era um dos poucos com quem Yifan desabafava, por isso, ele sabia do desejo oculto do chinês em conhecer seu outro pai.
- Né?! – Chanyeol apenas concordou, e mais do que nunca desejou estar perto dele.
- E sobre o bebê... quando pretende contar? – o Do questionou.
- Só quando ele voltar – o Park respondeu, deixando um sorriso mínimo aparecer em seus lábios ao tocar o ventre com uma das mãos.
- E o que pretende fazer depois disso? – Kyungsoo perguntou.
- Sinceramente? Não sei – confessou. – Eu tinha bem claro duas coisas na minha cabeça... ou eu sairia de casa ou seria colocado pra fora quando eles descobrissem – contou. – O clima lá em casa não tava bom fazia muito tempo, quase todo dia a gente brigava feio mesmo, então assim, o que mais me doeu não foi nem tanto o fato de ter sido colocado para fora de casa, porque isso eu já esperava, tanto que as malas já estavam prontas, mas a forma como tudo aconteceu que doeu... o appa, além de me bater, cuspiu no meu rosto isso... foi humilhante demais – confessou e sentiu os olhos marejarem outra vez. – Aquilo realmente doeu, sabe?! Ser chamado de aberração, anormal, depravado, isso não doeu tanto, mas ser tratado como se fosse, sei lá... um lixo, isso sim, doeu – afirmou. – Também foi duro, ouvir eles falando que meu filho era uma maldição na família... a Omma, inclusive, chegou a desejar que eu abortasse, ou então, caso não abortasse, desejou que meu filho nascesse deformado e que morresse logo depois de nascer.
- Hein?! Como alguém tem coragem de fazer isso com o próprio filho? – Kyungsoo estava revoltado. – Como eles podem se dizer pais agindo dessa maneira?
- Aí que tá, hyung... eles nunca foram pais – Chanyeol afirmou, limpando uma lágrima que escapou. – Eles podem dizer que foram pais, mas nunca agiram como tal... nunca me deram carinho, nunca foram presentes na minha vida. Eu não lembro a última vez que fiquei doente e algum deles cuidou de mim! Nunca me incentivaram a nada, quando passei na Universidade, nenhum dos dois deu um sorriso, muito pelo contrário, disseram que eu não fiz mais do que minha obrigação, já que eu era um parasita que não fazia nada além de comer e dormir – revelou, chocando mais ainda o Do. – E eu te confesso, hyung, eu realmente não esperava que fosse engravidar – confessou. – Mas também sei que não posso reclamar nem me lamentar de nada por que eu sabia dos riscos o tempo todo – afirmou, encarando o menor. – Então eu só vou encarar as consequências dos meus atos, mas, hyung, uma coisa é certa... eu vou ser o melhor pai que o meu filho vai ter – ditou em extrema convicção. – Vou dar a ele todo amor e carinho que não recebi dos meus pais e me esforçar ao máximo para que ele tenha orgulho do pai dele.
- Channie... – com carinho, Kyungsoo segurou as mãos do Park com as suas. – Eu tenho certeza que você vai ser um pai maravilhoso – afirmou, antes de soltar uma das mãos e tocar o ventre do Park. – E também tenho plena certeza de que seu filho nascerá lindo e saudável! Filhos são bênçãos, Chanyeol... seu filho é uma benção! E quanto aos seus pais, ficar triste é normal, mas não se preocupe nem guarde mágoa deles, entregue-os a quem de direito e eles vão receber em dobro todo o mal que desejaram a você.
- Hyung... é normal querer chorar por qualquer coisa? – Chanyeol perguntou, já chorando.
- Own! Vem cá, vem! Pode chorar o quanto quiser – afirmou. – Seu hyung tá aqui! – assim que terminou de falar, foi abraçado pelo maior, que voltou a chorar. Sentia um mix de sentimentos que variavam desde o alívio ao medo de tudo não dar certo. Eram tantas questões na cabeça do maior que ele sequer conseguia organizá-las, mas só por estar ali com Kyungsoo, seu hyung favorito, e que os outros não soubessem disso, Chanyeol já ficava mais aliviado.
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- D-dae – Minseok pediu, tentando tirar o mais novo de cima, mas estava difícil. – Dae, por favor... sai! – voltou a pedir, mas Jongdae parecia um carrapato, agarrado a si, enquanto beijava sem parar sua nuca e deixava as mãos correrem livres pelo corpo desnudo do marido. – Puta que pariu, Jongdae! Eu não vou transar mais hoje! – exclamou, quase gritando.
E Jongdae se afastou e sentou ao lado do companheiro, fazendo um bico emburrado ao cruzar os braços. Desde o momento em que Minseok concordou em tentar engravidar, Jongdae pareceu adquirir um apetite sexual de coelho, como bem dizia o fértil, e tal vontade ficou mais forte quando a notícia da gestação do Park veio à tona. Jongdae se alegrou com a notícia, claro, mas foi impossível conter algumas lágrimas de frustração quando chegou em casa. Minseok percebeu, á claro.
- Dae, nossa hora vai chegar, só tenha paciência, por favor! – pediu num tom calmo, enquanto fazia um carinho leve no rosto do esposo. – E outra, tem nem uma semana que a gente começou a tentar, não vai acontecer assim, tão depressa, até porque, eu ainda não entrei no ciclo, então só deixa acontecer, hm?!
- É, eu quero fazer acontecer, mas você não quer – Jongdae retrucou, ainda mantendo o bico.
- Dae... – Minseok se aproximou do esposo e sentou em seu colo. – Eu te amo... eu te amo demais e você sabe muito bem disso, mas eu não vou ficar assado por causa do teu fogo, não! – afirmou e logo em seguida, ouviu o esposo gargalhar como há muito tempo não fazia.
- Desculpa amor – o mais novo pediu, abraçando o esposo e deitando sobre ele. – É que... tu sabe, né?! Tu é tão lindo, todo gostosinho assim, daí eu não me controlo.
- É, mas chega uma hora que ele não aguenta mais – Minseok afirmou, também rindo. – Mas se você quiser continuar a brincadeira, a gente pode fazer uma troca, o que acha? – sugeriu, apertando uma das nádegas do marido, deixando a ponta do indicador resvalar pela entrada.
- Só vem! – Jongdae afirmou, antes de deitar na cama e levar Minseok junto.
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A rotina do Do mudou por completo desde que Chanyeol passou a morar consigo. Todos os dias pela manhã era a mesma coisa, o maior chorando sempre que corria para o banheiro quando precisava vomitar, e Kyungsoo, que sempre ia atrás ajuda-lo, mas nem por isso deixava de rir do maior com todo aquele drama.
- Chega! Eu não aguento mais! – Chanyeol exclamou, desesperado, enquanto chorava. – Hyung, faz parar! – pediu, desesperado.
- Antes pensasse em parar quando as camisinhas acabassem – Kyungsoo sempre falava aquilo quando surgia tal reclamação por parte do maior.
- Hyung cruel! – dramatizou o Park. – A pessoa quase vomitando o útero e ele fica tripudiando da desgraça alheia! – acusou.
- E outra... eu quis te levar ao médico, com certeza ele receitaria os remédios, mas tu não quis ir... – Kyungsoo deu de ombros.
- Claro que não! – o mais novo exclamou, revoltado. – Meu sogro é médico, acha mesmo que tem a necessidade de gastar dinheiro com consulta?!
E Kyungsoo riu. Na verdade, ele gargalhou como há um bom tempo não fazia. Riu tanto que precisou se escorar na parede. Não conseguia acreditar que o Park, mesmo naquela situação, conseguia ser tão ele. Definitivamente sentiria falta dele quando não estivesse mais ali.
- Chanyeol, nunca imaginei que fosse tão interesseiro assim – o mais velho confessou entre risos.
- Não é interesseiro – Chanyeol se defendeu após se levantar e limpar a boca. – É que foi ele mesmo quem disse que acompanharia a gestação do neto dele desde o início e que não toleraria que outro médico sequer encostasse na minha barriga.
- Quero só ver a reação dele quando souber que vai ser avô – Kyungsoo falou.
- Vai ficar louco de felicidade! – Chanyeol respondeu. – Ele sempre disse que queria ser avô antes dos cinquenta, e, veja só, vai ser avô aos quarenta e cinco!
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A viagem que deveria, inicialmente, durar, no máximo, uma semana, acabou levando o dobro do tempo. Após o enterro do pai, algo que deixou Yifan mais triste do que o imaginado, toda uma saga teve início; primeiro pela espera do exame de DNA, pois Cheung, seu outro pai, era um homem de posses e não tinha deixado “herdeiros”, por isso a paternidade precisava ser comprovada. Yifan não queria ter que se submeter àquilo tudo, mas YanTao o convenceu daquilo, afinal de contas, querendo ele ou não, era filho de Cheung.
Durante o tempo que ficou na China, Yifan conheceu a família de seu pai desconhecido, pelo menos a maior parte dela. Ao contrário de que pensava, fora muito bem tratado e, mais do que isso, fez amizade com os primos que tinham sua faixa etária. Assim como ele, YanTao também foi muito bem tratado, retomando, inclusive, a amizade que tinha com Ling, mãe de Cheung. No final das contas, e apesar dos pesares, viajar para a China não foi de todo tão mal como imaginavam.
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- Chanyeol, para que eu já tô ficando tonto! – Kyungsoo reclamou mais uma vez. Estava sentado no sofá maior, com as pernas esticadas, descansando sobre um banquinho e tendo Jongin ao seu lado, enchendo o ventre de afagos.
Era domingo e aquele era o dia em que Yifan retornaria de viagem com seu pai. Ele já estava ciente de que Chanyeol estava morando com Kyungsoo e que tinha sido expulso de casa após seus pais descobrirem que era fértil, só não ainda que seria pai em breve.
- A barriga dele tá grande, não é? – Jongin, observador como sempre foi, comentou com Kyungsoo.
- Sabe que eu também percebi isso?! – Kyungsoo concordou com o moreno. Enquanto sua barriga demorou uma era para aparecer, a do Park simplesmente saltou. – Mas também, olha o tamanho dele e do Yifan... não tinha como não ser grande, Jongin. Eu que sou marreco demais perto deles! – brincou consigo mesmo, pois estava próximo de completar sete meses e a barriga, apesar de maior, ao ponto de não poder mais ver os próprios pés, não estava tão grande como imaginou que ficaria. – Se bem que, pela lógica, por eu ser pequeno, a barriga deveria crescer mais.
- Mas você não lembra do que o doutor Sehun disse naquele dia? Algumas barrigas demoram a crescer – o moreno relembrou aquele fato, voltando a acariciar a barriga do Do, sentindo seu filho se mexer. – Woah! O garotão do appa tá acordado, né?! – falou com a barriga, todo bobo. – Ele hoje tá chutando demais – comentou.
- Pois é, tá chutando demais e porque será, não é? Alguém acordou ele... – Kyungsoo olhou atravessado para o moreno. No começo era uma maravilha quando Taeoh mexia, mas, à medida que crescia e o espaço ali ia ficando menor, os chutes já não eram tão legais quanto no início.
- Hei! Não me olhe assim, eu estava com saudades, hm?! – o Kim se defendeu, abrindo seu melhor sorriso. – Só não te beijo aqui porque o Chanyeol tá perto da gente – confidenciou num sussurro, logo em seguida. – E você tá lindo com esse nariz de batatinha.
- Olha aí, lá vai ele de novo! – apontou para o Park, que tinha voltado a andar de um lado para o outro. E é claro que tudo isso era uma maneira bem parca de disfarçar sua vontade de beijar o moreno e o rubor de seu rosto, muito embora, este fosse impossível camuflar.
Durante os dias que seguiram desde a chegada do Park, Jongin era presença quase diária no lar do Do, e, consequentemente, ele acabou fazendo amizade com Chanyeol. Vez ou outra jogavam uma partida de Uno, mas só os dois, já que Kyungsoo não tinha paciência para jogar nada que não fosse pano de prato ou qualquer objeto que estivesse ao seu alcance e não ferisse nenhum dos dois, claro.
- Hyung... o Fan chega hoje – Chanyeol relembrou aquele fato. – E eu não sei como ele vai reagir quando souber que vai ser pai.
- Sim, você não sabe, mas do jeito que vai, é capaz de o menino nascer antes que o outro pai chegue – Jongin resolveu provocar.
- Nah! Hyung sem graça! – mostrou o língua para o moreno, que apenas gargalhou.
Já estava tudo combinado, assim que chegassem, YanTao deixaria Yifan na casa de Kyungsoo e seguiria para sua casa, a fim de preparar o local para o novo habitante, pois era óbvio que o Park moraria consigo e Yifan, e era óbvio que ele não sabia daquele pequeno detalhe, só Kyungsoo.
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Era por volta de cinco e meia da tarde quando a campainha da casa de Kyungsoo tocou. Nervoso, Chanyeol correu para o banheiro, já que a vontade de vomitar era maior e mais forte que a vontade de rever o namorado, por isso, coube a Kyungsoo recepcionar os dois visitantes.
- Hyung! Sua barriga tá enorme! – Yifan observou assim que Kyungsoo abriu a porta.
- Jura? – o grávido não conseguia se conter quando ouvia tal frase. Era impossível conter o sorriso que brotava em seus lábios nesses momentos.
- Realmente, tá bem grande – YanTao reforçou. – Inclusive, Kyungsoo, você tá com cara de grávido, agora – o mais velho brincou, já que o rosto do coreano estava mais redondo e seu nariz, mais inchado.
- Cadê o Channie? – Yifan questionou assim que abraçou o menor.
- No banheiro, vai lá chamar ele – Kyungsoo respondeu, indo abraçar o médico. – Como foi de viagem?
- Tranquila, apesar da turbulência – YanTao respondeu. – Quero ver o Chanyeol antes de ir para casa.
- Eu, sendo o senhor, ficaria – Kyungsoo aconselhou num tom baixo o suficiente para que apenas o médico ouvisse.
- Aconteceu algo que eu não estou sabendo? – deduziu, afinal de contas, sua intuição nunca falhava. Ele sabia que tinha algo acontecendo.
- Vai saber assim que Chanyeol sair do banheiro – Kyungsoo respondeu, não contendo o riso. – Mas fique à vontade, vou levar o Jongin até ali, na frente e volto – avisou e saiu, sendo seguido pelo moreno.
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Chanyeol estava nervoso, muito nervoso. Não sabia como Yifan reagiria quando contasse a ele a “novidade”. Sentia que estava prestes a dar o primeiro passo em direção ao seu futuro, um futuro até então incerto. O futuro era assustador demais. O Park sabia que, muitas vezes, o reflexo das ações de agora não era imediato, só esperava que o passo que daria naquele dia o levasse para um “lugar” bom, e o chamado do namorado, do lado de fora, o despertou para aquela realidade. Era chegada a hora.
Após dizer um “já vai” apressado, escovar os dentes, lavar o rosto e respirar fundo diversas vezes, decidiu que era a hora de ser homem e encarar a situação de frente. Embora suas mãos estivessem trêmulas e geladas, Chanyeol girou a maçaneta e saiu do cômodo, avistando logo de cara seu namorado, que ao lhe ver andou apressadamente em sua direção, mostrando aquele sorriso que só Wu Yifan tinha. Por um breve momento, Chanyeol esqueceu de tudo o que o cercava ao sentir os braços do maior ao seu redor.
O calor dos braços chinês funcionada para o Park como um calmante, ele era sua calmaria em meio às tempestades da vida, porém o abraço não durou o tanto que esperava. Quando notou que o namorado estava “maior” e a cintura mais reta do que o normal, o que não seria um problema caso a barriga não estivesse tão durinha, Yifan se afastou e encarou aquela região com atenção. Como o corpo de Chanyeol poderia ter mudado tanto em apenas duas semanas? E como se, num passe de mágicas, algo clareasse em sua mente, Yifan sentiu o coração bater mais forte que o normal quando uma possibilidade para aquilo passou por sua cabeça.
- Y-yeol... – o chinês mais novo chamou pelo namorado, que continuava parado, em sua frente, deixando claro em seus olhos o temor sentido naquele momento. – V-você... p-p-por aca-caso...
- Unhum... Você vai ser pai, Fan – Chanyeol fechou os olhos antes de dar a resposta ao “questionamento” do namorado, porém, se soubesse o que aconteceria em seguida, teria sido melhor contar com os olhos abertos mesmo.
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Enquanto os mais novos estavam perto da cozinha, Kyungsoo trocou algumas palavras com o chinês mais velho e, logo em seguida, seguiu junto ao moreno em direção à porta principal, contudo o grito desesperado de Chanyeol os trouxe para dentro às pressas e muito assustados. Ao chegar na cozinha, bastou uma rápida olhada para entender o que tinha acontecido. Yifan desmaiou.
Depois de muito corre-corre, bastou uma pitada de sal debaixo da língua para “reanimar” o chinês mais novo, que sofreu uma queda de pressão após saber que seria pai, e um copo de água com açúcar para Chanyeol, e tudo estava resolvido, ou quase tudo, pois eles ainda precisariam conversar e Kyungsoo não cabia naquele momento.
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Após a saída de Kyungsoo e Jongin, restaram apenas Chanyeol, Yifan e YanTao na cozinha. O silêncio era forte e pesado entre eles e o chinês mais velho, de longe o mais sério, o que deixava os mais novos completamente temerosos. YanTao olhava de um para o outro seguidas vezes, tentando achar a melhor maneira de iniciar aquela conversa.
- Acredito que a gravidez foi o motivo principal para que seus pais te expulsassem de casa, estou certo?! – o mais velho deduziu, recebendo apenas um aceno por parte do mais novo. Não era preciso saber de todo o acontecido, pois o Park já o havia contado, então respirou fundo, antes de voltar a falar. – Eu não vou brigar com vocês e muito menos lembrar o quão irresponsáveis vocês foram ao transarem sem camisinha, afinal de contas, vocês não são mais crianças, e se foram capazes de fazer uma, terão de ser capazes de cuidar dela e educa-la – afirmou logo de cara. – Enquanto seu pai, Yifan, você sabe que sempre fomos muito abertos um com o outro, eu nunca fui contra seus relacionamentos nem que levasse seus namorados para casa, porém, só existia uma regra.
- Não transar sem camisinha – Yifan completou o raciocínio do pai.
- Exatamente! – YanTao concordou. – E quando tivemos aquela conversa, logo no início do namoro, acredito que você deva lembrar o que eu sempre disse caso você cometesse algum deslize, certo?
- Que eu arcaria com as responsabilidades dos meus atos e assumiria as consequências – Yifan, mais uma vez, completou o pensamento do pai. – Mas eu estou disposto a assumir tudo isso, pai – afirmou. – Eu sei que foi imprudência minha... eu sei. Se o Chanyeol está esperando um filho meu é porque nós fizemos por onde, mas eu não vou deixar ele na mão – segurou uma das mãos do mais novo e notou o quanto estava gelada.
- Mas é claro que não vai! – YanTao afirmou, carrancudo. – Você – apontou para o filho. – E você – apontou para Chanyeol. – Terão e assumir a responsabilidade – afirmou. – Ser pai, meninos, é um trabalho para a vida toda. Se queriam ir em festas, viajar, fazer não sei quais programas a dois ou qualquer outra atividade que não envolvessem compromissos com alguém completamente dependente de vocês pelos próximos anos, esqueçam de tudo isso! O tempo de aproveitar era agora, mas vocês resolveram dar um passo além e terão de arcar com as responsabilidades de suas escolhas. Em hipótese alguma vou admitir vocês deixando suas obrigações paternas de lado para “curtir a vida”, pensassem nisso antes de arrumar essa gravidez. E claro que eu vou ajudar vocês, afinal de contas é do meu netinho que estamos falando – esclareceu, abrindo um sorriso enorme, mostrando de quem Yifan havia herdado aquele gesto, gesto esse que contagiou ao mais novos – Mas que fique bem claro, serei avô, não pai substituto, então nem pensem que vou trocar fralda suja, dar banho e essas coisas... meu papel vai ser estragar o menino pra vocês concertarem depois.
- Hei! – Yifan protestou, tentando ficar sério, mas não conseguia, pois a felicidade que sentia naquele momento era enorme.
- Agora vem cá! – levantou da cadeira e se aproximou de Chanyeol, que se levantou e o abraçou. – Bem-vindo a família, viu?! E já esteja preparado, amanhã pela manhã você já tem consulta!
Chanyeol apenas concordou em silêncio, não conseguia falar nada, apenas sorrir. E no final, tudo tinha saído melhor do que o imaginado.
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- Desculpa, hyung, mas eu preciso levar o Channie comigo – Yifan disse assim que terminou de ajudar Chanyeol com suas coisas.
- Tudo bem, Yifan – Kyungsoo fala, balançando a mão. – Eu fico feliz que ele vá embora daqui nessas condições – confessou. – É bom saber que ele vai ser muito bem cuidado... eles, no caso.
- Obrigado por tudo, hyung – Chanyeol falou antes de abraçar o Do. – E não vou chorar!
- Por favor, né?! Ninguém mais aguenta te ver chorar, Chanyeol! – brincou, arrancando alguns risos dos presentes.
Após mais alguns minutos de despedidas, muitos abraços e promessas de visita, a porta finalmente fechou, deixando Kyungsoo e Taeoh sozinhos mais uma vez, já que Jongin tinha ido embora pouco tempo após Yifan acordar.
- É, meu amor... somos apenas eu e você, de novo – Kyungsoo falou enquanto fazia carinho no ventre. E aquela foi, pra Kyungsoo, uma das noites mais solitárias dos últimos tempos.
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E no final das contas, a consulta de Chanyeol não aconteceu no dia seguinte, e o motivo era simples, todos queriam estar presentes no momento do primeiro ultrassom do Park, e como a empresa não poderia fechar por causa de um pré-natal, o grande dia ficou marcado para o sábado à tarde. E como era esperado, Chanyeol estava sendo extremamente paparicado por todos, inclusive Kyungsoo, embora vez ou outra reclamasse com o mais novo dizendo “te ajeita que eu também tô grávido e não fiquei assim! ”.
Por conta de um congresso com administradores, o contato de Jongin e Kyungsoo foi pouco durante aquela semana. Já era quinta-feira, e como o esperado, o distanciamento afetou Kyungsoo.
- Sério que tá tudo bem? – Minseok voltou a questionar. – Você pode até dizer que sim, mas eu não tô te vendo bem, Kyungsoo.
- Não – Kyungsoo falou tão baixo que Minseok precisou pedir para repetir, pois não tinha ouvido direito. – Não, Minseok... não! Não tô bem. Na verdade, nada tá bem – não estava mais aguentando, tinha que colocar suas angústias para fora.
- O que tá acontecendo, Kyungsoo? Me diz, por favor – o Kim pediu, angustiado pelo estado do amigo. Por precaução, o levou até a sala de descanso, fazendo-o sentar na poltrona para sentar ao seu lado logo em seguida.
- Tá acontecendo que eu tô apaixonado pelo Jongin, Minseok! – pela primeira vez confessou a alguém que não fosse Taeoh. – Isso que tá acontecendo, e sabe o que é pior? Eu virei amante dele – olhou para o amigo, permitindo que as primeiras lágrimas caíssem. – Porque, mesmo dizendo que sente o mesmo por mim e quer se separar do Baekhyun o mais rápido possível, ele ainda está casado... e isso tá acabando comigo! – exclamou, fungando em seguida – Percebe o quão hipócrita eu fui, ao criticar o Yixing?! Falei tanto e olha pra mim agora... amante e grávido de um cara casado, enquanto o Yixing tá vivendo com meu ex-marido... será que minha situação pode ficar pior?
Minseok apenas abraçou Kyungsoo e lhe disse para ter paciência que tudo se resolveria com o tempo, e aquilo era tudo o que o Do mais queria.
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Na sexta-feira o estado do Do parecia não ter mudado muita coisa, muito embora estivesse feliz, afinal de contas, no dia seguinte teria ultrassom de Chanyeol e, na semana seguinte, estava de consulta marcada. Saber que o nascimento de Taeoh estava cada dia mais próximo o deixava animado demais, contudo, sua animação realmente foi notada quando o celular vibrou ao seu lado, no balcão onde trabalhava.
“Consegui uma folga do congresso! Tô com saudade de vocês, vem almoçar comigo? ” Era o que dizia a mensagem de texto enviada pelo moreno, algo raro, pois ele dificilmente mandava mensagens, ainda mais depois que as brigas diárias com Baekhyun tiveram início. “No restaurante de sempre? Ah... também estamos com saudades! ” foi a resposta de Kyungsoo à mensagem do moreno. Sentiu o coração acelerar só de saber que poderia vê-lo outra vez. Era difícil admitir, mas gostar de Kim Jongin não era fácil.
Quando questionado para onde ia, Kyungsoo não queria dizer a Minseok que encontraria Jongin, mas não podia mentir, e nem conseguia, não para Minseok. Embora ainda um pouco animado, Kyungsoo não conseguia deixar de se sentir um pouco medíocre por estar tão animado com as “migalhas” que estava recebendo do moreno. Era complicado. A situação que os envolvia era complicada, mas Kyungsoo, naquele momento, queria apenas a calma que só o sorriso e o olhar do Kim podiam transmitir.
E mais do que depressa, Kyungsoo tomou um táxi e seguiu direto para o restaurante que virou meio que um elemento chave do romance que vivia com Jongin, mas a vida é cheia de surpresas e Kyungsoo nunca esperou que, quando chegasse naquele restaurante, encontraria ali Baekhyun.
- Acho melhor se sentar, Kyungsoo... – recomendou o rapaz, que não trazia uma expressão muito boa no rosto. – Precisamos conversar seriamente – disse por fim.
E se Kyungsoo achava que sua situação não podia ficar pior, naquele momento ele teve a certeza de que ela poderia sim, ficar pior... bem pior.
CONTINUA...
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