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História Novembro - Me desvenda


Escrita por: Caroli_cunha

Notas do Autor


Oioioi meus linduus!
Como cês tão?
Espero que gostem do capítulo de hoje!
Boa leitura♡

Capítulo 37 - Me desvenda


Fanfic / Fanfiction Novembro - Me desvenda

Ele abriu ainda mais aquele sorriso, feliz em me ver. Esticou o braço para que eu pegasse sua mão, querendo me “mostrar” para o sujeito. Mas eu estava cego, minha boca estava seca de apreensão, eu tinha ódio de uma situação que, olhando de fora, nem existia.

—Então é aqui que você está demorando… Quem é esse?—perguntei grosseiro, assumindo instantaneamente aquela postura de malandro.

—Rapha, esse é o Roger, meu professor de teoria da arte! Roger, Raphael, meu namorado!—apresentou orgulhoso.

Eu olhei sério para o sujeito, não querendo admitir que ele me intimidava como homem, pois minha autoestima sempre foi inabalável, porém depois do acidente isso mudou. Eu me sentia inválido e pelo visto, enquanto meus esforços na academia não surtissem efeitos visíveis, eu não estaria orgulhoso de mim mesmo.

O homem sorriu com aquela barba farta e grisalha, que não era comum na minha genética e por isso eu não teria uma igual.

—Prazer, Raphael! Spencer fala muito de você...—deu-me a mão e eu só peguei porque ainda tinha um pingo de educação.

—Ele não falou de você! Mas espero que tenha te alertado que eu sou do tipo ciumento, que não vê problemas em dar umas… porradas, de vez em quando!—murmurei o encarando e ele gargalhou.

—Não, ele não comentou comigo esse seu talento!—provocou, não me levando a sério.

—Eu estava falando para ele sobre como seria legal se a cachorrinha dele nos desse alguns filhotes… Uma pena o Dólar ser castrado!—riu Spencer, todo alegre com o cara e eu só observando.

—Pena mesmo, com certeza dariam belos filhotinhos, com um cão lindo desse!—elogiou nosso “filho”, mas eu sei que queria na verdade elogiar Spencer. Um homem conhece o outro.

—Que bom, assim eu gasto menos com ração e brinquedo!—resmunguei, sério.

Finalmente, Spencer notou o clima desconfortável que se formava entre nós e resolveu se despedir. Acenou gentilmente e o idiota teve que pôr aquela mão forte e velha sobre o ombro de Spencer, carinhosamente como se tivesse esse direito. A mim, apenas disse “até mais” com um sorriso sacana, e eu poupei o esforço de responder.

Fomos caminhando em silêncio, ele na frente, acompanhando o cachorro que ia farejando tudo ao redor, e eu logo atrás com a minha cara super séria.

Chegando perto de casa, ele parou e ficou me esperando, então chegamos juntos no apartamento. Ele entrou e foi guardar umas sacolas no quarto e eu fiquei no sofá da sala, me martirizando. Ele voltou, deu água para o cachorro, regou as plantas na varanda, juntou a louça suja na pia e finalmente resolveu me dar atenção.

—Essa cara é só porque eu “demorei”?—sentou-se ao meu lado.

—Por que não me avisou que ia sair?—falei bravo.

—Eu avisei!

—Não avisou!

Ele se levantou, foi até a geladeira e mostrou um bilhete colado, completamente visível. Juro que não vi bilhete algum quando acordei, mas de fato ele estava ali o tempo todo.

—”Amor, bom dia! Vou na casa da minha mãe buscar os convites do meu aniversário, o Dólar vai também.”—ele leu, me olhando sério.—”Te amo”!

Eu suspirei envergonhado, devia ter prestado atenção antes de sair o procurando como se ele houvesse sumido do mapa. Mas nada justificava ele ficar de gracinhas com aquele tiozão.

—Devia ter me acordado! Como achou que eu ia ler esse papelzinho na geladeira?!—joguei de volta a culpa para ele.

—Era só prestar atenção!—ele disse, mantendo-se estranhamente calmo.

—Eu prestei atenção no que realmente era importante, no modo como você deu bola pra aquele sacana na pracinha!—me levantei para não me sentir ridículo brigando sentado. Ele suspirou desanimado, se apoiando na estante da sala.

—Lá vem…

—Lá vem o caramba! O que raios vocês tinham pra conversar que demorou tanto?!—ele ficou quieto.—Por que aquele palhaço riu de mim, ele sabe de alguma coisa que eu não tô sabendo? Suas amigas também sabem, elas me acham ridículo? Porque elas não tiravam os olhos de mim!

—Não tem ninguém rindo de você, amor!

—Eu não sou trouxa!

—Raphael… Eu tô bem hoje, sabia? Eu tô me sentindo muito bem, por favor, não estrague isso!

Estranhei mais ainda. Spencer nunca recusaria uma briga, ele gostava de gritar, esbravejar, perder a cabeça e acabarmos na cama ou separados. Nós dois tínhamos a mania de sempre estar mais certo que o outro, e agora ele queria me deixar fazer esse papel sozinho.

—Ontem quando eu cheguei da academia, você e suas “amiguinhas” estavam falando de um homem… Não estavam?—ele franziu o cenho, desentendido.

—D-do que você tá falando?!

—Quando ela disse que “com raiva é mais gostoso”, ela se referia ao que mesmo?!—refresquei sua memória, e ele deu de ombros.

—Sexo! Foda, como você diz!

—Sim, e você tinha tais assuntos para contribuir com a conversa?!—ele semicerrou os olhos, injuriado.

—Não tô entendendo nada, Raphael!

—Estou falando que você não pode participar de piadinhas como essas, já é comprometido!—gritei.

—Ai… Na boa, Belinni! Para de bancar a criancinha chorona, você sabe que essas coisas me brocham…—foi a gota d'água.

—Ah, então eu te brocho! Mas o professor Rogério não, esse te deixa todo aceso, né?!

—É Roger!

—Foda-se, você não tem que defender!—esbravejei, furioso.

Ele parou, indignado, pensando no que responder. Parecia querer achar as palavras certas, como se agora houvesse passado a pensar antes de falar.

Argh, por que ele estava sendo tão imparcial?!

—Raphael, sabe qual é o seu problema?

—Diga!

—Você não suporta competir com outros homens! No seu mundo só existem três tipos de pessoas, as mulheres sonsas, os viados iludidos e você, que é O Homem! Pra você, os homens mais másculos não servem nem pra amigo, a não ser que estejam de quatro pra você, como o caso do Fernando! Então, você é o rei! O rei manda e seus súditos obedecem, e se não fizerem como o rei quer, então são punidos de alguma forma. Aí você diz que está “apaixonado”, que “ama”… Ama a pessoa só se ela fizer do seu jeitinho, e não importa, não importa, se ela se desfaz pra te agradar, quando ela escolhe o verde e você esperava que ela escolhesse o azul… Então, o rei surta! Quebra tudo, grita, esbraveja, até agride se precisar, porque ele sabe que se espernear, as coisas voltam ao “normal”! Aí, quando consegue o que quer, abre os braços, torce a boca e sai andando igual malandrão, se achando o foda, “consegui de novo, sou o cara!”, mas na verdade sua autoestima é baixíssima e depende totalmente da infelicidade alheia!

Levei um tempo calado, tentando absorver tudo aquilo. Era difícil. Muito difícil ouvir uma releitura sobre seus atos de forma tão cruel, vindo de alguém que você acha que nunca vai te julgar por nada. Ele falava, interpretava com total frieza, não se alterava mais como antes, não queria brigar, não era mais sobre isso. Ele abria finalmente meus olhos para algo que eu nunca quis enxergar.

Eu mesmo.

—Você é chantagista, manipulador, opressor, intolerante. Não sabe ouvir um “não”, não aceita que as pessoas tenham o mesmo direito que você! Tem medo de não ser o centro das atenções, medo de não mandar no mundo! Esse é você, esse é o seu problema!

—Então é isso que você vê em mim? Um monstro?—o ego, ainda que ferido, evitava que as lágrimas saíssem.

—Não...—sorriu angustiado.—Eu vejo o garoto por trás do monstro, aquele mísero instante de genuinidade que me fez me apaixonar por você cinco anos atrás! E agora está chorando, pra ver se eu me sinto mal e paro de falar… Mas no fundo você sabe que estou fazendo o bem pra você, abrindo teus olhos e te mostrando que, do jeito que você está, vai patinar na lama até morrer!

—O que acontece com você, Spencer?! O que suas amigas disseram pra você estar me humilhando desse jeito?!—deixei a maldita primeira lágrima escapar, e aí era tarde para tentar segurar o choro.

—Não tô te humilhando, Rapha! Eu tô conversando com você...—interrompi.

—Mas a gente não conversa! Por que você mudou?! Por que tá me tratando assim?!

Ele suspirou, coçou a nuca, completamente frio sobre a situação. Parecia nem aí, quando era para ser o contrário: ele chorando e eu durão. Que ódio daquela maldita psicóloga, certamente foi ela quem o incentivou a ser cruel assim comigo.

—Raphael, eu não aguento mais esses seus ataques! Você passou de ciumento pra possessivo, faz tempo! É isso, eu tô cansado!—deu de ombros.

—Você não pode ficar cansado!—gritei, chorando de raiva.

—Não posso? Por que, foi você que disse?—me encarou sarcástico.

—Eu disse, e você tem que obedecer! Eu sou seu homem!—gritei mais alto, crescendo sobre ele.

Novamente, me exaltei e armei o punho para lhe dar um soco, algo que me causou arrependimento no mesmo instante, mas não desfiz, por orgulho. Eu queria minha masculinidade de volta, queria recuperar meu posto, minha postura de macho dominador, durão. E ele devia ter se encolhido sob mim, mas não o fez. Antes, arqueou as sobrancelhas e penetrou meu olhar com o seu, numa expressão pedantemente desafiadora. Ele não me poupou da raiva.

—Você é meu namorado, não meu dono! E pode baixar essa mão, porque no primeiro soco que você me der, eu te enfio na cadeia!

O ódio subiu à minha cabeça, e para não lhe quebrar no meio, comecei a quebrar a casa. Puxei a toalha da mesa e joguei no chão com tudo o que havia em cima, peguei a cadeira e arremessei na parede, chutei a mesinha de centro para bem longe, espalhei as almofadas todas pela casa e ele permanecia olhando. Agora tinha um leve susto no olhar, me assistindo andar desgovernado pela casa, mas não arredou o pé de onde estava.

Fui para a cozinha, abri o armário e fui tacando todos os copos, os pratos, talheres pelo chão e paredes, trêmulo de ódio. Ele não iria suportar muito mais, logo estaria alterado, gritando comigo, ou chorando e se escondendo. Então, eu o arrastaria pelos cabelos até o quarto, arrancaria suas roupas e nós faríamos sexo selvagem até nossos corpos implorarem por descanso.

Voltei rápido para a sala, tropeçando na bagunça que eu mesmo fiz e o encontrei parado onde estava. Olhava para o chão ao redor, com a mesma expressão congelada, mantendo-se muito superior a mim. Eu quis me matar.

No auge da loucura, fui até o quarto, peguei meu violão e trouxe até sua frente. E diante dos seus olhos, eu bati o instrumento no chão até esmagá-lo.

Só então parei, cansado, ofegante, transpirando. A fúria passou e eu enxerguei o que fiz, infelizmente. Olhei para ele, que tinha os olhos presos aos cacos do violão, com leve surpresa.

—Nossa...—murmurou, espantado em ver minha relíquia destruída.—Você está mesmo fora de si...

—Tudo culpa sua! Já que você deixou de me amar, então eu vou embora!—gritei, ofegante.

—Vai embora? Pra onde? Pra casa dos seus pais? Onde você é humilhado e repreendido o tempo todo, onde sua sexualidade e seu jeito agitado são considerados pecado e abominação aos olhos de Deus? É pra lá que você vai voltar, Raphael?

Suspirando de angústia, esfreguei as mãos no rosto​, agoniado com sua imparcialidade, e tudo o que me restou foi chorar de verdade.

—Eu vou dar uma volta, e quando voltar, quero encontrar tudo limpo e no lugar, e você mais calmo!—assobiou chamando o cão, que saiu de seu esconderijo atrás do sofá para acompanhá-lo.

Antes, eu é que o matava de ódio, agora era o contrário.

Abriu a porta e saiu.



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